Dizem os suspeitos do costume que as eleições de 25 de Maio de 2014 foram uma tragédia. Que 2/3 dos portugueses se abstiveram e que, por toda a Europa, a extrema-direita está em marcha. Como de costume, os suspeitos do costume são tolos. Regressarei à situação local, mas a primeira coisa que deve ser dita é que É FALSO. Com mais de dois milhões de portugueses abaixo dos 18 anos, os "9,683,885 eleitores inscritos" são uma manifesta aldrabice. E quem quer que conheça os serviços consulares da república portuguesa por esse mundo fora, sabe bem que a Diáspora recente e jovem representa mais uns 5%-6% de "abstenção técnica". 52%-53% de abstenção real é muito, mas não é o cenário que as louva-a-deus carpideiras querem fazer crer.
Por toda a Europa, os factos confirmam aquilo que está no título e que todos deviam saber. Em França, a presidência do sr. Hollande é tão má que começa seriamente a pôr em causa o modelo constitucional da V República; mas não é mais do que isso. E os resultados dos broncos do boteco, na Grã-Bretanha, mais uma vez confirmam o lema: o problema dos britânicos é a mediocridade manifesta dos seus políticos actuais, não é um problema de Europa-assim, nem de Europa-assado. E já agora, porque todas as referências, nestes assuntos, são a despropósito, onde estão os prognosticadores do "...ui, aquela terrível extrema-direita ucraniana..."? Será que repararam que os movimentos ultra-nacionalistas ucranianos somaram mais ou menos o mesmo resultado que os pnr-pnd-monárquicos-e-outros-bisnaus cá do burgo? Será que vão reconhecer as figuras muito feias que têm andado a fazer? Não me parece, mas continuemos, porque existem, de facto, boas noticias. Locais, como todas.
Mais interessantes que todos os outros, são os nossos, muito próximos e verdadeiros hermanos: será que Podemos? É #CLAROQUEPODEMOS, basta querer e fazer por isso. Em absoluto, a acompanhar. Então e nós por cá, pá?
Nós por cá nem carne nem peixe, a política é local, toda a política é local. E sui generis, num país em que os trotskistas ofereceram um picador de gelo aos estalinistas e apetece dizer à Marisa Matias: "Rica, ofereça-lhes antes uma Walther P-38, eles preferem ...". Mas fica também a maior derrota eleitoral de sempre do PSD. Para o "partido mais português de Portugal", está muito próxima duma hecatombe e no que respeita ao compagnon de route, já nem um táxi será preciso, basta um capacete e depois ... quem é que conduz, se é o Mota Soares, se o Portas ... e quem vai atrás ... para o que der e vier, já lá diz o povo "... não metas a colher ...". E também a mais pifía das não-vitórias, mas até isso pode estar a mudar.
A 3 de Maio de 1791, os exércitos coligados da Grã-Bretanha, da Espanha e do Sacro-Império invadiram a França. Como resultado do caos instalado após a Revolução, a resistência foi ténue e sobretudo, desorganizada. Foi sem grande dificuldade que os Três Poderes impuseram a sua vontade e a divisão do território segundo as suas próprias conveniências. Os Britânicos anexaram a faixa norte, quase ao longo duma linha recta, de La Rochelle a Reims; O Sacro-Império absorveu o triângulo da Alsácia e ao longo da fronteira Suiça, com o seu vértice em Poitiers. A Espanha anexou o resto. Mais tarde, quando a Rainha Vitória foi aclamada Imperatriz da Índia, Amadeu I, o novo rei de Espanha, procurou a paridade de estatuto e intitulou-se Imperador das Caraíbas. O principal resultado, foi que a pequena povoação de Saint-Benoît tornou-se uma curiosidade em toda a Europa: O Triângulo dos Três Imperadores, onde muitos curiosos se deslocavam com o propósito de obterem um postal ilustrado com três carimbos diferentes, um por cada Imperador. Atente-se na orientação das sombras.
Foi nesta altura que acordei. É óbvio que "um século sem França" nunca poderia ter sido outra coisa do que um sonho mau ... Ou será que poderia? Ou será que foi algo muito exactamente assim que aconteceu e mil anos de história da Europa, mais uma nação de dimensão semelhante à francesa e com uma importância similar, na cultura europeia, estiveram mais de um século quase rigorosamente invisíveis? Foi exactamente isso que aconteceu e, em boa medida, O défice de Europa na actualidade é o resultado do imenso buraco negro que existe na mente duma boa parte dos geograficamente europeus. Esqueçam a Marine Le Pen. Quando uma maioria significativa dos habitantes deste continente forem capazes, sem auxílio, de responder acertadamente à pergunta "Qual foi o quarto maior exército aliado durante a 2ª Guerra?", ela e outras anomalias semelhantes serão relegadas para o rodapé da História, senão directamente para o seu caixote do lixo.
No próximo domingo, irão decorrer eleições neste continente. A vasta maioria terá a ver com um projecto de civilização brilhante, mas actualmente em péssimo estado. A "Democracia contra os mercados" é muito provavelmente a única esperança duma saída pacífica para a crise actual, mas que ninguém se esqueça que vai haver uma outra eleição, mais a leste. Se. Nunca seria curto explicar a relação profunda dos acontecimentos na Ucrânia com aquela invisibilidade da Polónia durante quase 130 anos, mas seria sempre tão inútil como tentar descrever o arco-íris a cegos convencidos de que têm uma visão perfeita. Slavoj Žižek, ele próprio originário da tal "Europa de leste" viu-o na perfeição. Sem qualquer surpresa, Freitas do Amaral não o vê. Cem anos passados desde o início da 1ª Guerra mundial, o digno professor ainda não absorveu o princípio da autodeterminação dos Povos, ou mais provavelmente, acha que todos os princípios terminam à beira da pata do urso russo.
Se o quadro que virá a resultar das eleições do próximo domingo é pouco claro em toda a Europa, é particularmente cinzento nas margens do Mar Negro. O Kremlin anunciou, pela 3ª vez, que as suas tropas colocadas junto à fronteira ucraniana iriam regressar aos quartéis. Como comentou um correspondente da BBC "Seria caso para pensar que existe um problema no sistema de comando militar russo...", se não fosse absolutamente óbvio que o verdadeiro problema do czar actual é o mesmo do gangster georgiano que o antecedeu em meados do século vinte, como o era o duma zoofílica alemã, duzentos anos antes: quando dizem uma verdade cai-lhes um braço, e nunca nenhum foi nem está disposto a ser manco. Existe sempre uma certa majestade quando os co-soberanos colectivos fazem ouvir a sua voz. Seria magnífico que os europeus mostrassem que são dignos da liberdade de que gozam. Seria uma ironia magnífica que fossem os metalúrgicos do Donbass a frustrarem as manobras do patifório de Moscovo.
