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Regresso à casa dos mortos

por Licínio Nunes, em 18.02.14
Deve ser explicado claramente aos Alemães que a guerra cruel conduzida pela Alemanha e a resistência fanática dos nazis destruíram a economia alemã e tornaram inevitáveis o caos e o sofrimento e que os Alemães não podem evitar a responsabilidade pelo que lhes aconteceu. A Alemanha não será ocupada com um propósito de libertação, mas como uma nação inimiga derrotada — Henry Morgenthau Jr.

Em A casa dos mortos, o ensaio que fecha aquela obra monumental que é o Pós-Guerra, Tony Judt conta-nos como o reconhecimento do Holocausto — e de outros holocaustos menores — se tornou a condição sine qua non para que os povos e os países possam ser aceites como pertencentes à Europa. E sumariza aquela conclusão surpreendente, mas já repetidamente ilustrada ao longo da obra, de como aquele reconhecimento é recente. A França recusou-se a falar em "crimes contra a humanidade" até finais dos 1980's; os governos da antiga europa soviética fizeram-no apenas já este século; Primo Levi foi traduzido para francês apenas após a sua morte.


Foram os alemães os primeiros a fazê-lo. Em finais dos anos 70: "Até 1968 tinham-se registado apenas 471 visitas de estudo a Dachau [é um subúrbio de Munique]; no final dos anos 70, este número tinha excedido, em muito, as cinco mil por ano.", op. cit.; "Holocausto" foi vista por cerca de 20 milhões de alemães. As políticas de "desnazificação" dos anos imediatamente a seguir à guerra foram um fracasso absoluto. Uma conclusão irrecusável e surpreendente, pelos menos para mim que sempre estive convencido do contrário. Porque a este respeito, a pergunta essencial é "Para os alemães, quem foi Joseph Stalin?" e a resposta: o santo protector que os livrou de Henry Morgenthau. A directiva JCS 1067 (Joint Chiefs of Staff) regulou o governo da zona de ocupação americana até 1947, altura em que o Plano Marshall começou a ser elaborado. Os "Morgenthau Boys", dominantes no governo da zona americana, demitiram-se em massa, quando a directiva JCS 1779 entrou em vigor. Contudo, a vasta maioria dos alemães não recorda ter sido punida pelo seu apoio ao nazismo. Eles acham que foram remunerados por terem estado na linha da frente da Guerra Fria. Têm razão.

Mas vamos fechar este assunto. Tony Judt dá-nos mais uma peça de informação essencial: o Plano Marshall foram cerca de 15 000 milhões de dólares (da época); o montante extorquido pelos soviéticos dos países de leste (incluindo a Checoslováquia!), a título de compensações de guerra, foi muito aproximadamente o mesmo. Se algo mais necessitar ser dito a este respeito, não só não sei como o fazer, como não estou interessado em fazê-lo. Recordemos apenas as décadas de trampa de Éluard a Sartre, e a respectiva contraposição vertical: Albert Camus!

Aquilo que hoje nos leva de volta à casa dos mortos é diferente e é algo que os povos da Europa decidiram que não querem discutir e é algo que nós, portugueses, estamos a conhecer pela primeira vez. Estou a falar da colaboração. Não necessita ocupantes, apenas colaboracionistas. Gaspares decididos a "irem mais além" do que aquilo que lhes é pedido. Aquilo que os colaboradores do presente estão a fazer é o mesmo que os seus antepassados de toda a Europa fizeram. Solícitos, dedicados, sempre tentando antecipar aquilo que os seus "protectores" pretendem.

Temos pouco de Europeus. Para dizer a verdade, nem sequer temos a certeza de querermos ser Europeus. Não aprendemos nada com os erros e os problemas da Europa. Hoje, no momento em que somos a cobaia, a antecipação do continente que está para vir, ninguém nos ouve e pelo pior dos motivos: não temos nada para dizer. Pelo menos, nada que os outros Europeus não queiram esquecer.

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publicado às 15:18

Podereis roubar-me tudo:
As ideias, as palavras, as imagens,
E também as metáforas, os temas, os motivos,
Os símbolos, e a primazia
Nas dores sofridas de uma língua nova,
No entendimento de outros, na coragem
De combater, julgar, de penetrar
Em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
Suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
Outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
Será terrível. Não só quando
Vossos netos não souberem já quem sois
Terão de me saber melhor ainda
Do que fingis que não sabeis,
Como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
Reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
Tido por meu, contado como meu,
Até mesmo aquele pouco e miserável
Que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
Que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu, E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.

