O governo, pela boca dos dirigentes dos dois partidos, acompanhado pelo coro formado por quase toda a comunicação social, insiste que não é mais possível negar que as coisas estão a correr pelo melhor e que a partir de agora é injusto não falar do sucesso do "ajustamento" levado a cabo pelo governo PSD/CDS.
Não se pode negar, com efeito:
-Que os juros da dívida pública têm vindo a descer em paralelo com os juros da dívida de outros países intervencionados (Irlanda Grécia e Espanha designadamente) ainda que não por acção do governo português cujo poder, presumo, não chegará tão longe, mas devido à actuação do BCE, como tem sido sublinhado por entidades independentes;
-Que nos últimos trimestres, a economia portuguesa tem crescido, embora tenuamente, através da recuperação do consumo, não porque essa fosse a vontade e a política do governo, mas sim porque a política de cortes do governo foi travada pela decisão do Tribunal Constitucional permitindo, assim, um inesperado desafogo às famílias que estas converteram, em parte, em consumo;
-Que o desemprego tem descido algumas décimas nos últimos meses embora se desconheça a qualidade dos novos empregos entretanto criados e não se ignore o efeito pernicioso do surto de emigração dos melhores quadros entretanto ocorrido e estimulado por entidades governamentais.
Mas, se não se podem negar estes sinais que têm tanto de bons, como de ténues, como de equívocos, também não se pode negar:
-Que o desemprego continua em nível elevadíssimo e, para surpresa da troika, muito mais elevado do que o estimado aquando da celebração do memorando de entendimento;
-Que, apesar da economia estar, presumivelmente, a crescer nos últimos trimestres, o crescimento, no ano de 2013, no seu conjunto, ainda foi negativo, somando a economia portuguesa, ao fim de três anos sob esta governação, um decréscimo à volta dos 6 ou 7%, o que faz com que o PIB do país, graças à pandilha que tomou conta do "pote", se encontre actualmente ao nível de há 10 anos atrás;
- Que a meta do défice das contas públicas, desde que este governo entrou em funções, nunca foi alcançada, pese embora o facto de a troika, após cada avaliação, ter permitido que o défice fosse frequentemente revisto e aumentado, perante os sucessivos fracassos do governo, não obstante este ter recorrido sistematicamente ao expediente das receitas extraordinárias.
Aparentemente, a excepção terá sido o défice referente a 2013, visto que tem vindo a ser apregoado que, desta vez, o défice vai ficar abaixo ou em linha com os 5,5% previstos, depois de mais uma revisão em alta (de 4,5% para 5,5%). Admitindo-se que assim possa vir a ser, continua a não se poder negar que não estamos perante nenhum êxito, quando se sabe que a meta só foi atingida através dum vergonhoso perdão fiscal que é, simultaneamente, um insulto a todo e qualquer contribuinte cumpridor.
Lembrando que um tal défice é, mesmo assim, muito superior ao inicialmente previsto no memorando (3%), e recordando que o rácio da dívida pública era para, entretanto, baixar, que não para crescer, como se tem verificado, não há como negar que os proclamados êxitos deste governo não passam de rotundos fracassos.
Falar de sucesso, quando o que está à vista é o retrocesso, em particular no que respeita à ciência, à investigação, à inovação, à cultura, à riqueza produzida e à crescente desigualdade na sua distribuição, é algo que só está ao alcance de uns quantos desonestos intelectualmente.
Infelizmente, de um tal número não é possível excluir nem o governo, nem a presidência da República, nem a maioria parlamentar, nem os escribas, vendidos ou comprados. Todos, por uma razão ou outra, estão ao serviço da propaganda governamental. Razões que, seguramente, não são boas. Espero que não estejam à espera de absolvição.
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Passos Coelho, o ainda primeiro-ministro, confessava, há dias, estar de consciência tranquila.
São tantas as inconsistências (entre o que diz num momento e o que afirma minutos depois) e as contradições (entre o dito e o feito) que pensei cá para os meus botões: este rapazola, ou tem a consciência lassa, ou muito fraca memória.
A leitura de dois textos, hoje vindos a lume ("
O plano A", de José Manuel Pureza e "
Swaps: quem manda!", de Carlos Costa Pina) obrigam-me a rever a minha posição. O rapazola, afinal, tem razão: perante os seus amos (o capital e a banca) pode estar de consciência tranquila, pois não restam dúvidas de que os interesses que serve não têm a menor razão de queixa.
