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Meninos sem pão

por Rogério Costa Pereira, em 25.12.13

Esse resolve-se

O dos meninos sem pão

Não

Esse tem solução

O dos meninos sem pão

Não

Porque vivemos do cartão

E os meninos sem pão

Não

Vivem do pão que não é

Do pão que não têm

Os meninos sem pão

(os meninos sem pão)

Meninos sem pão

Meninos sem sorriso

Meninos que vivem uma negação

Negação de Ser Meninos

Porque

Haja o que houver

É preciso haver Meninos sem pão

Porque

Para que os mercados digam sim

Dizemos nós que não

Aos Meninos sem pão

 

[e as letras que me desculpem

a intromissão

neste tipo de ordenação] 

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publicado às 01:24


... da Magia de voltarmos a Ser

por Rogério Costa Pereira, em 21.12.13

Ouçam uma coisa.

Lembram-se da parte final do "Peter Pan" (versão Disney)?, quando o pai vai à janela e vê o barco desaparecer no horizonte? e se lembra que também tinha visto algo semelhante, em criança, algo que o tens-que-ser-homem o tinha feito esquecer?

Como aqui há dias recordava o Luis Grave Rodrigues, Christopher Hitchens disse algo como "Eu nem sequer sou tão ateísta como sou anti-teísta". E comigo passa-se algo semelhante, ao ponto de até conseguir deixar de parte o meu ateísmo em prol do meu anti-teísmo. Converter-me-ia a qualquer deus que abolisse as religiões. Não precisamos de deuses. Precisamos de Mulheres e de Homens. Verdadeiros Crentes. Crentes na Mulher e no Homem.

Ouçam uma coisa.

A tábua de salvação está em algo que nós podemos ver, basta abrir os olhos. Olhem as nuvens, rememorem os vossos tempos fraldados e desfraldados e verão que a Magia está nas Mulheres e nos Homens. Vejam o barco.

Magia. Não permitam que os tempos que correm vos impeçam fazer Magia e de ensinar os vossos meninos a acreditar nela e a fazê-la. Porque ela, a Magia das Mulheres e dos Homens, existe. Foi por Magia que se inventou a roda. Foi por Magia que demos passos adiante, como Civilização.

Se não acreditássemos que o coelho (salvo seja) sai da cartola, mesmo que duvidemos que está lá, não teríamos sequer saltado da árvore. Jamais o nosso polegar poderia tocar nos outros dedos. Uma inoponibilidade que nos impediria o Ser.

Foi tudo por Magia, Magia nossa. Porque ousámos.

Há algo em que temos de insistir, algo de que não podemos desistir. Somos. Existimos. Essa é a Magia. Ser. Ser e acreditar que podemos ser mais do que aquilo a que nos tentam reduzir. O deus ao qual pedimos? Peçam a vocês, e verão que resulta melhor. E resulta desde logo porque se formos crentes (em nós) o suficiente, e se lutarmos por nós, as coisas acontecem. Ou desacontecem. Como quem separa o trigo do joio.

Não somos números.

Somos!

Experimentem tirar um livro, um piano, uma arte de fazer sorrir dos ouvidos dos vossos meninos. Eles abrem muito a boca, e acreditam sem acreditar. E o sorriso sai. Porque eles acreditam. Não os enganamos, é como que uma espécie de raio de sol em dia de chuva. E acontece o arco-íris.

Façam essa Magia. E eles inventarão de novo a roda. As rodas que sejam necessárias. E como que por Magia, talvez não no nosso tempo (certamente que não), voltaremos a ser Mulheres e Homens.

Ora experimentem. Pensem bem no ridículo a que a nossa espécie se devotou. No ridículo a que as Mulheres e Homens se entregaram. Números. Hoje por hoje, somos números. Contas de subtrair. O meu filho não é um número; nenhuma criança pode ser reduzida a um número. Assim como nenhum velho pode começar a ser olhado como um criminoso porque ousou ter números a mais no tempo de Vida.

É assim tão simples? É assim tão simples, sim! Somos nós que complicamos e deixamos que nos compliquem. Se esta forma de pensar e de agir muda o mundo no imediato? Claro que não. Leva tempo. Quase tanto ou mais do que o tempo que levou a chegarmos a esta negação de vida.

Mas ou nos entregamos ao umbigo da nossa existência, e aí podemos atropelar os nossos iguais e dormir descansados. Há muito quem consiga e siga dessa forma. Ou acreditamos naqueles Olhos Grandes, cheios de esperança, que nos olham a cada dia.

Os nossos Filhos. Temos tudo a aprender com eles, para depois lhes ensinar a não esquecer. Não é um paradoxo, esta estranheza circular. Circular mas benigna.

