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Há pouco alguém perguntava se o feriado de 5 de Outubro já tinha passado à história, eu respondi que para muitos a história já não passa certamente pelo 5 de Outubro, pela bizarra concepção que têm da república e sobretudo de um Estado de Direito. Por exemplo, ontem constatei abismado que os apoios que um certo Isaltino recolhe são bem mais generalizados do que se julgaria. Se calhar essas pessoas não sabem ao certo porque está condenado? É fácil, vão à wikipedia: "Isaltino Afonso Morais (São Salvador, Mirandela,29 de Dezembro de 1949) é um jurista e político português. Desde 24 de Abril de 2013 está detido a cumprir pena por crimes de corrupção, fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e abuso de poder." Sabem o que é o crime "abuso de poder" (já que os outros se explicam a si mesmos)? "O crime de abuso de poder pressupõe que o agente, investido de poderes públicos, actue com violação dos deveres funcionais que sobre si impendem, sacrificando o interesse público para satisfação de finalidades ou interesses particulares que se venham a traduzir num benefício ilegítimo para si ou para terceiro ou num prejuízo para outra pessoa."... o processo contra Isaltino é um dos mais extensos de que há memória, entretanto muita coisa prescreveu... O que parece haver por ali e acolá é muita falta de memória, provavelmente proporcional a uma enorme quantidade de má-fé. O que alguns por ali e acolá estão a fazer (ou a ser cúmplices por omissão ou inconsciência) é uma tentativa canhestra de branqueamento baseada em amiguismos, no diz-que-diz, no egoísmo (ele trata do meu quintal) e na mais profunda ignorância do que de facto representa o mau exemplo deste caso para o país. Porque é disso que se trata, não é só do cantinho florido de Oeiras. Ignorar isso é também um exercício perverso e intelectualmente desonesto, que demonstra bem a decadência a que chegou em algumas cabeças o conceito de legalidade. Conheço muita gente de Oeiras, gente politicamente informada e activa, uns com mais cultura que outros, mas com um traço comum, honra e vergonha na cara. O que está a acontecer em Oeiras mas também noutros locais (Gondomar por exemplo, ou no passado em Felgueiras e Marco de Canaveses) tem de ser combatido por todos aqueles que ainda guardam dentro de si um pingo de decência, consciência e coragem.

Manuel Tavares

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publicado às 20:08

De não ter "amigos!" Ou da profunda caricatura que as pessoas fazem, de si mesmas? Não só se desenham como se (des) escrevem. Devia dar-me por feliz! Levantar as mãos para o céu e dar graças por alguém lá em cima (se revelar mesmo bom nisto de gerir a malta cá em baixo) e me afastar e tirar, todos os empecilhos do caminho! Para que raios preciso eu de aduladores? Um séquito de varejeiras a cheirar-me a carne (ainda fresca?). Pois, não sei.

Provavelmente seria a TPM, se soubesse ainda o que essa coisa quer dizer? Não, sei! E mais uma vez o outro lá em cima é um tipo mesmo fixe, que me levou as "iniciais" bem cedo! Por consequência, estou até "nisso," à "vontadinha!" Será da estupidez que, a certa altura, ataca todo o ser humano e o seguir o "catecismo" à letra, praticando o: "Quanto mais me bates mais gosto de ti." Ou : "Deixa-me estar caladinha, fazer tudo certinho, que mesmo que me mijem e... Em cima, tenho "amigos!" Não. Eu sou pelo "Mais vale só..."

Amigos? Uma raça como a maior dos mamíferos e não só, em extinção. Só que neste caso, eu apelaria para que não houvesse hipótese de clonar certa gente. Dá-me uma imensa vontade de rir, sempre que "deito mão" da leitura (escrita) das declarações da maioria das caricaturas.

E re(animá-los) já não era a mesma coisa!

Maria Fátima Soares

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publicado às 09:57


Sociedade de participação [por Fernando Felizes]

por autor convidado, em 20.09.13

Sociedade de participação,ou seja, uma sociedade em que o povo apenas participa pagando impostos. E não é que hoje o rei da Holanda anunciou o fim do Estado Social no seu país, o rei disse mesmo que as pessoas se devem habituar à ideia duma "sociedade de participação", ou seja, uma sociedade sem criação de emprego, saúde e educação pelo Estado, uma sociedade do salve-se quem puder, em que a única lei vigente é a lei do mais forte, a lei da selva, puro darwinismo social. O curioso nesta "sociedade de participação" é que as pessoas participam da mesma forma como participam na existência dum Estado Social, ou seja, participam pagando impostos. A diferença é que no Estado Social os impostos são devolvidos em serviços que o Estado presta às pessoas como educação, saúde, etc. Na "sociedade de participação" os impostos talvez sejam para pagar o salário anual de 825.000€ do rei, ou o custo anual de manter a monarquia de 100 milhões. Entretanto as notícias que os ventos trazem da Grécia anunciam que a luta contra o fascismo voltou a estar na ordem do dia.

