Quando abordamos um qualquer problema difícil, uma forma de começar consiste em verificar o que é que as autoridades nessa área dizem a tal respeito. Ora, o Livro do Génesis diz-nos que Adão foi feito a partir do barro e que Eva foi depois feita a partir duma costela de Adão.
Independentemente do que cada um pensar a este respeito, é claro neste ponto que estamos perante a descrição de processos de criação a partir de matéria pré-existente, ou seja, criação ex materia.
Então e o resto? O mundo, os céus infinitos e as estrelas do firmamento, foram feitos a partir de quê? Neste ponto, e para não descartarmos os benefícios do método adoptado, a única coisa que podemos afirmar é “. . . a fonte citada é omissa”.
O que, por sua vez, levanta imediatamente a questão . . . omissa porquê? Duas respostas razoáveis ocorrem quase imediatamente ao nosso espírito, a mais curta das quais é que, pura e simplesmente, o assunto não nos diz respeito. Não seria difícil imaginar Moisés, no cume do Sinai, fazendo tal pergunta, apenas para obter aquela resposta. Igualmente razoável, é que o espírito humano seja demasiado limitado para abarcar um tal assunto. Em ambos os casos, Moisés pegaria nas Tábuas da Lei e iria à sua vida.
Acontece que todas as religiões reveladas têm dogmas implícitos, mais importantes do que os explícitos, um deles sendo que a Revelação é completa. Completa, como, de forma mais literal ou de forma mais simbólica, é assunto que pode ser discutido ad aeternum. A completude da revelação não, pois levantaria imediatamente a dúvida sobre o que mais não teria sido revelado, o que imediatamente colocaria em causa o poder dos assistentes profissionais ou adventícios das diversas divindades, logo, aquela primeira resposta é completamente inaceitável.
Outro desses dogmas implícitos é o da inteligibilidade: a revelação é inteligível; de forma mais simbólica, ou de forma mais literal, de novo, pode sempre ser discutido. A inteligibilidade não, porque isso transformaria imediatamente a revelação em terapia ocupacional para atrasados mentais, inutilizando aquele poder profissional, já anteriormente referido.
Foi por tudo isto que os teológos chegaram a um consenso absolutamente inusitado (embora só ao fim de discussões furiosas, claro): o resto, o mundo, os céus infinitos e as estrelas do firmamento foram criados ex nihilo. Literalmente, a partir do nada. Mas se o consenso é inusitado, não é menos curioso que tal concordância tenha sido decidida ser de ocultar do comum dos mortais. No fim de contas, que ser humano, em seu perfeito juízo, iria aceitar que algo possa ser criado a partir de rigorosamente nada?
O facto simples, é que o senso comum está errado. Tudo o que é realmente importante no Universo, é criado ex nihilo. Como é criado o conhecimento? Resposta: a partir de informação. Mas estamos apenas a alongar o problema: como é criada a informação? Resposta: a partir de comunicação, e voltámos rigorosamente ao ponto de partida. Como é criado o dinheiro? Vamos quebrar o círculo vicioso: Como é criada a entropia? Resposta: ex nilhilo, é o resultado da própria textura do Universo e temos que concluir que este é um Universo interessante.
A resposta à pergunta “o que é o dinheiro e como é criado?” é que se trata apenas de entropia. E esta resposta mais não é do que trivial, interessante apenas para tentar responder à pergunta O que é a inflação? Lá iremos, a seu tempo. Para já, o facto simples é que estes assuntos nos colocam perante uma escolha essencial, escolha essa que ninguém irá fazer por nós e que nós fazemos, mesmo se ou quando escolhemos não escolher. P.W. Atkins, tal como citado em [12, Leff, 1999], chamou- lhe “Severidade e Flacidez”:
Tal é a severidade do critério que a ciência estabelece para si própria. Se formos honestos, temos que aceitar que a ciência só poderá reclamar sucesso completo, se conseguir aquilo que muitos considerarão impossível: explicar e emergência de tudo a partir de absolutamente nada. Não “quase-nada”, nem sequer de uma poeira sub-atómica, mas absolutamente nada. Nada de nada. Nem sequer espaço vazio.
