Deve ser explicado claramente aos Alemães que a guerra cruel conduzida pela Alemanha e a resistência fanática dos nazis destruíram a economia alemã e tornaram inevitáveis o caos e o sofrimento e que os Alemães não podem evitar a responsabilidade pelo que lhes aconteceu. A Alemanha não será ocupada com um propósito de libertação, mas como uma nação inimiga derrotada — Henry Morgenthau Jr.
Em
A casa dos mortos, o ensaio que fecha aquela obra monumental que é o
Pós-Guerra, Tony Judt conta-nos como o reconhecimento do Holocausto — e de outros holocaustos menores — se tornou a condição
sine qua non para que os povos e os países possam ser aceites como pertencentes à Europa. E sumariza aquela conclusão surpreendente, mas já repetidamente ilustrada ao longo da obra, de como aquele reconhecimento é recente. A França recusou-se a falar em "crimes contra a humanidade" até finais dos 1980's; os governos da antiga europa soviética fizeram-no apenas já este século; Primo Levi foi traduzido para francês apenas após a sua morte.
Foram os alemães os primeiros a fazê-lo. Em finais dos anos 70: "Até 1968 tinham-se registado apenas 471 visitas de estudo a Dachau [é um subúrbio de Munique]; no final dos anos 70, este número tinha excedido, em muito, as cinco mil por ano.",
op. cit.;
"Holocausto" foi vista por cerca de 20 milhões de alemães. As políticas de "desnazificação" dos anos imediatamente a seguir à guerra foram um fracasso absoluto. Uma conclusão irrecusável e surpreendente, pelos menos para mim que sempre estive convencido do contrário. Porque a este respeito, a pergunta essencial é "Para os alemães, quem foi Joseph Stalin?" e a resposta:
o santo protector que os livrou de Henry Morgenthau. A directiva JCS 1067 (Joint Chiefs of Staff) regulou o governo da zona de ocupação americana até 1947, altura em que o
Plano Marshall começou a ser elaborado. Os "Morgenthau Boys", dominantes no governo da zona americana, demitiram-se em massa, quando a directiva JCS 1779 entrou em vigor. Contudo, a vasta maioria dos alemães não recorda ter sido punida pelo seu apoio ao nazismo. Eles acham que foram remunerados por terem estado na linha da frente da Guerra Fria. Têm razão.
Mas vamos fechar este assunto. Tony Judt dá-nos mais uma peça de informação essencial: o Plano Marshall foram cerca de 15 000 milhões de dólares (da época); o montante extorquido pelos soviéticos dos países de leste (incluindo a Checoslováquia!), a título de compensações de guerra, foi muito aproximadamente o mesmo. Se algo mais necessitar ser dito a este respeito, não só não sei como o fazer, como não estou interessado em fazê-lo. Recordemos apenas as décadas de trampa de Éluard a Sartre, e a respectiva contraposição vertical: Albert Camus!
Aquilo que hoje nos leva de volta à casa dos mortos é diferente e é algo que os povos da Europa decidiram que não querem discutir e é algo que nós, portugueses, estamos a conhecer pela primeira vez. Estou a falar da colaboração. Não necessita ocupantes, apenas colaboracionistas. Gaspares decididos a "irem mais além" do que aquilo que lhes é pedido. Aquilo que os colaboradores do presente estão a fazer é o mesmo que os seus antepassados
de toda a Europa fizeram. Solícitos, dedicados, sempre tentando antecipar aquilo que os seus "protectores" pretendem.
Temos pouco de Europeus. Para dizer a verdade, nem sequer temos a certeza de querermos ser Europeus. Não aprendemos nada com os erros e os problemas da Europa. Hoje, no momento em que somos a cobaia, a antecipação do continente que está para vir, ninguém nos ouve e pelo pior dos motivos: não temos nada para dizer. Pelo menos, nada que os outros Europeus não queiram esquecer.
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