Fernando Felizes

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publicado às 19:50


eu...

por autor convidado, em 31.12.12

...não desejo uma coisa que é impossível, um melhor ano, a ti, que permitiste a eleição e manutenção deste governo, e por termos sido despedidos de empresas que trabalhavam para o TGV e outras infraestruturas pagas pela UE, por não termos com que pagar as obrigações que adquirimos, com a estabilidade sempre prometida, de um povo que lutou por isso...
entretiveste-te com as 7 maravilhas, as palermices das bandeiras e dos futebóis, para eles há dinheiro e meios, para tratarmos da saúde de nossos idosos e doentes crónicos, não há! pedem-nos contenção nos gastos com a saúde, e nas escolas crianças são despejadas de casas e vão para as aulas, sem nada no estômago, talvez na escola lhe dêem qualquer coisa...
quando o ano termina, com tudo vendido ao desbarato a impérios capitalistas e mais do mesmo, que em qualquer altura, não se importam de matar pela fome e pelo nojo que têm pelas classes desfavorecidas...
ainda me dizes: um bom ano?
não pode ser, tu assim o permites...! e os outros olham para ti, quando preferiste ir para a praia e ir atrás de estórias, bem contadas e orquestradas, e continuas ad aeternum a acreditar nisso, que até gastas mais do que deves, quando tu não tens bancos e é para eles que vai o dinheiro, que os usurários, muito asquerosamente e cheirando a sangue, nos passam para as nãos daqueles que traíram a economia de um país por interesses pessoais e agora lavam as mãos, como se nada de passasse e ainda mais lucros obtiveram com isto, e os devedores de bancos falidos, dão-se ao luxo de não pagarem muitos milhões, porque sim, tudo têm e podem, porque seja que grau de Justiça for, está do lado desses ladrões bem-vestidos e aparentados...
não quero o teu jogo, de aponta-dedos e de poucas armas em punho... que ano querias? 
comerás o que semeaste...
... e eu também, os meus também, por culpa TUA!

Elfo Mor

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publicado às 02:13

Já tinha anteriormente partilhado este texto entre quem me é mais próximo, mas gostaria de expandir este excerto por quem estiver interessado em ler. Foi retirado de uma obra que li há uns meses, de Federico Rampini:

"O dia 6 de Agosto de 1945 tinha começado com uma linda manhã de Verão. Jogávamos às escondidas no pátio. Era a minha vez de contar, por isso estava com os olhos fechados e com as mãos a cobrir o rosto.

O clarão, uma claridade branca pura, foi de tal maneira forte que me lembro de ter visto os ossos nas minhas mãos, transparentes, como nas radiografias. Depois, o silêncio total. Em seguida surgiu um ruído ensurdecedor, como se centenas de tanques estivessem a correr contra nós.
A recordação constante é uma sensação sufocante, faltava o ar, em redor tudo era escuro, tudo ardia. Sentia o cheiro a queimado e os meus companheiros gritavam: queima! (...)Uma jovem mãe levava um filho às costas e procurava desesperadamente o outro filho, mas quando passámos à sua frente vi que o menino que levava às costas tinha a cabeça desfeita. Aquela imagem angustia-me constantemente. Chegados ao rio, vimos um inferno: milhares de seres humanos enegrecidos, nus e queimados como vermes horrendos. Todos queríamos água, mesmo quem não conseguia mexer-se implorava. Dois dias depois, podíamos atravessar aquele rio a pé, caminhando sobre uma ponte feita de cadáveres."
Este foi o efeito do bombardeiro americano B-29 Enola Gay, que lançava no céu de Hiroxima a bomba Atómica. Era o equivalente a 15000 toneladas de explosivos e criou uma bola de fogo cujas ondas de calor queimaram a carne humana até 3km de distância. Morreram 140000 pessoas, das quais 60000 nos meses após a explosão, devido ao efeito radioactivo. Outras 75000 foram mortas em Nagasáqui, onde a segunda bomba foi lançada dias depois.
Com 68 anos, Tanemori é um 'hibakusha', que traduzimos como "sobrevivente", mas que em japonês significa "pessoa afectada por uma explosão", ou então "pessoas que não se suicidaram embora tivessem todas as razões para o fazer".
Mesmo os médicos que sobreviveram e tentaram ajudar nos salvamentos, não faziam ideia do que acontecera, então deitaram óleo nos corpos queimados (que fez com que a temperatura dos corpos subisse até 7000ºC). "Enfrentávamos o desconhecido, com remédios patéticos".
"A mim a bomba tirou-me tudo. destruiu a minha família. O rasto da minha mãe e da minha irmã mais nova perdeu-se no dia 6 de Agosto. O meu pai morreu no dia 3 de Setembro, das queimaduras. Um mês depois foram os meus avós e a minha irmã mais velha. Só eu sobrevivi, mas a sociedade, a partir daquele dia, passou a olhar para mim com desagrado: era um órfão da derrota.
Aos 16 anos tentei suicidar-me. Perdi a vista. Tive um cancro e aos 40 anos já tinha sofrido dois enfartes. Fui enviado para a Califórnia em 1956 para me tratar, quase me mataram, reduzido a cobaia de laboratório para investigações.
Os 200000 que morreram em Hiroxima e Nagasáqui não foram os mais desgraçados. Foram logo para o paraíso.
O general MacArthur impôs a censura sobre os danos causados pela Bomba A. As notícias sobre os hibakusha e as suas doenças podiam ensombrar a legitimidade moral de quem tinha lançado duas bombas atómicas."

Apesar de estar ciente das circunstâncias, e de que, provavelmente, a decisão não foi tomada de ânimo leve, questiono-me: Não poderia mesmo ter sido evitado este acto desumano? Virão outros como este? Na sociedade contemporânea, os Estados têm igual voz na cena internacional? Irão os EUA ou a China instaurar uma "sociedade internacional", subjugando os demais e ditando (ainda mais) as regras que os 193 estados-membros da ONU têm que acatar? Fará a Alemanha o mesmo dentro do plano europeu? Deixo o resto para a reflexão, interpretação e (possível) acção de cada um.