No final do século XIX, houve um historiador inglês que se lamentou de, para estudar as comunidades cossacas na região de Lviw, ter que dominar o polaco, o ukraniano, o moldavo, o yiddish, o russo e o arménio; comentou que para fazer o mesmo estudo algures na bacia do Don lhe bastava saber falar russo...
O mesmo poderia ser dito a respeito daquela 'Europa do Meio' que se estende geograficamente do Báltico aos Cárpatos e ao Mar Negro. Deste lado da Europa, tudo estabilizou relativamente cedo; a Península Ibérica manteve muito exactamente as suas fronteiras actuais, após a conquista de Granada, em finais do século XV. A Europa central foi, durante séculos, um mosaico étnico e linguístico complexo, e a sua história política é, em boa medida, a historia dos compromissos que aquele mosaico exigia. Enquanto os dois grandes imperialismos (e totalitarismos) da Europa continental foram mantidos sob controlo. Quando deixaram de o ser, primeiro aliaram-se e depois degladiaram-se numa guerra de extermínio mútuo.
Terras de Sangue de Timothy Snyder conta-nos essa história. Surpreendente em muitos aspectos, sobretudo para aqueles como eu que ainda consideravam que o genocídio nazi tinha sido uma construção industrial demoníaca, mas relativamente restrita no espaço. E conta-nos como os dois bigodudos à compita pelo título de maior assassino de massas do século vinte transformaram esse aspecto da sua actividade em ocupação diária, no caso do grande pai dos povos, durante 15 anos.
Hitler ganhou o título. Por uma margem menor do que muitos julgam, mas ganhou-o. Houve um outro campeonato em que, pelas suas características espácio-temporais mais vastas, os nazis não chegaram a ser competidores sérios. Estou a falar da limpeza étnica, título maior e indiscutível de Stalin. A uniformidade étnica e linguística que hoje existe na maior parte da Europa é o resultado da acção daqueles dois, embora em minha opinião, para compreendermos este segundo fenómeno e a maneira como fez a Europa tal qual é, seja necessário recorrer a algo mais vasto do que o trabalho de Timothy Snyder.
Resta um único exemplo daquele mosaico complexo que a Europa já foi, é a Ucrânia e os ucranianos não parecem nada dispostos a deixarem-se "normalizar". E por isso, àqueles que hoje ecoam as mentiras do homem em imitação ferrugenta do aço que se conseguiu arranjar, digo-lhes apenas para irem para a putin-que-os-pariu. Ou será que alguém com dois dedos de testa não percebeu o que significa a presteza com que o tiranete de Moscovo aceitou o convite alemão para conversações?
Quando eu falei em "maldições fósseis", estava a tentar usar o termo no sentido da tragédia grega clássica. Neste ponto, tenho que me render à evidência: eu não sou Sófocles. Mas isso também não tem importância porque, ao contrário dos heróis gregos, amaldiçoados pelos deuses, a única coisa a respeito da qual é possível ter a certeza, é que a maldição será superada.
Neste Mundo, há os que têm e os que nada têm. Não há nada de novo nisto, sempre assim foi. A única diferença é que, pela primeira vez na História Humana, os verdadeiros actores são os que nada têm, os despojados. Vocês, são "os que têm", uns mais outros menos, claro, mas vocês são os possidentes e eu não quero saber de vocês para nada. Vocês já não contam, porque os despojados herdarão a Terra. Como eu sou um coração de manteiga, vou dar-vos uma última chance mas, e sem qualquer ironia, é a última, e não há nada que eu, ou quem quer que seja possa fazer a esse respeito.
A energia é a condição primordial para a existência de grupos sociais organizados. A energia e a água, mas a água é um assunto diferente, deixemos a água de lado. O facto é que existem dois Universos, um é o Macrocosmos da nossa experiência e, por mais irritante que consiga ser, transmite-nos sempre o conforto da familiaridade. O outro é mais misterioso, cheio de paradoxos e surpresas, mas é onde, em última análise tudo se decide. O Microcosmos é estranho, mas é também "muito arrumadinho", cheio de simetrias e regularidades e, acima de tudo, extremamente estruturado. Ora, o Microcosmos revela-nos que a energia não é o fenómeno elementar que a nós, seres macrocósmicos, nos parece ser. Energia é um fenómeno extremamente estruturado e só pode existir a partir dum limiar mínimo. Daí para baixo, existem forças e existem momentos, energia ainda não; e no nível mais elementar de todos, existem apenas interacções.
Para além disto, e ao contrário de tudo o resto, que é regido por leis conservativas, x + y = x + y, e nada se cria nem nada se perde, a energia é regida não por uma, mas por duas leis. A primeira é confortavelmente conservativa, "A soma do que entra, menos o que sai, mais o que já lá estava, menos o que lá fica, é igual a zero". (1)
A outra é muito mais potente e a lei mais geral de todo o Universo. A 2ª Lei já não é conservativa, é dissipativa, e diz-nos terminantemente que a energia não é conservável. Apenas a podemos manter em equilíbrio.
Ou então não. Uma das inúmeras facetas da 2ª Lei, é que existem apenas dois tipos de processos espontâneos. Uns são endorgónicos, usam a energia disponível e tornam o total disponível menor. Nós, seres humanos mais os nossos primos, próximos ou afastados, somos apenas processos endorgónicos. Nós, mais virtualmente tudo o que temos vindo a fazer, desde o início da Revolução Industrial: limitamo-nos, literalmente, a "ira ao baú". Os outros processos espontâneos são exorgónicos, usam uma fonte livre de energia para encherem o baú. É isso que a evolução natural fez por nós e que a massa verde do Planeta continua a fazer todos os dias. A 2ª Lei da Termodinâmica diz-nos apenas que a única forma segura de existência, é perto de equilíbrio. Quando a soma dos processos endorgónicos e exorgónicos é aproximadamente igual a zero.(2)
Ou então não sobrevivemos. A situação actual é apenas o produto da crença, muito arreigada, de que podemos continuar indefinidamente a ir ao baú, sem cuidarmos também de o encher. No entanto, as alterações climáticas geradas pela actividade humana, são apenas o pano de fundo perante o qual o drama humanos se desenrola. E o facto simples é que o problema é ainda muito maior do que vocês pensam e, por mais paradoxal do que pareça, isto são boas notícias. Vocês vão ser salvos, não que o mereçam pelo vosso comportamento passado e presente, mas vão ser salvos por aqueles que nada têm, pelos despojados deste Mundo. O problema é a energia, a condição primordial para a existência de grupos sociais organizados. Para o compreendermos, temos que fazer algo simples: temos que parar de falar em energia.