Veja-se como isto difere da suave flacidez do argumento não-científico, o qual normalmente não possui qualquer critério externo de sucesso, para além do aplauso popular ou a resignação da aceitação não-pensante. Um argumento tipicamente adiposo, no seu arqui-antireducionismo, poderá ser que o mundo e as suas criaturas foram criadas por algo chamado Deus e que isso é tudo o que há para dizer. Veja-se que a afirmação pode ser verdadeira e não tenho como provar que não é. Contudo, não passa de uma paráfrase da afirmação ‘o universo existe’. Para além disto, se lermos naquela explicação um papel activo para o tal Deus, então é uma explicação excepcionalmente complexa, embora pareça simples, pois implica que tudo ou quase tudo (mesmo que o Deus não tenha fornecido mais do que electrões e quarks), teve que ser produzido inicialmente.
Por isso, caro leitor, faça a sua escolha: severidade ou flacidez?
Gostaria de convidar os leitores a deterem-se nas poucas páginas deste capítulo. Em toda a minha vida, é a primeira vez que encontro uma formulação matematicamente correcta daquela ideia a que, há milhares de anos, se calhar desde sempre, chamamos liberdade. A configuração dos "três produtores" é a mais simples que permite a sua existência; liberdade económica, mas feita esta precisão, não necessitamos de a repetir. Consideremos a configuração imediatamente anterior (com cardinalidade imediatamente inferior): é a proverbial condição de Robinson Crusoe e do Sexta-Feira, sozinhos na sua ilha isolada. Atente-se que é completamente irrelevante que vivam numa condição de igualdade absoluta ou que um escravize o outro. Para que qualquer troca económica possa ser levada a cabo, quer seja o acto de pescar, a recolha de frutos ou de água potável, ou a confecção das refeições, têm que estar sempre de acordo e de acordo quanto ao papel que cada um desempenha nessa troca mútua. É igualmente irrelevante que ambos existam num estado de satisfação psicológica com a sua própria condição. Nenhum deles tem realmente, de facto, qualquer alternativa (para além da míngua e do desespero, claro). A condição circular dos "três produtores" pode na realidade englobar todos os cidadãos da mesma zona económica (por conveniência de exposição, deixemos para já de lado os círculos que se fecham pela importação ou exportação, através de duas ou mais zonas económicas), mas esse facto não lhe adiciona qualquer complexidade extra. Esta complexidade ocorre «no tempo», com a substituição de gerações. É neste aspecto que a pergunta de Thomas Paine se torna essencial. Recordemo-la, pois:
Aqueles que já deixaram este mundo e aqueles que ainda não existem, estão à maior distância uns dos outros que a imaginação humana pode conceber: que possibilidade de obrigação poderá existir entre eles?
Que regra ou que princípio pode ser formulado para que de dois seres imaginários, sendo que um deixou de existir e o outro ainda não existe, e que nunca poderão encontrar-se neste mundo, um possa dominar o outro até à consumação dos séculos? «Os Direitos do Homem» 1791 Thomas Paine (1737–1809)
Uma vez que uma qualquer comunidade tenha sido capaz de estabelecer a necessidade de uma moeda comum, apesar dos seus desacordos fundamentais quanto àquilo a que os seus membros atribuem valor ou não, fica por resolver um problema fundamental para a definição dessa moeda. Reduz-se à resolução do problema espácio-temporal dos três produtores que se enuncia da seguinte forma:
X, Y , e Z, produzem respectivamente os valores Vx, Vy e Vz. X pretende obter Vy, Y pretende obter Vz, e Z pretende obter Vx.
Constatamos de imediato que as trocas não podem ser feitas bilateralmente, mas apenas de forma circular. Como, aliás, é perfeitamente possível que X não atribua qualquer valor a Vz, Y a Vx, e Z a Vy (princípio de relatividade), nenhum dos bens ou serviços produzidos pode servir como medida comum. Este é o ponto fundamental, que implica que a moeda tenha que ser definida numa base independente dos valores produzidos por cada um deles.
O problema existe também no domínio do tempo, no qual os indivíduos, os seus produtos e as suas necessidades evoluirão ou mudarão de natureza, e serão progressivamente levados a desaparecer ou a serem substituídos por outros. Continua a ser indispensável manter, em todas as circunstâncias, a possibilidade de trocar de forma conveniente, a produção duns e doutros, a fim de satisfazer as suas necessidades, elas próprias em evolução.
