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Do neo-liberalismo e dos Homens: vou regressar ao mercado

por Rogério Costa Pereira, em 23.01.13

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Uma boa notícia logo ao acordar. A ideia surgiu-me num sonho que tive esta noite e duma série de pesadelos que nos têm acompanhado vai para x anos. Vou regressar ao mercado na próxima Segunda-feira. Aqui ao do Fundão, mesmo. E vou levar uma impressora a cores. E nada disso de emitir dívida. Isso lá é coisa que se emita? Dívida? Só porque é moda? Pois eu não vou imitar, emitindo.

Vou mas é fazer como das outras vezes em que o FMI cá esteve. Vou emitir papel-moeda. Escudos. Paus. Pilim. Contos. A taxa deverá sair perto dos 25%; um quarto do tinteiro, portanto. A ideia é patética? Nonsense? Fora da realidade? Concedo. Dou de barato.

 

Nada que se pareça com isto, bem mais real e assisado: «O Governo mandatou quatro bancos de investimento para montarem a operação que incidirá sobre uma linha de obrigações que atinge a maturidade em Outubro de 2017 e pretende colocar dois mil milhões de euros. A operação deverá ficar concluída hoje e o prazo irá cair no ano em que Portugal terá menores necessidades de refinanciamento (...). O regresso de Portugal aos mercados ocorre após uma combinação de factores positivos tanto a nível interno como externo. As taxas de juro da dívida portuguesa têm vindo a registar quedas acentuadas desde meados de 2012, graças às medidas tomadas pelo BCE. A nível interno, os dados da execução orçamental que serão hoje divulgados deverão mostrar que Portugal conseguiu cumprir a meta do défice em 2012, o que foi utilizado como trunfo por Vítor Gaspar na reunião do Eurogrupo e para regressar aos mercados.» [Económico]

 

Metam mas é os mercados e o défice no cu, porra. O sistema faliu, o povo extingue-se. Vocês querem mesmo matar-nos! Em troca dos vossos sacrossantos números que enchem o bandulho aos boches e aos especuladores globais da praça ou dos mercados ou do raio que vos parta. Cumpriram o quê? Para quem? A meta do défice? E as metas das pessoas, que morrem por dentro e por fora?, ainda que algumas continuem para aí, mais mortas que vivas, padecentes de frio, de fome, de dor, de mágoa. Feitas zombies, a tentar sacar um pouco de côdea ao suor e às lágrimas, a ver se ao menos enganam a fome aos putos. A trabalhar e a dar o couro e o cabelo pelas vossas metas assassinas.
O neo-liberalismo é uma emboscada, um abraço de urso, que matará muito mais do que o fascismo. Matará mais do que qualquer guerra. Do que todas as guerras. Vive da morte. Da terra queimada. Do fim dos países, do fim das gentes. Do fim das civilizações. Basta que sobrem uns milhares de milhões de indivíduos, já sem alma nem terra, para lhe comprar a banha da cobra.
Como o petróleo que acaba já amanhã mas que não acaba enquanto der, assim é o homem para o neo-liberalismo. Um combustível. Eis, pois, o destino traçado e que vem sendo trilhado, sem desvios, há décadas. Pelo neo-liberalismo e seus devotos, que nele mamam.
Não lhe ponha o Homem trela e açaime e assim será. Não faça o Homem por o abater e eis o futuro. A ausência, o não-Ser. A questão coloca-se ao nível da sobrevivência. Ou ele ou Nós!
Ou ele(s) ou o Homem!

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publicado às 09:24

James Taylor

Leio no Público que «Neonazis gregos prometem "varrer" imigrantes».

É "apenas" a prova que há caminhos que não se podem começar a percorrer, sob pena de o destino ser inevitavelmente este. E, se necessário for, que se muscule a democracia, para que fenómenos deste cariz não tenham qualquer hipótese de ver a luz do dia, como está a acontecer no berço da civilização. Não pretendo dar qualquer tipo de publicidade a estes escroques, daí não lhes referir sequer os nomes (dos partidos), adiantando apenas que, ao molho, a brincadeira pode redundar em 20% do povo grego a colocar a cruz no quadradinho que não devia existir.