Eu chamo-lhe Magia, chamo-lhe Francisco.  Ele mostra-me o tal barco que voa, e eu olho-o, ao barco, e tento que ele não se esqueça disso. Que há barcos que voam. É tão estupidamente fácil mudar o mundo. Basta tirar os óculos baços que nos põem à nascença.

Serei um sonhador, mas ainda me lembro quando os nossos filhos inventaram a roda. Chamaram-lhes sonhadores. Eles não são sonhadores, nós é que nos esquecemos de como é fácil sonhar. E de sonhar a fazer vai o voo de um pardal. Se começarmos hoje, o amanhã vai ser menos distante.

Eu chamo-lhe Magia, a minha avó chamar-lhe-ia um pífaro. É preciso é que comecemos, que ontem já era tarde. Experimentem e verão resultados nos dias seguintes, a cada passo do vosso filho. Quanto aos resultados para a Humanidade? Fizemos tanta asneira que talvez os netos dos nossos netos consigam viver resultados.

No entretanto, “basta” fazer Magia.

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publicado às 07:01


... de Direito Democrático

por Rogério Costa Pereira, em 03.11.13

Sacana de país este.

Sacana de gente esta; a que não se cansa de dar estalos e a que não se cansa de dar a outra face.

Sacana de insónia esta, que me impede de cumprir o “vou dormir” que disse há umas horas.

Não nos tiram a pata cima e roubam-nos mais do que o brilho dos olhos.

Arrancam-nos a vista à dentada e ainda nos cospem no vazio que fica.

Quem se agacha a este “Estado”, que nos quer tirar até o que não temos, acaba por ser cúmplice desse "Estado", e assim nos tornamos cúmplices do nosso próprio estado de negação; deixa estar e deixa andar; paga agora e morre o mais cedo que possas. Aceitas?

Aceitas ser cúmplice, camarada, companheiro e palhaço de um Estado bêbado que nos quer levar ao coma alcoólico da inacção?

Pode um gajo ser cúmplice da sua própria morte?

Ai o respeitinho?!

Ai a porra que vou dizer caralho?!

Ai! mas é o meu filho que dorme!, e que já tem os netos como fiadores de um porvir que por este andar não virá.

Esse sim, vale um ai. Todos os ais. E todos os meus ais serão para que ele não os grite.

E ai que cobarde seria eu se me deixasse ficar. Assim quietinho, resumido aos ais. A dizer ai. Apenas ai.

Ai que é tão injusto? Ai, vamos mas é ver no que isto dá? E esses filhos do diabo lá querem saber do que é justo?

O meu nome está ali em cima. E eu não ficarei por baixo. Nem embarco mais em manifestações folclóricas que apenas servem para dar fôlego ao “Estado” que nos impede o respirar; nos impede o estar.

Tirem-me a puta da pata de cima. Não é um pedido, é mesmo uma ameaça. E outras, de outros, virão.

E um dia chegará o Dia.

O Dia que nunca falhou; o passado é a maquina do tempo para o futuro. Olhai a História.

E o Estado será resgatado e devolvido aos seus apelidos.

...de Direito Democrático. 

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publicado às 05:11


Legião

por Rogério Costa Pereira, em 30.09.13

No sétimo dia deus não descansou. Distribuiu o brilho pelos olhos de alguns homens e mulheres. Os outros cegaram de inveja e de ódio. E assim nasceu este inferno onde deus é o diabo. E assim nasceu este paraíso onde o diabo é deus. Vamos ser Homens?, pergunta a Luz. Mordo pela calada!, não respondem as trevas. E mesmo cegos, os homens de olhos vazios imaginam ver. O que não é, o que nunca foi. Vamos ser francos? Não, dizem sem dizer, prefiro fazer de alma grande, que a multidão sou eu. E assim é, e assim foi, e assim será. [aplausos e vaias] E os que vêem são expulsos por ousarem ser Homens. Expulsos. Da terra onde é proibido ver. Proibido Ser.

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publicado às 23:11


Letratura #1 [Líquido e Liquido]

por Rogério Costa Pereira, em 16.08.13

Há algo de estranho neste agudo. Líquido e Liquido. Com acento pode beber-se sem se morrer e sem se matar. Sem acento mata-se sempre, com líquido ou sem ele. São palavras estranhas. Desafiadoras. Matreiras. Uma acrescenta-se em forma de espada, mas nem sempre mata; a outra nunca a usa e mata quando quer. Paradoxalmente, não haveria mundo sem a que usa espada.

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publicado às 22:33


“Sozinho-me num canto”

por Rogério Costa Pereira, em 04.08.13

Mudo hábitos, seres e pareceres. Perante a ordem estuporada das coisas que me arrasava os sentidos, inquietei-me. Perguntei-me do errado que estava, e até do errado que era. E inquietei-me ainda mais. Que mudar o estar pode ser simplesmente complicado, mas mudar o ser ultrapassaria a hipocrisia, jogo que não aceitaria que me jogasse. Arrisquei. E parti em branco, pronto a aceitar o que a natureza me devolvesse. E igualmente pronto a agir em harmonia com esse reflexo.