Portanto, «ao longo do espaço» (para um tempo de evolução curto « dt»), os valores não são reconhecidos ou aceites pelos seus produtores de forma bilateral, e impõem a necessidade de trocas circulares, mas igualmente, «ao longo do tempo», os indivíduos e os valores que eles produzem alteram-se por completo.*
Verifica-se que, para um período de tempo suficientemente curto, podemos constatar uma certa estabilidade. Existe, contudo, uma evolução contínua dos parâmetros económicos, logo da moeda que pretendemos definir, o que permite aos produtores, presentes em cada instante e pelo menos durante esse período de tempo curto, estarem de acordo a respeito do seu instrumento de troca circular.
Igualmente, e como iremos demonstrar de seguida, por forma a sermos coerentes com os fundamentos propostos, apenas uma quantificação puramente matemática das trocas, independente de todo e qualquer bem ou serviço de referência, é aceitável para os actores do problema dos três produtores.
Este resultado não diminui em nada o valor da moeda, pois, embora de natureza puramente matemática, a sua quantidade total continua limitada em cada instante. O poder de compra que representa, continua assim limitado pelo preço para além do qual os produtores não poderiam trocar os seus produtos, por falta de dinheiro em circulação.
Uma vez o problema formulado, iremos agora analisar as soluções convencionais e os problemas que essas soluções geram, antes de abordarmos a solução relativista propriamente dita.
*Recordemos que espaço designa o conjunto dos cidadãos duma zona económica, activos durante o respectivo período de vida, e tempo designa a sucessão das gerações.
Now I am become Debt The destructor of worldsBhagavad Gita — Paráfrase da citação de J. Robert Oppenheimer
Este é um livro publicado ao abrigo de uma licença de código Aberto, GNU V3 (cf. 19). À partida parece uma ideia absurda (“. . . código aberto tem a ver com software de computadores. . . ”) e foi assim que a encarei inicialmente.
Acontece que são as ideias absurdas, uma vez levadas à prática, que criam novas realidades. Foi isso que o Stéphane Laborde fez e a afirmação anterior dispensa qualquer demonstração: doutra forma, eu não estaria a escrever estas linhas. De qualquer forma, esta é uma experiência nova para mim e no sentido de orientar o leitor, adoptei como método, restringir as minhas contribuições a este capítulo e à Nota Final, bem como às notas de pé-de-página e finais, visto que o autor original não faz uso das mesmas.
Esta nota prévia tem dois propósitos. O primeiro é o de detalhar o conceito de agregados monetários, assunto que é apresentado de forma algo violenta, logo nas primeiras páginas. O Banco Central Europeu define os agregados M1, M2 e M3, tal como consta da tabela seguinte...(ver Agregados Monetários BCE).
O segundo propósito é o de esclarecer o tema central de todo o livro, isto é, o conceito de valor. Ora, assuntos como este, são propensos a criar uma grande confusão. No fim de contas, a confusão centra-se numa única palavra: lei.
É que existem dois tipos de leis. O primeiro diz respeito às regularidades que podemos observar – ou deduzir – à nossa volta (incluindo em nós próprios). Não dependem da nossa opinião, nem sequer do nosso conhecimento a seu respeito, pois não é pelo facto de alguém desconhecer, e.g., as leis do movimento de Newton, ou as leis do electromagnetismo de Maxwell, que está menos sujeito a elas.
O segundo tipo de leis diz respeito ao conjunto de normativas, formais ou informais (hábitos, tabus sociais) que regulam o funcionamento das nossas sociedades. A diferença essencial, é que as leis do primeiro tipo não dependem de nós, enquanto que as do segundo tipo só dependem de nós.
Karl Popper, [17, capítulo 5 e notas], chamou a esta distinção, a transição dum estado de monismo mágico – característico das sociedades fechadas ou tribais, em que as leis naturais são confundidas com as normativas sociais – para um estado de dualismo ou convencionalismo crítico.
Ao contrário das “leis naturais”, as normativas formais e informais, são apenas decisões, e nenhuma decisão pode ser deduzida a partir de um qualquer facto, ou conjunto de factos. Popper acabou por adoptar a formulação dualista de proposições e propostas. As primeiras podem ser afirmadas (ou declaradas); podem ser verdadeiras ou falsas, e só os terminalmente tolos as confundirão com o facto da sua declaração. As propostas são adoptáveis e, como resultado duma decisão individual ou colectiva, podem ser adoptadas; de novo, o facto da sua adopção não pode ser confundido com o facto que a proposta é. Concluindo: “. . . as propostas não são redutíveis a factos . . . embora lhes digam respeito”.