Jorge de Sena — in Metamorfoses: Camões dirige-se aos seus contemporâneos

Excelência,

Graças ao Observatório Naval da Armada Americana, consegui em dois ou três minutos calcular o tempo decorrido desde a última vez em que tinha tido vergonha de ser português, até à mais recente, desencadeada pela televisiva emoção de V. Exa. na tarde do passado domingo, 5 de Janeiro de 2014. Foram muito aproximadamente 14500,541667 dias, desde "...aquela madrugada clara e límpida" de Abril; nem todos bons, mas durante os quais eu me podia afirmar cidadão deste país sem sem que a vergonha me fizesse corar.

Neste momento, enquanto dura o sortilégio daqueles cerca de metade de um por cento de portugueses que encheram todos os ecrans de todas as televisões (mais ou menos a mesma percentagem de alemães que inundaram as Noites Mágicas de Nuremberga) e as primeiras páginas de todos os jornais que dentro em breve irão embrulhar postas de bacalhau (obrigado, Rui), lido com o meu nojo à minha maneira, mas não quero maçar V. Excelência com assunto tão pessoal, porque a verdade, talvez incómoda para si, é que ainda existem pessoas de bem neste país.


O propósito desta Petição é directo e explícito. Parece que o fulano do pontapé na bola irá ser transladado para o Panteão. Irá fazer companhia àquele esqueleto falso de que falou Jorge de Sena, sem com isso incomodar minimamente o falsificado, que toda a vida conviveu com ralé. Por isso, solicito a V. Exa duas coisas: a primeira é que, com a brevidade possível, diligencie para que o esqueleto, esse bem real, do patrono mais recente de todos aqueles ladrões seja também transladado para o Panteão. Sem a companhia do emérito Prof. Dr., o de Santa Comba, nem o Futebol nem o Fado poderão descansar em paz, sendo que o 'F'-em-falta se consagra a si próprio.

O segundo pedido é no sentido de V. Exa. envidar todos os esforços para lhes ir fazer companhia com a maior brevidade possível. Tendo sido informado pela loiríssima Figura do Estado que lhe sucede na Ordem da República, de que estas coisas têm custos, desde já me comprometo publicamente a contribuir para esse peditório. E aqui deixo a evocação de dois outros Portugueses, cuja simples memória poderá contribuir para acelerar tão fausto desenlace.


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publicado às 12:15

"Três pequenos detalhes comuns a Rui Machete e a Franquelim Alves: 1) Foram ambos altos quadros do grupo BPN no tempo das práticas de administração ruinosa; 2) São hoje ambos membros do Governo; 3) Nas notas biográficas de cada um deles distribuídas à comunicação social pelo Gabinete do Primeiro Ministro a passagem de ambos pelo BPN foi omitida..." [José Manuel Pureza]

Isto tresanda a gozo e, francamente, nem consigo escrever muito sobre esta coisa. Ia fazer uma nota sobre a nova bandeira destes diabos e calhou aparecer-me o Pureza a dizer algo semelhante ao que eu iria escrever, o que me poupou uma série de linhas. No dia 10 deste mês, dia da pantominice do pantomineiro-mor, escrevi (entre outras coisas e ainda sem ter percebido bem o que se estava a passar): O PS, ao não aceitar esta ignomínia [se aceitar, morre!, de vez e de morte matada], “obriga” o Cavaco a escolher a solução de governo proposta pela dupla PSD-PP (...) Não alinho na ideia de que isto foi uma moção de censura do Cavaco à proposta do PSD e do PP. A ideia de reproduzir as minhas palavras (coisa algo pateta, diga-se) não é dizer que li bem nas entranhas da cagarra anilhada, mesmo porque a verdade é que também me enganei p'ra caraças noutras coisas que fui dizendo entretanto (e ainda que não); a cena é mesmo dizer o óbvio. Esta vilanagem que nos mata já há muito perdeu a vergonha e nem se dá ao trabalho de disfarçar.

