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Tem-se falado muito do Acordo Ortográfico e da necessidade de a língua evoluir no sentido da simplificação, eliminando letras desnecessárias e acompanhando a forma como as pessoas realmente falam.
Sempre combati o dito Acordo mas, pensando bem, até começo a pensar que este peca por defeito.
Acho que toda a escrita deveria ser repensada, tornando-a mais moderna, mais simples, mais fácil de aprender pelos estrangeiros.
Comecemos pelas consoantes mudas: deviam ser todas eliminadas.
É um fato que não se pronunciam.
Se não se pronunciam, porque ão-de escrever-se? O que estão lá a fazer? Aliás, o qe estão lá a fazer?
Defendo qe todas as letras qe não se pronunciam devem ser, pura e simplesmente, eliminadas da escrita já qe não existem na oralidade.
Outra complicação decorre da leitura igual qe se faz de letras diferentes e das leituras diferentes qe pode ter a mesma letra.
Porqe é qe "assunção" se escreve com "ç" e "ascensão" se escreve com "s"?
Seria muito mais fácil para as nossas crianças atribuír um som único a cada letra até porqe, quando aprendem o alfabeto, lhes atribuem um único nome.
Além disso, os teclados portugueses deixariam de ser diferentes se eliminássemos liminarmente o "ç".
Por isso, proponho qe o próximo acordo ortográfico elimine o "ç" e o substitua por um simples "s" o qual passaria a ter um único som.
Como consequência, também os "ss" deixariam de ser nesesários já qe um "s" se pasará a ler sempre e apenas "s".
Esta é uma enorme simplificasão com amplas consequências económicas, designadamente ao nível da redusão do número de carateres a uzar.
Claro, "uzar", é isso mesmo, se o "s" pasar a ter sempre o som de "s" o som "z" pasará a ser sempre reprezentado por um "z".
Simples não é?
Se o som é "s", escreve-se sempre com s.
Se o som é "z" escreve-se sempre com "z".
Quanto ao "c" (que se diz "cê" mas qe, na maior parte dos casos, tem valor de "q") pode, com vantagem, ser substituído pelo "q".
Sou patriota e defendo a língua portugueza, não qonqordo qom a introdusão de letras estrangeiras.
Nada de "k".
Não pensem qe me esqesi do som "ch".
O som "ch" pasa a ser reprezentado pela letra "x".
Alguém dix "csix" para dezinar o "x"?
Ninguém, pois não?
O Acordo Ortográfico é uma barafunda muito bem organizada. Há acordo mas segundo o Graça Moura não surte efeito enquanto o processo não tiver sido reconhecido por todos os países envolvidos.
Passos Coelho, na Assembleia da República disse que o acordo "será cumprido" fórmula suficientemente vaga para lá caber tudo.
O Secretário de Estado da Educação diz que cada qual faz como quer e que em 2012 não é obrigatório. Os professores de Português já não sabem o que fazer depois de terem dito aos alunos que se escreveria segundo o acordo.
E, estes, estarão de acordo?
"Contactado pela agência Lusa sobre estas declarações, o gabinete do SEC indicou na quarta-feira que Francisco José Viegas "tem tido um papel pedagógico nas suas declarações sobre o AO, no sentido de explicar e clarificar quais as possibilidades em aberto para a ortografia a adoptar em Portugal, no período que antecede a entrada em vigor do AO em 2015, e seguindo a redacção do mesmo acordo".
Declarações que motivaram estranheza por parte do linguista brasileiro Godofredo de Oliveira Neto, que participou na Comissão responsável pelas negociações do Novo Acordo Ortográfico.
Em declarações à Lusa, Oliveira Neto afirmou: "É estranho. O período de adaptação vai até Dezembro deste ano e Portugal já passou por todos os trâmites jurídicos e políticos. Uma coisa é a concordância, porque há discordâncias também no Brasil, mas outra coisa seria querer rever as regras".
O professor catedrático português, Carlos Reis, apoiante do Acordo Ortográfico (AO), afirmou que não se opõe a "ajustamentos pontuais" no documento, mas sublinhou que "um Estado sério e responsável deve cumprir aquilo a que se comprometeu".
«Professor assistente de Direito, Ivo Miguel Barroso apresentou queixa na Provedoria por considerar que o novo Português fere a Constituição da República, e afirma que a língua não se muda por decreto.
Defende Ivo Miguel Barroso que a actual Constituição da República Portuguesa, aprovada em 1976, está escrita em Português anterior a 1990 - data do Acordo Ortográfico - logo, do ponto de vista técnico, uma actualização ortográfica não pode ser feita, sem que haja uma revisão constitucional, segundo as normas do Acordo Ortográfico.