Hugo Lopes

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publicado às 14:14

Nas passadas comemorações do 25 de Abril, elenquei uma série de factos muito positivos que foram uma consequência mais ou menos directa do 25 de Abril: a paz, as eleições livres, a liberdade de expressão, o serviço nacional de saúde, o ensino público e universal, as infra-estruturas e os direitos dos trabalhadores. 
Passado apenas um ano, quase todos estes factos positivos estão a ser alvo de uma campanha de destruição sem precedentes na nossa democracia. 
O governo que os portugueses elegeram a 5 de Junho do ano passado, depois de uma campanha de mentiras, tem uma visão do mundo ultraliberal e vê a austeridade que está a impor aos portugueses, mais austera do que a tróica queria impor, como um caminho para a expiação dos nossos pecados. Não é preciso uma bola de cristal para perceber que não é este o caminho que nos levará a bom porto. Veja-se nos países da nossa comunidade europeia. Tudo começou na Grécia, depois Irlanda, Portugal, Chipre, Espanha, Itália e agora, imagine-se, até a Holanda enfrenta problemas. Sempre a mesma doença, sempre mesma cura, sempre o mesmo egoísmo, sempre as mesmas explicações domésticas simplistas e demagógicas. E as consequências? Mais austeridade e o tumor a aproximar-se perigosamente do centro nevrálgico europeu.
Dizem-nos que não há dinheiro para redistribuir, que os contractos são para cumprir. Mas há contractos e contractos, não é verdade? Há os contractos com cidadãos, os mais frágeis, divididos e iludidos por uma comunicação social que não informa, mas que é mero veículo de uma propaganda ignóbil. Depois há os outros contractos. Contractos com as parcerias publico-privadas. Contractos com agiotas. E as desigualdades sempre a aumentar. 
As ideias que agora estão a implementar, como o fim dos direitos dos trabalhadores, a destruição do ensino público e a destruição do serviço nacional de saúde, eram ideias implícitas no discurso de campanha de Passos Coelho e companhia, discretas, como convinha, mas presentes.
Hoje, dia 25 de Abril de 2012, 38 anos depois do dia da revolução, gostaria de vos falar em particular sobre as privatizações que estão a ser feitas em Portugal. A venda ao desbarato dos serviços e empresas públicas portuguesas, muito mais do que um crime económico, são uma verdadeira ameaça à democracia. 
A democracia em Portugal já é muito frágil, fruto de uma enorme desigualdade social e económica, de uma cada vez maior falta de participação dos cidadãos na vida política e de um número cada vez maior de crentes num discurso demagógico anti-políticos e anti-política que de certa forma legitima o sucesso do poder económico em detrimento do poder politico. 
A venda a privados, estrangeiros ou portugueses, a empresas ou a outros países da nossa rede eléctrica, da nossa energia, da nossa água, dos nossos correios, dos nossos transportes, das nossas estradas, das nossas telecomunicações, da nossa saúde, das nossas pensões, do nosso ensino, para além de alienar fontes de financiamento para as funções sociais do estado, aliena também o poder daqueles que são eleitos democraticamente pelo povo.
Com este esvaziamento do estado, para onde vai o poder? Para governo eleito, para o povo, não é. Este poder vai para a roleta dos mercados, para accionistas anónimos. Os movimentos internacionais que contestam estas políticas já perceberam isso muito bem. Nos Estados-Unidos, por exemplo, não vemos grandes manifestações frente à Casa Branca. As maiores manifestações têm ocorrido precisamente frente a Wall-Street.
Sim, 38 anos depois de Abril, a Democracia está em risco. Em Portugal e no mundo.
Um estado só faz sentido se for social, se o estado não serve as pessoas então para que serve? Querem transformar os serviços do estado numa empresa de segurança dos ricos e numa mega sopa dos pobres para os miseráveis? 
Mas ao contrário do que apregoam, nada disto é inevitável, e sobretudo, para nosso bem, nada disto é irreversível: a Argentina acabou de nacionalizar o seu petróleo.
Muitos eleitos, já hoje, têm um poder muito limitado, por exemplo, no poder local, já quase nada é possível, tal é a asfixia financeira em que se encontram as freguesias e os concelhos. Mas esta asfixia é propositada, centraliza as decisões e, por exemplo, retira poder aos autarcas para a discussão da reorganização do poder local que este governo quer impor.
No dia 25 de Abril de 1974, há 38 anos, um conjunto de homens valentes deitou abaixo uma ditadura de 48 anos e iniciou uma democracia no nosso país. Hoje, para manter o sonho de uma sociedade mais justa, mais solidária e mais desenvolvida em Portugal, não é necessária tanta valentia, basta não ficarmos calados e quietos. Por favor, venham para a política, inscrevam-se em partidos, formem partidos, obriguem os partidos de esquerda a ser uma alternativa real de poder, obriguem os sociais-democratas que existem no PSD a fazerem-se ouvir, ou organizem-se de alguma forma. Por exemplo aqui no Fundão um grupo de cidadãos uniu-se através das redes sociais e organiza Tertúlias abertas a quem quiser Ouvir e Falar. A primeira já foi, e a segunda vai ser aqui na praça do Município no dia 29 de Junho. Os mais cépticos podem pensar que isto de nada serve, mas é falso. Ficarmos quietos e calados é que de nada serve.
Como disse Salgueiro Maia “O difícil está feito, e o impossível só leva mais tempo”
Viva o 25 de Abril!

Catarina Gavinhos [Assembleia Municipal do Fundão, 25-04-2012]

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publicado às 15:34


O Desgraçado Ano da Troica [Dieter Dellinger]

por autor convidado, em 06.04.12

Há um ano Sócrates foi obrigado a assinar o memorando da troica na sequência do chumbo do PEC4 que no dizer de Passos Coelho significava austeridade a mais. O governo Sócrates caiu e no início de Junho apareceu o governo Coelho.