Que fique claro: eu não quero saber "...como vocês se sentem...", ou o que é que "...vocês acham...", ou aquilo em que vocês acreditam. O meu argumento é estritamente analítico e assim será enunciado. Vamos começar por dividir tudo pelo tempo, e estamos a falar em potência. Como se perguntássemos "...qual é a potência daquela lâmpada?". A partir daqui, energia é apenas aquele número a multiplicar pelo tempo que ela estiver ligada.(3)
Qual é então o tamanho da nossa lâmpada global? Um pouco mais de 14 TW, vamos dizer 15 TW, o equivalente a 15 mil milhões de lâmpadas de 100 Watt. Pois muito bem, por volta de 2050, daqui a cerca de 40 anos, irá aumentar para cerca do dobro, 30 TW. Será que o problema começa a revelar a sua grandeza? A energia é a condição primordial para a existência de grupos sociais organizados, mas o que isto significa, neste particular é que, obviamente, a Revolução Industrial não começou do zero; no que respeita a magnitude, a diferença não faz diferença. Demorámos cerca de 250 anos até laboriosamente, sermos capazes de acumular aquele primeiro total. Agora, temos menos de quarenta anos para lhe acrescentar outro tanto.
"É sempre muito difícil fazer previsões, em especial a respeito do futuro...", já lá dizia Niels Bohr, mas esta previsão peca apenas por ser excessivamente conservativa. Assume apenas que vocês, os que têm, vão ser capazes de conservar tudo o que têm. Fora dum quadro de conservação perfeita (o único razoável), o total será ainda maior. Esta é também a tal última oportunidade de que falei anteriormente. Mas este é um assunto analítico e o meu argumento é estritamente analítico. Vejamos, pois, aquilo que está ao nosso dispor.
Disponibilidades nucleares, cerca de 8 TW. Como um reactor nuclear representa aproximadamente 1 GigaWatt de potência, estamos a falar de 8 000 reactores nucleares. A serem construídos durante os próximos quarenta anos, em média 200 por ano; ou cada um novo a ser concluído a cada dia e meio que passe. Acontece também que estes equipamentos têm um período de vida útil de cerca de 40-50 anos, pelo que, quando chegássemos ao fim, estaria na altura de começarmos a descomissionar o primeiro a ser concluído. Por outras palavras, estaríamos a construir ad eternum, sempre ao mesmo ritmo, um novo reactor nuclear concluído a cada 1,5 dias, apenas para provermos a metade das nossas necessidades globais. Mas já todos ouvimos falar, por esta altura, da Three Gorges, a central hidroeléctrica das "Três Gargantas", no Yang-Tse. É a maior do Mundo, cerca de 24 GW de potência instalada, ou seja, pela minha mnemónica, o equivalente a 24 reactores nucleares. A Three Gorges demorou cerca de 17 anos a ser construída, será que me começo a fazer entender?
A energia é a grande singularidade, aquilo que fazemos diferente de tudo o que vimos vindo a fazer, desde o início da Revolução Industrial. E tudo se resume a dois verbos, tão intuitivos que não me recordo de alguma vez os ter ouvido serem mal utilizados. Os verbos são construir e fabricar. Só construímos aquilo que não somos capazes de fabricar. E tudo o que construímos, tem três características: é muito grande, extremamente pesado e extremamente caro. Para além disto (e eis que regressa a Three Gorges), extremamente demorado para concluir. Quando precisamos de algo em grandes quantidades, fabricamo-lo. No entanto, as quantidades de um qualquer produto, que conseguimos fabricar, dependem dos mesmos três factores. Os despojados necessitam de enormes quantidades de produtos de energia, pequenos, leves e, acima de tudo, baratos (custo por quilograma de produto final). E será isso que eles irão ter. Mas antes de consubstanciar esta última afirmação, importa esclarecer quem são afinal os tais despojados que irão herdar a Terra.
São aqueles cerca de três biliões de seres humanos que ainda não têm acesso, ou muito pouco, a bens de energia; mais os cerca de três biliões que irão nascer, até cerca da metade do século, a vasta maioria em países onde esse acesso é ainda mínimo. Ainda não é claro porque é que eles são os verdadeiros actores históricos do nosso tempo? Vamos estão esclarecer este aspecto. John Kenneth Galbraith escreveu, entre outros, um livro chamado A Sociedade da Pobreza. É um livro muito fininho e quando o vi pela primeira vez, perguntei aos meus botões se tal assunto caberia em tão poucas páginas, mas o autor esclarece logo na primeira que o âmbito do livro não é a pobreza, em todas as suas múltiplas vertentes, mas um aspecto muito específico. Galbraith foi um dos especialistas convidados pela ONU para acompanharem aquilo que, pelos anos sessenta do século passado ficou conhecido como a revolução verde, ou seja, a alteração radical das técnicas agrícolas por todo o Sul e Sudoeste da Ásia, com o propósito de responder à explosão demográfica do pós-guerra. Galbraith foi crítico da forma como o assunto era apresentado aos seus destinatários finais e da interpretação que era dada pelos seus colegas à resistência dessas populações àquelas mudanças. É ainda demasiado cedo para explicar porquê, mas fica um dado estatístico quase inacreditável, citado pelo autor. Por aquela altura, uma família de camponeses indianos, vivendo na margem das grandes florestas (elas próprias em recessão) gastava em média, cerca de dezoito horas por dia, para prover apenas a duas necessidades básicas: água potável e lenha para cozinhar. Aqueles dois requisitos elementares para a existência de grupos sociais organizados, mas é óbvio que, naquelas condições, o único modelo social que pode permitir a sobrevivência, é a família alargada, multi-geracional.
