N.B.: Este post deveria fazer parte do anterior. Devido àquilo que tudo indica ser um erro de sistema, teve que ser publicado separadamente.
B.B. Mandelbrot encontrou a curva de Cauchy por todo o lado na Economia, porque ela é a solução da equação diferencial da ressonância forçada. Os estatísticos chamam-lhe “A curva das caudas gordas”, porque ao contrário da curva de Gauss, a sua amplitude se mantém significativamente maior do que zero a uma distância apreciável do centro. É exactamente uma dessas “caudas gordas” que estamos a viver neste país, e neste continente, desde 2007-2008. A excitatriz é a criação monetária pelos bancos (comerciais!) e o coeficiente de amortecimento, o delta na curva de resposta, é a taxa de reservas fraccionárias. Em 2008, estivemos provavelmente tão perto da tempestade perfeita quanto é possível, mas note-se que a Economia não tem um modo de oscilação simples e o sistema bancário não tem uma taxa de reservas uniforme.
De qualquer forma, a ressonância psicológica (!), como Stéphane Laborde lhe chamou, esta sim, é intrínseca ao sistema de criação monetária pela dívida e ao sistema de reservas fraccionárias. A partir daqui, a opção de “quebrar o passo” tem uma forma simples: podemos continuar a ter o sistema de reservas fraccionárias, ou podemos continuar a ter bancos privados. Mas não ambos. No caso concreto de Portugal, necessitamos quanto antes de renegociar a dívida pública, mas devemos ter a consciência plena de que esta é uma medida de limitação de avarias. O mais importante é que a sociedade possa ser libertada para levar a cabo aquela tarefa essencial de “Acabar com os pobres”. Assim, rigorosamente de volta ao início.
§O exército americano manteve sempre um atraso tecnológico apreciável no respeitante a carros de combate. Na Segunda Guerra, esse foi o resultado da decisão política de privilegiar a quantidade, logo aquilo que pode ser fabricado em grande número (nem tudo pode). Nos anos seguintes, enquanto o complexo militar- industrial americano conseguia manter ou aumentar o seu avanço tecnológico noutras áreas, o seu atraso a respeito de “tanques de batalha” ia-se mantendo, até que, em finais dos 1970’s, o Pentágono decidiu que a situação tinha que mudar duma vez por todas. E nada de técnicas metalúrgicas complexas, ou dinâmica de fluidos em regime turbulento. A solução definitiva envolvia apenas o metal mais duro de todos: o urânio. Mas o urânio é também o metal mais pesado existente no planeta e o produto final, o tanque M-1 Abrahms pesa quase o dobro dos carros de combate usados por outros exércitos. Como era destinado às unidade estacionadas na Alemanha, o exército americano informou as autoridades alemãs do facto e das suas implicações. Eles já sabiam. O processo tinha sido acompanhado com toda a atenção ao nível federal, ao nível estadual e ao nível local. As autoridades militares americanas foram submergidas por uma avalanche de projectos de renovação de estradas, de reforço ou substituição de pontes e viadutos, bem como de terminais ferroviários. Com a carne pronta para ser posta em cima do assador, o exército americano pagou a renovação duma parte substancial da rede viária do Centro e do Sul da Alemanha. ¶Isto, em absoluto, não pode ser dito daqueles países a que eu chamei “em vias de desenvolvimento”. ||Os autores testaram inclusive a hipótese inversa, ou seja, que aqueles problemas pudessem ser a causa da desigualdade económica, sem qualquer evidência de correlação. **No entanto, aquelas estruturas hierárquicas profundamente enraizadas na cultura nipónica, não têm expressão directa no nível de rendimentos e não parecem interferir com aqueles indicadores de bem-estar social. ††Porque não faz sentido falar em sequência temporal quando falamos, por exemplo, de mortalidade infantil ou de crime violento. ‡‡Até meados do século XX, a expressão usada era quase sempre ciclo do comércio. Esta tinha, pelo menos, a dignidade de se referir aos efeitos observados, sem assumir implicitamente nada. A discussão a respeito da natureza “endógena” ou “exógena” do fenómeno tem mais ou menos o mesmo interesse que a afirmação “. . .O Universo é uma forma de onda . . . ”.
No entanto, se o que ficou dito encerra o capítulo do “Acabar com os ricos” e das liturgias do ódio (de Esquerda, as restantes requerem um tratamento mais alargado que não é o meu propósito aqui), não abre de par em par as portas do “Acabar com os pobres”. No fim de contas, o sucesso da Europa ocidental nos anos do pós-guerra foi, em boa medida, o resultado de os europeus terem ficado no “lado certo”, isto é, o lado dos vencedores, na guerra que se seguiu. Mesmo fria, ou talvez por causa disso, os contendores sentiram a necessidade de beneficiarem os seus aliados e nenhum usou essa necessidade melhor do que os alemães. É um parêntesis, mas virtualmente irrecusável: devemos censurá-los por isso ou aprender com eles?§ Continuemos.