Todavia, ainda assim, uma tal revisão não poderia ter efeito retroactivo, convalidando os diplomas anteriores à data dessa revisão, que continuariam a ser inconstitucionais, afirmou à Lusa.
Na opinião de Ivo Miguel Barroso, que contesta o Acordo Ortográfico, essa hipotética revisão constitucional não se afigura possível, pois atentaria contra limites materiais de revisão, nomeadamente o princípio da identidade nacional e cultural e o núcleo essencial de vários direitos, liberdade e garantias.
Segundo Ivo Miguel Barroso é necessária uma revisão constitucional para que seja revista a ortografia e logo se aceite o Acordo Ortográfico. A outra possibilidade é a republicação da Constituição segundo a nova grafia, aprovada que seja pela Assembleia da República uma lei de revisão.
Assinalo, porém, que a Constituição já foi aprovada. As alterações, em sede de revisão, são feitas artigo a artigo. Por isso, só alterando todos os artigos que estão em desconformidade com o Acordo Ortográfico, adverte o docente.
«Adivinhem o que se quer dizer com "não me pelo pelo pelo de quem para para desistir"? Na rejeitada e antiga grafia escreve-se: "não me pélo pelo pêlo de quem pára para desistir"» [O acordo (h)ortográfico, Bagão Félix]
Tipicamente português é isto: que a porcaria do chamado Acordo Ortográfico nem tenha suscitado grande entusiasmo nem grande rejeição e porventura seja essa morna coisa lusa o balanço possível no final do 1.º período do ano lectivo em que se introduziu nas escolas portuguesas a Merdortografia. Sou Poeta e sou professor de Língua Portuguesa e conheço suficientemente tudo o que diz respeito a este ingénuo AO, com todos os recursos disponíveis a fim de sedimentá-lo, para lhe conhecer 70% de impraticabilidade e 90% de inconveniência, dada a sua lógica disruptiva e destrutiva de uma ortografia que nos vertebre o carácter nacional e nos não descaracterize dentro da nossa tradição europeia apenas para menor glória nossa e nossa maior submissão política a uma lógica de força brasileira e não de História. Se ainda há dúvidas sobre certas regras é porque são regras do laisser écrire laisser passer, isto é, regras que desregulam o irregular, abrem caminho ao absurdo elevado à quinta casa. A reflexão de Fernando Venâncio, além de historiar esta lusofónica quimera quixotesca, explica como e porquê o AO não nos serve de todo: «Mais discutível é a supressão do acento em para e pára, que soam diferentemente no português europeu e deveriam continuar desambiguados. Como ler doravante «João, para o carro!» sem informação extratextual? Bizarro é, também, o uso facultativo do acento em certas formas verbais, tornando indecifrável, em Portugal, um bilhete que diz «Pagamos hoje» ou «Não demos nada». Simplesmente, a questão das «consoantes mudas» tem bem maiores, e mais onerosas, implicações. Um exemplo disso, em versão simplificada: só a supressão do «c» em finais de tipo-acção (o cálculo é do investigador Francisco Miguel Valada, num artigo em Diacrítica) produz um aumento exponencial de «excepções», num sistema de regras que, até hoje, quase não as conhecia. Para um Acordo que visava «simplificar», é obra. Um eventual leitor brasileiro há-de perguntar-se que há, nisto, de tão espantoso. Eu explico. No português europeu, duas palavras como nação e fracção soam diferentemente, pelas consoantes iniciais, decerto, mas também porque o primeiro «a» de nação soa fechado (como o «a» carioca no final de «casa») e o de fracção soa aberto. Ora bem, essa abertura é indicada por aquele «c» mudo.»
Dizem que é «mais conveniente». Mais conveniente ainda era falarmos todos inglês, que dá muito mais jeito. Ou esperanto. Dizem que a informática não tem acentos. É mentira. Basta um esforçozinho de nada, como já provaram os Franceses e já vão provando alguns programadores portugueses. Dizem que é mais racional. Mas não é racional andar a brincar com coisas sérias. A nossa língua e a nossa ortografia são das poucas coisas sérias que Portugal ainda tem. É irracional querer misturar política da língua com a língua da política.
O que vale é que, neste momento, muitos portugueses – escritores, jornalistas e outros utentes da nossa língua – estão a organizar-se para combater a inestética monstruosidade. Que graça tinha se se fizesse um Acordo Ortográfico e nenhum português, brasileiro ou cabo-verdiano o obedecesse. Isso sim, seria um acordo inteligente. Concordar em discordar é a verdadeira prova de civilização”.
Miguel Esteves Cardoso, “O Acordo Tortográfico”, in “Explicações de Português” (Assírio & Alvim, 2ª edição, 2001) [daqui]
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