Esta distinção é essencial. Confronta-nos com a nossa própria liberdade, mas também com a nossa responsabilidade. Hoje em dia, neste continente mais uma vez mártir, e, por maioria de razão nos países como o meu, que se encontram na linha da frente da mais recente ofensiva contra a liberdade, os adoradores de Shiva dizem-nos que não existem alternativas àquilo que apenas são as suas próprias propostas*. Esquecem que, em última análise, existe sempre pelo menos mais uma: a alternativa de Oppenheimer. Pela sua insistência no que, por vezes, parece genuinamente ser apenas a ausência da faculdade de pensamento competente, o tribalismo mágico dos dívidocratas está apenas a tornar a violência mais provável.
Penso que é muito difícil elaborar uma ideia mais antropomórfica do que a contida na palavra “valor”. Mas também será difícil encontrar alguma outra ideia que, com tanta frequência, tenha sido sujeita a distorções monistas. Iremos apenas – e de forma muito breve – analisar duas, que designarei por “naturalismo mágico” e “positivismo totalitário”.
A “teoria do valor” de Marx (ou talvez, pelo testemunho de Engels, de David Ricardo), afirma o carácter objectivo do valor, definido como o número de horas de trabalho, socialmente necessárias, para produzir uma unidade de um qualquer bem ou serviço. O núcleo da afirmação, de que apenas a actividade humana gera valor é verdadeiro. Trivial e banalmente verdadeiro, pelo seu carácter antropocêntrico. Acontece apenas que Marx (e os outros naturalistas) esqueceram que trabalho é, em última análise trabalho físico e que este tem dimensões de energia. Logo, o “valor de troca” de Marx teria as dimensões [W] = ML2T-1, em vez das habituais [W] = ML2T-2. †
Pode-se objectar à minha crítica, afirmando que o assunto não tem a dignidade suficiente para uma análise detalhada. Veja-se que, se aceitássemos aquela noção de “valor de troca”, teríamos que concluir que, sendo o trabalho socialmente necessário para produzir uma tonelada de ouro de lei e uma tonelada de ouro dos tolos igual, então o seu valor seria igual. Creio que foi A.J. Toynbee quem afirmou que “. . . a liberdade foi muitas vezes vítima de ataques directos, mas com mais frequência ainda, vítima de falsas ideias”. E de falsos profetas, acrescentaria eu.
A postura dos positivistas (em boa medida, a posição hoje dominante) é ainda mais brutal, pois sendo que só os factos têm significado, apenas a situação real tem significado, sendo todas as alternativas meras “construções verbais”. Creio ser óbvio que se trata apenas da defesa, pretensamente erudita, do status quo, nada mais necessitando ser dito.
A Teoria Relativista do Dinheiro afirma a condição do indivíduo como único decisor válido do valor. Pelo que atrás ficou dito, penso ser claro que podemos defender esta afirmação como quisermos, mas em última análise nunca a poderemos deduzir de um qualquer conjunto de factos ou proposições, temos que a propor. E pugnar pela sua adopção:‡
Princípio do Valor 0.1 O indivíduo é o único decisor válido do valor e a sua liberdade só pode ser restringida na medida em que conflitue com a liberdade de outros indivíduos, incluindo os que ainda não nasceram.
É razoável pensar que a paráfrase inicial é excessiva, no fim de contas, Oppenheimer estava a falar da arma atómica, a arma final. A História, aqui no sentido preciso de “história registada”, mostra-nos que, pelo contrário, talvez a citação original fosse exagerada. No fim de contas, podemos afirmar com uma certeza razoável que a ameaça nuclear é controlável. A destruição pela dívida não. Isto porque a criação monetária por privados, implica sempre uma dívida: o dinheiro tem que ser «. . . borrowed into existence . . . ».§
O resultado são os ciclos periódicos de “abundância de dinheiro barato”, seguidos de ciclos de destruição (!) monetária, sempre acompanhados pela devastação do tecido económico e social. Pelo sofrimento. Foi por isso, [6, por exemplo], que todas as sociedades e todas as religiões do Levante instituíram jubileus periódicos da dívida; um novo começo, uma nova oportunidade, como uma tela em branco. No presente, a única dúvida é até quando iremos tolerar a repetição ad nauseam das transfigurações de Shiva. Porque, metáfora à parte, dependem apenas de nós.