Em boa medida, aquilo que facilitou a implementação dos sistemas de estado-providência dos países da Europa ocidental no pós-guerra, foi apenas o baby boom. Dizimados por duas guerras assassinas, em duas gerações consecutivas, os europeus decidiram virar Thomas Malthus de pernas para o ar. O crescimento demográfico europeu facilitou a introdução daqueles sistemas, mas o próprio caso português, em que a versão local dos mesmos se iniciou após o 25 de Abril de 1974 mostra que o crescimento demográfico não é condição sine qua non para a sua existência e sustentabilidade. Mas eu não estou a escrever acerca da sustentabilidade dos sistemas de segurança social. O assunto é o “Acabar com os pobres”, logo, temos que começar por definir com um mínimo de precisão o que significa pobreza e o facto simples é que, em absoluto, não significa o mesmo em duas sociedades distintas, nem sequer na mesma sociedade, em dois períodos suficientemente afastados no tempo. O facto simples, e reportando-nos apenas a Portugal, é que mesmo os mais pobres do presente são incomparavelmente mais prósperos do que os pobres de há cem anos atrás. Aviso à navegação: os períodos de crise (vamos continuar a chamar-lhes “económica”, para poupar nos detalhes) devem sempre ser tratados separadamente. Se quisermos encontrar pobres como os de há um século, temos que nos reportar aos fenómenos complexos da transumância cultural, gerados em boa medida pela abertura das fronteiras, e ainda assim, mesmo entre aquele fenómeno cronicamente incompreendido que são as populações “Rom”, ou “Roma” (“Romani”?) encontramo-las em piores condições neste país do que em países mais igualitários, como a França, mesmo que aí continuem a ser bodes expiatórios convenientes. A ponta de um padrão começa a emergir, mesmo nestes contra-exemplos extremos, mas, sem cuidar de definir os critérios para a classificação, vamos dividir os países em “desenvolvidos” e “em vias de desenvolvimento”. Para os países desenvolvidos, “Acabar com os pobres” significa “Reduzir a desigualdade”.
Publicado em 2009 (com uma edição revista em 2010), The Spirit Level: Why More Equal Societies Almost Always Do Better, foi rapidamente qualificado como a mais recente “Teoria Britânica do Tudo”. As críticas também não tardaram e seguiram o padrão habitual do “Vodka com Laranja”, embora tenha que ser dito que foi pouco vodka e muita laranja (na versão britânica do cocktail, claro). O essencial das conclusões está na afirmação contida no sub-título “As sociedades mais igualitárias saem-se melhor, quase sempre”. Esta obra tem um ponto muito forte a seu favor: não é um livro sobre Economia (!). O índice de (des)igualdade, tal como indica a primeira figura, é apenas o ratio entre os rendimentos dos 20% do topo e os 20% do fundo e nada mais necessita de ser dito a esse respeito.
A segunda figura sumariza os resultados (embora eu ache que os autores iriam entender esta minha afirmação como uma sobre-simplificação). Sem grande surpresa, os países mais desiguais saem-se muito pior em quase todos aqueles critérios. Portugal e os Estados Unidos andam quase sempre a par, a afirmação essencial é que isto não tem a ver com o nível absoluto (monetário) dos rendimentos, mas sim com a maior ou menor desigualdade existente nas sociedades analisadas.¶ O outro aspecto essencial das conclusões, é que as sociedades mais igualitárias não só “se saem melhor em média”, como “todos (quase) se saem melhor”. Os dados analisados pelos autores são anteriores a 2008, e não me vou repetir a respeito dos períodos de crise, mas é quase chocante constatar que a mortalidade infantil e a esperança de vida à nascença nos 20% do topo, nos USA, é pior do que a observada nos 20% do fundo na Grécia.
Muito, ou quase tudo daquilo a que eu chamei “a laranja no cocktail” das críticas tem a ver com estatística. Não é por acaso. Estatística tem a ver com “acaso”, com fenómenos aleatórios; se precisarmos de saber, sei lá, a distância entre Coimbra e a fronteira espanhola, não precisamos de estatística para nada, certo? Errado, e isso faz parte do problema, mas vejamos primeiro as palavras. “Acaso” é uma categoria que usamos quando não nos queremos comprometer com uma afirmação a respeito da natureza dos fenómenos subjacentes. É o equivalente filosófico a fugir com o rabito à seringa (em muitos casos, inquestionavelmente a melhor atitude). “Aleatório” e “aleatoriedade” chegam-nos através do trabalho de Huygens (1629-1695), “De ratiociniis in aleae ludo” (‘Cálculos em jogos de fortuna e azar’) e aqueles termos impregnaram o pensamento europeu com um sentido de regularidade no meio do acaso. Curiosamente, o inglês “random” não tem nada a ver com jogos de fortuna e azar. Deriva do francês medieval “un cheval à randon”, que designava um movimento que o cavaleiro não conseguia prever, logo, que não conseguia controlar. Temos assim três ideias essenciais: imprevisibilidade, logo, o risco que lhe está associado, mas também a ideia de que estes fenómenos exibem alguma regularidade, mesmo que de larga escala ou longo prazo, mas que pode ser adequadamente definida. O resultado é um dos pontos altos do conhecimento humano e, tanto quanto sei, foi a resposta para o problema de como medir distâncias no terreno; a distância verdadeira, que podemos perfeitamente assumir que existe. Acontece que, se fizermos aquela pergunta (“. . . qual é a distância entre Coimbra e a fronteira espanhola?”) a dez topógrafos diferentes, vamos obter dez respostas diferentes, qual é a verdadeira? A resposta: muito exactamente, a média aritmética das respostas; chamamos-lhe Lei Normal dos Erros Experimentais (com muito maior frequência, apenas “normal”, ou “distribuição de Gauss”). A sua forma algébrica é complicada
mas numa folha de papel, obtemos apenas a familiar curva em forma de sino que, não só mas também, tem vindo a fazer parte de todas as laranjadas a partir de meados dos 1980’s.
