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"A Troika e os 40 Ladrões", de Santiago Camacho

por Rogério Costa Pereira, em 20.06.12

A entrevista ao autor é de Fevereiro, o conselho (dedicado a quem acha que o actual fartar-vilanagem é o caminho) é de hoje. Leiam o livro! "Não há dinheiro", diz o outro. O autor, à semelhança de Marc Roche, que na introdução à edição portuguesa de "O Banco" dedica umas palavrinhas ao António "há que baixar os salários" Borges, revela onde pára o dinheiro e quem realmente viveu -- e vive -- acima das possibilidades. Não das suas, mas das dos outros. Tic-tac-tic-tac...

«O jornalista e investigador espanhol Santiago Camacho, autor do livro "A Troika e os 40 Ladrões", sobre a crise económica, disse à Lusa que Portugal foi o país europeu "mais castigado" pelas empresas de notação financeira. 
"O processo português foi terrível porque sempre que o país queria levantar-se vinha a Fitch, a Moodys e a Standard & Poor e todas estas empresas de notação atacavam ao mesmo tempo, cumprindo as suas próprias profecias. Baixavam os ratings e a situação afundava-se ainda mais, tal como elas previam" disse à Lusa Santiago Camacho a propósito do lançamento em Portugal do livro sobre a crise económica. 
"Sem chegar ao extremo estrutural grego, Portugal foi provavelmente o país que mais sofreu o castigo dos mercados" diz Camacho que dedica um longo capítulo (Portugal, a auto-estrada para o inferno) à situação portuguesa.
Para o autor, os "40 ladrões" são os banqueiros, os investidores e as agências de rating, "empresas que estão a tirar dinheiro aos contribuintes" através de paraísos fiscais.
"Os Estados como Portugal, Grécia, Itália e Espanha têm dívidas, mas uma boa parte dos défices públicos ficaria resolvido se não fossem as enormes fraudes cometidas por empresas que estão a pagar muito menos impostos do que aquilo que deveriam de facto pagar porque utilizam mecanismos de engenharia financeira através da banca offshore", diz Santiago Camacho que escreve também sobre as organizações internacionais responsáveis pela crise. 

Fonte: Jornal de Negócios

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publicado às 00:15

A notação podia e devia ser dada por instituições financeiras reputadas e independentes como o FMI, o BCE ou a Reserva Federal Americana, mas a verdade é que países e empresas estão nas mãos das três grandes. Todas de raiz anglo-saxónica!

O processo já arrancou mas para que se alcance uma real concorrência é preciso que os investidores acreditem na nova agência e que grandes empresas, bancos e países adiram ao projecto. Tem um ás de trunfo:

Trata-se de um estudo da Roland Berger que mostra que a Moody's e a McGraw-Hill – a casa mãe da S&P – são propriedade das mesmas sociedades de investimento norte-americanas: Vanguard, Capital World, State Street, BlackRock, para citar apenas algumas. Estas ligações levantam a questão do conflito de interesse, porque as agências também classificam as empresas que são suas acionistas. Depois, o estudo sublinha a existência de “estruturas de caráter monopolista” no mercado de notação de crédito, dada a interpenetração do setor e das quotas de mercado dos seus atores.

Nada vai ficar como estava, apesar das três grandes terem margens de lucro de 40% e terem na mão os mercados financeiros com quem há muito trabalham.