Sócrates negociou, barafustou, falou com o BCE que lhe passou uma rasteira nojenta a mando da bruxa Merkel e acabou por ceder perante a pressão de Teixeira dos Santos aflito com os 5,1% exigidos pelos mercados e com a pressão da banca que deve ter pago à Judite de Sousa para fazer uma série de entrevistas a banqueiros como Salgado, o Ferreira e outros que propunham um pedido de resgate.
Um ano depois, fica a pergunta no ar. O que se ganhou? Nada e tudo ficou pior, não há um indicador que tenha um sinal positivo. Começando de cima, os banqueiros foram os que mais perderam, as suas ações valem menos de metade e só ontem os quatro principais bancos portugueses perderam na bolsa 221 milhões de euros. Ao contrário do que deveria ter acontecido com o PEC4, a banca não saiu a ganhar com a Troica e só foi contemplada com umas migalhas das recentes emissões de moeda do BCE destinados a emprestar à banca privada da zona euro mais de um bilião de euros a 1% por três anos. Os banqueiros atuaram de modo irracional e sendo geralmente de extrema-direita não fazem contas quando se trata de deitar abaixo um governo socialista.
Mas, para além da banca, Passos e Gaspar não conseguiram resgatar nada, impondo apenas sacrifícios e pobreza a todos os portugueses. Repare-se que a faturação nacional do Continente de Belmiro de Azevedo caiu 13% em 2011 e do Pingo não ficou atrás, daí a imensa publicidade que fazem porque a as vendas estão a cair cada vez mais. Classes pobres e classes médias comem menos, gastam menos de tudo e os poucos que têm dinheiro aforram-no na banca que é obrigada a pagar juros bem mais altos que os dos empréstimos do BCE à poderosa Itália, à Espanha e à França. Das emissões, Portugal nem 1% recebeu.
Mas, há duas catástrofes em curso no país, o desmesurado aumento do desemprego e da morte. Esta última foi algo que nunca ninguém pensou. Nunca passou por cabeça alguma que a morte duplicasse pelo início ainda titubeante do corte nos cuidados de saúde, nas reformas e no aumento dos custos com eletricidade e outros impostos e taxas. O desemprego atingiu os 14,5% e caminha rapidamente para os 15% e muito mais. Eu que ainda estou no mercado como fornecedor de empresas sei o que me dizem. Todo o patronato vende menos e quer despedir para evitar ter custos superiores às receitas, mesmo pagando ordenados mínimos. O consumo público caiu 3,2% no primeiro ano da troica e o privado -5,9. Os investimentos entraram em colapso com -10,2% e o PIB vai cair mais de 3,3% este ano. Ao mesmo tempo, défice o orçamental sobe dos 4,2% em 2011 para 4,5% este ano, se as coisas não piorarem ainda mais como é mais do que previsível. A dívida pública aumentou para 107,8% do Pib em 2011 e deverá ser de 112,5% em 2012. 
As próprias exportações que estiveram em franca ascensão no início de 2011, chegando no fim do ano a +7,4 estão agora a crescer muito menos, permitindo uma previsão otimista de crescimento de apenas 2,1%.
Com tudo isto, Passos Coelho caiu na mesma armadilha de Sócrates; vai ter de negociar um novo plano de resgate mesmo antes do atual terminar. Ele não quer, como não queria Sócrates, mas não foi até agora capaz de fazer melhor, apesar das medidas de extraordinárias de consolidação orçamental inscritas no OE 2012 atingirem os 10.350 milhões de euros, portanto, mais 9.041,3 milhões de euros que as medidas de austeridade de 2011. São quase mil euros por cada um dos 10,5 milhões de portugueses para além dos impostos e taxas habituais e mais de dois mil europeus por cada português ativo. Mesmo assim, não chega e o défice será superior ao do ano anterior. 
As privatizações significam só que no futuro as receitas do Estado serão menores e mesmo aquilo que saiu hoje no Diário da República, ou seja, a suspensão da aceitação de pedidos de reforma antecipada por parte dos funcionários públicos, vai traduzir-se em reformas mais elevadas a partir dos 65 anos de idade devido à ausência dos elevados descontos de antecipação.
Enfim, para já, os portugueses veem que ainda não se chegou ao fundo do poço e nem sabem se o poço tem fundo. Se existir o tal fundo, como seria de esperar, vamos todos subir um pouco, mas para isso é necessário que esteja em cima um governo para lançar as cordas e não me parece que Coelho e Gaspar sejam as pessoas mais indicadas para isso por não inspirarem confiança. Todos terão medo de se agarrarem à corda porque acham que os dois lingrinhas não têm força nos braços.

Dieter Dellinger

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publicado às 11:11

Cara(o)s associada(o)s
No seguimento da sua acção, o Grupo de Reflexão da A25A propôs e a Direcção aprovou a realização de um debate, que consideramos muito actual.
É nesse sentido que vos convidamos a participar no próximo dia 27 de Março, às 17h30, na sede da A25A, na apresentação da palestra "A Crise e a Europa", pelo professor doutor António Romão.
Contamos com a vossa participação. Venham mais Cinco! Tragam outro Amigo, Também!
Cordiais saudações
Vasco Lourenço

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publicado às 18:00


Convite - convívio dos Beirenses

por Luis Moreira, em 02.02.12

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publicado às 15:30


Faltava um bocadinho assim!

por autor convidado, em 14.10.11

Ok, eu sei que meia hora é pouco, que o ideal era acoplar um divã à máquina porque o camião não precisa, já traz de origem.
Não pensem em meia hora, que lembra números fracionados e de dividir. Pensem antes em 30 minutos e 30 minutos vai fazer toda a diferença, se não vejamos:
Numa empresa com 2000 trabalhadores, são mil horas a mais e com mil horas a mais já dá para um quadro de pintor mediano para o gabinete do chef, ou juntinho durante um mês, dá para um Mercedes ultimo modelo.
Para pequenos empresários, não deixa de ser também atrativo. 30 minutos multiplicado por uns quantos, já permite mudar o colégio do puto, levar a madame mais uma ou duas vezes ao cabeleireiro, ou em ultima análise ir mais umas quantas vezes às putas.