Agora, como qualquer pessoa de bom senso saberá, há sinos e sinos. E esta outra curva a seguir, em que é que difere da curva de Gauss?
Acontece apenas que eu fiz batota e esta segunda é que é a verdadeira curva de Gauss em (19.1). A primeira é designada por distribuição (função de densidade) de Cauchy e voltarei a ela. Afirmei acima que The Spirit Level tem como grande trunfo a seu favor o facto de não ser um livro de Economia. Para ilustrar esta afirmação, olhemos de novo para aquela segunda figura retirada do livro. Designa-se por “regressão linear” e a linha a vermelho designa-se por “linha de regressão”. Qualitativamente, é apenas a recta que, de entre as infinitamente muitas que podem ser desenhadas na folha de papel (ou no ecran do computador), minimiza a soma das distâncias de todos aqueles pontos à própria recta; qualquer outra produziria somas superiores. Qualitativamente, não precisamos de mais nada para afirmar a existência de correlação entre desigualdade de rendimentos e todos aqueles problemas sociais; no mínimo, podemos também afirmar a existência de uma hipótese causal razoável.||
A desigualdade, em sociedades desenvolvidas é, pelo menos, uma causa importante de muitas das disfuncionalidades que essas sociedades exibem. Para irmos para além disto e para podermos fazer afirmações quantitativas a respeito daqueles factos, necessitamos de algumas hipóteses constitutivas, nomeadamente, qual daquelas curvas usar. A resposta é: a segunda, a verdadeira curva de Gauss. No entanto, a maior parte das críticas não tem a ver com isto. Voltemos àquela distância e aos nossos dez topógrafos. Então e se um dos resultados fosse substancialmente diferente dos outros, digamos, o resultado dum topógrafo alcoolizado? A normal permite-nos detectar essa condição, que designamos por “aberração estatística”, ou apenas pelo anglicismo “outlier”, portanto, o que fazer nestas circunstâncias? A sabedoria convencional diz-nos que devemos pura e simplesmente descartar esses outliers; no assunto em apreço, isso significaria descartar muitos ou quase todos os resultados americanos. No caso do nosso topógrafo alcoolizado, um teste certificado de alcoolemia, válido à data e hora das medições, autorizaria tal prática. Sem isso, nunca, nem que tivéssemos que invalidar todas as experiências.
Num quadro menos limite, a opção envolveria um juízo a respeito do risco envolvido: podemos viver com um resultado deficiente a respeito daquela distância, ou não? Ou será que um resultado anómalo esconde uma condição de risco elevado? Em 1985, uma expedição científica britânica que realizava observações atmosféricas a partir da base de Mc Murdo, na Antárctida, reportou uma depleção pronunciada da camada de ozono sobre o Pólo Sul. Inicialmente, tais resultados foram recebidos com grande cepticismo. Por um lado, as observações feitas “de baixo para cima” estão sujeitas a múltiplas interferências e, mais importante, naquela altura a Terra estava já coberta por uma rede de satélites atmosféricos e estes, olhando “de cima para baixo” não estão sujeitos às mesmas interferências e não reportavam quaisquer condições fora do normal. Por descargo de consciência, os resultados não processados dos satélites foram re-examinados. E alguém apanhou um grande susto. Não só a diminuição da camada de ozono tinha sido detectada, como a sua magnitude era ainda muito mais elevada do que o inicialmente reportado. O software que fazia a análise das observações tinha eliminado aqueles resultados como aberrações estatísticas. Considero que isto encerra a parte das críticas a The Spirit Level.