Importava despir-me de vícios, despir-me de mim e olhar-me – e olhar o mundo – sem preconceitos ou prejuízos. Andei entre o sereno e o irritado. Entre o matado e o matador. Vi-me justo e reconheci-me injusto. Não fiz de tudo, mas palmilhei cada canto do meu ser. Vi-me ao espelho vezes sem conta e deixei que o espelho me devolvesse o reflexo mais vezes do que as que nele me vi.

Há coisas que demoram anos, há outras que demoram dias. Outras há, ainda, que não chegam a demorar − são o que são. Sempre assim foram e nem o homem as consegue mudar. É assim a natureza delas. São mas podiam Não Ser. Um olhar. Uma sombra. Um seguir em frente em vez de virar na primeira esquina. Um dia de chuva inesperado. Uma boleia com a pessoa certa. Ou com a pessoa errada. É o que é. E são normalmente estas coisas que acabam por nos moldar a vida. De forma decisiva e irrevogável – dou por mim homem que chegue para ainda ter um dicionário onde a palavra irrevogável não foi nem pode ser revogada.

Não têm donos, estas vozes. Não têm agenda – quem agenda um dia de chuva em pleno Verão? ou uma perna partida? E, no entanto, não há nada de tão definitivo na nossa agenda – na nossa vida − como o que não pode ser agendado.

Olhei para trás, para os lados, para baixo e para cima. Não olhei em frente uma única vez. Era hora de presentes e passados, não de coisa tão efémera como o futuro, que deixa de o ser a partir do momento em que o é. Planos fazem-se, desfazem-se e refazem-se. O Hoje em função do Ontem. E o futuro não passa de uma consequência do que disse agora e atrás. Do que cabe e não cabe na agenda. E, pobre, nunca chega a ser. Quando o futuro nasce, dá por si Presente. Ao primeiro olhar já é Passado.  

E por aqui andei, a olhar estes e aqueles caminhos que trilhei e que aos quarenta e um anos aqui me trouxeram. A este texto que esteve para não ser. E que tem a importância que tem. Nenhuma. Podia estar a fazer dezenas de coisas mais produtivas – a descansar os olhos na Estrela ou simplesmente a fechá-los.

Não pretendo fazer um balanço. Nem a mim mo devo, muito menos a esta página em branco. Mas estes dias foram dias de chuva no Verão. E continuarão a ser. E calha a ser agradável porque calha a estar calor. E apetece-me escrever. Este texto não foi agendado, pensado ou calculado. Apetece-me escrever. E apetece-me escrever apenas porque me apetece. Escrever. Esse apenas que por vezes me domina.

No que me respeita, e quem me conhece (decidi agora que vou publicar este texto) já o percebeu, o essencial do balanço já está feito e as conclusões tiradas. Mudar. Formalmente, umas coisitas (que nem sequer passarão nas palavras ditas sem olhos; coisas cá minhas). Substancialmente, na minha essência, no que me move aí a conversa é outra. Vou mudar, sim. A ponta de um corno.

Vou mudar nada.

Dou por mim torcido duma humildade tamanha que concedo que tudo o que sou faz parte de mim. Errado ou certo, é este o meu Ser. Paradoxalmente, esta opção pela destemperança de nada mudar é a certeza de que mudarei as vezes que forem necessárias para tornear os obstáculos que tentam impedir-me a essência.

Abomino o injusto mas sou-o demasiadas vezes. Nada mudará, neste ponto. Continuarei tentar ser mais justo a cada agir. Mas não cederei a nenhum tipo de pressão, não tatuarei um código de barras na testa, e, neste aspecto, nunca deixarei de dizer nunca ao inditoso “nunca digas nunca”. Direi sempre nunca ao que merece um redondo e bem torneado nunca.

Nunca me venderei. Serei fiel que nem um cão rafeiro (malvista palavra) aos meus Princípios. E nunca Princípio meu terá duas caras. Nunca vendi a minha palavra, dizendo outra. Nunca pisei uma mão que não merecesse ser pisada. Continuarei a Olhar de forma a que ninguém ouse chegar-se-me para me recadar instruções de como agir.

E continuarei a ser inadvertidamente injusto, sempre na esperança de o ser cada vez menos. Com a certeza de que abomino a perfeição e tenho paciência nenhuma para a dita – não acredito em fantasmas.

O título deste texto foi retirado de uma esquina de “Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra”, de Mia Couto. Assim como dali roubo as frases com que quase termino esta coisa. Continuarei a lutar contra este vil “portador assintomático de vida” que nos quer matar os filhos. Lutarei a luta de Fulano Malta, na explicação que dela deu o padre Nunes a Mariano: "teu pai lutou para que fôssemos todos ricos, partilhando essa grande riqueza que é, simplesmente, não haver pobreza".

