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Convidei o Licínio Nunes para participar na pegada por causa de um post que li dele algures no facebook e que me encheu as medidas. Não me questionem qual foi o post, o que dizia ou onde o li. Sei que o sacana do post me berrava: “convida o gajo”. E assim foi. Tal como a minha avó me ensinou. Convidei. E ele, incauto e quase às cegas (visto deste lado, imagino que não do lado dele), aceitou.
No dia 9 de Julho do ano passado, o Licínio publicou A Nave dos Loucos. Desde então muitos se seguiram e, a cada dia, dei por mim a abrir a pegada na expectativa de ver se lá vinha nova carta em forma de palavras e imagem e som -- os posts do Licínio são quase sempre assim, nessa forma "tridimensional".
Para quem, como eu, anda nisto dos blogues há quase dez anos, a forma do Licínio se exprimir, de construir os posts, era uma novidade. Uma forma de estar distinta e distinta (não me repeti). Comecei a dizer aos meus mais próximos para ousarem entrar naquela forma de interagir com o mundo, ciente de que as muitas letras, nestes espaços de ler-e -partir, poderiam afastar quem gostaria de ler do que tinha de ser lido. Durante todo o tempo em que compartilho este espaço com o Licínio, e já lá vai quase um ano, por teimosia minha, nunca entrei no perfil dele. Queria manter intacta a voz da rádio. Não por receio de me desiludir – impossibilidade manifesta --, mas porque me dava gozo ler aqueles posts sem saber pormenores acessórios -- quem és, donde vieste, como chegaste aqui.
Nunca lhe perguntei e, obviamente, ele nunca me respondeu; nem nunca se deu à resposta.
Hoje, achei chegada a hora e fui ver dele. De algo pré-pegada que me matasse a curiosidade que subitamente (o tanas) me atacou; um ano são quase sempre 365 dias e, em cima disso, na blogosfera e no facebook, a medição do tempo não se guia pelo relógio.
E apenas posso dizer que, não lamentando a minha forma e feitio de agir – neste caso particular --, estou a modos que a maldizer o fim-de-semana que me atrasará a chegada do “Deus Não É Para Aqui Chamado” (wook e Chiado Editora).
Assim como mato a barriga de misérias (falo da curiosidade), ouso reproduzir os perfis públicos reproduzidos pela Chiado Editora (que valem o que valem – não li o livro mas já li o autor) do Licínio e do Livro (cuja capa podem ver em imagem).
Tirou bilhete para o inferno...mas de ida e volta.
Mestre e doutorando em Engenharia Mecânica e programador de Tecnologias de Informação, teve um percurso profissional ligado ao sector Naval, antes de enveredar pelo mundo da Informática, onde se destacou no desenvolvimento de vários web sites e na administração de sistemas.
Em determinada altura do seu percurso o seu potencial e capacidades ficaram ofuscados pelo vício e inerente afastamento dos padrões de uma "vida normal".
Acabou por cair nas teias de uma organização que usa a reabilitação como um meio de escravatura num negócio de milhões. Acreditou que aquilo não era o "fim da linha" e tentou agarrar-se, no meio de uma vigilância apertada, a uma instituição que o "libertou" e lhe proporcionou o contacto com um mundo novo de oportunidades.
A AMI foi a tábua de salvação e acabou por fazer a ponte para um programa que visa a reinserção social, designado por "Vida Nova", onde voltou a ganhar confiança nas suas capacidades, entretanto, novamente, no mercado de trabalho e escrevendo "Deus não é para aqui chamado", uma história que relata o pesadelo dos que, como ele, procuram a salvação e encontram uma nova forma de pesadelo.
Um missionário evangélico americano recebe um chamamento Divino, para partir para Espanha e aí salvar os jovens perdidos no flagelo da droga.
Armado com as suas certezas inabaláveis, os obstáculos transformam-se em vantagens e as ameaças em oportunidades. A obra nasce, o juízo Divino mantém-se em suspenso. Os destinatários da salvação, esses buscam a esperança e encontram o esquecimento. O Mundo já não existe para eles, pois já não o conhecem.