Mas vejamos mais um aspecto das suas conclusões e uma das mais inesperadas. O processo pelo qual as sociedades atingem aquela condição de maior igualdade não parece ter qualquer importância. Os autores fazem notar que, invariavelmente, os países que se saem melhor em todos aqueles indicadores são os países escandinavos e o Japão. Ora, dificilmente poderiam ser mais diferentes. Na Escandinávia existem diferenças de rendimentos muito grandes, mas depois, um sistema de impostos progressivos e um estado social muito forte, encurtam fortemente a diferença, pelo que o resultado final é aquele que podemos constatar na primeira figura. No Japão, os impostos são baixos e o estado social fraco, mas a diferença de rendimentos é à partida baixa, pelo que o resultado final é muito semelhante. Em absoluto, não existe na obra em análise qualquer indicação no sentido de que o método para “Acabar com os pobres” tenha qualquer importância. A partir daqui, e sendo provavelmente o resultado da minha incompreensão das áreas em causa, a explicação dos autores (sociológica ou epidemiológica?) causa-me algumas dúvidas.
Com as reticências referidas anteriormente, os autores ligam os problemas causados pela desigualdade às hierarquias sociais daí decorrentes. Ora a sociedade japonesa é fortemente hierárquica; conheço-a o suficiente para saber que algo mais necessita ser dito, mas também não tenho qualquer outra hipótese a apresentar. Uma coisa eu sei: quando se juntam dois japoneses, formam-se pelo menos três níveis hierárquicos diferentes.**
O caso apresentado em The Spirit Level está provavelmente tão próximo do estatuto de “prova experimental” quanto é possível a um assunto de natureza social. E um dos seus grandes trunfos reside (já o disse sem o justificar) no facto de não ser um livro de Economia. Os autores usam a informação empírica disponível, para realizarem aquele índice de desigualdade, e procuram os efeitos, assumindo a desigualdade económica como estímulo causal. Usaram a distribuição de Gauss como modelo teórico e a escolha dos indicadores justifica essa escolha. O facto simples é que esta hipótese não tem que ser aceite como artigo de fé. Pode e deve ser testada a partir dos dados disponíveis e foi testada. Não há nas críticas que eu conheço, qualquer base para contestar aquele estatuto de quasi-prova experimental.
Os textos de Economia têm um elemento em comum, isto é, são todos produtos do equivalente à Cosmologia Ptolemaica. Esta analogia invocará, provavelmente, a imagem do julgamento de Galileu pelo tribunal da Inquisição, mas tem que ser dito que aquele julgamento foi apenas o estágio final da degenerescência duma escola de pensamento que tentou, durante séculos, ajustar os factos observados a um modelo teórico falso, para além de qualquer tentativa de redenção. Benôit Baruch Mandelbrot [15] fez esta analogia em O (Mau) Comportamento dos Mercados e conta-nos como aqueles remédios medievais tentaram contornar, em vez de explicarem, as novas e desagradáveis (para os defensores da teoria) observações astronómicas. “. . . Começaram com «ciclos» planetários, depois corrigiram a insuficiência dos ciclos adicionando «epiciclos». Quando estes se mostraram insuficientes, outro remendo afastou o centro dos ciclos do centro do sistema . . . à medida que iam chegando mais dados, iam sendo adicionados outros remendos para «melhorar» a teoria. Estes [remendos] satisfaziam os seus velhos clientes, os astrólogos . . . Mas será que alguma vez teríamos chegado a viajar no espaço?”. Esta discussão é semelhante à de Popper, [21], a respeito dos «remendos» hegelianos (de Direita e de Esquerda). Sem surpresa, os resultados são quase tão maus num caso como no outro. Não exactamente tão maus, porque os “Ptolemaicos decentes”, de Stiglitz a Krugman, aos menos recentes Galbraith e Samuelson, até ao candidato falhado a Martinho Lutero da Economia, que foi John Maynard Keynes, evidenciam o digno respeito pelos factos que define, em muito boa medida, a honestidade intelectual. Mas estes também, sem conseguirem ultrapassar os erros essenciais de base. Em boa parte, estes erros têm a ver com aquelas duas curvas que eu apresentei (inicialmente) com identificação errada.
B.B. Mandelbrot definiu formalmente sete tipos diferentes de acaso, ou aleatoriedade, mas a maioria não tem interesse em Economia. Apenas três, que ele designou por [aleatoriedade] suave, lenta e turbulenta, ou “selvagem”. O primeiro caso é a situação daqueles topógrafos que chegam a resultados diferentes, mas, perturbações alcoólicas excluídas, não muito afastados uns dos outros, e sobretudo, bem comportados (!); é a sucessão de múltiplos lançamentos ao ar de uma moeda ou de um dado. É o que acontece quando medimos a ocorrência daquelas múltiplas disfuncionalidades sociais, sem consideramos a sequência temporal desses factos.†† Intrinsecamente, a Economia é uma sucessão de eventos que geram ondas de choque através da sociedade. A vasta maioria “não vai longe”, a sua amplitude atenua-se rapidamente até se dissiparem; um pequeno número tem consequências desproporcionadas, os proverbiais bater de asas dum borboleta que produzem um tufão a um continente de distância. Todos geram uma memória de longo prazo, mas aprendemos há muito a normalizar (no sentido de Gauss) essa memória. Isto porque a vida das sociedades é regulada por dois ciclos naturais, o primeiro sendo o ciclo circum-solar, o ano civil. Já lhe atribuímos mais importância, fortemente dependentes como estivemos durante a maior parte da história humana do ciclo agrícola das sementeiras e das colheitas; continuamos a atribuir-lhe uma importância institucional muito grande e, em boa medida, provavelmente exagerada. O outro ciclo natural é apenas o período médio de renovação das gerações, a esperança de vida ev, e não lhe damos a importância adequada. A Economia é essencialmente turbulenta e exibe dependências de longo prazo. Mais do que isso, o “tempo económico” não é linear, não decorre da mesma forma em todos os referenciais de observação. Sem grande surpresa, o tempo económico expande e contrai em função da actividade. A Economia é o domínio do dinheiro-tempo, exactamente como a Física é o domínio do espaço-tempo.