Acontece também que há, pelo menos, Vinte e três coisas que eles não te dizem a respeito do capitalismo, uma delas sendo que, obviamente, a máquina de lavar é mais importante do que a Internet. É óbvio que os homens também podem lavar roupa à mão, mas o autor explica isto melhor do que eu. A constrição é a mesma, ou seja, o tempo. Quais seriam os modelos sociais possíveis sem a máquina de lavar? Aqueles que existiam antes, e é apenas um truismo, mas o problema é nós esquecemos como é que as coisas se faziam (!). Por outro lado, o senhor Chang começa, dalguma forma, "demasiado acima".
C2H6O . Será que esta forma canónica diz algo? Chamamos-lhe éter di-metílico (DME) e é um combustível quase perfeito. Quase, mas só pode ser obtido por síntese. Inclusive, é a opção da Iniciativa Europeia dos Combustíveis do Futuro, que engloba todos os construtores automóveis da Europa e que, no presente, produz pouco mais do que aquele silêncio ensurdecedor do arrastar de pés. Na actualidade, a grande produção mundial de DME é a chinesa -- por meios estritamente convencionais, destilando metanol a partir do gás natural e depois desidratando o metanol. O DME é um combustível com um espectro de aplicações muito largo, incluindo o facto de ser um substituto natural do GPL, do butano e do propano. Mas o senhor Chang começa muito acima, porque a máquina de lavar é já um produto de energia muito estruturado. A sua primeira exigência é a existência duma rede eléctrica. Ora, a minha própria memória conta-me como, neste país e já durante o meu tempo de vida, o primeiro produto de energia a que muitos portugueses tiveram acesso foi, simplesmente, o fogão a gás. Simples, pequeno, leve e barato. Requer apenas uma botija de gás. Será que se percebe, neste ponto, porque é que a China se dá àquele trabalho? Fogões a gás. Para eliminar parte daquelas dezoito horas diárias, necessárias para recolher lenha; para que os seus camponeses-de-subsistência se possam tornar, pelo menos, em camponeses-produtores-de-excedentes-alimentares.
Mas é claro que não se vão ficar por aí. Para que os camponeses-produtores-de-excedentes-alimentares, ou pelo menos muitos, se possam transformar em operários fabris — e fabricar, por exemplo, camisolas de algodão, para o Martim depois estampar — necessitam também de máquinas de lavar e isso requer uma rede eléctrica. Máquinas de lavar, mas também frigoríficos, e pelo mesmo motivo que levou o senhor Galbraith a discordar dos seus colegas. Os camponeses indianos não eram ignorantes nem atrasados; eram o repositório milenar de um certo tipo de conhecimento, chamamos-lhe os processos adaptativos e estes implicam o esquecimento. Tão rápido que, lhe chamamos esquecimento exponencial.(4) Eles sabiam que existia um ponto crítico, a partir do qual já não conseguiriam sobreviver pelas estratégias antigas e ainda não sabiam se conseguiam sobreviver, usando as novas. Exactamente como a minha falecida mãe já não se lembrava "como se faziam as coisas", no tempo em que não existiam frigoríficos.
Não existe aqui qualquer margem para ingenuidades. Não tenho a menor dúvida de que, se fosse possível alimentar televisões a fadinhas da confiança e outros seres etéreos, essa seria sempre a primeira escolha dos governantes chineses. Mas como não é possível e eles são decisores racionais, os seus camponeses irão ter fogões a gás e os seus operários fabris irão ter frigoríficos e máquinas de lavar. Os chineses e os indianos, pois a forma mais correcta de nos referirmos àquele espaço imenso é chamar-lhe apenas Chíndia. E os dirigentes indianos são mais democráticos, mas continuam a ser suficientemente racionais, e não existe qualquer intenção irónica nesta frase.
Os despojados da Chíndia irão ter fogões a gás e irão ter bens de energia alimentados a electricidade, incluindo acesso à Internet e incluindo (se tiverem o mau gosto suficiente para isso, e é o mais provável), muitos dos iPhones que eles próprios fabricam. E será nesse ponto, quando a Chíndia for um espaço quase normal, como por exemplo o Brasil, que já quase consegue aumentar o seu PIB per capita, sem que para isso tenha de aumentar significativamente o seu consumo energético per capita, que a sua vitória será consumada. E tudo isto, com fontes de energia baseadas em produtos fabricados, pequenos e leves e, acima de tudo, baratos, os únicos que podem ser fabricados nas quantidades necessárias. Neste ponto e da maneira mais arrogante possível, vou escrever apenas quod erat demonstrandum.
Fica apenas por dizer qual é aquela última chance que o meu coração de manteiga vos concede. Trata-se nada mais e nada menos, de economia de merceeiro. É política oficial do FMI que cada tonelada de dióxido de carbono injectada na atmosfera representa um subsídio implícito de $25 dólares — aquilo a que os economistas chamam "externalidades" — que os governos de todos os países do Mundo dão (!) aos produtores de combustíveis fósseis. Acontece também, que existe um relatório brilhante, inicialmente escrito para ser apenas lido pelo senhor Barack Obama, mas posteriormente desclassificado, que estabelece, e aprecie-se a coincidência, um custo de $25 dólares por tonelada de dióxido de carbono a ser capturado da atmosfera e segregado em estratos geológicos apropriados. Existe uma terceira alternativa e tem exactamente o mesmo custo, $25 dólares por tonelada de dióxido de carbono a não ser emitido. Foi neste ponto que eu perguntei ao merceeiro da minha rua qual das três alternativas é a melhor. Fez-me apenas uma pergunta: qual das três é que gera mais emprego e mais actividade económica? Respondi que a primeira não gera nada, consiste apenas em deixar tudo como está; a segunda gera alguma coisa, mas tão pouco emprego, que quase nem vale a pena falar nisso; a terceira, essa sim gera ambas as coisas e com números muito elevados. "A terceira" e agora contem piadas a respeito de merceeiros.(5)
A China e a Índia foram e durante muitos séculos, responsáveis por mais de metade do Produto Interno Bruto do Planeta, algo que os USA apenas conseguiram aproximar durante e imediatamente após a 2ª Guerra. Pessoalmente, acho o caso chinês o mais interessante. Quando a China conseguiu libertar-se do jugo mongol, os novos dirigentes decidiram que a China não precisava mais do exterior, precisava isso sim, de se proteger das ameaças externas. O resultado foi a construção da Grande Muralha e vários séculos de isolamento e decadência. Quando os centros de gravidade, económicos e políticos — e a respeito dos culturais, a questão é apenas o "quando" — regressam ao Oriente, estão apenas a reocupar aquela que foi a sua posição natural, durante muito tempo.