Fernando Nogueira Gonçalves

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publicado às 10:51

A edição do Correio da Manhã de anteontem noticiou, em primeira página, que o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) «pediu» três anos de prisão para a rapaziada do Futebol Clube do Porto que em Dezembro de 2009 «incendiou» o famoso túnel da Luz. Segundo este diário, que por alguma razão é o que mais vende neste «desinformado» país, desculpem o termo, Hulk e outros jogadores portistas «socaram e pontapearam os dois seguranças», desferindo golpes «na testa, no abdómen e na virilha», ao estilo Chuck Norris. Porém, ficamos também a saber que o Ministério Público, que em princípio apenas deduziu uma acusação, deu como provado que os jogadores do Futebol Clube do Porto agrediram os seguranças e fizeram-no de forma deliberada. Sem pretensões de entrar a fundo na questão jurídica, temos a seguinte constatação: o Ministério Público, em sede de acusação, apenas aponta o dedo, não condena nem pede anos de prisão para quem quer que seja. Com efeito, se o DIAP não pediu três anos de prisão para Hulk, como justificamos, do ponto de vista jornalístico, a ardilosa manchete do Correio da Manhã? Infelizmente, a lógica mediática não se limita a publicar factos, também os constrói. Um autor como Jacques Derrida designou este processo de «construção da artefactualidade mediática», isto é, uma lógica de comunicação mediatizada baseada na construção da informação que, na maior parte dos casos, não obedece ao imperativo ético de veracidade. Por selecção, montagem, filtragem ou enquadramento, a «coisa em si» é substituída por uma «imagem artefactual» num processo que «deforma» para informar. Efectivamente, e como a este propósito referiu Walter Lippmann (1922), os media constroem um «pseudoambiente» que é apresentado ao público como sendo a realidade e, como a cultura mediática consiste naquilo que nos é oferecido pelos meios de comunicação, se vem nos media é porque aconteceu, ou está para acontecer. O que é certo é que, mais tarde e quando este processo não der em nada, o público que consome este tipo de desinformação vai exclamar «O Hulk safou-se da cadeia porque tem dinheiro, ou porque o Pinto da Costa domina o sistema jurídico...se fosse outro apanhava os tais 3 anos que noticiou o CM». Este é, infelizmente, o jornalismo que temos!

Hélder Prior

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publicado às 22:32


Ficou caro, disse ela, mas fica-te bem, disse eu

por autor convidado, em 10.09.11

Estive toda a manhã a trabalhar, desde que comecei, lá por perto das onze da manhã. Até que acabei, uma hora depois. E basta. E depois de almoço, uma soneca. E a seguir escrever um poste. E a seguir enviar o poste para o meu blogue com barriga de aluguer. E vinha para aqui. E cruzei-me com duas miúdas. Uma mais velha que a outra, e reparei melhor. Que as miúdas deram nas vistas. Vinha eu na moto e voltei para trás. E fui confirmar.

(Está um dia lindo como só na minha terra, com um sol radioso e uma brisa ligeira, sem a ventania que os transmontanos para aqui trazem quando de férias em Agosto, e ia ali ao bar junto aos barcos ler o resto do livro do Paulo Castilho, que a história, qual história, já me enjoa, mas agora tenho que acabar, que os únicos livros que deixei por acabar de ler são os Lobo Antunes, e que, em boa verdade, mal os comecei, e o Cem Anos de Solidão, do Gabriel Garcia Marquez, também, convenhamos, que cem anos é muito tempo).

E que me cruzei com duas miúdas, sendo que umas delas, há bem pouco tempo, a confundiram com a minha mãe, por duas vezes. Uma da primeira vez. E da segunda vez para confirmar, talvez. Mas acontece que é a minha mulher, na sua, e minha, juventude dos cinquentas. Que ali ia com a minha filha. E eu fiquei baralhado. Mas então, afinal, qual é a minha filha e qual é a minha mulher.

(Ficou caro, disse ela, mas fica-te bem, disse eu. Que se lixe o dinheiro, que está bué de bué de fixe. O cabelo está lindo. Igualzinho. Ao teu cabelo. Mas não o rapes muito, mesmo que fiques careca. Eu gosto na mesma).

Quando sair daqui vou voltar de moto, que foi como vim. Devagar. Que foi como vim. Também. Ou não. Logo se vê. Dá-me um abraço… Não quero mais nada… Já me perdi... Estive longe… Estive tão perto. Canta o rádio. Aqui. Ali. Atrás de mim. E que me aperte sem apertar… É nesse abraço que eu descanso. Diz a Paula que é o Miguel Gameiro, e que tem músicas porreiras. E aconselha que eu vá ao youtube. Mas primeiro tenho que pagar a bica, se bem que se eu sair daqui a duzentos e tais à hora. Na moto. Ninguém me apanha. Nem a Paula.

João José Fernandes Simões

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publicado às 14:24


Quando se vira o bico ao prego

por autor convidado, em 10.09.11

Sói dizer-se que quando se vira o bico ao prego é que sabemos o que dói. Porque ao longo de uma vida profissional intensa e cheia de muitos episódios tive poder sobre os outros. Mas um dia aquele (meu) poder podia cair-me em cima. E caiu. E aqui se sentem as nossas fragilidades. Não as fragilidades de quem não tem a consciência tranquila. Tendo-a. Mas as de quem fica nas mãos dos outros (poderes). E estavam lá todos.

O juiz presidente. E mais outros dois, um e uma, juízes. Num tribunal colectivo. E um procurador. Este último com pose inquisitória. E este último, ainda, em atitude complexada, porque não julga, antes acusa, antes de mais acusa. Este último, ainda, numa acusação preconceituosa, vezes de mais. E este último, ainda, porque está à direita daqueles e não no centro da decisão. O procurador. Subalternizado.

Todos fazendo lembrar «os tempos do bibe infantil». E também os advogados, deste lado e daquele, ou daquele e deste lado, que nem sempre os da verdade.