Muito do que atrás ficou dito pode não se aplicar durante uma situação de crise, mas é preciso dizer que em nenhum outro assunto como este a Cosmologia Ptolemaica, dominante, exibe de forma mais nua e crua a sua natureza profundamente medieval. As crises estão associadas ao chamado ciclo económico‡‡, ou seja, a economia sobe e desce, a actividade económica aumenta ou diminui, mas só falamos de “crise” durante a fase descendente. Ou como diz a proverbial voz do povo, “Só se lembram de Santa Bárbara quando ouvem os trovões”.
Os Romanos foram grandes construtores de estradas. Estas tinham como objectivo primordial permitir movimentar rapidamente os exércitos, quando necessário. E essas estradas tinham que atravessar cursos de água, pelo que foram também grandes construtores de pontes. E às vezes as pontes caiam. Provavelmente, algumas terão caído por estarem mal feitas, mas estas não geraram grandes registos. Apenas as outras. Os acidentes registados, esses, tinham sempre um elemento em comum: aconteciam quando a ponte estava a ser atravessada por uma coluna militar. Para além daquele propósito primordial, as vias romanas e as suas pontes constituíram também um estímulo ao comércio e eram por vezes multidões compactas, a caminho dum qualquer mercado das imediações, que atravessavam aquelas pontes e nada de errado acontecia. Apenas quando a ponte era atravessada por um destacamento militar, logo, das duas uma: ou os deuses estavam zangados e com aquela legião em particular, ou algo necessitava de ser feito. Recordemos apenas que as legiões romanas eram formadas essencialmente por infantaria e que eram rigidamente disciplinadas. Como todas as tentativas de aplicar as divindades falhavam, algo mais tinha que ser tentado, e foi, por tentativa e erro, mas resultou. E as pontes deixaram de cair. Ainda hoje, quando uma coluna militar tem que atravessar uma ponte, é dada ordem de “quebrar o passo”. As pontes romanas caiam por efeito de ressonância entre a frequência natural da estrutura e a cadência de marcha das legiões que as atravessavam. No presente, a frequência natural destas estruturas é demasiado baixa para que o problema possa ocorrer, mas não tentem explicar esta parte a um sargento-instrutor. A sua reacção não vai ser simpática e ele é que vai ter razão.
“Mas então, lá no teu país vocês têm um comunismo?”, perguntou Primitivo. “Não. É coisa da nossa República”, respondeu Robert Jordan. “Para mim, tudo pode ser feito pela República”, retorquiu Andrés. “Não é preciso mais nada”.
Ernest Hemmingway — in «Por quem os sinos dobram»
Pelo final de 1975, Otelo Saraiva de Carvalho (já comandante do Copcon), foi à Suécia participar num evento organizado pelo Partido Social-Democrata Sueco. No regresso, e com aquela ingenuidade que o caracteriza, contou um episódio ocorrido durante a sua estadia. Um dos seus anfitriões perguntou-lhe “Ainda não conseguimos compreender o objectivo da vossa revolução. Afinal, o que é que vocês pretendem?”, e ele respondeu “Nós queremos acabar com os ricos, pois claro!”, ao que o outro respondeu “Pois nós aqui queremos acabar com os pobres”.
Tanto quanto me consigo aperceber, naquele momento histórico em particular, aquela conversa poderia ter ocorrido em qualquer país da Europa além-Pirenéus, mas foi extremamente adequado que tenha ocorrido na Suécia. No início do século XX, a Escandinávia era uma região historicamente pobre, como Tony Judt a descreveu, «[. . . ] uma região de florestas, herdades, indústrias de pesca e uma mão-cheia de indústrias primárias, quase todas na Suécia». No meio duma população constituída maioritariamente por pequenos agricultores, madeireiros e pescadores, os sociais-democratas suecos compreenderam que, se se mantivessem agarrados aos dogmas do movimente socialista do século XIX, com a sua aversão ao rural,* os seus eleitores “proletários”, mesmo que associados a alguma da classe média urbana (pouco significativa, na altura), iriam assegurar-lhes uma minoria permanente.
