De há uns tempos para cá o ministro Álvaro tem vivido obcecado com a exploração mineira e com os contratos relativos às respectivas concessões. Por seu lado, a comunicação social não se tem poupado a esforços para nos dar conta de tão intensa actividade ministerial. Quando não é o ferro de Moncorvo, é o ouro de Jales e do Alentejo, o cobre de Aljustrel, o estanho e o volfrâmio sei lá donde.
O contrato de concessão para exploração do ferro de Moncorvo já passou à história, mas, mesmo admitindo que os restantes venham a ser concretizados, já alguém com mais cabeça deveria ter lembrado ao Álvaro que Portugal não é o "Eldorado" e que essa receita já está ultrapassada como forma de alcançar o desenvolvimento dum país. O "ouro", nos dias de hoje está nas energias renováveis, nas novas tecnologias, na ciência e na inovação.
É um facto que aposta nesses sectores era a política do anterior Governo e, só por sê-lo, o governo actual está impedido de prosseguir por essa via, não só devido à estreiteza de vistas de Passos/Coelho, mas sobretudo, porque tal significaria a ratificação da política do Governo do "malvado" Sócrates e lá teria que ir por água abaixo a campanha do ódio que estes (des)governantes não se cansam de alimentar.
Ainda assim, o Álvaro bem pode poupar-nos ao espectáculo deprimente de andar a exibir como grande feito o que mais não é que fogo de artifício. No século XIX, estou certo que uma tal exibição merecia fortes aplausos. Actualmente é um espectáculo banal que não suscita grandes entusiasmos e, quando é falso, como no caso, até pode causar repulsa.
O tom geral do artigo de opinião de Maria João Avilez (MJA) publicado hoje na edição impressa do "Público", sob o título "Água que devia correr e não corre", até nem é de critica e, em boa verdade, nem tal seria de esperar vindo de quem vem, pois a autora é uma devota do passismo, como o demonstra a opinião expressa das "qualidades óbvias" por ela atribuídas a Passos/Coelho, qualidades que "só não as vê quem não quer". É, por sinal, o meu caso, não porque as não queira ver, mas porque muito simplesmente as não vejo. Disso me penitencio, desde já: mea culpa.
O escrito tem mais o ar dum conselho que, depois de dado em privado, a autora achou por bem tornar público. Por razões que ela lá saberá e de que não curo.
Não obstante, a verdade é que MJA acaba por cometer o deslize de atacar o governo passista por um dos seus flancos mais vulneráveis. Com efeito, a dado passo, escreve MJA o excerto que a seguir transcrevo e do qual, a benefício da autora, expurgo alguns comentários dirigidos a terceiros, menos próprios de quem se arma em "gente fina". Feita a observação precedente, passo a citar:
"4. Nem era preciso haver muitos cérebros políticos em São Bento ou nalguma assoalhada governamental para aconselhar ao executivo mais atenção pelo valor (sem preço) do "apoio" do PS em passos cruciais da caminhada imposta pela troika. (...)
Para não falar do respeito devido ao líder da UGT. Um caso. Em situação "impossível", pisando solo minado (...) salvaguardando sempre a sua independência, dizendo sempre o que "acha", João Proença faz o que entende que o país - e não o Governo - dele espera. Há quem dê pela diferença, hélas, há quem não dê. Dando ou não dando, levem Proença ao colo." (Negrito meu)
Dizer do executivo passista que não tem cérebros políticos, nem em São Bento, nem em qualquer "assoalhada governamental" é uma crítica que não pode deixar de ser tida na conta de violenta e de virulenta.
Para chegar a tal ponto, a frustração da "devota" deve ser enorme!
Seja ou não seja, a verdade é que não era este o ponto a que queria chegar. Se trago para aqui o artigo de MJA, é porque a crítica que dele transparece parece confirmar a ideia expressa, ainda que por outras palavras, neste outro post, no sentido de que Passos/Coelho começa a dar os primeiros passos a caminho do julgamento no pelourinho da opinião publicada. É meio caminho andado para também subir os degraus do pelourinho da opinião pública.
E já não era sem tempo, digo eu, tantas são as desgraças por que é responsável, umas já concretizadas e outras que, anunciadas, vêm já a caminho.
Empresas que num mercado aberto dão prejuízos ano após ano continuam a laborar. O dinheiro vem de algum lado. Da influência social e política que asseguram aos seus milionários proprietários. Dos negócios que à sombra dessa influência se fazem.
Distorcem a concorrência juntando-se à RTP que também vive dos subsídios do estado. Quer dizer a nossa Comunicação Social vive de subsídios, uns estatais outros privados, colocando-se assim na esfera da dependência de quem lhes assegura o oxigénio.
Pinto Balsemão: Quem tenha muitos milhões pode gastar alguns "milhões por ano em empresa de comunicação social que nunca ganharão dinheiro, mas cujos media são úteis ao cumprimento de objectivos dos milionários proprietários", disse Pinto Balsemão, presidente e maior accionista do grupo Impresa, numa conferência sobre jornalismo em tempo de crise, que decorreu no sábado, na Casa da Imprensa, em Lisboa.
Balsemão considera que esses objetivos milionários podem ser "de influência política, de preparação do terreno para outros negócios noutras áreas, de promoção social e cultural, de branqueamento de capitais".
Esta Comunicação Social também não pode esperar nada dos jornalistas que têm de defender o seu posto de trabalho que é um bem escasso.Compreende-se assim a comunicação social que temos.