A Grande Muralha da China é a única construção humana visível a partir do espaço, para os chineses representou uma tragédia, mas da qual se estão a libertar. Vocês, europeus (incluindo os que não sabem que o são, ou que não o querem saber) estão à beira da mesma decadência, e a vossa nem sequer requer barreiras físicas. A vossa última oportunidade para a evitar é europeia e é a última. Por isso, FAÇAM AS VOSSAS ESCOLHAS!
Estou a escrever este post para reclamar o meu sagrado direito à parvoíce. A RTP irá transmitir hoje a mais antecipada, receada, comentada, dissecada, adivinhada, lamentada, entrevista, desde talvez, a primeira das "conversas em família" do sr. Marcelo Caetano: o Animal volta ao pequeno ecran em horário nobre.
Podem ocorrer surpresas. Não ficarei surpreendido se tal acontecer, mas o mais provável é que os que gostam dele o adorem, que os que não gostem o odeiem e que aqueles para quem, como eu, o assunto não tem substância, tenham que concluir que fizeram mais uma vez figura de tolos, ao não serem capazes de pensar em melhor forma de perder tempo.
Não acredito que o faça, porque duvido que O Animal tenha realmente algo de animalesco, o que implicaria ter..., nada de ordinarices, pelo menos em português..., aquilo a que os nosso vizinhos do lado chamam los cojones suficientes para isso. Não por míngua de oportunidades e temas, note-se. Confrontado com a geração de políticos mais medíocre e incompetente, que este continente estafado já conheceu, pelo menos desde os dias em que Calígula decidiu nomear o seu cavalo senador, qualquer gatinho meigo conseguiria rugir que nem um leão; se apenas o quisesse. Se não fosse também um zémanel.
O problema não é "O Animal". Olha, zémanel, se tu és um daqueles talvez 320 000 portugueses que, periodicamente, oscilam entre o ps e o psd e assim mantêm a ilusão da alternância democrática e quiseres saber onde residem realmente os problemas que te oprimem e esmagam, faz uma coisa simples: olha para o espelho e vais ver o alojamento real desses problemas, ali, entre as tuas orelhas esquerda e direita. O problema, zémanel, és tu. Tu e a tua cabeça. Infelizmente, a única que tens.
Another head hangs lowly, Child is slowly taken. And the violence caused such silence, Who are we mistaken?
But you see, it's not me, it's not my family. In your head, in your head they are fighting, With their tanks and their bombs, And their bombs and their guns. In your head, in your head, they are crying...
In your head, in your head, Zombie, zombie, zombie, Hey, hey, hey. What's in your head, In your head, Zombie, zombie, zombie?
Another mother's breakin', Heart is taking over. When the vi'lence causes silence, We must be mistaken.
It's the same old theme since nineteen-sixteen. In your head, in your head they're still fighting, With their tanks and their bombs, And their bombs and their guns. In your head, in your head, they are dying...
In your head, in your head, Zombie, zombie, zombie, Hey, hey, hey. What's in your head, In your head, Zombie, zombie, zombie?
Na Grécia: a Troika ordenou uma total censura nos meios de comunicação europeus sobre a situação de verdadeira emergência humanitária que está a acontecer ao povo grego. A Aurora Dourada deu início à doutrinação de crianças do ensino primário com os ideais do partido de extrema-direita.
Na Húngria: o parlamento húngaro aprovou uma extensa emenda constitucional que determina, por exemplo, o controlo da liberdade religiosa e a redefinição de funções do Tribunal Constitucional. Ser sem-abrigo passa a constituir um acto criminoso e dá direito a multa ou pena de prisão; campanhas políticas nos meios de comunicação passam a ser proibidas; a noção constitucional da família é restringida ao casamento entre um homem e uma mulher e respectivos filhos.
Na Itália: o partido populista, o Movimento 5 Estrelas, liderado pelo ex-comediante Beppe Grillo, é o vencedor das eleições italianas. Aparece contra o sistema e os políticos, ataca os sindicatos, está disponível para dialogar com a extrema-direita, quer proibir o financiamento público dos partidos e impede os seus próprios candidatos de participarem em debates.
Em Portugal: está em implementação o Sistema Integrado de Informação Criminal, com o objectivo de controlar politicamente a investigação criminal e as informações produzidas, aproveitando-as para fins que a Constituição não permite, como a "prevenção de ameaças graves e imediatas à segurança interna", conceito muito abrangente, que inclui até meras manifestações cívicas. O Ministério Público, que por imposição constitucional dirige a investigação criminal e a quem todas as polícias criminais devem obediência funcional, está afastado da direcção deste sistema. Estão também a ocorrer acções de formação da GNR a civis, com as quais se pretende que estes venham a ser «interlocutores das forças policiais junto das suas comunidades». e que «estas pessoas podem também fornecer às forças policiais informação privilegiada sobre o que se passa nas comunidades». Tal não é inédito em Portugal, em 1945 Salazar com o objectivo de modernização do aparelho policial secreto cria a PIDE, atribuindo-lhe a missão de defender o regime contra as actividades das organizações clandestinas e «subversivas». É instituído o recurso a métodos que iam da vigilância dos actos quotidianos, da correspondência e das telecomunicações privadas de «suspeitos», à prisão sem culpa formada e à criação e manutenção de uma rede tentacular de informadores civis. Esta teia de vigilância civil era um dos pilares fundamentais da PIDE e adquiriu tais proporções na vida quotidiana portuguesa, que deu origem a hábitos sociais e culturais, ainda hoje detectáveis como o ditado: «até as paredes têm ouvidos».
O mais perturbador destas notícias é o acordar de todos os demónios que assolaram a Europa no século XX, muito dificilmente destes acontecimentos não resultarão consequências imprevisíveis para o futuro da Europa. A situação penosa na Grécia, o primeiro país a ser intervencionado pela Troika, já se pode afirmar sem grandes rodeios que o Neoliberalismo e as políticas de austeridade cegas conceberam um filho chamado Aurora Dourada, conseguiram de facto ressuscitar o Nazismo com uma nova roupagem, algo impensável há uns tempos atrás. Ou acontece de facto algo extraordinário, ou a Europa vai entrar, novamente, numa longa noite.