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A operação de troca de Obrigações do Tesouro (OT) com vencimento em 2014 e em 2015 por outras com vencimento em 2017 e em 2018 foi inicialmente anunciada como se se tratasse duma simples troca por troca, pois nada se adiantava quanto a juros.
Vem agora a saber-se que as
OT com vencimento em Junho de 2014, Outubro de 2014 e Outubro de 2015 (objecto da troca) têm taxas de rentabilidade de 2,127%, 2,753% e 3,324%, respectivamente, propondo-se o governo pagar pelas novas OT, com vencimento em Outubro de 2017 e Junho de 2018, taxas de juro de 4,677 e 4,956%, respectivamente.
Várias ilações se podem tirar face a estes novos dados:
- Confirma-se, por um lado, que "não há almoços grátis" e muito menos quando se lida com os mercados financeiros.
- Constata-se, por outro lado, que, com esta operação, o almoço vai sair mesmo muito caro a todos os portugueses, visto que o governo se dispõe a pagar, nalguns casos, mais do dobro do que o país pagava pelas OT substituídas.
- Finalmente e como é evidente, para o governo aceitar um tal agravamento das taxas de juro (superiores à mítica taxa de 4,5% que, no dizer da Comissão Europeia e do ministro Machete, seria a taxa suportável para se poder evitar um segundo resgate) é porque está desesperado e perfeitamente consciente de que, findo o programa de ajustamento, Portugal, graças à política suicida de empobrecimento, não estará em condições de se financiar a taxas de juro compatíveis com a sustentabilidade da dívida.
O governo tem, aliás, toda a razão para o seu desespero, porque, para "grande azar dos Távoras" (leia-se: portugueses) dá-se a coincidência de, no mesmo dia em que é anunciada a operação, os juros implícitos da dívida pública portuguesa terem voltado a ultrapassar os 6%.
Vista a esta luz, esta operação significa, ao fim e ao cabo, que todo o discurso que o governo tem vindo a fazer sobre a capacidade de regressar aos mercados, sem um novo resgate, ou sem programa cautelar, não passa de mais um embuste, matéria em que, sem sombra de dúvida, é especialista.
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A entrada de António Pires de Lima para o governo, com a pasta da Economia, aquando da última remodelação governamental, foi saudada pelos representantes das confederações patronais e por boa parte da comunicação social como uma excelente opção, tendo em conta, designadamente, o facto de Pires de Lima se apresentar não só como um defensor de uma política mais orientada para o crescimento da economia e que não se traduzisse apenas em austeridade seguida de mais austeridade, mas também como um paladino da descida dos impostos, designadamente do IVA no sector da restauração, descida considerada por ele como um factor decisivo na dinamização. da economia.
Decorridos que são apenas alguns meses, as esperanças depositadas no novel ministro da Economia foram já todas por água abaixo. Para tanto bastou a apresentação da proposta de Orçamento, onde as ideias defendidas por Pires de Lima, antes da sua entrada no governo, não encontram um mínimo de expressão. De facto, se alguma coisa se pode dizer com verdade é que no Orçamento para 2014 não há qualquer medida que tenha a pretensão de promover o crescimento, pois todas elas se traduzem em acrescentar austeridade à austeridade que já vinha dos Orçamentos anteriores. E no que respeita à baixa do IVA para o sector da restauração, nem sinais.
Defende-se o ministro Pires de Lima com o argumento de que ele no governo é um "soldado leal e fiel". Fraca defesa, como é óbvio, até porque se as carências do governo eram devidas à falta de soldados leais e fiéis, Passos Coelho tinha nas forças armadas muita gente em condições para desempenhar esse papel.
Para a queda das expectativas depositadas em Pires de Lima, há que dizê-lo, também contribuíram as contradições resultantes das declarações que tem vindo a proferir sobre a questão do "programa cautelar", contradições que dão bem conta da sua desorientação.
Não foi, de facto, preciso muito tempo para se poder concluir que o proclamado astro em ascensão, não passa, afinal, de uma estrela cadente.
A queda induzida pela sua actuação atingiu tal dimensão que, imagine-se, já surgem vozes a reclamar pelo regresso do do "Álvaro". Vozes exageradas, sem dúvida, visto que o "Álvaro" foi um ministro-anedota inventado por uma outra anedota não menor: o próprio primeiro-ministro.