Esta foi uma semana em que andei de olhos fechados. “Certas coisas vemos melhor é com os olhos fechados”.     

E vi tanta coisa. Continuo vivo e agora respiro melhor. E afinei-me. Estou cada vez com pior feitio, graças a muito esforço e dedicação ao germe do dito. Isto do mau feitio tem uma certa piada; verdade-verdadinha tantas vezes repetida que o dito se virou como que às avessas e passou a desculpa de quem me usa como desculpa para não ser gente – há merdas que só se resolvem à bengalada.

Acima de tudo, continuo pai do Francisco e certo de que nunca serei estrangeiro em mim.

E agora voltem lá acima e ouçam a Compañera, do Patxi Andion. Critiquem-me o que quiserem e quanto quiserem. O jogo foi feito para ser jogado, não para nos jogar. Esta é a minha certeza. Assim como é certo que "sozinho-me num canto" é apenas um título indicativo de meia-dúzia de estares; nunca foi a minha realidade. Como ainda há dias disse a um rapazito, não luto apenas no tempo que o tempo me deixa livre. As coisas não se vão fazendo, fazem-se. E há tanta coisa para fazer! 

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publicado às 02:31


Crónica da terra queimada

por Rogério Costa Pereira, em 16.07.13

Durante dois anos por aqui falei da política de terra queimada levada a cabo pelos mandatários de interesses alheios a Portugal. Durante o mesmíssimo tempo, aludi à falácia em que se traduz a "legitimidade democrática" desses salteadores avençados, assente num sistema eleitoral que nada tem de democrático e, mais que tudo, assente na reiterada e persistente violação da Constituição. 
Vivemos uma ditadura do capital e da alta finança mascarada de democracia. E é incomparavelmente mais complicado abater esta ditadura com trombas de democracia do que um regime autoritário e ditatorial que se assume como tal. Quando digo muito mais complicado, temo estar a usar um eufemismo, porque esta "democracia" renova-se e "legitima-se" a cada eleição que não o é verdadeiramente. A prova do que acabei de escrever é que se chega ao despudor de se argumentar, sem corar, com o "arco da governação", esse aborto da tal "democracia". 
Os culpados, também o disse, somos nós todos. Os que mamam na teta deste regime, tacho após tacho, de cor de cartão em cor de cartão. Mas também os que ou acordaram tarde ou não lutaram o suficiente (contra o sistema como um todo, o que inclui lutar contra os que vivem dele e por ele). Porque muito é pouco. Muito é quase nada. E, ironicamente, dou por mim a pensar que não passamos, todos os que dão a cara e arriscam a pele, da válvula de escape essencial à sobrevivência deste regime fatal que não nos impede de falar (outra válvula de escape), mas nos obriga a sobreviver, de dor em dor. Aos gritos. Sem realmente viver.
Quanto mais penso em tudo isto, já em plena terra queimada, quanto mais volto atrás no tempo, mais me convenço de que vivemos num fabuloso erro de casting. A maior parte dos portugueses vende-se por menos de trinta moedas. A mentalidade dos portugueses assenta no conformismo do "tudo é aceitável, por mais que nos tirem". E as vénias proliferam, século após século, a troco do "deixem-nos sobreviver".
Como se muda isto? No papel seria fácil argumentar, mas na prática não faço a menor ideia. Não sei como convencer quem se sente bem de que não está nada bem. De que nada está bem. De que viver não é isto. De que ontem tínhamos mais, de que já nada pode ser dado como adquirido e de que amanhã teremos menos.
Não sei mudar a mentalidade de quem pensa que "antes isto do que nada". Já chegamos ao "nada" e mesmo agora parece que muitos dos que não se rebelam acham suficiente esse "nada".
Podem matar-me, mas enterrem-me ao menos. Talvez esta última frase venha a ser o ideal do português de XXI. Quando esse dia chegar, Portugal morreu.

