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Depois de três tentativas para ganhar as eleições no Chile (em 1952, 58 e 64), Salvador Allende, como candidato de uma coligação de esquerda, a Unidade Popular, conseguiu ser eleito em 1970. Assumiu a presidência no dia 3 de Novembro desse ano. Ficou na história como sendo o primeiro marxista a chegar ao poder através de eleições. Uma das suas primeiras medidas foi a nacionalização das minas de cobre, a principal riqueza do país. Fez também uma profunda reforma agrária, em que entregou aos camponeses grandes extensões de terras que estavam abandonadas.
Desde o início do mandato, o grande sonho de Allende era a construção de um "caminho chileno para o socialismo". Se a direita chilena não gostava da ideia, o governo norte-americano muito menos. Com a liderança deste, ambos uniram forças para evitar que Allende levasse as suas ideias a bom termo. No dia 4 de Setembro de 1972, o presidente Allende denunciou, nas Nações Unidas, as tentativas norte-americanas de desestabilização do Chile. Mas foi em vão!
A economia chilena começou a degradar-se e os investimentos privados diminuiram bruscamente, causando uma subida catastrófica do desemprego. A população começou a revoltar-se e a protestar, fazendo manifestações e greves que paralisaram os transportes e o comércio. Vários atentados provocaram apagões e danificaram pontes e oleodutos.
Nas eleições de 1973, e apesar das graves dificuldades económicas, a Unidade Popular conseguiu obter 43% dos votos. Três meses depois, no dia 11 de Setembro de 1973, o exército chileno, minado pela CIA e liderado pelo general Augusto Pinochet, com a ajuda do governo norte-americano, derrubou o governo de Salvador Allende, implantando uma das mais severas ditaduras de sempre. O Presidente Allende morreu num dos ataques do exército ao Palácio Presidencial. A ditadura militar chilena deixou, pelo menos, três mil mortos e desaparecidos.
Mais ou menos o mesmo número que morreu no ataque às torres gémeas de Nova Iorque, no dia 11 de Setembro de 2001.
Pelo título desta crónica, provavelmente, a maioria dos leitores terá pensado que eu iria escrever sobre 2001. Mas desse ano, todos os anos, toda a gente fala e escreve “ad nauseam”. Por isso, preferi recuar 28 anos e lembrar 1973 e “o maior chileno da história do Chile”: Salvador Allende.

 
Salvador Allende, o maior chileno da                                   Filme “Chove sobre Santiago”
história do Chile                                                                       1ª parte (Ver no YouTube,
                                                                                                    as restantes partes)

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publicado às 02:35

Os mineiros e nós

por Isabel Moreira, em 13.10.10

Ligamos a televisão há mais de dois meses e vemos as imagens possíveis. Sabemos que não foram abandonados. Sabemos mesmo que o primeiro papelinho a subir cá acima, sim, cá acima, centenas de metros acima deles, dizia no plural estamos vivos e pedia que não houvesse um abandono. O que aconteceu no Chile coloca-nos à frente das televisões e dos jornais e dos computadores porque aqueles homens, que vivem o ofício que atravessa a história com tanta dureza, com tantos casos de morte, esquecimento e abandono, desta vez não foram largados à fatalidade de uma derrocada. Não me recordo de ver em directo uma conjugação tão impressionante de saberes. Física, engenharia, pisocoligia, psiquiatria, por aí fora, todos juntos por aqueles homens, aqueles homens que escreveram num papelito estamos vivos, que sobreviveram dias a fio antes de um sinal comendo bocados de bolachas, com uma força interior que desconhecemos encontrada no interior da terra.

Aconteceu também que a comunicação social não arredou pé. Percebeu a dimensão humana da história, para lá da impressionante dimensão técnica que rodeia o salvamento dos mineiros. Foi essencial que os media não esquecessem aquela gente soterrada, gente diferente uma da outra, com dezanove anos, a começar a vida, mais velhos, a ver a uma vida sua começar do lado de cá da terra, gente que soube esperar, aguentar, rezar, amar do fundo da terra, apaziguar quem estava cá em cima, esperar, esperar, esperar.

Hoje estamos colados às imagens, e a consequência do grau máximo da empatia gerada entre cada um de nós e cada um daqueles mineiros é sentirmos que também nós somos, cada vez que um homem encontra a liberdade, salvos. Por isso contamos um a um, como aconteceu às 09h45, hora em que nos foi dito que José Ojeda Vidal, de 45 anos, seria o próximo a regressar à superfície. Este mineiro foi o homem que disse ao mundo que os trabalhadores estavam vivos. E continuamos por aí em diante, um a um, em cada abraço de reencontro sentimos um aperto no corpo.

Se forem todos salvos, fomos todos salvos.


daqui

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publicado às 10:07


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