Uma das características que melhor identificam uma sociedade e uma civilização em fase terminal, é o afã e o entusiasmo com que a sua
intelligentsia se entrega a profundos dilemas filosóficos. Um, em particular, entrou na linguagem: quando os canhões otomanos martelavam os muros da cidade
("...são apenas trovões..."), os sábios de Bizâncio discutiam a natureza do entre-pernas dos anjinhos. Seria uma pilinha ou um pipizinho? Fosse lá o que fosse, foi o suficiente para os manter ocupados, até que o fio das espadas turcas acabasse com a sua miséria.
Ora nisto de dilemas profundos, há pelo menos um que está sempre à mão de semear, ou seja, aquele contido no título; sempre disponível para permitir a exibição dos dotes argumentativos dos filosofantes. Veja-se um exemplo:
será que o baixo crescimento económico produz a desigualdade social, ou será que a desigualdade social produz o baixo crescimento económico? Wow! Causa e efeito. Duplo Wow!! Causalidade. Será que algo consegue ser mais profundo do que isto? Bem, permitam-se ser um desmancha-prazeres: a Teoria do Controlo de Sistemas produz uma definição simples:
Um Sistema diz-se causal, se exibir uma demora finita entre o instante em que é sujeito a um qualquer estímulo e o instante em que, de alguma forma, responde a esse mesmo estímulo.
E lá se foi o dilema! Será que foi? Bem..., não exactamente. Quando falamos de
Economia, estamos a falar do conjunto de processos pelos quais os bens e serviços existentes numa sociedade são criados, e da quantidade e forma de transacções a que são sujeitos. E o ovo e a galinha vingam-se, porque é como se quiséssemos discutir temperatura, mas apenas fossemos capazes de falar de termómetros.
Veja-se, no entanto, que os termómetros têm grande utilidade. Mesmo se, ou quando, alguém resolveu chamar-lhes "parquímetros", por exemplo. Os Custos Unitários do Trabalho, que tanto apoquentam
as nossas cavalgaduras de longas orelhas, pertencem a esta categoria de parquímetros, visto que este, em particular, reflecte apenas a parte do trabalho no valor acrescentado total. Veja-e esta imagem, e constate-se a terrível realidade que reflecte: os rendimentos do trabalho aumentaram, na Europa, até 2007. Malandros! Madraços!! É óbvio que algo tinha que ser feito para corrigir esta situação..., e vamos mudar de assunto que estas bestas dos parquímetros já me enojam.

Em vez disso, vamos voltar à vaca fria do título. Será que é preciso que o crescimento aumente, para que a desigualdade diminua, ou será que é necessário que a desigualdade caia para que o crescimento aumente? Hmmm! Será que alguém ouviu trovões ao longe, recentemente? Talvez umas noticias dumas privatizações do que, por definição é público — como em
Serviço Público de Radiodifusão — ou outras a respeito das desventuras punitivas do Crato, ministro mas pouco?
"São trovões, Meu Senhor, são trovões". Canhões turcos, não, porque isso poderia incomodar a rentrée do nosso (o que é que se há-de fazer?) Presidente. O facto simples, é que
as correlações bastam. Atente-se neste exemplo.
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Quem ganhou com os milhões da dívida? Na Islândia sabe-se, é preciso também saber-se em Portugal. Quem o diz é um economista que veio às conferências do Estoril . "
O membro do Banco Central da Islândia Gylfi Zoega diz que Portugal deve investigar quem está na origem do elevado endividamento do Estado e dos bancos.
"Temos de ir aos incentivos. Quem ganhou com isto? No meu País eu sei quem puxou os cordelinhos, porque o fizeram e o que fizeram, e Portugal precisa de fazer o mesmo. De analisar porque alguém teve esse incentivo, no Governo e nos bancos, para pedirem tanto emprestado e como se pode solucionar esse problema no futuro", diz o responsável.
Nós também sabemos mas não ganhamos nada com isso, ninguém é responsabilizado perante a Justiça.
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É esta a luz ao fundo do túnel? Ou no meio da ponte? Com este dinheiro assim poupado será possível apoiar a economia?