“Assim, resta-nos enfrentar lucidamente a questão, por muito difícil que nos pareça. Se sonharmos com um regresso à infância, se nos deixarmos cair na tentação de delegar nos outros aquilo que nos compete para encontrar a felicidade, se nos furtarmos à incumbência de carregar a cruz que nos pertence, a cruz da humanidade, se nos falhar a coragem e abandonarmos a luta, então teremos que tentar fortalecer-nos na compreensão clara e simples da decisão tomada: o regresso à bestialidade. Pois o caminho da humanidade é só um, o da sociedade aberta, e implica um salto no desconhecido, na incerteza, na insegurança, implica recorrer à razão como meio de planear, o melhor que soubermos, a nossa segurança e a nossa liberdade.”[17, Popper, op. cit.].
A dívida, a dívida, a dívida. E que tal aquele modus faciendi punk?, de dedo do meio erguido para cima a dizer "aponta no tecto"? Nem é preciso ir tão longe, concedo; e não se trata de renegociar o capital ou os juros. Trata-se de ir à essência da coisa. Explicar a dívida, escudo a escudo, euro a euro. Pagar o que se deve, mas apenas o que o Povo deve (e os aprendizes de feiticeiro da dívida que se amanhem com o resto), fazer um manguito aos mercados e aos especuladores. Portugal comprou um apartamento e está a pagar uma cidade inteira. Trata-se disso. Porque uma mentira muitas vezes repetida não passa, por exaustão e cansaço de quem a ouve, a ser verdade.
Uma das características que melhor identificam uma sociedade e uma civilização em fase terminal, é o afã e o entusiasmo com que a sua intelligentsia se entrega a profundos dilemas filosóficos. Um, em particular, entrou na linguagem: quando os canhões otomanos martelavam os muros da cidade ("...são apenas trovões..."), os sábios de Bizâncio discutiam a natureza do entre-pernas dos anjinhos. Seria uma pilinha ou um pipizinho? Fosse lá o que fosse, foi o suficiente para os manter ocupados, até que o fio das espadas turcas acabasse com a sua miséria.
Ora nisto de dilemas profundos, há pelo menos um que está sempre à mão de semear, ou seja, aquele contido no título; sempre disponível para permitir a exibição dos dotes argumentativos dos filosofantes. Veja-se um exemplo: será que o baixo crescimento económico produz a desigualdade social, ou será que a desigualdade social produz o baixo crescimento económico? Wow! Causa e efeito. Duplo Wow!! Causalidade. Será que algo consegue ser mais profundo do que isto? Bem, permitam-se ser um desmancha-prazeres: a Teoria do Controlo de Sistemas produz uma definição simples:
Um Sistema diz-se causal, se exibir uma demora finita entre o instante em que é sujeito a um qualquer estímulo e o instante em que, de alguma forma, responde a esse mesmo estímulo.
E lá se foi o dilema! Será que foi? Bem..., não exactamente. Quando falamos de Economia, estamos a falar do conjunto de processos pelos quais os bens e serviços existentes numa sociedade são criados, e da quantidade e forma de transacções a que são sujeitos. E o ovo e a galinha vingam-se, porque é como se quiséssemos discutir temperatura, mas apenas fossemos capazes de falar de termómetros.
Veja-se, no entanto, que os termómetros têm grande utilidade. Mesmo se, ou quando, alguém resolveu chamar-lhes "parquímetros", por exemplo. Os Custos Unitários do Trabalho, que tanto apoquentam as nossas cavalgaduras de longas orelhas, pertencem a esta categoria de parquímetros, visto que este, em particular, reflecte apenas a parte do trabalho no valor acrescentado total. Veja-e esta imagem, e constate-se a terrível realidade que reflecte: os rendimentos do trabalho aumentaram, na Europa, até 2007. Malandros! Madraços!! É óbvio que algo tinha que ser feito para corrigir esta situação..., e vamos mudar de assunto que estas bestas dos parquímetros já me enojam.
Em vez disso, vamos voltar à vaca fria do título. Será que é preciso que o crescimento aumente, para que a desigualdade diminua, ou será que é necessário que a desigualdade caia para que o crescimento aumente? Hmmm! Será que alguém ouviu trovões ao longe, recentemente? Talvez umas noticias dumas privatizações do que, por definição é público — como em Serviço Público de Radiodifusão — ou outras a respeito das desventuras punitivas do Crato, ministro mas pouco? "São trovões, Meu Senhor, são trovões". Canhões turcos, não, porque isso poderia incomodar a rentrée do nosso (o que é que se há-de fazer?) Presidente. O facto simples, é que as correlações bastam. Atente-se neste exemplo.