Aquando das últimas eleições americanas, fui para a camita pelas 03:30, com seis fusos horários a mais e a certeza reconfortante de que o Mundo, na manhã seguinte, não estaria em pior estado do que nessa altura; mais de duzentos e cinquenta milhões de americanos foram às urnas, num dia de trabalho (!) e despacharam tudo em poucas horas.
...Ou pelos, assim o dizem as cabeças falantes do costume. Se um país onde existe uma maioria — de moscambilha e é irrelevante — na câmara baixa do parlamento, e vários caminhos para maiorias pontuais na câmara alta, está ingovernável, então, tenho que concluir que Portugal esteve ingovernado (excepto pontualmente) até 1987, e depois, de 1995 até ao início deste século. Mais. Tenho que concluir que os países do norte da Europa, cujos sistemas eleitorais dificultam propositadamente a obtenção de maiorias absolutas, estão ingovernados há longas décadas. Acho que alguém se esqueceu de informar os escandinavos deste facto, mas adiante.
Dum ponto de vista material, as leituras das cabeças falantes caiem pela base. Da mesma forma que um estatístico bem anónimo fez cair as mesmas cabecitas lá do sítio, mais as caixas de ressonância do(s) poder(es) instituídos na outra margem do Atlântico. Se há algo que une aquelas duas personagens improváveis, o Nate Silver e o Zé Grilo, esse algo é totalmente material e dá pelo nome de Internet. Aprendam a viver com ela! Todos temos que aprender, pois veio para ficar. Hoje como no início, é uma experiência prática a respeito de sobrevivência. E é uma experiência bem sucedida, o resto cabe-nos a nós, assim como cabe aos eleitos do M5S italiano. Gosto do pouco que sei a seu respeito.
Dum ponto de vista material, o que o Zé Grilo fez, foi mandar a Televisão à merda. E ganhar. Talvez seja Sol de pouca dura; teria preferido uma ruptura mais convencional (!), na linha da que o Syriza grego pareceu capaz de protagonizar, no Verão passado, mas a realidade material não se preocupa nada como os meus gostos. "Que possas viver em tempos interessantes!" é uma maldição; chinesa e muito antiga. Interessantes, eles são e malditos ainda mais. Nenhum de nós pediu para viver nestes tempos; estivemos ocupados a viver, apenas. Com umas patetices pelo meio, e não há nada de errado nisso. Hoje, estamos a ser agredidos, de forma feroz e niilista; nada de vivo cresce nos ground zero pós-troika; nada de humano consegue com-viver com os mutantes sádicos que nos torturam, apenas o seu nada cresce.
Estes são tempos interessantes. São os Dias da Ira e ressoam como um trovão por toda a Europa. A nós de mantermos os olhos fixos no objectivo.
Hoje é o dia em que o mundo decide — melhor, um país decide pelo mundo — se bastam o caos e a miséria e os inimigos que temos ou se lhes vai ser junto mais um elemento de sinal negativo. Refiro-me, obviamente, às eleições norte-americanas e à possibilidade de um membro fanático d' A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias poder vir a ter assento na salados brochesoval.
Falo de alguém que interpreta à letra e assina por baixo da seguinte ternura bíblica"Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará"(está algures não sei onde, aos números não sei quantos do livro; esse…). O mesmo ser que acredita piamente que a segurança aumentaria nos aviões se houvesse a possibilidade de abrir as janelas em pleno voo. Talvez assim, digo eu, ele desse cor a outra das suas frases de assinatura: "Há um só legislador que pode salvar e destruir" (também para lá anda no mesmo livro). Entregando-se mais cedo ao legislador uno, quero dizer (vã esperança, a minha)...
Hoje é, pois, o dia em que se decide se o Air Force One vai ou não ter janelas de abertura fácil (nunca tinham imaginado um avião a tremer?, pois imaginem -- pudesse ele votar e lá ia mais um voto para a conta do Obama).
Obama foi uma desilusão? Prefiro dizer que Obama foi uma ilusão. E desta à outra é fácil dar o dado por adquirido. Se pegamos num homem e o deificamos é natural que dele esperemos o que ele não pode dar. Obama deu o que Obama podia dar face às circunstâncias, tendo em conta as armas que tinha. E as que não tinha. Perdeu logo cedo o apoio da banca que ousou afrontar. Esta afirmação deve ser lida não como um europeu a leria, mas como a realidade americana a traduz. Lobbies up yours, nigger a trabalhar em força quatro anos. A boicotar em força durante todo o mandato. Na campanha, os imprescindíveis apoios da banca reduziram-se ao essencial para “não vá dar-se o caso”. O resto foi para o tarado do Romney. Mas adiante.
A importância para a Europa de uma vitória de Obama entende-se mais se virmos a coisa ao contrário. O que será da Europa com um Mitt Romney a cavalo? Caminho ainda mais aberto para tudo quanto os especuladores norte-americanos (que pagaram a campanha a Romney) queiram fazer do velho mundo. Começou, a história, há muito muito tempo e ainda antes disso. Era António Borges um Goldman Boy a ajudar a mascarar a dívida da Grécia para que esta se pudesse dar ares e vestir de Euro. E assim foi, e deu no que deu. Se Obama resolveu o problema? Claro que não. Está bem à vista que não. Se foi o motor do problema? Obviamente que não. Se esse problema poderia ter sido resolvido por ele neste primeiro mandato? Também não. Mas, é como digo, de Obama podemos esperar um segundo mandato mais ao ataque, contra os interesses instalados no seu país e que abrem sucursais de desgraça e miséria na Europa. Já com Romney no poder teríamos a fome (falo da gorda) a aproveitar os restos deixados pelos mandantes da vontade de comer (falo do mórmon), que já terá prometido entregar a deus o pouco poder que entretanto não vendeu na árvore. Venha uma bela duma geada negra.
Mas, francamente, já falei demais de Obama. Era só isto que pretendia dizer: quando amanhã acordarem e souberem os resultados das eleições, fiquem certos de uma coisa. Se ouvirem que o Mórmon é o novo (credo que até dói escrever) Presidente dos EUA, bem podem ouvir entrelinhado, de pirete armado a acenar, “estais fodidos!”