Pires de Lima não é, porém, a única estrela cadente no firmamento deste governo, pois Paulo Portas tem feito o mesmo caminho.
Recorde-se, a este propósito, que, aquando da última remodelação, na sequência da demissão de Vítor Gaspar e da "irrevogável demissão" de Portas, não faltou quem tivesse afirmado que com a promoção do Portas a vice-primeiro-ministro e com a entrada de Pires de Lima para ministro da Economia, o CDS teria ganho uma muito maior relevância no seio do governo, prevendo-se que, com o reforço da posição do CDS, se iria assistir a um novo ciclo e, com ele, a uma inversão da política de austeridade para uma política caracterizada por uma maior atenção dada ao crescimento da economia.
Quem afinou por tal diapasão não pode deixar de estar hoje completamente desiludido. O reforço da presença de gente do CDS no governo não só não se traduziu numa inversão da política de austeridade, como, pelo contrário, o que se verificou foi um reforço dessa mesma política.
Desilusão tanto mais evidente quando é certo que Paulo Portas, que cultivava a sua imagem como estrénuo defensor e provedor dos contribuintes, dos reformado e pensionistas, dos idosos, dos órfãos, das viúvas e viúvos, é visto, nos dia de hoje, por muitas e variadas que sejam as suas piruetas, como a face mais visível da política de austeridade com que este governo tem vindo a castigar aqueles sectores da população.
Por isso, até se pode dizer que, afinal, o alegadamente "muito inteligente" Paulo Portas foi completamente manietado pelo "pouco inteligente" e "impreparado" Passos Coelho, mas, pelos vistos, mais "esperto".
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Esta declaração tem o inquestionável mérito de acabar com todas as dúvidas: o governo português assume, sem disfarces, que Portugal, no final do actual programa de assistência, não estará em condições de financiar-se junto dos mercados financeiros, tendo forçosamente de recorrer a nova ajuda para se poder financiar a juros aceitáveis. Em boa verdade, notícias como esta nem sequer permitem que o governo possa acalentar outra alternativa. Qualquer que seja a forma que o novo programa de assistência venha a tomar (novo resgate, ou programa cautelar) um dado é certo: Portugal, ao contrário do que Paulo Portas tem vindo a proclamar, não se verá livre do "protectorado". Duma forma ou de outra, Portugal continuará sujeito ao condicionalismo que os "assistentes financeiros", sejam eles quais forem, quiserem impor. Isto, pelo menos, enquanto em Portugal estiver no poder este governo de marionetas.
Se o país, ao fim de três anos de assistência financeira, sob o controlo datroika, não só não consegue ver-se livre de uma qualquer forma de "protectorado", como está e vai estar, no fim do programa, mais pobre, mais endividado e com um número muito mais elevado de desempregados, então forçoso é concluir que os actuais governantes (Cavaco incluído) não se limitaram a "queimar" 12 ou 13 mil milhões de euros, para utilizar a expressão de Pedro Adão e Silva a que me refiro aqui. Os incendiários são também responsáveis por, em pura perda, terem lançado à fogueira três anos das nossas vidas. Não admira, por isso, que os incendiários se tenham vindo a esquivar, até agora, ao julgamento popular, mas o dia do julgamento da tragédia por que são responsáveis, há-de chegar. Queiram ou não queiram.
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Um governo que não honra os compromissos do Estado para com viúvas e viúvos (muitos ou poucos é irrelevante no plano dos princípios) para poupar
100 milhões de euros, uma gota de água tendo em conta as verbas globais do Orçamento de Estado, é porque, mais que desesperado, já está pela hora da morte.
De facto, a corja já não governa, mas ainda estrebucha.
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Com a introdução do Euro desapareceram as lojas dos 300 . Em substituição surgiu agora, pela mão deste governo, numa espécie de revivalismo, a fasquia dos 300. Creio não estar a cometer, com esta atribuição, nenhuma injustiça, pois, se bem me lembro foi o INE a entidade que anunciou, aqui há uns tempos, que os salários pagos nos novos empregos entretanto criados nos últimos meses e de que o governo tanto se ufana, apesar de a descida do desemprego se cifrar em escassíssimas décimas, andam à volta dos 300 euros por mês. O "mérito" cabe por inteiro a este governo, que, desde que tomou posse, outra política não tem seguido que não seja a de forçar a baixa de salários em nome da competitividade que, sabe-se lá se por pura "malvadez", não tem correspondido às "boas" intenções do governo: a dita cuja, em vez de subir, tem baixado.