A Escandinávia e a Suécia em particular não seguiu o caminho do desespero, trilhado por outras sociedades na Europa de entre as guerras. Naquela passagem fabulosa da Espanha de Hemmingway, os guerrilheiros do grupo do Pablo e da Pilar questionam o dinamitista Inglés (que eles sabem perfeitamente que é americano) a respeito do seu país, e, quando ele descreve o sistema de “homesteading”† no seu estado natal do Montana, ficam extasiados. É sem surpresa que tal estado de coisas tivesse aparecido a camponeses espanhóis sem-terra como um paraíso comunista. Por toda a Europa Central e do Sul, os camponeses amargurados foram presa fácil para os fascistas e outros extremismos. A sua cultura católica tornava-os atreitos a deixarem-se conduzir por quem quer que se afirmasse como detentor da verdade e capaz de dar todas as respostas. Os não menos deprimidos agrários, madeireiros, caseiros e pescadores do extremo norte estavam marcados pelo individualismo da sua tradição protestante; os sociais-democratas suecos e escandinavos em geral, não só não os hostilizavam, como apoiavam as suas cooperativas. Em Saltjöbaden, em 1938, representantes dos patrões suecos e dos trabalhadores assinaram um pacto que iria formar a base das relações sociais do país. Foi também nessa altura que Orwell escreveu “Homenagem à Catalunha”. Isto não encerra o capítulo “Acabar com os ricos”. A liturgia do ódio é muito antiga na cultura europeia, mas, na Esquerda em particular, essa liturgia, desde Babeuf em finais dos 1790, tem sempre duas constantes. Uma é aquela divisão entre a cidade “avançada” e o campo “atrasado”; a outra é o facto de se dirigir sempre a uma minoria. Em The Good Society, Galbraight escreveu que o “Contrato com a América”, o programa transformativo dos conservadores americanos, em 1984, era reminiscente do “Manifesto Comunista”, de 1948. No estilo, na estrutura lógica, inclusive no facto de se dirigir a uma minoria de menos de um quarto dos americanos. O original dirigia-se a um sexto dos britânicos, a sociedade mais industrial da época, e a menos de um décimo dos alemães e dos franceses. Metade destes números no resto da Europa.
As sociedades europeias de entre as guerras eram ainda sociedades agrárias em grande medida. Em 1938-1939, com cerca de 5% da sua população ocupada na agricultura, a Grã-Bretanha era o único país a respeito do qual se podia dizer ter completado a transição para uma sociedade industrial; não muito distante, vinha a Bélgica, com cerca de 8% da sua população ligada à agricultura, logo seguida pela Checo-Eslováquia com 10% (e destes, a grande maioria concentrada no Sul, nas montanhas da Eslováquia). Eram quase 25% os franceses e os alemães que se dedicavam à agricultura, mas com uma diferença essencial: a França era quase sempre auto-suficiente em termos alimentares, enquanto que a Alemanha era fortemente deficitária. A Europa só entrou no clube restrito dos “Alegres Gigantes Verdes” (USA, UE, Canadá, Austrália e Nova Zelândia), os grandes exportadores alimentares, trinta anos depois, com a Política Agrícola Comum, da então CEE. E fê-lo recorrendo em boa medida às abordagens escandinavas, sobretudo dinamarquesas, que visavam resolver problemas concretos, e.g., como recolher o leite produzido por um número elevado de pequenos produtores, para ser posteriormente processado em unidades industriais de dimensão adequada. A Europa tinha entrado na época do juízo prático: foi precisa uma guerra devastadora para que as sociedades europeias, deste lado do Canal da Mancha, deixassem de estar em guerra consigo próprias. Não foi a “3ª Via” dos 1990’s que enterrou Marx. Foi a PAC.
Mas as sociedades são entidades dinâmicas. Até aos finais da Segunda Guerra, todos os países do Mundo podiam ser designadas por “sociedades da escassez”. Uns mais do que os outros, mas mesmo nos mais ricos, mesmo que todos os bens e serviços produzidos que produziam fossem distribuídos de forma absolutamente igualitária pelos seus cidadãos, todos continuariam a ter bastante pouco. Para todos os países, a produção era essencial. Então, a partir de de meados dos 1950’s, nos USA, e uns dez anos depois na Europa Ocidental, as sociedades industriais passaram por uma mudança de fase, única na história humana. John Kenneth Galbraight chamou-lhe “A sociedade da abundância” e fez notar que esta alteração não resolvia todos os problemas; essencialmente, mudava-lhes o centro de gravidade. Numa “sociedade da abundância”, o bem social produzido por muitas empresas já não é o conjunto de bens ou serviços que criam, mas sim o emprego a que dão origem. E essas empresas, para além dos seus produtos, têm também que criar a necessidade para os mesmos. Tinham nascido as ilusões de óptica que viriam a dar origem ao mito da “sociedade pós-industrial”: todos aqueles que trabalham no marketing e na publicidade dum qualquer produto industrial, são “trabalhadores da indústria” ou são “trabalhadores dos serviços”? I rest my case.