Bem, a quem chegou aqui quero dizer mais uma coisa. Boa sorte, vamos precisar dela hoje. Para não precisarmos ainda mais dela amanhã. Que amanhã Obama seja a palavra mais ouvida do planeta. Será um bom sinal. O mundo precisa de mais quatro anos de Obama, é certo, mas, mais que isso, o mundo não aguenta quatro anos de Mitt Romney e seus donos.
Sítios para acompanhar as eleições norte-americanas:
A Alemanha e o FMI, ao autorizarem o sequestrado Rajoy (este que espere pela volta) a gabar-se de o resgate a Espanha não ser um verdadeiro resgate, colocaram os PIGS e arrabaldes a ferro-e-fogo. A Irlanda (outros se seguirão) já veio pedir condições iguais às espanholas (como se estas fossem diferentes e a austeridade não viesse no pacote). Deixou de ser uma guerra Norte-Sul. Agora, é tudo à porrada e fé no deus em título. Cada um por si e não se fazem prisioneiros. Se os agentes-duplos do Goldman Sachs na Europa não tiveram dedo nisto, depressa serão postos com dono. Já não são precisos para nada. Extinção do posto de trabalho, pois, que o "Nosso [deles] Homem em Havana" não é cá necessário. A velha Europa (des)entende-se bem sozinha. Cada país europeu tem como líder e oposição a personificação cuspida e escarrada do Detritus inventado por Goscinny e posto no papel por Uderzo (excepção feita ao nosso empalhado líder, que vai fazendo o que lhe manda a voz da voz -- não confundir este entre-parêntesis com um elogio, trata-se apenas do reconhecimento de que temos "um rei-morto sem sombra de rei-posto à vista").
No "dinheiro vivo - guru" seis grandes ideias que mudaram o mundo . Eu escolhi estas três. Siga o link e descubra as outras três.
1. Fim das guerras na Europa. Quando terminou a II Guerra Mundial, não havia na Europa memória histórica de um período de paz mais ou menos alargado. A guerra parecia ser parte intrínseca do ADN europeu. Derrotado Hitler, o secretário de estado americano George Marshall decidiu quebrar esse ciclo e concebeu um plano, dotado com 13 biliões de dólares (5% do então PIB dos EUA) para que 16 países europeus se pudessem reindustrualizar, recapitalizar e criar relações sólidas no comércio internacional. Em quatro anos as economias europeias floresceram e paz persiste até aos dias de hoje.
2. Erradicar a varíola. A varíola ainda matava milhões de pessoas em 1967, quase dois séculos após a descoberta da vacina. Foi nesse ano que a Organização Mundial de Saúde decidiu imunizar toda a população do planeta. Para isso, foi preciso desenvolver uma vacina que não precisasse de refrigeração e uma nova agulha que simplificasse a inoculação. Seguiu-se um programa que ao longo de sete anos andou por todo o lado e em vigilância constante. Em 1979, a varíola foi considerada erradicada.
4. Acabar com as cheias na Holanda. Após a grande cheia de 1953, os engenheiros holandeses avançaram para uma solução radical que iria colocar m ponto final definitivo no problema. Diques gigantescos, tecnologicamente muito avançados, formaram uma barreira que até hoje se tem revelado praticamente intransponível.
A China cerca a Europa - The Guardian londres - Timothhy Gastor Ash : Não há muito tempo, a visita de um primeiro-ministro chinês seria sinónimo de protestos e debates sobre os direitos do Homem e a repressão no Tibete”, escreve o El País. No entanto, acrescenta o diário espanhol, “agora, a presença de Wen Jianao na Hungria, no Reino Unido e na Alemanha é vista apenas sob o prima da importância do gigante asiático para a economia europeia. E o convidado tomou mesmo a liberdade de prevenir o seu anfitrião sobre os riscos de querer impor, pelas armas, a paz na Líbia. Previdentes, na véspera da visita, os chineses libertaram alguns dissidentes, entre os quais o artista Ai Weiwei”. “Quando Wen Jiabao visitou o reino Unido pela primeira vez, em 2009, um jovem atirou-lhe um sapato durante uma conferência na Universidade de Cambridge. Hoje, dois anos e uma crise depois, Wen prometeu, em Budapeste, que a China não deixará cair a Europa, visitou uma fábrica de automóveis chineses em Birmingham como se estivesse em casa e a 28 de junho discutirá com Angela Merkel as vicissitudes do euro. Tudo isto recheado com milhares de milhões de euros de contratos.”
O facto de Pequim ter comprado títulos de dívida pública dos países em dificuldades da zona euro, como a Espanha, a Irlanda, Portugal e Grécia, tal como a sua sede de tecnologia, desperta a simpatia e o sentido de negócio da Europa, acrescenta o El País. Por isso, conclui, “[a Europa] está encantada por poder ajudar [a China]. Mesmo que tenha de tapar o nariz e virar as costas sempre que for necessário. A isto se chama pragmatismo, e o pragmatismo sempre existiu”.
A Alemanha não tem culpa da bolha imobiliária da Espanha. ( The Independent - Dominique Lawson -) Investidos milhares de milhões de euros pela Alemanha.
"É indiscutivelmente verdade que os exportadores alemães lucraram muito por realizarem trocas com os seus vizinhos economicamente menos avançados de toda a Europa, utilizando uma moeda única. O argumento económico convencional é que os enormes excedentes assim gerados foram parar a qualquer lado, e que o qualquer lado corresponde aos igualmente enormes empréstimos a mutuários soberanos e privados do resto da zona euro. Assim, segundo a mesma tese, é do interesse da Alemanha fazer tudo o que puder para resgatar essas economias, sob pena de acabar por perder os inúmeros milhares de milhões de capitais que investiu."
O Le Monde e o Libération chamam e bem a atenção para este fenómeno curioso. Políticos que não acreditam na Europa são agora ministros em França.
Os novos ministros franceses dos Negócios Estrangeiros e dos Assuntos Europeus, Laurent Fabius e Bernard Cazeneuve, têm um ponto em comum. Em 2005, votaram contra no referendo sobre a Constituição Europeia , assim como, em 2008, por altura da ratificação do Tratado de Lisboa.