Se este governo não tem vergonha de estar a promover salários à volta dos 300 euros por mês, não tem nada de surpreendente o facto de o mesmo governo ter vindo a proceder a cortes em salários e pensões acima dos 600 euros e de se propor continuar pela mesma senda. Para um tal governo é óbvio que quem aufere rendimentos de tal montante é "gente rica" que, ainda por cima, na perspectiva do primeiro-ministro Coelho, tem vivido "acima das suas possibilidades" e bem merece os castigos que este governo lhe tem vindo a proporcionar. Com imenso gosto.
E é claro que, para um governo como este ("de delinquentes", como diz e bem, Mário Soares), falar de "direitos adquiridos" é pura perda de tempo, pois "direito" e "direitos", são termos que não fazem parte da novilíngua que este governo tem vindo a inventar. Mas não só. Basta ouvir ou ler os Gomes Ferreiras que há por aí para concluir que funcionários públicos, reformados e pensionistas não têm direitos. Nem sei mesmo se ainda se poderá falar em legítimas expectativas. Não desesperem, porém, os funcionários públicos, os reformados e pensionistas. Como esta gente fala muito em caridade, talvez ainda possam contar, no futuro, com umas esmolas na fasquia dos 300.
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De acordo com as estimativas divulgadas pelo INE relativas ao segundo semestre deste ano,
a taxa de desemprego foi de 16,4%, valor que, sendo embora superior em 1,4% ao do trimestre homólogo de 2012, é, no entanto, inferior em 1,3% em relação ao do trimestre anterior.
Trata-se, aparentemente, de uma boa notícia que, no entanto, não levou os governantes (Pires de Lima e Mota Soares) que se pronunciaram sobre o assunto a embandeirarem em arco.
Reconheça-se, pois, antes de mais que os referidos ministros agiram com prudência o que, não sendo muito usual no governo de Passos & Portas, já é de louvar. Prudência que se justifica amplamente, já que, como reconheceram, o fenómeno da baixa da taxa do desemprego pode ser atribuído exclusivamente a um efeito sazonal e não ser consequência do aumento sustentado da actividade económica. O fenómeno não é, aliás, inédito, pois tende a repetir-se ano após ano.
O efeito da sazonalidade, porém, não é o único aspecto a recomendar que se use de prudência na análise. É que, tal como qualquer moeda, os dados do INE sobre desemprego têm duas faces: uma que revela que se verificou uma baixa da taxa de desemprego e uma outra que dá conta que "Portugal só conseguiu criar empregos mal remunerados, nos salários abaixo do nível de pobreza, abaixo dos 310 euros", dado este que, só por si, impede que se entre em euforia.
De facto, considerar como "empregado" qualquer pessoa que se sujeite a trabalhar durante um mês a troco de um salário abaixo de 310 euros, é pura ficção. Quem aceita trabalho em tais condições é porque se encontra em verdadeiro estado de necessidade, no limite da sobrevivência, ou dito por outras palavras, em estado de mendicidade. Diria mesmo que, em certo sentido, a sua condição é pior do que a do mendigo. Este recebe a esmola em troca de nada. O "empregado" a trabalhar naquelas condições, para além de receber um "salário" que não passa de uma esmola, é vítima duma exploração que se julgaria impensável nos dias que correm. Infelizmente, dizem os dados do INE, não é.
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Falo em desnorteamento que é a melhor das versões, porque há quem diga que estaamos perante uma
dramatização e um
de abuso do poder, o que, a meu ver, não melhora o julgamento. Antes, pelo contrário, porque, a ser assim, o governo não passa de um colectivo irresponsável que já não é, nem merece estar.
Em boa verdade, se, como diz o André Macedo e eu concordo, "
a eleição deste Governo revelou-se um erro trágico", este governo nunca devia ter acontecido.
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Já se pode ler no site da Presidência da República o anunciado "Prefácio do Presidente da República no livro de intervenções “Roteiros VII”, a que Cavaco Silva deu o título "UM PRESIDENTE EM TEMPOS DE CRISE".
Tendo em conta os resultados da sua acção (a economia portuguesa a afundar-se de dia para dia e Portugal a empobrecer a olhos vistos, sem que Cavaco Silva tenha tomado até agora qualquer atitude que tenha contribuído para inverter a situação) mais ajustado seria o título "O que um Presidente não deve fazer em tempos de crise".