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publicado às 15:30


gaspar, o gaspar

por Rogério Costa Pereira, em 16.06.13

Todos os dias se esquece. As emoções misturam-se e atropelam-se, como num sonho mal dormido em que a vida passa asinha e aselha. Como quando se morre. Entre o ir e o vir, Gaspar mistura-se entre o que o espelho lhe mostra – lhe exige – e o sonho sonhado da realidade dos Passos que admite não poder dar. No meio dos formigueiros – o da dormência e o da passagem –, confundem-se vidas e pessoas. As de cá moldam-lhe o curriculum à porrada. As de lá garantem-lhe o ser que acorda o acordar amarelo. Gaspar, espécie de homem duplicado – não como Saramago o inventou, mas como um dois-em-um que nem lava nem amacia. Entre vidas, sobrevive indeciso. Não se escolhe, encolhe-se e deixa-se ajustar pelo grão moído que o há-de trazer à realidade que lhe exigem. Como quem faz por respirar debaixo de água. A vida entre os vivos sustenta-lhe o vício do silêncio de não se saber erguer. E faz que vive para sonhar e faz que sonha para viver, perdido no turbilhão de quem não é. Gaspar faz registos. De mortes e vidas. E assim vive ainda uma terceira vida, a dos outros. Nasceste-me, juntei-te, apartei-te, morreste-me. Matei-te! Outras vidas inventei, que se hão-de juntar e separar e juntar de novo. E no fim hão-de morrer e exigir-me a mim que o certifique aos homens a quem só vejo a barbela.

Mais um café. Gaspar mede a vida por cafés. São como que um dia que se põe e um dia que se tira. O zero absoluto, reunidos naquele placebo com cara de água castanha e quente. E vai seguindo, como quem se apressa e se desvia. Para deixar passar quem vem atrás. De vela na mão a vida toda, como que numa procissão eterna. Já há muito lhe retirou o resguardo, à vela. A cera quente nas mãos é a única coisa que o segura deste lado – o cilício faz-lhe sangue e ele não gosta da cor vermelha, por isso o guarda na gaveta. E, altivo (podias ter-te agarrado aí, Gaspar), também não morre por não querer entregar o carimbo do extremo direito da sua existência aos estranhos com quem se partilha das nove às cinco.

Já pensou em ter mulher, arranjar filhos, perdoar gentes, desculpar-se. Fazer um reset vital. É um palhaço, o Gaspar, e essa vida que os livros-de-bem-viver recomendam seria o nariz vermelho que lhe falta. Preso por elásticos na ponta da penca. Como se o tivesse comprado na loja dos trezentos. Uma vida arranjada nos chineses, entre lâmpadas que deitam o quadro abaixo.

Gaspar-pistola-de-água vai morrer hoje. Jurou-se. Não chegará a sofrer o café de amanhã. Atropelado pela caleche do Ega e do Carlos, Gaspar vai acordar sereno. Como um desabafo. O registo da morte ninguém o fará, coisa de colegas zangados com as horas extraordinárias não remuneradas a que serão obrigados (Gaspar carimbava muito). Agora, Gaspar, o morto, viverá para sempre. Não porque por actos valorosos do esquecimento se tenha livrado, mas por despeito. Dele por ele; também.

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publicado às 06:02


Che

por Rogério Costa Pereira, em 14.06.13

Só tarde te percebi, Che;

Só tarde

(demasiado tarde)

percebi que a tua forma de luta é a única forma de luta;

Aos olhos dos Homens vim do outro lado;

E aos meus também;

Porque me olho antes de me olharem;

E mesmo que a aparência se afaste da essência

é justa a forma como alguns me lembram o passado;

O meu passado;

Espécie de convertido pós-revolução

(um facho convertido ao 26 de Abril);

Um arrivista

numa luta que já vai a meio

(ainda que mal tenha começado);

Não o renego, porém

(ao meu passado);

Eu sou o meu maior credor;

E quando me olho cobro-me com dureza

(com a dureza que mereço);

Mas ele 

(esse caminho caminhado)

trouxe-me aqui;

Ao lado certo da montanha;

Esse caminho que tive de percorrer para me sentir em Paz;

Em Paz comigo e depois com o mundo

(parece egoísta e hipócrita, bem sei);

Mas agora parece

(sei)

que o que em mim agora aparece

(e não falo de estética)

se aproxima do que Sou;

Assim o sinto e assim me sinto

Eu era mas não era;

Porque só se é algo quando se é esse algo;

Agora sinto que Sou;

Vim tarde mas cá cheguei;

Aquele tarde que não me perdoo;

Aquele tarde que tu também não perdoarias;

O mesmo tarde que a outros já não perdoo;

Porque chegar tarde é muitas vezes não chegar;

Mesmo que chegar tarde seja o reflexo do meu eu

(ou por isso mesmo);

O meu tarde foi 

(é)

tarde demais

Não terei chegado a tempo;

Che

é a primeira vez que falo sobre ti;

E talvez seja a última;

Não quero tranformar-te em metáfora;

Jamais te pintarei na pele;

Ou te usarei como uma cara de paz

(ainda que em luta);

plantada numa camisola;

Só tarde te percebi, Che;

Só tarde;

Demasiado tarde;

O teu mundo sonhado é o mundo que quero para o meu filho;

Mas cheguei tarde;

Hei-de conseguir explicar-lhe 

(ao menos)

quem És;

E que quem chega tarde não chega a chegar;

Che.