Estas alterações qualitativas essenciais foram rapidamente percebidas, embora de forma confusa. “Os revolucionários” do Maio de 1968, marchavam contra a conformidade do “metro, bulot, dódó” à sombra duns barbudos com mais de cem anos. Os jovens do Maio de 1968 ainda não se preocupavam com a toxicidade dos produtos fora de prazo. Viriam a fazê-lo muito em breve, mas no imediato, a sua incongruência foi rapidamente captada pelos membros da geração mais velha. Como Pier Paolo Pasolini disse aos estudantes italianos, “Quando vocês atacam os polícias, eu estou do lado deles. Eles são os filhos dos pobres, vocês são os filhos dos ricos”. Mas o mundo não pára e em 1989 o Muro caiu. Não trouxe nenhuma alteração civilizacional importante. Apenas libertou a História. Um ou dois anos antes (esta é a versão de Tony Judt, ouvia-a contada de diversas formas), um ouvinte duma estação de rádio arménia telefonou para a estação e perguntou: “Mas afinal, o futuro é previsível, como afirma o materialismo histórico, ou não é?”. O locutor de serviço respondeu “Claro que sim, todos os dias prevemos o futuro. O passado é que é mais difícil . . .Não pára quieto”. A dissolução da União Soviética abriu os arquivos de leste e aquela área essencial do conhecimento humano a que chamamos História moveu-se. Já por aqui escrevi a esse respeito e mais do que uma vez. Mas ninguém tem que formar a sua visão do mundo a partir daquilo que eu escrevo. Falem com pessoas que tenham vivido a Europa de Leste. E leiam. Vão ter aquela sensação física de movimento de que aquele locutor arménio descreveu.
Não foram apenas os documentos relativos à história das sociedades do século XX. A Academia das Ciências da URSS, honra lhe seja feita, compilou e preservou ao longo de décadas, um grande repositório de todos os textos do marxismo, incluindo a correspondência dos seus pais-fundadores. Mais de cinquenta mil páginas e a opinião dos historiadores que a ele tiveram acesso, é que aquilo que ali não se encontrar é porque foi perdido por causas naturais, na época. O papel é um suporte físico muito mais frágil do que o pergaminho e a pedra da antiguidade e o papel do século XIX é particularmente de má qualidade, pelo que o acesso a estes documentos é mais recente. Aquilo que aí vem é borrasca e não o afirmo de ânimo leve. Contudo, é possível chegar às mesmas conclusões a partir de muito menos dados. A transcrição que se segue faz parte de correspondência particular, tornada pública com a autorização explícita do seu autor.
Fiquei pessoalmente abalado pelo livro de Schwartzschild, e foi apenas a minha visão da estatura moral de Marx que foi destruída. A razão para o meu ponto de vista a respeito da estatura de Marx como cientista não ter sido abalado é muito simples. Desde o início que não tinha uma opinião muito elevada, mas tinha-lhe dado todo o benefício da dúvida que era possível; e a minha opinião tinha-se deteriorado, tanto ao escrever o livro como após o ter escrito; tão lentamente, que nunca me apercebi disso. Quando li [o livro de] Schwartzschild não havia mais nada para ser destruído. Assim, foi apenas quando li a sua Introdução‡ que me apercebi que devia ter referido a alteração da minha visão a respeito da seriedade científica de Marx. Portanto, aceito a sua crítica por completo.
Karl Popper
No entanto, se o que ficou dito encerra o capítulo do “Acabar com os ricos” e das liturgias do ódio (de Esquerda, as restantes requerem um tratamento mais alargado que não é o meu propósito aqui), não abrem de par em par as portas do “Acabar com os pobres”. . . (cont.)
*No caso de Marx e dos movimentos da III Internacional, “aversão” é um termo manifestamente desadequado, pois o único suficientemente descritivo é “ódio”. Não é muito fácil compreender o asco com que Marx tratou os pequenos agricultores franceses, na sua vasta maioria criados pelas reformas agrárias da Revolução. Mas o melhor exemplo é, sem dúvida, a demonização do kulak russo, por Lenin e pelos seus sucessores. Veja-se que o termo russo teria que ser traduzido por “agarrado”, ou “unhas-de-fome” visto que designa aquele movimento com os dois punhos cerrados à altura do peito, que por vezes fazemos para ilustrar tais comportamentos. Os kulaks eram “camponeses ricos”, por vezes o seu capital resumia-se a uma vaca. Como categoria sociológica, tem uma dignidade rigorosamente igual a zero; como epíteto, diz imediatamente aos destinatários aquilo que podem esperar de quem o usa. †Não é claro a partir do texto, se Hemmingway se referia ao “Homestead Act” de Lincoln, em 1862, ou às iniciativas “Subsistence and Homestead” de Roosevelt, do início dos 1930’s. Talvez ao primeiro, pela área de terra referida pelo protagonista, mas o mais significativo é o facto de se tratar dum conjunto de tradições anglo-saxónicas muito antigas, veja-se e.g. a discussão de Noam Chomsky a respeito da(s) Magna(s) Carta(s). ‡A discussão entre Flew e Popper reporta-se à nota que o último adicionou à 5ª edição de A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos, exactamente a respeito do livro citado: “Schwartzschild descreve-o como alguém que via ‘o proletariado’ meramente como um instrumento da sua ambição pessoal. Embora isto possa ir para além daquilo que a evidência documental permite, tem que se admitir que essa evidência, em si mesma, é devastadora.”