É verdade que, atendendo à enumeração, que se diria exaustiva, dos seus múltiplos "avisos" e às suas alegadas, mas não desvendadas, intervenções junto do governo, até se poderia dizer que Cavaco Silva tem desenvolvido, durante o actual mandato, um intenso labor. No entanto, mesmo admitindo que tal poderia corresponder à verdade, certo é que, tendo em conta os resultados, a sua acção só pode ser classificada como ineficaz, inconsequente, senão como contraproducente. Esse é, pelo menos, o modo como os portugueses avaliam a sua actuação, a crer na última sondagem publicada pelo "Expresso", que atesta que a popularidade de Cavaco Silva continua em queda. E não se diga que tal se deve, como Cavaco parece sugerir, ao facto de ele recusar assumir um excessivo protagonismo e à preocupação de "guardar reserva relativamente às suas intervenções junto do Governo". E não se diga tal, porque a realidade fala mais alto e não há a mínima dúvida de que a situação económica e social em Portugal tem vindo a agravar-se desde que o actual governo, patrocinado por Cavaco, assumiu funções.
Cavaco Silva não ignora certamente essa realidade, pois está bem à vista, mas se alguém pensa que ele pode vir a tomar alguma iniciativa que ponha termo à tentativa de destruição de um país em que o actual governo parece empenhado, desiluda-se. É ele quem o diz: "Em conjunturas de crise, como a que vivemos, seria fácil tirar partido de uma magistratura que não possui responsabilidades executivas diretas para, através de declarações inflamadas na praça pública, satisfazer os instintos de certa comunicação social, de alguns analistas políticos e de muitos daqueles que pretendem contestar as instituições. Seria fácil, por exemplo, alimentar sentimentos adversos à classe política ou até à ação do Governo.
Esse não é, no entanto, o meu entendimento sobre o que deve ser a ação responsável de um Presidente da República, muito menos em tempos de grave crise. Os Portugueses sabem como sou, conhecem a minha aversão a excessos de protagonismo pessoal e o meu apego ao superior interesse do País. A minha missão consiste em contribuir, de forma ativa mas ponderada, para que Portugal vença os desafios do presente sem perder de vista os rumos do futuro. Foi esse o mandato para que fui eleito – e dele não me afastarei nem um milímetro."
Ou seja: o navio pode estar a afundar-se, mas ninguém espere que Cavaco mexa sequer uma palha para evitar o naufrágio. Cavaco é, pois, o exemplo perfeito de um presidente inexistente e prova viva de que Portugal, como já alguém disse, não precisa de um Presidente para sobreviver.
Sim, porque Portugal, apesar da tripla "praga" (este presidente, este governo e esta maioria) que está, consciente ou inconscientemente, a tentar destruí-lo, ainda há-de encontrar forças e meios para resistir e sobreviver. Pelo menos, assim o creio.
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Por todas as razões que enumera (e por mais algumas que poderiam ter sido alinhadas), André Macedo, em artigo de opinião que pode ser lido, na íntegra,
aqui, classifica o ministro das Finanças como " O inconcebível Gaspar".
O qualificativo "inconcebível" que bem calha ao ministro Gaspar, assenta ainda melhor à espécie de primeiro-ministro que (des)governa o país. De facto, como classificar um primeiro-ministro que, perante a proposta do líder do PS visando o aumento do salário mínimo nacional, não só recusa a proposta como defende que
a medida mais sensata seria baixá-lo, invocando, para justificar a (insensata) tese, o exemplo da Irlanda, que frequentemente lhe serve de referência, onde vigora um salário mínimo "principesco
" (1462 €) quando comparado com o miserável salário mínimo em vigor em Portugal (485 €)?Se este primeiro-ministro é inconcebível, já, ao invés e por contraditório que possa parecer, se consegue conceber a sua permanência em funções.
E concebe-se, porque, a par dum primeiro-ministro e dum ministro das Finanças inconcebíveis, Portugal também tem um presidente da República inconcebível., simultaneamente existente e inexistente. Existente, porque ocupa o lugar, inexistente porque, inoperante, se demite do exercício das sua funções.
Inconcebível, não é?
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Defrontam-se, na praça pública, duas teses a propósito da interpretação da lei de limitação dos mandatos dos presidentes de Câmara. Para uns, a lei impede apenas a candidatura à mesma Câmara, para outros a limitação é extensível às candidaturas a qualquer Câmara.