No entanto, segundo o Monde, os parceiros europeus de Paris não devem “concluir que a política externa de François Hollande terá uma tendência um tanto antieuropeia. Isso seria um erro”, estimaLe Monde. Este jornal diário realça “uma realidade política incontornável”:
Os franceses estão a perder a confiança na Europa. Enfraquecidos, estão com um temperamento eurocético, como se atribuíssem ao projeto de integração europeia todos os males do liberalismo económico. É óbvio que a Europa é um grande mercado. É esse um dos seus pontos fortes, o segredo do seu poder de atração e também o motor da sua competitividade. Mas também deve ser um projeto político, um projeto de civilização. Fabius poderia estar numa posição privilegiada para ser o porta-voz desta Europa.
O Libération, que recorda que Fabius e Cazeneuve “são os únicos eurocéticos do governo”, sublinha que, de qualquer forma,
François Hollande deu-lhes cargos em que, na realidade, não terão qualquer influência nos assuntos europeus. Na verdade, esses cargos são geridos pelo Eliseu, fazendo parte do “domínio exclusivo” do chefe de Estado.
Vital Moreira no jornal (i) . Uma europa não a duas velocidades mas com dois campeonatos. Na 1ª divisão a Alemanha, França, Holanda, países nórdicos... e na 2ª divisão, os países periféricos do sul e os países de leste.
"Provavelmente, a saída mais favorecida pela situação é a saída de um pelotão da União Europeia [UE], um pelotão dos mais competitivos, dos mais fortes, que criem entre si uma união orçamental, uma união política, e avancem para a federalização, criando uma Europa, não de duas velocidades, mas uma Europa de dois campeonatos, de duas linhas, de duas divisões, em que o núcleo duro dos países mais competitivos avançaria sozinho e deixaria os outros, dentro do euro seguramente, mas numa outra divisão, a ‘divisão de honra’, para utilizar a metáfora do nosso campeonato de futebol”, afirmou.
Volta a ideologia ? pergunta Stefan Kornelius em A Grande Coligação Europeia.
"Quais são os limites da capacidade de consenso da União? A Europa precisará de alternativas, de confrontos, de ideologia? Quando François Hollande se lançou na campanha eleitoral com os seus cavalos de batalha socialistas, a chanceler não foi a única a mostrar o seu desagrado. Seria preciso a crise resultar num confronto em torno do credo político da direita? Estariam mais uma vez de regresso os "camaradas" e as suas ideologias cobertas de pó: os socialistas, os neoliberais, os defensores do controlo estatal e os partidários da redistribuição da riqueza?
Ao despertar os desejos de ideologia, o novo Presidente apontou involuntariamente o dedo àquilo que fazia falta na Europa: a liberdade de escolha, a polarização, o debate democrático – e, portanto, a paixão que leva as pessoas a envolver-se na política. O instinto de François Hollande provou que a paixão permitia vencer eleições.
Mas sejamos prudentes: a Europa não está suficientemente forte para acolher esse debate. Ainda não. François Hollande dar-se-á em breve conta, no seio do clube dos poderosos, de que os grandes problemas que o continente europeu enfrenta requerem grandes coligações. Realista como é, não tardará a tornar-se um mestre do consenso, ao lado da chanceler alemã. Mas, sendo como é também um idealista francês, não deveria abandonar a sua fibra ideológica. Se fossem suficientemente fortes, a Europa e as suas instituições seriam capazes de suportar a virulência política."
Nem a Grécia pode viver sem o euro nem a Europa pode estar unida sem a Grécia!
"Em primeiro lugar, a Grécia não está preparada para sobreviver por si mesma. Sem as ajudas da Europa e do Fundo Monetário Internacional (FMI), em breve o dinheiro faltará para pagar os salários dos funcionários públicos e para comprar ao estrangeiro aquilo de que necessita para sobreviver, a começar pelos produtos alimentares e pelo petróleo.
Em segundo lugar, após as reestruturações impostas aos credores privados, atualmente quase metade da dívida grega está nas mãos da Europa ou do Fundo Monetário Internacional. Portanto, se a Grécia não pagar, serão sobretudo os contribuintes da zona euro, ou seja, todos nós (mil euros por cabeça, numa estimativa sumária), quem irá desembolsar.
Em terceiro lugar, o regresso ao dracma só seria vantajoso na imaginação de economistas pouco informados, quase todos americanos. Soube-se recentemente que o governo de Georges Papandreou tinha encomendado um estudo que concluía que mesmo os dois setores que proporcionam à Grécia os seus rendimentos principais, o turismo e a marinha mercante, não beneficiariam com uma moeda desvalorizada.
Em quarto lugar, a verdade desconhecida é a dos prejuízos colaterais – para além do incumprimento da dívida – que uma eventual bancarrota da Grécia causaria aos outros países da zona euro. O diferencial em relação aos títulos do tesouro alemães [spread] não deixaria de crescer. Certamente, as consequências não teriam o mesmo peso para todos. Seriam mais pesadas para os países fracos, a começar por Portugal, em seguida a Espanha e a Itália, e mais leves para a Alemanha."
Vamos ver a opinião mundial virar-se para Portugal e para os outros países em dificuldades. Mas o mais estranho de tudo é que a Grécia sai do euro para pedir dinheiro, muito e depressa aos países europeus! Pode ser de outra maneira? Se não tem pede a quem? E, no curto prazo, paga como se não tem dinheiro?
Já para não dizer que a saída do euro não está prevista. Está prevista a saída da União Europeia que está longe de ser a mesma coisa.
Sem uma união monetária, económica e política a União Europeia não tem capacidade para se impor.
A comédia do poder é o que se passa na Grécia. Os partidos têm quase todos razões partidárias para avançarem para novas eleições ou para integrarem um novo governo. Nenhum pensa no País.
Os alemães tomam a Grécia e a Europa pela Jugoslávia”, indigna-se To Vima. O sítio de Internet do semanário escreve que “as eleições na Renânia do Norte-Vestefália foram uma terrível bofetada para Merkel: neste Land federal, transformaram-se em referendo nacional contra a política de austeridade”. Mas, no mesmo dia, “Der Spiegel fez ironia com o destino da Grécia” e pediu a sua saída do euro. “Berlim, começando pela Grécia, dissolve a Europa”, acusa To Vima. “Fazem ao nosso país o mesmo que fizeram à Jugoslávia no início dos anos de 1990, com bombas financeiras.”
"Os gregos – e também toda a UE – aguardam que os dirigentes dos três principais partidos cheguem a acordo para formar governo e evitar eleições, que poderiam agravar a crise. Mas, para já, esses partidos parecem mais preocupados em garantir o seu futuro político.