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A sensação que me ficou é que Saramago acredita mais em Deus do que Carreira das Neves, tal a indignação que revelou pelo comportamento do segundo (do do meio, Deus). Nem era preciso o abençoado telemóvel ter tocado, que a entrevista já ia divina q.b.. Saramago teme o Deus literal; Carreira das Neves não acredita nele - e o crente vira não-crente e vice-versa.
* "Quer dizer, além de tão filho da puta como o senhor, abraão era um refinado mentiroso (...)" [o bold literal é meu, o literário é do Saramago]
PS - Que não haja confusões, não subscrevo (só se fosse um perfeito idiota e o Memorial do Convento não existisse. E o Todos os Nomes e o Ensaio sobre a Cegueira e o Ano da Morte de Ricardo Reis e a Jangada de Pedra e... e ...) as palavras do sociólogo Gonçalves, na última Sábado [«(...) qualquer versículo do Antigo Testamento, esse "manual de maus costumes", vale a obra inteira do pobre José, embora, no contexto, a pobreza seja só de espírito.»]. Basta o Memorial do Convento, cuja não leitura devia ser proibida (olhó fundamentalismo) para contrariar a sentença à la Saramago do aspirante.
1 - Saramago tem todo o direito de dizer que "O Deus da Bíblia é rancoroso, vingativo e má pessoa".
2 - Saramago também tem todo o direito de dizer que "Caim nunca existiu".
3 - Saramago tem ainda o direito de dizer que "Sem a Bíblia seríamos outras pessoas - provavelmente melhores".
4 - Saramago tem o direito de acreditar que o seu Caim "é um livro divertidíssimo".
5 - Saramago tem o direito de dizer que "a Bíblia é um manual de maus costumes" e até que é um livro impróprio para crianças [esta última parte aparece no Público como tendo sido dita, embora não surja entre aspas].
E eu tenho o direito de dizer que Saramago fez uma leitura superficial da Bíblia, o que fica bem demonstrado pela assertividade, à laia de revelação, da sentença, "Caim nunca existiu" - há alguém com dois dedos de testa que diga o contrário? (eu disse: com dois dedos de testa). Eu tenho o direito de achar uma tontaria aquela do "Sem a Bíblia seríamos outras pessoas - provavelmente melhores". Wishful thinking, no mínimo. Não fosse a Bíblia, seria outra coisa qualquer a tornar-nos maus. E cá estaria Saramago a escrever sobre uma inevitabilidade alternativa. O homem não é a Bíblia, a Bíblia é que é o homem - a não ser que acreditemos que o livro nos caiu dos céus aos trambolhões. Eu tenho ainda o direito de achar que uma leitura correcta da Bíblia pode ser um bom instrumento pedagógico - omitir a Bíblia, isso sim, é impróprio para crianças. Como, de resto, é impróprio omitir-lhes (às crianças) a existência do que quer que seja. Saramago acha Caim - o seu - divertidíssimo. Eu achei-o uma estopada, um tiro na água e uma oportunidade perdida para se parodiar o antigo testamento. E muito gostaria de ter achado o contrário, o que quereria dizer que tinha passado umas horas mais divertidas do que as que me foram proporcionadas. Já agora, divertidíssima (nalgumas partes) é a Bíblia. Por último, tenho o direito de continuar a gostar de Saramago, de o achar um escritor de excelência (mesmo Caim, longe dum Memorial, está bem escrito, o problema ali não é formal). Venha o próximo, que cá estarei para o ler, como fiz com este - ao contrário de muitos saramaguianos de primeira hora (mas de Sábado passado, quando lhes nasceu um deus).
PS - Já me esquecia, aquele david não-sei-das-quantas, o do Parlamento Europeu, parece querer instituir o direito de se poder pedir a alguém que renuncie à nacionalidade. Existisse tal direito de petição e, no que me toca, já teria destinatário. O autor do Memorial do Convento não me envergonha (como poderia?), pelo contrário. Envergonham-me, isso sim, os laras e os davides da vida.
No meio de toda a indignação que as palavras de Saramago causaram - e muito justamente, embora alguns insistam em confundir alhos com bugalhos -, resolvi ir ler o livro. Em nada movido pela polémica - apenas fiz o que faço com todos os livros escritos por Saramago: leio-os.
Então não é que o livro é bem capaz de ser a pior coisinha que Saramago algum dia escreveu? Espécie de tentativa débil e gorada de reductio ad absurdum, cheia de dichotes a armar ao engraçado, dei por mim num livro que se consubstancia numa espécie de paródia mal parida àquela parte do antigo testamento. Não vou, como é óbvio, entrar em pormenores, mas não deixarei de referir que me chocou a forma como, partindo de uma interpretação literal do antigo testamento - propositada é certo -, Saramago tentou o humor fácil, quase brejeiro, aquele tipo de coisa insossa que não se espera do autor do Memorial do Convento.
Digamos que Caim, não fosse estar eu abismado pela coisa, seria livro para colocar de parte ao fim de uma dezena de páginas. Por outro lado, o livro lê-se sem grande esforço até ao fim, como quem não desvia o olhar de alguém que escorrega numa casca de banana. O ódio de Saramago a tudo o que "religiosamente mexe" desta vez toldou-lhe o espírito.
O medo que Saramago tem da morte (nunca lhe ouvi tal, apenas me parece que isso transparece nalgumas passagens de Caim) devia ter outro destino.
É o que me parece. Posso, concedo, ter lido tudo mal, ter entendido tudo ao contrário. Nada como comprar e ler.
Uma última referência ao facto de que jamais moldaria assim esta crítica (mesmo porque se há coisa que não almejo, nem tenho competência para tal, é ser critico literário), caso não tivesse Saramago como um dos nossos maiores. É, portanto, com o todo o devido e merecido respeito.
Começo com uma declaração de interesses: Saramago é um dos meus autores caros. Fora umas intermitências e um pretenso ensaio sobre a lucidez, gostei de tudo o que dali veio. Construí imaginários demasiados meus, demasiado densos, demasiado íntimos a partir de muitas das obras dele. Tudo por causa de todo aquele espaço que Saramago sempre deixa ao leitor. Aqui deixo o que escrevi, agora faz tu o resto. E, no caso de Saramago, o resto não se resume à leitura. As palavras são-nos entregues e dá – dá-me! – tanto trabalho (e prazer) arrancá-las à pedra que passam a ser minhas – mais que dele.
Dito isto, avanço para o que me parece óbvio. As últimas declarações de Saramago são um verdadeiro tiro no pé. No caso, Saramago está a fazer à Bíblia – a um livro – exactamente aquilo que muitos lutaram para que fosse feito (felizmente, não conseguiram) aos livros dele.
Ironicamente, esses radicais de ofício que - ironicamente outra vez - acabaram por contribuir positivamente para a construção de uma carreira ímpar, talvez vejam hoje os leitores de (educados na tolerância por) Saramago correr às livrarias em busca de uma boa edição da Bíblia. No que me diz respeito, já tenho a Bíblia (mais do que um formato e mais do que uma “versão”) e só lamento pegar-lhe poucas vezes.
Resta-me, pois, ignorar o que Saramago agora disse e ir comprar Caim. Se levasse a sério tão tontas declarações, teria, coerentemente, que não ler Caim. Faz o que eu digo mas não faças o que eu faço. Saramago fê-lo a preceito ao dizer o que disse da Bíblia e eu sou obrigado a imitá-lo para o poder ler.
Depois de o ler, vou arrumá-lo junto a uma Bíblia - pode ser que se ensinem tolerância.
(imagem sacada ao irmão lúcia, a quem eu um dia expulsei dum blogue...)
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