Era natural que no dia inicial do Congresso do partido que é líder do governo, a comunicação social desse relevo aos programas, aos princípios, às políticas, às pessoas do próprio partido, o PSD. Mas na realidade o que se vê é as primeiras páginas dos jornais remeterem para pessoas e casos ligados ao governo anterior.
É o Teixeira dos Santos que terá sido preterido na PT, é o Freeport, é o chumbo do TGV, são as Parcerias Público Privadas, é a situação herdade, enfim, tudo o que possa desviar as atenções do que seria normal estar em relevo.
É assim que se faz política cá no cantinho, todos fazem de conta que nada têm a ver com a situação, o PS diz que se não fosse o chumbo do PEC IV tudo seria melhor isto depois de estar 13 anos no governo, o PSD que os problemas sociais resultantes de uma economia moribunda são resultantes da crise e não das suas políticas.
E todos esperam que o bom povo compreenda tão singular situação , sublinham a pacatez, a disciplina, o patriotismo, tudo o que afinal a classe política não tem! Até quando?
Foi o primeiro contrato para a entrega da gestão de um hospital público à privada. Correu mal. Embora não conhecendo o contrato tudo leva a crer que não havia na ARS capacidade técnica para lidar com esta experiência. São as chamadas "dores de crescimento" que, naturalmente, espero, tenham valido para a execução dos contratos seguintes mais razoáveis e equitativos.
Estão pronunciadas 26 pessoas da então Administração Regional de Saúde de Lisboa. O que é curioso é que quem andou nos jornais foi este vosso amigo que chefiava na altura uma outra Direcção-Geral que construiu o hospital mas nada tinha a ver com tal contrato, nem com o concurso precedente. Nunca fui acusado de coisa nenhuma mas o que é interessante é que depois destes anos todos, constata -se que a acusação jornalística foi feita na altura,( justiça pública) parecia uma telenovela, durante semanas contavam mais um episódio-mentira, sem nunca se aperceberem ( ou sabendo bem demais) que eu nada tinha a ver com o contrato e com o concurso.Em contrapartida, os responsáveis (não estou a dizer se são ou não culpados nada sei sobre o assunto) directos no contrato, no concurso e na sua execução continuam à espera porque caíram na alçada do tribunal de Contas e do Ministério Público. Mas safaram-se dos "justiceiros" da Comunicação Social !
Digam lá se isto não é um episódio de um país do terceiro mundo? Digam lá se a morosidade da Justiça não serve a muitos?
Apesar de surpreendido com a «aprovação do plano de sustentabilidade económica e financeira da RTP», o Grupo de Trabalho para a definição do conceito de serviço público de comunicação social (GT) [reduzido após a saída de Felisbela Lopes, Francisco Sarsfield Cabral e João Vasco de Lara Everard do Amaral (que, pelos vistos, não são de tão boa boca quanto os restantes) a João Luís Correia Duque (o coordenador que, de comunicação social deve perceber mais ou menos o mesmo que eu) e a António Ribeiro Cristóvão; Eduardo Cintra Torres; José Manuel Fernandes; Manuel José Damásio; Manuel Villaverde Cabral e Manuela Franco) acabou por engolir aquela desconsideração, bastando-se com uma espécie de explicação do ministro Relvas e lá apresentou o seu relatório. Não sendo entendido na matéria, não vou apreciá-lo em profundidade. Deixo essa tarefa a especialistas como Arons de Carvalho, por exemplo, que já se pronunciou sobre o assunto. Tal facto não impede que deixe aqui um breve comentário sobre algumas das propostas mais discutíveis.
A começar pela proposta de extinção, pura e simples, da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), como se a, por eles, bem-amada auto-regulação fosse o meio adequado e suficiente para evitar o desastre. É que já se sabe pelo que ocorreu noutros sectores, o financeiro, por exemplo, a que lindos resultados conduziu a auto-regulação.
Passando depois ao conceito de serviço público de comunicação social defendido no relatório constata-se que o GT: propõe a extinção da RTP Informação e da RTP Memória e a fusão da RTP Internacional e da RTP África; defende quanto "aos conteúdos noticiosos do operador de serviço público de rádio e televisão" que "sejam concentrados em noticiários curtos, (...) limitados ao essencial e [que] recuperem o carácter verdadeiramente informativo, libertos da crescente dimensão subjectiva e opinativa no jornalismo", com a singular nota de conceber o serviço internacional como "um instrumento da política externa, devendo depender a definição do contrato-programa e seu financiamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros", conceito que já levou a que se rotulasse o relatório de "albanês" (Eduardo Pitta) e que, a tal propósito, já se tenha falado em "saudades da Albânia (Porfírio Silva). Quanto a financiamento do serviço público, nada de publicidade, diz o relatório, pois não se pode cortar no bolo, destinado, por inteiro, segundo o GT, aos operadores privados do audiovisual. Esta malta, com destaque para sua alteza, o Duque, o famigerado Zé Manuel e Villaverde Cabral (os outros não conheço) não deixa os seus créditos de defensores do estado liberal, por mãos alheias. O Estado pode ser mínimo, mas, sem publicidade, lá terá que engordar, à custa do contribuintes, os operadores privados. Neste sentido, bem se pode dizer que até parece que o relatório foi encomendado pelo sector sector privado da comunicação social, pois não há dúvida que é feito à medida dos seus interesses.