Pacto da Redenção (i) - garantir os empréstimos com o ouro do BdP e/ou com tesouros nacionais. As taxas de juro baixariam para o nível das taxas de que a Alemanha beneficia. Mas o nome do tratado é um bocado humilhante. Não estou a ver a opinião pública aceitar que a Custódia de Belém ou o Triplico de S. Vicente sirvam de garantia para o quer que seja.
"Para vencer as actuais dificuldades, os países endividados do Sul da Europa, Portugal, Espanha, França e Itália, poderão ser convidados/obrigados a pôr as reservas de ouro e os tesouros nacionais como garantia de um plano de assistência e estabilização financeira de 3 mil milhões de euros que está a ganhar forma na Alemanha, em alternativa à criação de eurobonds.
A ideia de criar um “Pacto de Redenção” para a zona euro nasceu na Universidade Johannes Gutenberg, em Mainz, e foi apresentada, pela primeira vez, em Dezembro de 2011, pela professora Beatrice di Mauro na reunião anual do Conselho Económico alemão que se realizou naquela instituição.
Aparentemente, a ideia fez o seu caminho e a chanceler Angela Merkel já prefere este pacto à criação de eurobonds, uma questão que levanta grandes dificuldades ao parlamento alemão, o Bundestag, impedido de o fazer constitucionalmente.
O Pacto de Redenção combinaria as vantagens de taxas de juro semelhantes às da Alemanha e permitiria aos países endividados do Sul da Europa reduzir as respectivas dívidas.
O plano separaria as dívidas dos estados membros em duas componentes: soberana e não soberana. Tudo o que estiver acima do limite de endividamento de 60% imposto pelo Tratado de Maastricht seria considerado dívida soberana. A restante parcela de 40% ou mais seria gradualmente transferida para o “fundo de redenção” que seria suportado por obrigações europeias comuns."
Um livro para ler. Como chegamos nós a esta situação?
Se tiver que enumerar cinco variáveis "responsáveis" pela actual situação da nossa dívida pública, essas são? Escolho duas económicas, uma "cultural" e duas políticas. Desorçamentação (saída de organismos dos orçamentos das administrações públicas), Parcerias público-privadas particularmente no sector rodoviário, a "cultura" do défice natural, eterno e virtuoso, o sistema eleitoral (fechado e bloqueado), e o financiamento dos partidos políticos, sem consignação de verbas a grupos de estudo internos.
Com corte da ligação ao exterior do edificio a investigação decorre com aparato. No prédio funcionam diversos serviços e organismos tutelados pelo governo regional, entre os quais a Investimentos Habitacionais da Madeira, a empresa Estradas da Madeira e as direções regionais dos Edifícios Públicos, Infraestruturas e Equipamentos e o Ambiente.
A decisão da Procuradoria surgiu depois de o Instituto Nacional de Estatística e o Banco de Portugal terem divulgado um comunicado a dar conta de encargos financeiros assumidos pela Madeira que não foram nem pagos nem reportados.
A ideia é plantar para vender. Está a decorrer hoje um referendo sobre o assunto. A população de 930 habitantes vai dizer se aceita a ideia "pr'á frentex" do autarca ou se se deixa limitar pelos conservadores do costume. Se for para a frente, jura o autarca , a população tem emprego e a autarquia dinheiro para pagar a dívida.
"A medida faz parte do plano anti-crise 2012 para o munícipio espanhol, que prevê resolver uma dívida de 1,3 milhões de euros, através do aluguer de terrenos públicos para a plantação de cannabis, um projeto que poderá render 550 mil euros por ano. Foi a Associação Cannábica de Autoconsumo de Barcelona (ABCDA), uma entidade com fins lúdicos e terapêuticos, que apresentou a proposta ao município, num país onde o consumo e a plantação de marijuada para consumo é permitida.
É do PS ! Óptimo ! São exemplos destes que precisamos sejam do PS ou de outro partido qualquer, o que verdadeiramente interessa é que faz um bom trabalho com rigor. E, quando são os munícipes a aplaudir é porque é merecedor.
