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Com personalidade vincada, Paula Rego é conhecida pelos seus olhos profundos e pela forma peculiar como estes observam o mundo. Tem enorme capacidade de dissecar e criticar, retratando muito bem a realidade e as questões que considera prementes. Pinta a guerra, o aborto, mas também a metamorfose da obra homónima de Kafka, ou as mulheres de “O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queirós. A sua obra tem uma “força extraordinária” e, ainda por cima, frisa Mário Matos Ribeiro, produtor de moda, “cria ambientes tão banais, tão caseiros, que se torna perturbadora”. A maneira quase infantil de se expressar – tanto na pintura como na oralidade – faz de Paula Rego uma personagem intrigante, a quem ninguém fica indiferente. Em certos momentos, tem uma perturbante doçura. Noutros, uma assustadora agressividade. Mas os seus quadros são belos, como tudo o que é indomável.
Paula Rego não ilustrou O Crime do Padre Amaro, nem pintou seguindo a cronologia da sua acção. «Escolhi um romance muito português, porque senti que precisava de actividade social em vez das coisas que se encontram nos contos populares. O Crime do Padre Amaro critica a sociedade, é muito bem observado e uma leitura deliciosa, mas acima de tudo é uma história de amor». Entretanto, a escolha deste livro é também assumida pela artista como uma homenagem prestada ao seu pai, que lhe transmitiu o espírito crítico sobre a realidade do país e que admirava Eça de Queiroz como um exemplo do que de melhor existia em Portugal. Uma outra linha de observação, mais privada ainda, relacionaria os personagens retratados e as cenas de composição mais complexa com a identidade dos modelos com que a pintora trabalha, a partir do desenho de observação («é tudo copiado à vista») e sempre mergulhada numa teia pessoal de cumplicidades e afectos: um amigo muito próximo («uma pessoa mascarada de Padre Amaro»), a constante Lila, que também foi a enfermeira que acompanhou o período final da doença do seu marido («ela tem o poder de se transformar em tudo, como uma actriz»), por vezes uma das filhas, etc.
«É tudo copiado à vista», insiste a artista, que expõe com as pinturas os seus desenhos preparatórios realizados com a constante presença dos modelos, desvendando assim os «segredos» de atelier, a «ordem e a disciplina» do trabalho do quadro em que se sustenta o seu poder de subversão. «Aprender a desenhar é muito importante. Eu também não sei muito bem, mas estou a aprender», diz Paula Rego.
De facto, não existe consenso crítico, nem mesmo coexistência pacífica, em torno da sua obra, embora as vozes que a pretendem colocar no exterior da «arte contemporânea» não se façam ouvir publicamente. A pintura de Paula Rego, no processo da continuada renovação com que amplia cada vez mais o seu poder de intervenção, não é a mera sobrevivência da linguagem ultrapassada da pintura, como alguns dizem em surdina, mas uma imensa prova de vitalidade criadora, e a contradição mais subversiva da pretensa ruptura que teria conduzido a tradição da arte, «circa 1968», a não ser mais do que um exercício aplicado no reducionismo e na desmaterialização dos seus meios, revalorizado pela rotação das modas. Não se trata aqui de um retorno ao passado ou de um «regresso à ordem», mesmo se a esta designação, que nos anos 20 se aplicou ao reaquacionar das buscas e impasses das primeiras vanguardas, se não pode associar genericamente uma conotação política ou artisticamente reaccionária.
Paula Rego : A pintura de Paula Rego não pode ser classificada como conservadora ou académica, mesmo se ela vem sendo (em especial desde o seu trabalho na National Gallery) um exercício de reaprendizagem dos meios de expressão pictural, reapropriando-se da possibilidade da representação humana e aprofundando os recursos da volumetria ilusionística do quadro, em contacto com as lições dos mestres antigos e de alguns contemporâneos (como Lucian Freud, que especialmente admira). «O naturalismo está muito fora de moda, mas eu não me importo», declara Paula Rego. «A moda passará. Estas revolucionárias 'pinturas silenciosas, com as suas réplicas sombrias', sobreviverão», comenta Maggie Gee num artigo do «Daily Telegraph».
O escândalo que as novas pinturas de Paula Rego propõem, devido às questões da sexualidade e da morte que abordam e, inseparavelmente, ao ponto de vista feminino que reclamam e revelam, não deverá ocultar o outro escândalo, talvez mais decisivo ainda, que se reside na diferença entre estas obras e a insignificância ou o tédio reinantes em grande parte do que é exibido como arte contemporânea. Esta é uma das obras em que se manifestam as mudanças do estado das artes na viragem do século.
Elas desafiam os interditos e as ocultações que reinaram com algumas concepções da modernidade, confundindo-a com as ideologias modernistas, caracterizando-a como um «progresso» linear apontado à negação ou fim da arte, cortando-lhe os laços Paula Rego :
Paula Rego : Suas telas são de uma brutalidade tremenda: denunciou a bizarria de se manter os abortos clandestinos em Portugal e a condição de menos-valia das mulheres em uma sociedade profundamente machista. Dog woman (Mulher-cão) é uma obra emblemática e sintética destas preocupações. Ao olhar para as pinturas sobre aborto, a vontade de fugir da sala, presente em todo o percurso da exposição, atinge seu grau máximo. Mas não fazemos isso, porque a esta altura já estamos completamente absorvidos e hipinotizados pela atmosfera criada pela artista.
A literatura é um fio sempre muito presente nesta obra. Paula criou obras como The company of women (Na companhia de mulheres), de 1997, e Angel (Anjo), de 1998, a partir do romance O crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós. É curioso que tenha se debruçado justamente sobre este livro de Eça, já que é nele que o escritor se debruça no tema do aborto, tão importante em sua trajetória como pintora. As criadas é claramente inspirado no texto homônimo de Genet, em que as empregadas planejam a morte da patroa – que tem aparência de um homem. Figuras masculinas travestidas são recorrentes na obra de Paula – e a Pinacoteca apresenta outro belíssimo quadro que comprova isso: Olga. Mais uma vez, o homem aparece em situação ambígua, entre o algoz e a vítima, entre a posição de mando – patrão, em As criadas; figura central em Na companhia de mulheres, lembrando a figura do próprio Padre Amaro, que na infância era vestido com roupas femininas pelas moças de Leiria; alguém que recebe sexo oral, nesta terceira pintura. Servido em sua libido, o homem não parece estar feliz, não parece ter conforto neste mundo. Conforto, aliás, é uma sensação praticamente impossível no universo de Paula Rego. O Padre Amaro de Na companhia das mulheres encara quem está olhando a pintura e compartilha com seu espectador sua sensação de desamparo.
"Na companhia de mulheres": baseado em "O crime do Padre Amaro", de Eça de Queirós
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