Nos últimos meses foi possível apoiar cerca de 300 empresas que estranguladas pela tesouraria teriam fechado. A última foi uma empresa bem conhecida . A Edifer!
Empresas viáveis com facturação acima de um milhão de euros mas que por não terem liquidez estavam a caminhar inexoravelmente para a falência. Isto foi conseguido sem criar nenhuma nova estrutura ao mesmo tempo que envolveu responsáveis dos ministérios da Economia, das Finanças, da Segurança Social e da Justiça. De outra maneira não teria sido possível pois parava no primeiro obstaculo que é o que sempre acontece quando os ministérios e os serviços não estão alinhados.
Pequenos sinais que não fazem notícia mas que são fundamentais para manter a esperança e o caminho! Oxalá estejamos no caminho certo, apesar de nos últimos dias terem novamente aparecido vozes a condenarem Portugal ao mesmo que aconteceu na Grécia. Novo resgate necessário? Mercados a atacarem a dívida de Portugal e Espanha?
Ou já foi ultrapassada a tempestade financeira como veio dizer esta semana a Directora - Geral do FMI ?
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O governo reagiu ao corte do
rating da dívida pública portuguesa em dois níveis, de
BBB- para BB, por parte da agência de notação financeira
Standard & Poor’s, remetendo a dívida portuguesa para a categoria de "lixo",
afirmando que se trata duma decisão infundada. Hoje, coube ao
primeiro-ministro Passos Coelho a vez de vir dizer que a agência está a fazer política e que a decisão "foi sobre a Europa".
Passos Coelho é capaz de ter razão quando acusa a Standard & Poor’s de fazer política, mas a acusação não deixa de ser surpreendente, partindo dele, que é um amigo dos "mercados", quando se sabe que o procedimento seguido pelas agências de rating não é de agora e quando, outrossim, se sabe que a política delas é estarem ao serviço dos "mercados".
Surpreendente a reacção, mas compreensível a desilusão do homem: ele que é tão amigo dos "mercados" que até fez tudo (e mais alguma coisa) como os "mercados" mandaram e tratarem-no desta forma, não é justo. Se calhar, os "mercados" ainda não sabem o amigo que aqui têm. Provavelmente é tudo culpa do Moedas que se esqueceu de dar uma palavrinha aos "mercados"!
Já, por outro lado, nada tem de surpreendente, porque é usual, a atitude de pretender passar ileso por entre os pingos da chuva, ao afirmar que a posição adoptada "foi sobre a Europa". É verdade que a apreciação foi conjunta sobre vários países europeus. Só que Passos Coelho esquece que há vários países que não sofreram qualquer corte (Alemanha, a Holanda, a Finlândia e o Luxemburgo) mantendo a notação do triplo A e que nem todos os países considerados sofreram um corte de dois níveis, o que significa necessariamente que foi tida em consideração a realidade específica de cada país.
Aliás, se Passos Coelho se der ao trabalho de atentar nas razões invocadas pela Standard & Poor’s, para justificar a sua posição, encontrará, além do mais, a afirmação de que o processo de consolidação orçamental "baseado unicamente no pilar da austeridade orçamental arrisca-se a tornar-se auto-liquidacionista". Ora, Passos Coelho não pode eximir-se da responsabilidade de ter assumido e de estar a levar a cabo um plano de austeridade ainda mais ambicioso do que o acordado com a "troika". Com os maus resultados que estão à vista. A Standard & Poor’s limitou-se a constatá-los. Quanto à responsabilidade: sibi imputet.
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A cimeira da União Europeia, qualificada à partida como a cimeira do tudo ou nada, terminou, mas, ao que tudo indica, em relação à crise do euro e das dívidas soberanas, a actual situação vai continuar mais ou menos na mesma.
A UE continua dividida, não apenas devido à intransigência do Reino Unido que pretendia obter"algumas derrogações às regras europeias de regulação dos serviços financeiros", mas sobretudo devido ao facto de o coro continuar desafinado, pois são quase tantas as vozes e os tons quantos os países representados. É verdade que há excepções como é o caso de Passos Coelho cuja voz se rege pelo diapasão da senhora Merkel, mas o número dos afinados não dá para formar um coro que se faça ouvir aos "mercados".
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