Paulo Rangel tem vindo a defender nas páginas do "Público" a segunda tese, com argumentos a que facilmente adiro, porque a razão da lei (o combate ao caciquismo e à corrupção) tanto faz sentido num caso, como noutro.
No entanto, e independentemente de qual venha a ser o entendimento dos tribunais, há um argumento invocado
aqui pelo Daniel Oliveira que me parece merecer especial atenção, se não
de jure condito, pelo menos
de jure condendo. Escreve ele: "
quem, depois de 12, 16 ou 20 anos de vida autárquica teima em concorrer a outra autarquia, já não quer servir as populações, quer servir-se delas."Nem mais!
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Frustrada a privatização da RTP e o mirabolante negócio da venda de 49%, com entrega da gestão à Newshold, nem por isso o ministro Relvas ficou desempregado e muito menos se pode considerar um derrotado, ainda que o seja aparentemente.
Pelo contrário, o ministro tem já entre mãos o "processo ambicioso, muito exigente e doloroso” de proceder à “reestruturação profunda” da RTP, reestruturação que, a confirmarem-se as notícias, passa pelo despedimento de 600 trabalhadores, numa operação que representa, nem mais nem menos, que o estrangulamento da empresa pública de televisão e de radiodifusão.
Um processo que pode ser visto como uma espécie de "vingança do chinês", ou melhor, uma vingança do Relvas, o único ministro que é capaz de levar a cabo o "doloroso" processo com todo o gosto e que, através desta manobra, consegue transformar a aparente derrota, às mãos de Portas, em mais uma vitória.
As notícias que davam o Relvas de saída do governo, após após a resolução do imbróglio da privatização, eram, não só manifestamente exageradas, como completamente erradas. Relvas, de ministro indescartável pela sua nunca explicada ligação a Coelho, passou também a ser imprescindível. Não só pela razão supra, mas também porque o governo, sem Relvas, podia ainda ser uma espécie de governo, mas não era a mesma coisa. Relvas e o governo, até nas equivalências, se conjugam: se Relvas é equivalente a um licenciado, o governo é equivalente a uma comissão liquidatária.
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Ao contrário do que se poderia supor, por ser assunto na ordem do dia, não estou a falar do badalado "regresso aos mercados", um sucesso, no dizer de governantes, de banqueiros e de outros beneficiários da árvore das patacas, como Catroga, embora, pessoalmente, não tenha ainda conseguido descortinar em que se traduz tal sucesso a não ser que se considere que o sucesso reside num maior endividamento a uma taxa de juro que é superior à média que o país já está a pagar.
Deixemos, entretanto, esse assunto de parte para tratar do tema que aqui me traz e que tem também a ver com um regresso que mostra até que ponto vai a falácia do apregoado sucesso.
Precisando: refiro-me ao regresso às suas casas ou às casas dos seus familiares por parte das pessoas mais idosas entretanto recolhidas em lares e noutras instituições de acolhimento, regresso que é motivado pela necessidade de as famílias se socorrerem das pensões dos seus membros mais idosos, normalmente magras, mas ainda assim necessárias para minorar as dificuldades enfrentadas por um cada vez maior número de agregados familiares.
Não estou a inventar uma história. A descrição desta situação ouvi-a, num canal de televisão, da boca de duas personalidades ligadas à Igreja Católica, sendo uma delas o presidente da Cáritas Portuguesa, entidade que julgo ser insuspeita de parcialidade em relação às forças políticas no poder.
Será que quem fala de "sucesso" a propósito do dito "regresso aos mercados" consegue pôr os olhos nestas realidades e noutras semelhantes que são tantas que seria fastidioso referi-las aqui? Por certo que não, pois que se o fizessem, numa altura em que a multidão dos que estão desempregados e dos que auferem salários de miséria não pára de aumentar, dar-se-iam conta de que falar em sucesso, soa quase a insulto dirigido a quem passa por enormes dificuldades.
Compreende-se, no entanto, que assim seja, pois tal gente vive num mundo bem diferente. Um mundo em que palavras como pobreza, desemprego e miséria não fazem sequer sentido. No "mundo" deles, a economia não decresce. Pelo contrário, a economia medida pelos seus rendimentos que, por sinal, têm vindo a aumentar, até se pode dizer que é pujante e, claro, no "mundo" deles, o empobrecimento forçado a que a generalidade da população tem vindo a ser sujeita é, naturalmente, um sucesso. Mas deles e só deles.