E ficamos presos num «infantário» que nos aperta os calos, mesmo quando não os temos, sobretudo quando não os temos. Que não tenho calos, mas que já os senti. Apertados. É que, mesmo quando a consciência está tranquila, se ficamos à mercê dos (outros) poderes até os tomates ficam apertados. Tanto, que quase desaparecem. Por muito que se disfarce. E não me venham com tretas. É que pode ser uma espécie de lotaria. E às vezes é. Mesmo que as coisas acabem bem, só que, entretanto, ficam estragos não reparáveis. Quase sempre.

João José Fernandes Simões

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publicado às 10:20


Hoje estou sem paciência para escrever, por isso

por autor convidado, em 08.09.11

Apenas vos conto esta cena. Que merecia ser escrita num blog, se o tivesse, mas acontece que ainda não me apeteceu criar um e tenho quem me ouça, o que basta. Então, é como segue. Adiante.

Fui aos correios enviar um vale. De correio. É que recebi uma carta para pagar uma taxa moderadora, com o aviso de que tenho dez dias para fazer o seu pagamento voluntário, caso contrário, lixo-me.

E diz lá na carta que estou a ser “notificado” mas também diz que estou a ser “informado” o que, convenhamos, são termos que quanto à sua força jurídica não são nada a mesma coisa, nem por lá perto.

E a taxa moderadora para pagar pode ser elevada, muito elevada, precisamente, sem tirar nem pôr, que a quantia de 1.10€. Atenção que são 1.10€ e não 1,10€. O que significa que a diferença entre um ponto e uma vírgula pode fazer a diferença de milhões. E se for de milhões, então, a coisa fica por uma fortuna. Colossal.

Vejam bem que, se não fizer o pagamento voluntário, a coisa a multiplicar «num valor cinco vezes superior» pode ser a minha desgraça. Chiça.

Então, para afastar desgraças, fui enviar o vale. De correio. Aos correios. E o envio do vale custou-me 1,48€. Sim, aqui é mesmo 1,48€ e não 1.48€. O que significa que a taxa moderadora me ficou em 1,10€, atenção, se for com vírgula, mais 1,48€ das despesas de envio. E se àqueles valores somar o tempo perdido na deslocação, o tempo que perdeu o funcionário dos correios, que, por acaso, acho que foi por acaso, era uma funcionária, e que até estava com umas trombas de segunda-feira (Rogério, por favor, não publique isto depois de hoje, ou então tem que ser só na próxima semana, claro, na segunda-feira). Dizia eu.

Que a somar àquela fortuna, ainda há o trabalho que dou a quem me publica estas coisas numa chafarica de um blog, mais o tempo que demorei a chatear o gajo que nunca mais me tem o barco pronto e que tem oficina mesmo ali e que aproveitei para passar por lá. Ao pé dos correios. Onde fui enviar o vale. De correio.

E o hospital, que, neste caso, fica a 50 quilómetros para lá mais 50 para cá, não tem outra forma de pagamento disponível aos utentes, que por coincidência também são os próprios doentes e que podem não poder sair de casa nos próximos dez dias. E a alternativa restante seria enviar um cheque, com a curiosidade de, neste caso, também teria que ir. Aos correios. Mas acontece que eu não uso cheques há mais de 15 anos, porque, porque, porque… E o que têm vocês com isso.

Quando podia demorar segundos a pagar isto pela Internet. Mas o hospital não deve ter Internet em condições. Porque enquanto lá estive, no “Barbeiro de Celas”, a rede, de facto, ia abaixo muitas vezes.

E é assim a minha vida. Hoje não me apeteceu escrever, mas fica o episódio contado. Sempre deu menos trabalho. Ah… E os correios também não têm Multibanco, vá lá saber porquê (por acaso até sei…). Desculpem lá, portanto, o tempo que vos fiz perder.

João José Fernandes Simões

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publicado às 10:15


Melros não serão, de certeza absoluta

por autor convidado, em 05.09.11

A reunião foi convocada para o viveiro de aquicultura, por horas do almoço, a um sábado, e pela tarde adentro. Picam o ponto os caciques. Objectivo: definir a estratégia da conquista da câmara. Nem o dono da agência funerária lá faltava, o padre não foi. Conhecia bem o presidente da concelhia, de pescarias ao fim da tarde no viveiro e de bons almoços regados com vinho, do bom, e de onde saímos um pouco virados, as mais das vezes, virados de todo, mais ele, mas eu também. E estava o presidente da distrital (um bom filho da mãe, ia para dizer da puta, mas a mãe não tem culpa) e que não estava de acordo com o presidente da concelhia sobre o candidato a apresentar às eleições para a câmara. O presidente da concelhia queria uma figura política com peso nacional e impunha um seu amigo, acabado de deixar uma vice-presidência no parlamento europeu. O presidente da distrital queria um candidato local, pouco lhe importando se tinha ou não peso nacional.

Achava eu (sendo eu também um bom filho da puta, ainda por cima desconfiado quanto a filhos da mãe) que o presidente da distrital preferia um candidato da sua confiança, mesmo que em prejuízo de um candidato teoricamente mais forte (sim, sim, que estas coisas são muito de teorias, e também de práticas) e que não fosse apenas da confiança do presidente da concelhia. Pois. E disse ao meu amigo de pescarias ao fim da tarde no viveiro e de bons almoços regados com vinho, do bom, e de onde saímos um pouco virados, as mais das vezes, virados de todo, mais ele, mas eu também. Onde é que ia? Ah! Que o presidente da distrital lhe andava a fazer assim a modos que a folha, porque eu sabia de contactos dele com um tipo que andava em manobras para ser o próximo candidato a presidente da concelhia. Não sei se estão ver? Claro! Feito com o presidente da distrital. E avisei que se pusesse a pau. E o candidato da confiança do presidente da distrital até era o meu médico de família, por acaso casado com a mulher daquele, também médica, mas que até podia ser enfermeira. Pois. Mas isto são teorias minhas, que quanto aos factos são mesmo assim.