Em suma: desde o dia 1 desta "crise" que este era o final em guião. Mercado sobe, mercado desce. E o POVO fornece e o POVO fenece. O mesmo povo que nesta merda vota e que esta merda merece. Sei que se fosse chamado às urnas o povo enfiava-se nelas e votava em mais do mesmo, ainda que lhes mudasse a cor. Ainda assim, não desisto, que o POVO um dia vai ganhar vergonha na cara e fazer por arrancar as vergonhas a estes biltres. Refiro-me às vergonhas de que falava Pero Vaz de Caminha, aquando do achamento do Brasil. "Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas.".

E eu estou para lá da paciência... Não vou ficar sentado à espera do povo mas também não tenciono sujar-me na imundice. O que vou fazer, então? Não faço puto de ideia (mentira), mas já não é mau saber o que não vou fazer. 

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publicado às 03:07


Ultraje

por Licínio Nunes, em 20.11.12
Eu ainda digo "israelitas". Ainda não me consigo convencer a mim mesmo a dizer "judeus". Seria bom no entanto que, uns e outros, caso não sejam as mesmas pessoas, compreendessem que o ultraje tem limites; que a vergonha que eles próprios não têm, faz pessoas de bem, em todo o Mundo, corar de vergonha perante a obscenidade absoluta de cenas como as que esta foto documenta. Seria bom que compreendessem como esse ultraje é profundo e que o ponto em que todos dirão apenas "judeus", esse, está cada dia mais próximo.


Até hoje, diria que as cenas da "menina de vermelho", na Lista de Schindler, de Steven Spielberg — única nota de cor num filme a preto e branco — encarnavam a personificação do mal absoluto. Hoje, a menina de vermelho tem companhia. E aqueles soldados de merda podem enrolar-se na estrela de David, que a única coisa que lhes assenta bem é a suástica e o símbolo da caveira; a única diferença real, é que, até este momento, os filhos da puta naqueles carros de combate, ainda não se sentam no banco dos réus duma Nuremberga cada vez mais indispensável. A seu tempo conhecerão a profundidade do ultraje dos seres humanos que eles não são.

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publicado às 00:31

Novo corte nas indemnizações por despedimento

por Miguel Cardoso, em 18.04.12

Ora aí está mais uma chupadela de sangue... 

 

"Estudo do Governo diz que as indemnizações devem baixar para seis a dez dias" (negócios online).

 

Um estudo do Governo aconselhou isto? Quem diria!

 

Os trabalhadores com mais anos de casa também vão sofrer cortes significativos nas indemnizações. O Governo vai discutir com os parceiros sociais a hipótese de reduzir o número de dias de salário que contam para o cálculo da indemnização, afectando todos os contratos de trabalho, e não apenas os novos, através dos limites máximos para as indemnizações anunciados esta semana. Nos documentos que o Governo enviou hoje aos parceiros sociais está previsto que, a partir da entrada em vigor da nova legislação, todos os trabalhadores vão ser abrangidos por esta medida, independentemente da antiguidade que têm nas empresas.

 

Não sei se leram bem, será progressivo, mas não tardará a aplicar-se a TODOS OS TRABALHADORES(excepto os senhores que deixam o Governo, passam pela Caixa Geral de Depósitos, e integram o conselho de administração onde passam meia dúzia de anos a coçar os tomates até os convidarem de novo para o Governo)

 

Não será preciso ser muito inteligente para concluir que irá aumentar a taxa de desemprego nos trabalhadores mais velhos e também a desigualdade social. Se ao menos o Paulinho das Feiras não nos tivesse esquecido.

 

João Proença coloca o seu ar de ingénuo (ou parvo) número 4 e diz "olha que eu vou-me a eles". Tu é que já foste.

 

O Presidente não comentará, começo a pensar que é patológico e tenho pena.

 

Para o Tribunal Constitucional tudo é constitucional.

 

Quanto se pouparia com a eliminação do Tribunal Constitucional?

 

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publicado às 20:25


Fui ao cinema - vergonha

por Luis Moreira, em 18.03.12

Não sei porque chamaram a este magnífico filme "Shame". Vencedor de vários prémios e classificado como obra prima, trata da solidão de um homem na grande cidade. Solidão que preenche com relações breves e sem significado o que lhe vai abrindo um buraco existencial ainda maior. Quando aparece a irmã para viver com ele a sua vida transforma-se profundamente.

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publicado às 13:00


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