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Passos Coelho mente com tanta facilidade que suponho que a mentira lhe é tão natural como o respirar.
O Jornal de Negócios ("link" supra) faz o favor de lembrar ao Pedro as várias declarações de incentivo à emigração proferidas por membros do seu governo, incluindo o próprio Pedro Passos Coelho.
Ei-las:
- "se estamos no desemprego, temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras" (secretário de Estado do Desporto e da Juventude, Alexandre Mestre)
- "Quem entende que tem condições para encontrar [oportunidades] fora do seu país, num prazo mais ou menos curto, sempre com a perspectiva de poder voltar, mas que pode fortalecer a sua formação, pode conhecer outras realidades culturais, [isso] é extraordinariamente positivo" (ministro Relvas)
"Nós temos hoje uma geração extraordinariamente bem preparada, na qual Portugal investiu muito. A nossa economia e a situação em que estamos não permitem a esses activos fantásticos terem em Portugal hoje solução para a sua vida activa. Procurar e desafiar a ambição é sempre extraordinariamente importante" (Relvas em dose dupla)
- "Angola, mas não só Angola, o Brasil também, tem uma grande necessidade ao nível do ensino básico e do ensino secundário de mão de obra qualificada e de professores.Sabemos que há muitos professores em Portugal que não têm nesta altura ocupação e o próprio sistema privado não consegue ter oferta para todos. Nos próximos anos haverá muita gente em Portugal que ou consegue nessa área fazer formação e estar disponível para outras áreas ou querendo-se manter, sobretudo como professores, podem olhar para todo o mercado de língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa". (Passos Coelho).
Mentir tão descaradamente, já não é defeito, é feitio. Ou melhor dito: é doença. Cuida-te, Pedro!
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A mensagem de Cavaco Silva foi, como é de regra, objecto das mais variadas interpretações, fazendo cada qual a leitura que mais lhe agradou. Como é usual e aliás compreensível.
Desta vez, também eu me dei ao trabalho de ouvir e de
ler a mensagem e, se bem ouvi e li, Cavaco Silva não foi além do exercício que lhe é habitual: fez uns tantos avisos, mas, à partida, deixou claro que os seus avisos não são para levar a sério. Qualquer que seja a evolução dos acontecimentos e por mais grave que venha a ser a situação social e económica, Cavaco Silva recusa a hipótese duma crise política. Nestas condições, é óbvio que Passos Coelho tem caminho livre para fazer o que muito bem lhe aprouver. Siga ele, ou não, os conselhos de Cavaco, este não tirará daí quaisquer consequências, em conformidade, aliás, com o seu procedimento em relação este governo. Cavaco avisa, lava as mãos e, desta forma, sacode a água do capote. Com êxito, até agora, reconheço.
"Inconsequente" disse a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, ao comentar a mensagem. Inconsequentes, corroboro eu, a mensagem e o autor.
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"A secretaria do Tribunal Constitucional encerrou sem que o Presidente da República tenha ali entregue hoje, último dia do prazo, um pedido de fiscalizaçãp preventiva da constitucionalidade do OE 2013"
A verdade é esta: estavam reunidas todas as condições para que o "morto" regressasse à vida. Pode mesmo afirmar-se que dificilmente poderá ocorrer uma oportunidade tão, ou mais, favorável. O certo é que, mesmo assim, o "morto" não ressuscitou. Assim sendo, é de afastar definitivamente a possibilidade de ressurreição. Pelo menos no que diz respeito ao "peso morto" instalado em Belém.
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O motor das exportações gripou, porventura de vez, decorrido que é um ano e meio de governo do "primeiro-ministro" Gaspar, o tal que, segundo Marques Mendes, "
anda a gozar com o pagode".
(Entre parêntesis, digo eu ao Marques Mendes que Gaspar não é o único. O "adjunto" Coelho também se tem farto de "fazer dos outros parvos", mas, em boa verdade, o Coelho já não conta e já ninguém o leva a sério, tantas são as vezes em que ora diz sim, ora não, para acabar
no talvez).
Mas, retomando o fio à meada,
dizem as notícias, citando os dados do INE, que o ritmo de crescimento das exportações tem vindo abrandar, tendo ficado em 1,7%, no último trimestre, abrandamento bem visível quando comparado com os 3, 7% do trimestre anterior e mais ainda com os 6% dos antecedentes, para já não falar dos saudosos tempos do Governo anterior em que o ritmo de crescimento se escrevia com dois dígitos.