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publicado às 21:17


"Tabacaria" e outras coisas

por Rogério Costa Pereira, em 13.06.13

“TABACARIA, de Álvaro de Campos, recitado por Mário Viegas, e encenado na última casa onde Pessoa morou. A récita e a encenação pertencem ao programa PALAVRAS VIVAS sobre Fernando Pessoa, emitido pela RTP em 1991”


Olho acima e leio que "A récita e a encenação pertencem ao programa PALAVRAS VIVAS sobre Fernando Pessoa, emitido pela RTP em 1991". Em 1991 havia uma RTP destas. Era ainda uma conquista. Era permitido. Hoje temos outra RTP, onde a encenação é outra e a récita é a malvada dos dias que correm. Amanhã não teremos RTP nenhuma. Temos o serviço público que merecemos e deixaremos de ter o que quer que tenhamos porque já nem o nosso reflexo ao espelho ousará encarar-nos. O espelho virou-se para parede, por vergonha de dar a ver o que vê. E a culpa é toda nossa, que mesmo a mais suja e desleixada e maltratada parede tem a coragem que nos falta. De se manter erguida.

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publicado às 22:04


O homem, traça do mundo

por Rogério Costa Pereira, em 10.06.13

esquim%3F.jpgO mundo não tem culpa, pá. E digo isto porque ia escrever "o raio do mundo...". Ia começar assim o que ia alinhavar a seguir. Mas começava logo mal, a contradizer-me. Cada vez me aborrecem mais as visões antropocêntricas do mundo. Que são assim tipo todas as visões que o homem traça do mundo. Olha, boa... O homem, traça do mundo. O que faz uma vírgula. E já me esqueci do que ia dizer. Ia falar de Rastignacs arrivistas, de fura-vidas, do "jovem lobo de dentes longos". Uma cena qualquer sobre nada. E sobre tudo. Mas sobretudo tudo sobre nada.

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publicado às 16:47


Nada é simples

por Rogério Costa Pereira, em 10.06.13

pinguins.jpgSe eu estiver a pensar em nada, estou a pensar em algo. Logo, não estou a pensar em nada, mas em algo. Algo que é nada. Mas, porque é algo, não é nada. Em suma, se eu estiver a pensar em nada, não estou a pensar em nada. Vou continuar a pensar em nada. Que é algo e é nada e não é nada ao mesmo tempo. É bom simplificar as coisas. Há gente tão complicada. E afinal, nada é simples. Porque se nada fosse complicado, nada não seria simples. Coisa que, como acabei de demonstrar, é.

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publicado às 03:48


Há ali uma nesga de luz à esquerda...

por Rogério Costa Pereira, em 15.04.13

Em frente tenho uma parede.

Para trás mija a burra e é hipótese que não se coloca.

Há ali uma nesga de luz à esquerda. Mas é pequena.

Da direita ouve-se cada vez mais perto o som da marcha de botas cardadas. E vem de lá um frio gélido, do negro dos tempos.

Mas há ali uma nesga de luz à esquerda.

Se me aproximar e escavar talvez... talvez...

Há ali uma nesga de luz à esquerda.

E agrada-me o brilho intenso da luz que de lá vem.

Não é uma fuga, é um passo em frente.

Siga...

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publicado às 12:33


olhos nos olhos

por Rogério Costa Pereira, em 10.02.13

Fui ler a historinha ao meu filho. Reparei, pelo canto do olho, que ele não estava a olhar para o livro. Por hábito, e porque o notei desatento às letras e às imagens, parei e olhei para ele. Estava a olhar para mim. Com aqueles olhos grandes por onde lê e se dá a ler.

"Papá, estou a ver a minha cara nos teus olhos"

Olhei-o nos olhos, sorri-lhe e li-lhe o resto da historinha.

"Papá, estou a ver a minha cara nos teus olhos"

Desvendou-me a essência em meia-dúzia de palavras. Há exactamente sessenta e quatro meses que a cara dele está nos meus olhos. Há exactamente sessenta e quatro meses que nos olhamos nos olhos. Faz hoje sessenta e quatro meses que a minha mulher e eu nascemos de novo.

"Papá, estou a ver a minha cara nos teus olhos"

Há coisas do arco-da-velha. Esta frase, longa-metragem das minhas sinopses diárias e redondas, saiu-lhe hoje.

Logo hoje que (ele não sabe) nos encontramos numa encruzilhada para onde não caminhámos mas para onde nos arrastaram.

O meu país já não se chama Portugal. Há exactamente sessenta e quatro meses. Disso já suspeitava, que um país é feito a cada dia por quem o faz e por quem o deixa fazer. E Portugal deixou-se ultrapassar pela direita. Pela direita. Mudou de ser, mudou de título. O nome do meu país é outro.

"Papá, estou a ver a minha cara nos teus olhos"

Faz hoje sessenta e quatro meses.

Não haverá bruxas, apesar de as haver, de as haver.