Se este meu pensar é democrata? Chamem-lhe o que bem entenderem. É em defesa da democracia, tal como a vejo. Pouco me importa se corresponde ou não, se se encaixa ou não, nos canhenhos originais ou nos sinónimos universalmente aceites. A questão das jurisprudências e doutrinas maioritárias são coisas a que não ligo há muito. Não vou voltar agora a dar para esse peditório dos unanimismos. 

À pergunta "Qual ideologia?", Eugénia (pois claro que sim, Eugenia teria de ser -- e não, não me esqueci do acento) responde, após conferência com os do seu rebanho, recorrendo aos lugares-comuns desta gentalha. Nacionalismo para o povo, trabalhar para a nação de heróis e filósosos. Adianta a reportagem que "No grupo há quem invoque como inspiração a antiga cidade-estado de Esparta e a disciplina militar dos espartanos". Não deixo de sorrir, perante a patente contradição. Mas logo o sorriso se me transforma num esgar, porque não quero falar mais desta gente, porque não quero esta gente, porque abomino esta gente. Intolerante, racista e xenófoba, estes sim, os reais bas-fonds da Europa. Este exército de invasores que caminha Europa adentro, esta gente que começou assim..., de mansinho..., a torcer o nariz aos estrangeiros, e que agora nos quer invadir com os seus espartanos exércitos.

O anti-multiculturalismo já deu provas que está aí, há quem erga o punho do coração para o ar por ele, num sinal que nem quer dizer nada, convenhamos. Há quem mate 77 pessoas por ele. Até Hitler foi mais humilde nos seus começos. Hoje são eles 20%, amanhã somos nós 20%. Já pensaram nisso? O extremismo não se combate com palavras! Estes elementos anti-democráticos, que se usam da democracia, gritando abertamente contra ela, para acabarem com ela por dentro, deviam ser extirpados. Da democracia.

Tudo começou com umas eleições... Já todos vimos este filme, já o vimos até mais do que uma vez, mas a mais recente ainda nos está bem viva na memória, em forma de milhões de judeus, homossexuais, católicos, ciganos e o que mais viesse à rede mortos. Mortos, mas não esquecidos.

Eu,  celta, galaico, lusitano, fenício, cartaginês, romano, vândalo, alano, suevo, visigodo, cristão, mouro, judeu, índio, branco, preto, amarelo, ateu,  africano, asiático, macaense, americano, chinês, australiano, japonês, castelhano, catalão, lionês, galego, brasileiro, argentino, venezuelano, holandês, angolano, goês, moçambicano, são-tomense, guineense,  cabo-verdiano, cigano, indiano;

Eu, grego, irlandês, espanhol, italiano, romeno, belga, ucraniano, francês, inglês, luxemburguês, maltês,  polaco;

Eu, português-de-caldeirada me assino. E por isso luto. Porque só por isso existo, para isso luto.

Nas palavras que escolho de José Régio — nas que Eu escolho:

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,

Ninguém me peça definições!

Ninguém me diga: "vem por aqui"!

A minha vida é um vendaval que se soltou,

É uma onda que se alevantou,

É um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou,

Não sei para onde vou

Sei que não vou por aí!

E não irei, não irei pelo mais fácil, pelo caminho dos fracos, dos que querem varrer, desocupar. Não me perguntem que Democracia é esta; outra resposta não darei, a não ser que é a dum filho do mundo, pronto para a defender tal como a vê. Plural, aberta, legitimada. Posso não saber responder com exactidão à pergunta. E por isso (para isso) pluralizo-a menos, à democracia. Se a tal for obrigado. A democracia, tal como a vejo, pode ser intolerante, pode chegar mesmo a ser arrogante, arrogante e intolerante com aqueles que são intolerantes com a diferença, com aqueles que não olham aos homens. Posso, inclusivamente, trocar os olhos a escrever, mas sei do que a quero proteger. Duma troika na qual não votei, dum bando de descapitalizados cerebrais que vêem no preto o inimigo só porque são brancos. Ou no branco o amigo só porque não é preto.

Durmo bem assim, mas não é por dormir bem assim que sou assim. Durmo bem assim, porque me exerço todos os dias. Caminho por cada uma das letras das palavras que compõem as minhas frases.

Sou assim! E não peço desculpa!

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publicado às 12:56


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