Diz o provérbio que "burro velho não aprende línguas". Ouvindo a entrevista do primeiro-ministro, chego à conclusão de que burro novo também não. Nem línguas, nem coisa nenhuma.
E se "errar é humano e persistir no erro é burrice", é evidente que Passos Coelho é burro, pois demonstrou, ex abundante, durante a entrevista que, apesar de a política por ele seguida, durante o ano e meio que leva de governação, ter redundado num falhanço em toda a linha, em vez de inverter o rumo, persiste nas mesmas políticas que estão destruir o país e a condenar a sua gente à pobreza e à miséria.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Como escreve aqui o Henrique Monteiro com quem, só uma vez por outra, consigo estar de acordo, como é desta vez o caso, "o Orçamento para 2013 vai morrer. Alguns dos seus artigos serão declarados inconstitucionais, pois só com grandes artifícios jurídicos, o mesmo Tribunal Constitucional que não permitiu a iniquidade entre funcionários públicos e privados permitirá iniquidade maior (e mais injusta) entre reformados e trabalhadores ativos".
Por essa razão, mas não só, é certo e sabido que a Lei do Orçamento, quer o governo queira ou não queira, vai passar pelo crivo do Tribunal Constitucional. Se não for a instâncias de Cavaco, sê-lo-á, a requerimento dum número suficiente de deputados, incluindo alguns dos que sentam na bancada do PS, queira ou não queira, o Seguro.
É óbvio que, quanto mais tarde o Tribunal Constitucional se pronunciar, maiores serão os danos, caso o Tribunal Constitucional conclua pela existência de normas inconstitucionais, como, a meu ver, é o mais provável, se é que não é certo.
Sendo assim, mandaria o bom senso que o "enterro" tivesse lugar o quanto antes, possibilidade que está apenas na mão de Cavaco. É ele, pois, quem tem a palavra. Terá ele também o bom senso?
Autoria e outros dados (tags, etc)
Depois de se ter pronunciado e votado contra o Orçamento de Estado (OE) hoje aprovado na Assembleia da República pela maioria (paralamentar) de direita, António José Seguro que, de seguro, pelos vistos só tem o nome, esquivou-se a pronunciar-se sobre uma possível iniciativa de deputados do PS tendente a requerer ao Tribunal Constitucional a apreciação da constitucionalidade do OE para 2013.
Em vez de responder directamente à questão, desviou a conversa, limitando-se a dizer que "É no terreno político que continuarei a lutar contra este orçamento".
António José Seguro tem obrigação de saber que a luta contra este Orçamento, "no terreno político", terminou com a provação do OE na Assembleia da República pela maioria de direita. Resta-lhe, se quiser continuar a luta, o recurso ao Tribunal Constitucional.
Se recusar a única forma de luta de que, nesta altura, pode dispor, é justo dizer que, tal como para a direita que desgoverna o país, também para António José Seguro, a Constituição da República não passa de papel de embrulho.
E a ser assim, lamento dizê-lo, mas sou forçado a dar razão a quem tem afirmado que Seguro, não é tanto o líder de que o maior partido da oposição precisa, porque é, antes de mais, o seguro de vida deste Governo.
Quem tiver olhos, que veja e quem tiver ouvidos, que ouça!
(citação e imagem daqui)
Autoria e outros dados (tags, etc)
Com um primeiro-ministro a afirmar que não conhece nenhum caso em que o devedor tenha saído a ganhar duma renegociação com os seus credores (afirmação que é contrariada, todos os dias, por centenas ou milhares de renegociações levadas a cabo, só em Portugal) e com
um membro do actual governo a garantir que os juros da dívida pública são baixos, bem se pode dizer que os detentores de dívida pública portuguesa têm neste governo um bom defensor dos seus interesses.
De facto, Portugal, com este governo, é o que se pode chamar um devedor excelentíssimo. Tão excelente que nem dá para os credores acreditarem. A prova está no facto de que, no mercado secundário, os juros da dívida pública se mantêm a níveis altos
e, hoje, por sinal, até estão a subir.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Cavaco confessou que não viu as imagens dos desacatos e da carga policial ocorridos, ontem, frente à Assembleia da República e
Passos Coelho não sei se as chegou a ver. Facto é que nem um, nem o outro se dispensaram de fazer comentários sobre os acontecimentos, elogiando, sem mais, a actuação policial.
No caso de Cavaco Silva é simplesmente espantoso que alguém que não viu o que se passou possa, quando questionado sobre se não tinha havido excessos por parte das forças policiais, retorquir que "afirmações desse tipo só podem ser um insulto à polícia". Espantoso e preocupante, para não ir mais longe.
Em qualquer caso, pode em relação quer a um, quer ao outro, aplicar-se o que
escreve Vítor Belanciano num artigo de opinião com o título "Eles não aprendem nada", artigo que é, ao mesmo tempo um testemunho presencial dos factos e cuja leitura se recomenda, sobretudo a Cavaco Silva e a Passos Coelho. Isto, claro, partindo do pressuposto de que, embora não tenham aprendido nada, até agora, ainda queiram aprender para tirarem as devidas conclusões. Não sei é se, tal como conclui Vítor Belanciano, não é já tarde de mais.
Esperemos que não.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Perante a situação dramática em que o país já vive; o desastre que o Orçamento do Estado para 2013 anuncia, confirmado por pareceres de todas as autoridades independentes com competência na matéria (Conselho Económico Social - CES - e Conselho das Finanças Públicas - CFP); a conduta errática do actual (des)governo; o vazio que mora em Belém; o nojo causado por "discursos" como o de
Isabel Jonet;
estou a ficar sem palavras.