Uma das características que melhor identificam uma sociedade e uma civilização em fase terminal, é o afã e o entusiasmo com que a sua intelligentsia se entrega a profundos dilemas filosóficos. Um, em particular, entrou na linguagem: quando os canhões otomanos martelavam os muros da cidade ("...são apenas trovões..."), os sábios de Bizâncio discutiam a natureza do entre-pernas dos anjinhos. Seria uma pilinha ou um pipizinho? Fosse lá o que fosse, foi o suficiente para os manter ocupados, até que o fio das espadas turcas acabasse com a sua miséria.
Ora nisto de dilemas profundos, há pelo menos um que está sempre à mão de semear, ou seja, aquele contido no título; sempre disponível para permitir a exibição dos dotes argumentativos dos filosofantes. Veja-se um exemplo: será que o baixo crescimento económico produz a desigualdade social, ou será que a desigualdade social produz o baixo crescimento económico? Wow! Causa e efeito. Duplo Wow!! Causalidade. Será que algo consegue ser mais profundo do que isto? Bem, permitam-se ser um desmancha-prazeres: a Teoria do Controlo de Sistemas produz uma definição simples:
Um Sistema diz-se causal, se exibir uma demora finita entre o instante em que é sujeito a um qualquer estímulo e o instante em que, de alguma forma, responde a esse mesmo estímulo.
E lá se foi o dilema! Será que foi? Bem..., não exactamente. Quando falamos de Economia, estamos a falar do conjunto de processos pelos quais os bens e serviços existentes numa sociedade são criados, e da quantidade e forma de transacções a que são sujeitos. E o ovo e a galinha vingam-se, porque é como se quiséssemos discutir temperatura, mas apenas fossemos capazes de falar de termómetros.
Veja-se, no entanto, que os termómetros têm grande utilidade. Mesmo se, ou quando, alguém resolveu chamar-lhes "parquímetros", por exemplo. Os Custos Unitários do Trabalho, que tanto apoquentam as nossas cavalgaduras de longas orelhas, pertencem a esta categoria de parquímetros, visto que este, em particular, reflecte apenas a parte do trabalho no valor acrescentado total. Veja-e esta imagem, e constate-se a terrível realidade que reflecte: os rendimentos do trabalho aumentaram, na Europa, até 2007. Malandros! Madraços!! É óbvio que algo tinha que ser feito para corrigir esta situação..., e vamos mudar de assunto que estas bestas dos parquímetros já me enojam.
Em vez disso, vamos voltar à vaca fria do título. Será que é preciso que o crescimento aumente, para que a desigualdade diminua, ou será que é necessário que a desigualdade caia para que o crescimento aumente? Hmmm! Será que alguém ouviu trovões ao longe, recentemente? Talvez umas noticias dumas privatizações do que, por definição é público — como em Serviço Público de Radiodifusão — ou outras a respeito das desventuras punitivas do Crato, ministro mas pouco? "São trovões, Meu Senhor, são trovões". Canhões turcos, não, porque isso poderia incomodar a rentrée do nosso (o que é que se há-de fazer?) Presidente. O facto simples, é que as correlações bastam. Atente-se neste exemplo.
Governado à vez por um partido que se diz social-democrata e por outro que se diz socialista é o último da escala. Se fosse preciso prova que em Portugal o preconceito ideológico comanda a vida política, ai está. Bem agradeciam os dois milhões de pobres que nos deixemos de "carimbos" ideológicos e nos fixemos em medidas políticas que resultaram noutros países mais ricos e mais justos.
De acordo com o estudo "Divided We Stand: Why Inequality Keeps Rising", da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o fosso entre ricos e pobres atingiu o nível mais elevado dos últimos 30 anos.
Neste vídeo, Richard Wilkinson, mostra como a desigualdade profunda entre cidadãos, numa mesma sociedade, afecta negativamente todas as facetas da vida em comum. Claro, que Portugal é apontado como uma das sociedades mais desiguais juntamente com os Estados Unidos e outros que tais...
Está demonstrado estatisticamente, que uma sociedade desigual potencia os problemas sociais e não é só a violência, é também a "esperança de vida" ao nascer ( mesmo para os ricos), são certo tipo de doenças sociais( depressões, divórcios, crianças pouco equilibradas emocionalmente...) que constituem um elevado encargo financeiro para a sociedade.
A partir de um certo patamar ter mais dinheiro não equivale a um melhor nível de vida,pelo contrário, influencia o rancor individual e a violência, que empurram os cidadãos para sociedades cada vez mais securitárias e, mesmo, para a supressão de direitos que deixam de ter condições de serem exercidos.
Não estamos a falar de igualitarismo ( em que as pessoas são todas iguais) porque não são, são diferentes e, como tal, haverá sempre diferenças, mas diferenças que não ofendam a dignidade.