Já aqui falamos no banco que empresta dinheiro sem juros. Hoje vamos ver como seria possível, se todos quisessem e estivessem de boa fé resolver o problema dos juros monstruosos.
Dizem os mercados que as taxas de juro dos empréstimos sobem ou descem conforme o risco que correm em não receber de volta o dinheiro. Daí haver muita gente que não quer que as dívidas soberanas sejam renegociadas, pois isso é admitir que os países também podem deixar de pagar. Poder, podem, mas não fecham nem vão à falência, nem fogem para parte incerta...logo, não se vê qual é o risco que os credores correm. Naturalmente que, se os credores cobram 25% de taxa de juro, eles sabem muito bem que não há país nenhum que crie a riqueza suficiente para lhes pagar. Só esperando para aí uns 50 anos mas como prolongando o prazo se perdem eventuais melhores negócios, a taxa de juro continua a subir sempre...
Uma hipótese é o BCE garantir os empréstimos, o que a Alemanha não aceita, porque sendo a maior accionista é quem mais perde no caso de incumprimento.A isto há quem chame os Eurobondes, empréstimos de todos a todos na UE, ganhando quem está fraquinho e perdendo quem está bem, obrigado. A Alemanha não está para aí virada. Já vimos no outro dia que há quem pague ( taxas negativas) para a Alemanha lhe guardar o dinheiro. Então?
Num determinado momento o devedor pede o empréstimo a uma determinada taxa de juro que seria composta por duas partes. A primeira parte, correspondia a um taxa de "juro base" igual para todos( taxa de rendimento) e a partir daí adiciona-se o prémio de risco, variável conforme o risco. Chegados ao momento do pagamento se o devedor pagar integralmente, paga o empréstimo mais a taxa "juro base" e só ( pois se pagou é porque o risco que corresponde ao prémio de risco não existia) se não pagar então aí assim tem direito a receber a "taxa base" mais a "taxa de risco".( porque o risco era real)
É obrigatório implementar algo do género (de outra forma os mercados até estão interessados "que chovam picaretas") envolvendo Bancos Centrais Nacionais e o Banco Central Europeu ao mesmo tempo que se caminha para uma maior integração política da União Europeia.
Sem amarrar de "pés e mãos" a usura e os especuladores a UE estará sempre debaixo de fogo. Pois se é com isso, com a confusão , o medo e o empobrecimento dos países que ganham dinheiro a que título vão mudar comportamentos?
E, não despiciendo, "mata-se à fome" as agências de rating...
Porque aconteceu tudo ao mesmo tempo e em todos os países? O dinheiro é concedido através do crédito é inevitável que a dívida cresça sempre. Os bancos centrais emprestam aos bancos privados a baixos juros e estes emprestam às empresas e aos cidadãos a altos juros.
Sexta - feira, no Bairro do Aleixo, Portugal começa a implodir. Rui Rio, do meio do Douro, dá à alavanca e a torre, uma de cinco, cai como um baralho de cartas. Por acaso já vímos este número em Tróia, só que aqui eram duas Torres. Não sei se foi nesse momento que o país começou a implodir mesmo, mas tenho medo que isto seja mais que uma metáfora. O país implode, literalmente!
Já temos aí um deputado que mostra coragem. Não pagamos! E, é preciso tê-los no sítio porque ele tem razão. Não pagamos e pronto, temos o assunto resolvido. Os banqueiros alemães não sabem o que fazer, com as pernas a tremer com medo de nós. Bem, não sei se têm medo de nós, mas o deputado tem razão, se não temos uma solução para propor e se, não estamos de acordo com a solução "passista" haja quem não se limite a dizer não!
Agregados familiares altamente endividados não podem consumir, bancos altamente endividados não podem emprestar, governos altamente endividados não podem estimular.
Só há uma maneira. Aplicar mecanismos que reduzam rapidamente a dívida. Renegociações hipotecárias; legislação sobre insolvência permitindo a amortização limitada da dívida ; reescalonamento...
E, claro, recapitalizar os bancos para que estes possam orientar os empréstimos para a economia real.
Deixar que a inflação cresça controladamente levanta muitas dúvidas, até porque os bancos centrais desde sempre fizeram o contrário.
As soluções óbvias para estimular a economia não têm dado os resultados pretendidos.
"Mas à medida que que as propostas ganham em inovação e exotismo, convém examiná-las prudentemente para acautelar que não venham agravar a situação ainda mais" ( Raghuram Rajan)