Acontece que o candidato do presidente da distrital perdeu a câmara, que foi ganha por um filho da puta ainda maior, este sim, da puta e da mãe, vindo de lá de baixo na companhia, putativa, de uma socialite das revistas que a gente lê quando esperamos na sala de espera do dentista, por exemplo, que até podia ser de um ginecologista, não no meu caso que talvez fosse mais apropriado um especialista daqueles que nos enfiam o dedo no cu para medir o tamanho da próstata (lá está esta palavra a dar erro, quando próstata se escreve próstata, mas que coisa!). Pois. E então o tal que andava em manobras, achava eu (e achava bem) contra o meu amigo de pescarias ao fim da tarde no viveiro e de bons almoços regados com vinho, do bom, e de onde saímos um pouco virados, as mais das vezes, virados de todo, mais ele, mas eu também. E já me perdi outra vez! Já sei! Foi derrotado em eleições antecipadas para presidente da concelhia. E lá andei eu com o meu amigo por montes e vales e pelas residências dos presidentes das juntas de freguesia, e por donos de agências funerárias, a arregimentar votos para o meu amigo, assim a modos, então, já conhece aqui fulano (que era eu) e coisa e tal, assim para impressionar, que eu era um tipo importante. Estão a ver? E por conta de quotas pagas de militantes até então à revelia (e que ainda deve ter sido uma boa maquia) lá conseguiu ganhar e manter-se como presidente da concelhia. Mas foi sol de pouca dura, porque só durou alguns meses tanta foi a vilania. Novas eleições, então. E perdeu, finalmente.

Lembrei-me destas vidas passadas, não há muitos anos, porquê? É que por conta de outras desgraças, hoje, ia a passar por de cima da ponte. E olhei para os viveiros que estão em obras há algum tempo. Consta que foram comprados pelos espanhóis e que, em vez de fabricar robalos e douradas, como dantes, vão passar para linha de fabricação de pregado (não estou bem a ver que raio de peixe é, mas acho que é assim parecido com a solha, e se não for, então, passa a ser, pronto, melros não serão, de certeza absoluta). E onde é que eu quero chegar com esta conversa? Pois. Muito simples: É que aqueles viveiros foram comprados à manga, por conta, na altura, de apoios europeus a fundo perdido e com orçamentos inflacionados, para dar para os todo-o-terreno que floresceram nesse tempo, e para dar a mais não sei quem mas que não vou aqui dizer, nem é preciso, mas a mim não foi, juro. E o negócio, porque não tinha escala para se aguentar, foi ao fundo, por conta da concorrência do reles robalo e dourada que são importados dos, também falidos, gregos e que não valem uma merda quando comparados com os que eu ali pescava, e em boa verdade também comia. À borla, bem entendido, e se querem saber, antes que mo perguntem. Pois: O que um gajo tem que escrever para desopilar!

João José Fernandes Simões

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publicado às 14:29

Evito passar por lá, sequer olho para lá. Evito. Porque fujo. De lutos que não fiz, ou que ainda vou ter que fazer. Passo pelo monte e não olho para lá em baixo. Para aquele sítio. Passo lá em frente e viro o olhar. Penso que devo lá ir e fujo desse pensar. Penso se não estou a ser mórbido em pensar nestas “coisas” que me atormentam. Mas não estou. Apenas tenho uma difícil relação com essas “coisas”. E escondo-me. Dentro de mim.

Já pensei em falar com o homem dos mármores. E pedir para mudar a lápide. Que apenas lá fique. Que os amo. Sem palavras escritas, apenas com este pensamento. Que os amo. Mas os pensamentos não se escrevem numa lápide em uma pedra de mármore. E incomodam-me as flores. De plástico. Que lá põem. E incomodam-me as flores que eu lá devia pôr. Mas que não sejam de plástico. Mas eu acho que as flores. Que as flores não servem para isso, nem sequer as de plástico.

Também já pensei em pedir ao homem dos mármores que retire as fotografias da lápide. Porque as fotografias me incomodam. Também me incomodam. As fotografias. Naquela lápide. São os meus espíritos que dançam. Porque olham para mim num olhar que me faz sentir culpas. De culpas que eu sei não ter. E que (eu sei) não me atribuem.  

E me incomoda porque me é difícil entrar naquele quarto. Onde me esforço em não olhar para trás. Eu sei que não me perseguem. Mas esse pressentimento. Persiste. E, por vezes, até estremeço com um barulho qualquer. Como se um dedo pudesse estar, ali, apontado para mim. De noite, então. 

Mas eu sei o que me incomoda. O que me incomoda. É que não consigo fazer lutos. Fujo. É que apesar de ter estado sempre por perto. De até beijar no último leito o corpo frio. Mas o corpo frio já não sente tal ternura. Uma ternura que faltou tantas vezes quando não devia levantar a voz. Quando devia dar beijos num corpo quente. E talvez, então, não sentisse a necessidade de plantar árvores.

João José Fernandes Simões

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publicado às 21:23


O meu Jardim

por autor convidado, em 03.09.11

Por falta de paciência para tratar do jardim contratei os serviços de um jardineiro, tarefa que, dizem alguns, ajuda a ter paciência, mas que no meu caso assim não acontece. E a minha mulher tem paciência para isso mas não tem saúde. E eu tenho saúde, por enquanto, mas não tenho paciência. Pedi ao jardineiro para encher o jardim de árvores. De árvores de fruta, e não de palmeiras que apenas parecem bem. De árvores que me lembrem a vida e não de palmeiras, egoístas, que roubam a água e secam o resto.