Já não há países sem Inc. a seguir ao nome.

Mas há filhos e há mães e há pais.

"Papá, estou a ver a minha cara nos teus olhos"

Mania esta que os adultos têm de complicar o que é simples. E toma e embrulha, Morpheus. "What is real?  How do you define real?  If you are talking about what you can feel, what you can smell, what you can taste and see, then real is simply electrical signals interpreted by your brain." [Morpheus, The Matrix]

Tenta antes isto.

"Papá, estou a ver a minha cara nos teus olhos"

Isto sim, é real.

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publicado às 03:12


o filho da mãe

por Rogério Costa Pereira, em 09.02.13

É a velha história da mãe que foi pela primeira vez assistir ao desfile (ou lá como se chama aquilo) do regimento (ou lá como se chama aquilo) onde o seu filho cumpria a incumbência (ou lá como se chama aquilo) de marchar. Era dia de gala (ou lá como se chama aquilo). Ao ver o filho marchar em contramão, ela gritou para a assistência: “O regimento inteiro [ou lá como se chama aquilo] tem que ser punido! Só o meu filho está certo!”

Um dia o António, na espuma de algum dia que me correu menos bem, lembrou-me que talvez não fossem só olhos de mãe, que talvez o filho da mãe estivesse mesmo a marchar no sentido certo. E que todos os outros estivessem, eles sim, a marchar em contramão.

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publicado às 05:39


sem perdão

por Rogério Costa Pereira, em 27.01.13

podem sugar-me o sangue
comer-me a carne
chupar-me os ossos
cear-me o cérebro


nada disso me assusta

tenho cu e tenho medo
e dou graças por isso
que o meu corpo mantém-se vivo

nas veias correm-me lágrimas
a minha carne é feita de dor
os meus ossos são em forma de mágoas
o meu cérebro é um mar chorado

mas tenho os meus olhos

deles escorre o sangue que ninguém suga
a carne que ninguém come
os ossos que ninguém chupa
o cérebro que vos envenena

a nossa dor é a vossa contrição
será a vossa perdição

sem perdão
que não nos tiram a lembrança

este Abril não será de cravos
há-de ser de rosas
e os espinhos são todos vossos

sem perdão

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publicado às 04:51


O vazio

por Rogério Costa Pereira, em 20.11.12

O vazio que faz doer a alma. Aquela sensação de que algo não está certo e a quase certeza de que sabemos a razão embora não a possamos admitir. Nem perante nós, menos ainda perante os nossos. Porque isso seria perder a esperança. Perder a vontade de acordar para um novo dia. E como se pode alguém dar a esse lixo? E é a esse “quase”, sublinhado lá em cima, que nos vamos agarrando, esse estar que nos separa de uma certeza que não pode ser. Porque não pode mesmo ser. Porque aquele vislumbre de pano branco de rendição — que parece familiar porque o vimos algures lá por casa — há-de ser, isso sim, a adivinhação de uma toalha deitada ao chão. Toalha de outro enxoval, tirado da arca onde nos prendem as asas. E há-de ser daí que o reconheço. Ao pano que é toalha. À toalha que não é minha. Nem nossa. É deles. E saio lentamente da arca, como quem tecla estas letras, depressa e devagar. Sempre sem saber quem se segue na esquina que se segue, de que lado está aquele. E corro. E páro. E corro de novo. Sempre a olhar em frente. Que para lá é que é o caminho. Dizem. Mais ou menos como escrevo estas letras, feitas palavras, feitas frases, feitas moral. Escrevo assim rápido. E depois páro. Inspiro sem hiperventilar, mas quase, quase. Até àquele ponto onde o coração acelera e os pulmões reclamam do oxigénio a mais. E depois escrevo outra vez. Sempre sem fazer ideia do que me será dito a seguir. Como se um grito mudo que só eu oiço, como agora, agora, agora, agora neste momento em que digo isto. Isto em que nunca pensei e que acabei de escrever e que terei de reler para ver se percebo o que quero dizer. O que me querem dizer. O que querem que diga. Se não páro por aqui, e agora já penso de novo no que escrevo, dou comigo a dizer que foi o outro ou isso que mo ditou ao ouvido. E depois vendo livros e faço sessões espíritas. A verdade é que não é nem parecido. É só ir andando, teclando. Como que para preencher aquele vazio inicial. A primeira palavra deste aglomerado. A única opção consciente. Vazio. O resto foi-se revelando. E falava da esperança de que aquele não fosse o nosso pano e lembrei-me de Pandora e da caixa aberta porque a curiosidade matou um gato mas ela não era um gato. E de como todos os males de mundo se espelharam — não me enganei, é espelharam, mesmo — no rosto de cada mulher e de cada homem. Menos a esperança que ficou lá guardada, na caixa. E imagino a história virada do avesso. Ou não. A história é minha, faço do mito que quiser. Uma esperança encarcerada, que nunca ninguém viu mas em que se acredita. Mas isso seria a esperança na esperança. E acho que isso nem sequer existe. Será antes a esperança da mulher que está de esperanças. Mas até isso nos levam. Cada vez são menos os que estão de esperanças. Cada vezes menos esperanças são dadas ao mundo. Caixas e corpos que se mantêm encerrados. E a pirâmide que se inverte. Como se a chave ou a palavra-mágica se tivesse perdido. Tivesse sido roubada. E passamos a parir velhos. A parir-nos a nós próprios. Até é o povo que diz que não caminhamos para novos. Este era para ser um texto sobre o vazio, lutei para lhe dar a volta a meio e falei da esperança. Do pano que não era nosso. Da toalha deitada ao chão pelos homens maus que nos atentam as esperanças, que nos impedem de estar delas. Não me parece que tenha sido feliz na luta. Era para ser sobre o vazio e foi sobre o vazio. Há que rodar. Amanhã tento de novo. Sobre a esperança.