E as outras pessoas, nesse tal Mundo?
Essas, muito provavelmente, dormem melhor, à noite. Quando chegar a sua vez, já niguém falará por elas.
«A História repete-se sempre, pelo menos duas vezes.», afirmou Hegel. Karl Marx acrescentou «...a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa...».
Marx reparou numa coincidência: de acordo com o antigo calendário republicano, dois Bonaparte, tio e sobrinho, ascenderam ao poder através de golpes de estado levados a cabo no mesmo dia do mês. O título, contudo pode levar a uma pergunta, ou seja, onde reside exactamente a farsa? Não nas consequências dos factos, que fique claro. Na posse das mais recentes realizações da industrialização da guerra, Luís Napoleão espalhou ainda muito mais tragédia à sua volta do que o seu tio. A diferença está toda no carácter dos personagens, entre o trágico Napoleão e o seu sobrinho farsante.
Vivemos na actualidade, mais uma destas repetições da História, tragédia e farsa, mais uma vez. Seria bom que esta imagem conseguisse transmitir a sensação do abismo que descreve.
O autor quis colocar lado a lado dois dos principais protagonistas da farsa actual. Com origens diferentes, a semelhança com a actualidade é patente, sobretudo no que respeita aos "méritos" da moralidade austeritária, mas apenas para quem se preocupar com os factos, algo que só preocupa quem se preocupa com a possibilidade de estar enganado. Para estes, como por exemplo, para o cronista do Finantial Times e do Der Spiegel, Wolfgang Münchau, a repetição da História, hoje como então, mostra o caminho do Inferno e a falência crítica da social-democracia do norte da Europa. Mas a farsa, essa, onde é que fica?
Talvez a reconheçamos, se conseguirmos imaginar a sra. Merkel contemplando o anel dos Nibelungos, enquanto chora a morte do seu amado Siegfried. O crepúsculo dos deuses, esse, anuncia-se tão destruidor como sempre.
Licínio Nunes
De todos os génios do mal que nos chegam hoje em dia, de além-Reno, o Ordoliberalismo germânico é o mais presente na nossa consciência. Poderá ser suplantado, nos seus efeitos maléficos, pelo Génio da Energia Alemã. Noticiou o Expresso que aquele número -- 22 mil MegaWats.hora -- é o equivalente à produção de 22 centrais nucleares. As centrais nucleares são boas para um único propósito: fazer contas de cabeça; um reactor nuclear igual a um GigaWatt de potência. Logo, se o total de produção foto-voltaica alemã foi de 22 GigaWatt.hora, num período de 24 horas, isso significa que a produção foi sensivelmente igual ao que um único reactor nuclear teria produzido durante o mesmo período de tempo.
A Europa precisa, desesperadamente, de reganhar a capacidade de inventar o futuro que a definiu e fez grande. As mentiras alemãs, financeiras e não só, levam-na ao desastre. Atente-se nos números: o preço de combate do foto-voltaico, na actualidade, é o chinês. Cerca de 1 200 dólares por KW de potência. Uma central foto-voltaica produz cerca de 12 horas por dia -- valor médio, equinocial -- logo, 1 KW de potência estável, disponível 24 horas por dia, requer o dobro da potência nominal, ou seja, 2 400 dólares por KW. Acresce que é necessário compensar a natural variabilidade diária e climática, pelo que o número real se aproxima dos 3 500 - 3 600 (e podemos escrever já, euros) por KW de potência fiável. A «grande ideia» ordoliberal consiste em subsidiar a produção de energia renovável. Nada de errado, excepto nos montantes: cerca de 1.7 cêntimos por KW.hora para a energia eólica, 15 cêntimos por KW.hora para o foto-voltaico. Preços assegurados pelo prazo de 25 anos, pelo que, contas feitas no final desse prazo, a solução alemã será cerca de vinte vezes superior ás alternativas mais razoáveis. Note-se que a margem de erro é a mesma que naquela noticia do Expresso. Não ficarei surpreendido, se algum economista demonstrar que a margem de erro nos cálculos financeiros que atormentam o nosso presente, é da mesma ordem.
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