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publicado às 21:00


You bastards

por Rogério Costa Pereira, em 06.07.11
«Choque. Escândalo. Lixo. Resignação? Não. Mas sim, lixo, somos lixo. Os mercados são um pagode, e nós as escamas dos seus despojos.
Isto não é uma reacção emotiva. Nem um dichote à humilhação. São os factos. Os argumentos. A Moody's não tem razão. A Moody's não tem o direito. A Moody's está-se nas tintas. A Moody's pôs-nos a render. E a Europa rendeu-se. 
As causas da descida do "rating" de Portugal não fazem sentido. Factualmente. Houve um erro de cálculo gigantesco de Sócrates e Passos Coelho quando atiraram o Governo ao chão sem cuidar de uma solução à irlandesa. Aqui escrevi nesse dia que esta era "a crise política mais estúpida de sempre". Foi. Levámos uma caterva de cortes de "rating" que nos puseram à beira do lixo. Mas depois tudo mudou. Mudou o Governo, veio uma maioria estável, um empréstimo de 78 mil milhões, um plano da troika, um Governo comprometido, um primeiro-ministro obcecado em cumprir. Custe o que custar. Doa o que doer. Nem uma semana nos deram: somos lixo. 
As causas do corte do "rating" não fazem sentido: a dificuldade de reduzir o défice, a necessidade de mais dinheiro e a dificuldade de regressar aos mercados em 2013 estão a ser atacadas pelo Governo. Pelo País. Este corte de "rating" não diagnostica, precipita essas condenações. Portugal até está fora dos mercados, merecia tempo para descolar da Grécia. Seis meses, um ano. 
Só que não é uma questão de tempo, é uma questão de lucro, é uma guerra de poder. Esta decisão tem consequências graves e imediatas. Não apenas porque o Estado fica mais longe de regressar aos mercados. Mas porque muitos investidores venderão muitos activos portugueses. Porque é preciso reforçar colaterais das nossas dívidas. Porque hoje todos os nossos activos se desvalorizam. As nossas empresas, bancos, tudo hoje vale menos que ontem. Numa altura de privatizações. De testes de "stress". Já dei para o peditório da ingenuidade: não há coincidências. Hoje milhares de investidores que andaram a "shortar" acções e dívidas portuguesas estão ricos. Comprar as EDP e REN será mais barato. Não estamos em saldos, estamos a ser saldados. Salteados. 
Portugal foi um indómito louco, atirou-se para um precipício, agarrou-se à corda que lhe atiraram. Está a trepar com todas as forças, lúcido e humilde como só alguém que se arruína fica lúcido e humilde. Veio a Moody's, cuspiu para o chão e disse: subir a corda é difícil - e portanto cortou a corda. 
Tudo isto não é por causa de Portugal, é por causa da guerra entre os EUA e a Europa, é por causa dos lucros dos accionistas privados e nunca escrutinados das "rating". Há duas semanas, um monumental artigo da jornalista Cristina Ferreira no "Público" descreveu a corrosão. Outra jornalista, Myret Zaki, escreveu o notável livro "La fin du Dollar" que documenta o "sistema" de que se alimentam estas agências e da guerra dólar/euro que subjaz. 
Ontem, Angela Merkel criticou o poderio das agências e prometeu-lhes guerra. Não foi preciso 24 horas para a resposta: o aviso da Standard & Poors de que a renovação das dívidas à Grécia será considerado "default" selectivo; a descida de "rating" da Moody's para Portugal. 
Estamos a assistir a um embuste vitorioso e a União Europeia não é uma potência, é uma impotência. Quatro anos depois da crise que estas agências validaram, a Europa foi incapaz de produzir uma recomendação, uma ameaça, uma validação aos conflitos de interesse, uma agência de "rating" europeia. Que fez a China? Criou uma agência. Que diz essa agência? Que a dívida portuguesa é A-. Que a dívida americana já não é AAA. Os chineses têm poder e coragem, a Europa deixou-se pendurar na Loja dos Trezentos... dos americanos. 
Anda a "troika" preocupada com a falta de concorrência em Portugal... E a concorrência ente as agências de "rating"? Há dois dias, Stuart Holland, que assinou o texto apoiado por Mário Soares e Jorge Sampaio por um "New Deal" europeu, disse a este jornal: é preciso ter os governos a governar em vez das agências de 'rating' a mandar. 
Não queremos pena, queremos justiça. A Europa fica-se, não nos fiquemos nós. O Banco Central Europeu tem de se rebelar contra esta ditadura. Em Outubro, o relatório do Financial Stability Board, que era liderado por Mário Draghi, aconselhava os bancos e os bancos centrais a construírem modelos próprios para avaliarem a eligilibidade dos instrumentos financeiros por estes aceites e pôr termo ao automatismos das avaliações das agências de rating. Draghi vai ser o próximo presidente do BCE. Não precisa de acabar com as agências de "rating", precisa de levantar-se destas gatas. 
Este corte de "rating" é grave. É uma decisão gratuita que nos sai muito cara. Portugal é o lixo da Europa. As agências de "rating" são os cangalheiros, ricos e eufóricos, de um sistema ridiculamente inexpugnável. As agências garantem que nada têm contra Portugal. Como dizia alguém, "isto não é pessoal, apenas negócios". Esse alguém era um padrinho da máfia.»

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publicado às 12:14


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