Uma árvore é pelo meu Pai. Outra pelo meu Irmão. Outra pela minha Mãe. E outra pelo Gigio, que está ali, para onde o levei a passear pela última vez, ao colo e a chorar, que alguém ou algo lhe roubou o andar, e que também é de família. E uma outra árvore que em momentos de maior fraqueza me incomoda e me empurra para uma tristeza que faz doer. E que eu não quero que seja plantada, nunca.

João José Fernandes Simões

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publicado às 20:44


Continua, um dia destes (3)

por autor convidado, em 31.08.11

A rigidez implodiu, e implorou que não fossem lá a casa, que ia ser um problema familiar grave, e uma fraqueza é sempre de compreender em certas circunstâncias da vida, afinal, e as partes ficaram recolhidas, amorfas, sem vida. O aposentado, de bancário, estava assustado

O ponto estava programado para a partir das vinte e uma, em zonas mais discretas até menos, quase logo que descia a noite, na cidade, elas iam aparecendo nos lugares do costume, há anos arrendados num aluguer com renda de contrato escrito nas entranhas da intimidade. Elas

Voltaram para trás, prescindiu-se do bilhete de identidade necessário para se identificar nestes imprevistos, não foram lá a casa, o aposentado ficou mais sereno, não por ele, mas por ela, mas levando o sermão de que bem podia satisfazer necessidades num quarto de pensão, seria escusado a vergonha assim passada, enxovalho demais, desnecessário, e o bancário agradecido. Que a mulher

Tomavam conta da rua, satisfaziam apertos de quem carecia, estabelecidas por conta própria ou avençadas a um qualquer chulo, para pagar necessidades, delas e outras as mais das vezes dos vícios do chulo, os filhos na escola, obras em casa, mulheres lindas, algumas, outras, nem por isso, mas todas vendendo a alma, as que ainda a tinham.

A mulher não podia devido a uma doença, argumentou, mas então, tantos quartos por aí, com uma aposentação que deve dar para isso, também para isso, mas enfim, que são fraquezas, tentações, necessidades, e que ainda não tinha internet onde se fazem estas coisas a toda a hora e onde até se fazem filhos gerados em filmes a três dimensões.

João José Fernandes Simões

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publicado às 11:05


Continua, um dia destes (2)

por autor convidado, em 30.08.11

As serras eram subidas a suar de esforço, aflito, recuperando em íngreme descida, pelo mesmo caminho mas em sentido inverso, em idas e vindas que o levava e trazia em mais de doze horas de viagem, dando apitos nas curvas, onde quase parava e se descia dos estribos, e subia. Umas jovens riam

A viagem era longa e desproporcionada, doze horas, levando apenas três a chegar a um terço da viagem mas daqui demorava o resto do tempo até chegar ao alto, com paragem dormida em bancos de carruagens estacionadas em Campanhã e só depois, pela noite toda, fazendo o rio que fugia e aparecia. E

Eram estagiárias de engenharia florestal, bonitas, elas as três, em início de carreira, havendo por isso que prestar comissão em terras dos confins, lá por Bragança, onde se namorava no castelo com vista para a cidade, até voltarem cá para abaixo se a paixão das serras as não apegasse. Por amores

O rio espreitava nas curvas de soslaio ou fazia companhia lado a lado na itinerância da viagem, dentro do comboio chovia ou fazia sol conforme o tempo, e quando chovia se abria o chapéu para fechar os buracos do tecto da carruagem, e outros cumpriam a tropa com semanas de campo nas serras de Samardã e crosses logo na primeira hora de instrução no circuito onde corriam automóveis, vestindo cuecas compridas para suportar o frio das neves do Marão, e de botas com dois pares de meias altas ao comprimento do joelho. Vindo

Voltou uma delas, pelo menos, por amor a um engenheiro, daqui, que assim se chamava, o engenheiro, e acabou a desmerecer a Alda, engenheira florestal, vindo a passar um mau bocado, muito magra em elegância desfrutada naquele comboio mas agora mais por culpa do divórcio. Uma besta, o engenheiro.

A Coimbra fazer exames a meio da semana, de cadeiras do curso que ficaram atrasadas, estudando por sebentas de empréstimo, já tão riscadas de tanto serem estudadas, até conseguir uma oral, que garantia mais uma escapadela cá abaixo, a juntar às consultas de simuladas dores de dentes, porque se estava tão longe, vindo de volta a Campanhã, à sexta-feira. E depois, outras doze horas.

João José Fernandes Simões

 

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publicado às 11:05


Continua, um dia destes (1)

por autor convidado, em 29.08.11

A irrequietude nem na velocidade desvanecia, não uma velocidade elevada e que às vezes resolve, porque a condução suave moderava as ideias que corriam, estas sim, em velocidade imparável. Pensava na forma

O pai esperava com o cinto pelas costas que era como ele achava de melhor dar educação, era assim que entendia como arrumar as ideias do filho já nesse tempo irrequieto. Sempre atrasado

De materializar o que corria sem travão numa mente esmagada por pensamentos de hoje e de ontem, e dos confins do tempo preso na consciência. Custou seis euros e noventa

O comboio vinha nesse tempo quase sempre à tabela e obrigava a uma corrida galgando os carris e saltando para cima do estribo, mesmo a tempo de conseguir chegar à primeira aula. O comboio era

O preço da péne que permite guardar as ideias usando um qualquer computador, desmaterializando a arrumação de pensamentos que se avolumam e que se perdem se não forem logo passados para o papel. Mesmo usando-a

Ainda do tempo dos cowboys, e mesmo com os estribos que permitiam um salto fácil nem sempre conseguia ir à primeira aula, sendo garantido a tareia correctiva com o cinto de pouco mais que meio metro pelas costas abaixo e pela barriga das pernas. Para aprender a levantar cedo.

Algures, ou aqui mesmo, e mesmo que seja num computador que seja de quem for.

João José Fernandes Simões

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