Como consequência, a queda da economia agravou-se, com o PIB a recuar 3,5% face a idêntico trimestre do ano anterior, ultrapassando já os 3% previstos pelo "primeiro-ministro" Gaspar para o corrente ano, o que vem confirmar de novo que o "inteligentíssimo" Gaspar não acerta uma.
Perante isto, cabe perguntar ao "primeiro-ministro", ao "adjunto", ao governo e à maioria par(a)lamentar se ainda acreditam nas ficções inscritas no chamado "Orçamento do Estado para 2013", no que respeita às previsões sobre a evolução da economia, sobre a receita, a despesa, o défice e a dívida ?
Se o motor (exportações) gripou, por mais que Gaspar e Passos nos mintam em contrário, é óbvio que o carro (economia) não vai andar. Com o virar do ano melhor se verá.
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O recuo do governo português (mais um) relativamente ao pedido de atribuição a Portugal das condições concedidas à Grécia, no que respeita à redução da comissão dos empréstimos, ao prolongamento do prazo do reembolso e à possibilidade de adiar o pagamento dos juros, tem sido justificado com o receio de que tal pedido poderia ser mal compreendido pelos "mercados", podendo afectar a reputação do país como entidade com capacidade para cumprir os seus compromissos face aos credores.
A justificação, se bem que em linha com a advertência do ministro alemão Wolfgang Shhäuble, a quem é atribuída a afirmação de que o pedido "seria um sinal terrível" (afirmação que, do ponto de vista dum credor, até é facilmente compreensível) é uma perfeita imbecilidade, pois é evidente que, vistas as coisas pelo lado dos "mercados", a diminuição dos encargos com a dívida actual, só pode ser lida como favorável ao cumprimento de encargos derivados de emissão de dívida no futuro.
O que está, pois, por detrás do recuo é tão simplesmente a subserviência de que este governo tem dado abundantes provas perante os ditames do governo da senhora Merkel. E é também, sem qualquer dúvida, um sinal de que, para este governo, os portugueses não passam de um bando de imbecis.
E estamos nisto: uma equipa governamental de cócoras perante a senhora Merkel a tratar os portugueses como imbecis. Até agora, em completa impunidade.
Até quando?
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Confesso que não assisti ao discurso de Jerónimo de Sousa na abertura do XIX Congresso do PCP, tendo apenas lido os relatos publicados nos órgãos de informação, on line. Não ouso, por isso, dizer que Jerónimo de Sousa se limitou a repetir a "cassete", até porque, segundo creio, a "cassete" já caiu em desuso. Certo, no entanto, é que, tendo em conta os citados relatos, não se descortina, no discurso do secretário-geral do PCP, o mínimo resquício de novidade.
Se não me engano na leitura, diria que o discurso de Jerónimo de Sousa se caracteriza, antes de mais, por um evidente irrealismo das soluções propostas e pela completa ausência de auto-crítica.
Não existe no discurso, a menor referência ao facto de o PCP ter contribuído para a ascensão do governo de direita ao poder. O escamotear das responsabilidades do PCP em tal matéria tem como efeito contribuir para retirar credibilidade às soluções que propõe para o momento que o país vive, credibilidade que o irrealismo das soluções, em boa verdade, só por si, já não consente.
Defende o PCP, pela voz de Jerónimo de Sousa, a demissão do governo, a realização de novas eleições e a formação de um novo governo (de esquerda, presumo), mas sem a participação do PS. Construir castelos no areia é fácil e a proclamação de tal intenção até pode servir para entusiasmar fiéis, mas, como é evidente, tais edifícios levam mais tempo a construir do que a desfazer-se.
Hostilizando, uma vez mais, o PS, desvalorizando a contribuição do Bloco de Esquerda e desconfiando dos movimentos sociais, como de novo ficou claro, com que votos contará o PCP para construir um Governo de esquerda? Só com os votos dos fiéis? Manifestamente, são muito poucos para tamanha ambição.
Não, por este caminho, nem o PCP, nem a esquerda chegam lá. É pena, porque, desta forma, vamos ter que assistir, impávidos, ainda que não serenos, à destruição do país às mãos duma direita que já revelou até onde pode levar a insânia e o fundamentalismo de que se sustenta. Repito: é pena.
(imagem daqui)
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