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publicado às 17:00


O último sorriso

por Rogério Costa Pereira, em 19.11.12

Saiu da casca, pendurou-se na beira do ninho, bateu as asas e gostou. Sentiu-se livre. O que não faz sentido pois nunca havia estado preso. No ninho nem sequer sentia, apenas estava à espera de nascer. O que não faz sentido, pois não sabia o que era esperar. Menos ainda o que era nascer. Mas a verdade é que para ali esteve, a bater as asas e a sentir aquele sentir. Ousou saltar. Sempre sem parar de bater as asas. E caiu ao de leve no ninho. Não gostou. Recuou até sentir a parede da casca sua mãe. Teve esse instinto a que na língua dos homens se chama medo. Baixou a cabeça. Deu um passo atrás e viu-se dentro do ovo que agora lhe apertava as asas. Baixou a cabeça e encolheu-se ainda mais. Mas o ovo estava cada vez mais pequeno. Levantou-se de repente e viu-se fora do ovo. Os estilhaços espalhavam a sua vergonha a quem a quisesse olhar. Deu um, dois, três passos atrás. Bateu as asas, abriu o bico e gritou. Um grito surdo onde se reconheceu. Saltou do ninho. Não no ninho. Bateu as asas e voltou a sentir aquela sensação estranha. Não caiu. Bateu as asas. E de novo. E de novo. Estava a andar no ar. Voava e gritava. Estava a gostar. Nisto sentiu uma prisão na garganta. Voava e tossia. Já não gostava. Sentia dor. O que quer que isso fosse. Dor era o nome que lhe vinha à cabeça. Queria gritar e libertar-se daquela sensação de voar só com meias asas. Fechou os olhos e continuou a bater as asas. Tossiu com força e sentiu algo desprender-se da garganta. Sorriu. Ia abrir os olhos. Já não a tempo de ver a árvore onde acabou por bater e que ali tinha crescido momentos antes. Parou a tosse. Parou as asas. Parou o coração. Caiu na terra molhada. Mesmo em cima do catarro que se havia soltado da sua garganta. Foi o último sorriso de um pardal.

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publicado às 21:53


Algo se passa, que lá fora o povo grita...

por Rogério Costa Pereira, em 21.06.12

Ninguém me avisou e isso faz-me temer o pior. A televisão, certamente numa manobra dos líderes do movimento, passa, de forma repetida, insistente e nada credível, as mesmas imagens dum jogo de futebol. Parece ser sempre o mesmo. Vêem-se ainda outras imagens, obviamente de arquivo, do povo que festeja em delírio. Mesmo nos sites internacionais não consigo detectar qualquer indício. Será uma coisa a nível global. Mau sinal. Não vou esperar mais. Vamos arriscar, que temos um filho para criar. Saio eu e trancas à porta por fora. Vou num pé e volto noutro. E deixo-me cá metade. Mas a falta de notícias, raios, a falta de notícias não augura nada de bom. Em casa, sem sabermos, é que não posso ficar. Temos de saber. Pego no cravo, chego-me ali ao café da esquina, que o senhor conhece-me e é de confiança, e faço a pergunta. Foram os nossos? Se ele não responder antes de eu perguntar, puxo-o pelos colarinhos e hei-de gritar-lhe aos ouvidos: "diga-me que são dos nossos!". E levo também um livro. Que temo o pior...

A Cultura é uma arma

(imagem: via Cronache Laiche)

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publicado às 22:42


Da Loucura

por Rogério Costa Pereira, em 10.06.12

É certo que "se eu quisessse, enlouquecia" ["Os Passos em Volta", Herberto Hélder]

Porém (agora sou eu), se um dia me virem não louco não digam que enlouqueci porque quis.

Enlouqueceram-me.

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publicado às 01:47


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