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Ontem estive na conversa com o André J. Gomes. Brasileiro. O curioso, e isso acontece-me quase sempre que falo com brasileiros, foi a facilidade com que passámos adiante o que não interessa, a forma como não falámos do que é meramente instrumental (embora, convenhamos, o André seja um tipo diferente; basta ler os textos dele na Bula).
Nunca tínhamos trocado palavra e avançámos directo para o "- Tás bom, pá?; - Sim, o que contas?". Passe o exagero, fica a ideia. E eu contei, e ele contou. Alguém já havia caminhado quinhentos anos por nós. Alguém falou a mesma língua. Quinhentos anos a musicar confianças. O mais próximo que sinto, em termos de afinidade – e ainda assim a léguas de separação, por causa de uns cheques carecas pelo meio −, é com Espanha e com os espanhóis.
E dou por mim a pensar que, Espanha à parte, mas essa também se deixou enrolar no mesmo nó górdio que nós (e este tipo de nós só se “desatam” à espadeirada), − dizia, Espanha à parte, a distância geográfica não é um bom referencial.
A Alemanha, no que respeita a caminho caminhado, fica bem mais longe de nós do que o Brasil. A Europa, essa, fica no outro lado do mundo. Puta de jactância, a nossa, que nos cegou a boca e emudeceu os olhos. Portugal virou-se para o lado errado. Fomos atraídos pela cenoura do dono que nos cavalga e hoje já nem a cenoura é necessária. Nem sequer a ameaça de chicote; obedecemos sem ameaça e de rojo lambemos as patas de quem nos põe a pata em cima.
O tempo que não perdi a falar com o André é bem o exemplo do tempo que Portugal perdeu nesta caminhada inglória em que o caminho não se faz andando. Rio, para não chorar, quando penso no que seria ter tido aquela conversa, com um alemão. Ainda que fossemos percebendo, em inglês, o que o outro diz, nunca nos entenderíamos. As nossas referências são outras. Trocámos uma identidade, feita de História comum, por dinheiro fácil.
Agora, chegou a factura da nossa estupidez. Paguem e não bufem. Ou façam como eu, não paguem e bufem… Soltemos a jangada de pedra, com ou sem além-Olicença, e não paremos onde parou a de Saramago. Porto de Galinhas é um bom destino, desta vez sem que seja porto de descarga de escravos (as tais “galinhas” que deram o nome àquele sítio de aportar). Não literalmente, entenda-se, que um Oceano não nos separa…
Alea jacta est, a porra. O Rubicão existe nas nossas cabeças amestradas. Não há rio para atravessar. Basta tirar a venda e olhar.
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