Hoje, sobra-me uma: DESESPERANÇA.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Embora tardiamente, Passos Coelho concluiu, finalmente que chegou ao fim do caminho que tem vindo a trilhar. Só uma tal conclusão explica que tenha vindo agora a falar em "refundação", conceito que só pode ser visto como a última tábua de salvação a que um náufrago, como ele, pode lançar mão para não se afogar de vez. A "refundação" mais não é, pois, do que uma proposta de revisão da Constituição a realizar sob os auspícios da troika. Só que uma tal tarefa não a conseguirá ele levar a cabo sem a cooperação do PS, pois contando embora com a maioria dos deputados no hemiciclo de S. Bento, não dispõe da maioria qualificada de dois terços.
O PS já manifestou, por várias vezes, a sua indisponibilidade para colaborar nessa manobra e não seria de esperar outra coisa. Além de lhe cumprir salvaguardar o estado e a coesão social, até aos limites do possível, sob pena de se desmentir enquanto partido socialista, contemporizar com uma tal iniciativa seria o mesmo que aceitar que "Roma" pode pagar a "traição dos idos de Março", uma segunda vez.: a primeira com a vitória eleitoral em Junho de 2011 e a segunda com uma revisão da Constituição oferecida de bandeja.
Diga-se, com toda a clareza, que um tal cenário (o da colaboração do PS numa revisão constitucional, nestas circunstâncias) nem sequer me parece possível, a menos que o PS esteja disposto a cometer suicídio.
Não significa isto que Passos Coelho, chegado ao fim do trilho, não tenha outros caminhos e um deles até está nas suas mãos. Coelho pode, de facto, provocar a realização de novas eleições, demitindo-se. Quem sabe se, em novas eleições legislativas, não consegue os almejados dois terços para conseguir destruir a Constituição que tantos engulhos lhe tem causado desde a primeira hora.
Tem, aliás, boas hipóteses de alcançar o seu objectivo. Gente distraída é o que, neste país, não falta e com dinheiro à fartura e cobertura na comunicação social também pode contar. O Fernando Ulrich do BPI e o Nuno Amado do BCP, pelo menos, estão, pelo que tenho lido, dispostos a abrir os cordões à bolsa e dinheiro do BES estou em crer que também não faltará. E quanto à comunicação social sabe-se que está, na generalidade, do seu lado e há sempre um Mário Crespo, um Camilo Lourenço, um Henrique Monteiro, um Zé Manel e mais uns quantos "fanáticos", incluindo do sexo feminino (Maria João Avilez e Graça Franco, por exemplo) dispostos a dar uma ajudinha.
Mesmo assim, admite-se que o resultado não são favas contadas, pois os eleitores, por vezes, conseguem não se deixar cair na esparrela, por muito bem que esta tenha sido montada.
Mas nem um eventual insucesso deve preocupar Passos Coelho, pois mesmo derrotado tem emprego assegurado numa qualquer das empresas que já privatizou ou tenciona privatizar. Deixo aqui, desde já, algumas sugestões que Passos pode aproveitar. Por exemplo: electricista na EDP, ou na REN ou empregado de cabina na TAP. Ainda ponderei sugerir o lugar de piloto na TAP, ou o de gestor nalguma das empresas privatizadas, mas acho que tais cargos estão fora de questão, pois não se entregam cargos de chefia ou de gestão a quem já deu provas, enquanto primeiro-ministro, que não tem competência, nem perfil para o desempenho de tais cargos. Duvido mesmo que, perante a inábil actuação, o "padrinho" Ângelo Correia o aceite de volta.
Mesmo na pior das hipóteses, não há razão para Passos Coelho desanimar. Há gente neste país, bem mais qualificada do que ele, que não encontra emprego, porque, graças à sua política de empobrecimento, Portugal já conta com mais de um milhão de pessoas desempregadas. Como último recurso, seguindo o seu próprio conselho, pode sempre emigrar. E cá estarei, numa tal eventualidade, a desejar-lhe boa viagem.
(imagem daqui)
Autoria e outros dados (tags, etc)
Fernando Ulrich, presidente do BPI, que, atendendo às suas frequentes e disparatadas declarações, mais parece um banqueiro enxertado num fala-barato, veio mostrar-se preocupado com a possibilidade de o Tribunal Constitucional vir a pronunciar-se sobre o Orçamento de Estado para 2013, à semelhança do que aconteceu relativamente ao Orçamento deste ano, alertando para o perigo de se estar a caminhar para uma "ditadura do Tribunal Constitucional".
Diga-se que o fala-barato mais não faz do que repetir, ainda que por outras palavras, as afirmações do deputado do PSD, Miguel Frasquilho, que, apesar de ter outras responsabilidades políticas, não teve pejo de considerar que o “enorme aumento de impostos” previsto para 2013 é a consequência da decisão do Tribunal Constitucional de “chumbar” os cortes dos subsídios a funcionários públicos e pensionistas, decisão que do seu ponto de vista, “lesou os interesses de Portugal”.
Trata-se num caso e noutro de afirmações irresponsáveis, porque não há qualquer risco nesse sentido e, no caso do deputado Frasquilho, as afirmações são, além do mais, falsas, tendo em conta que o acórdão do Tribunal Constitucional limitou os efeitos da sua decisão para o futuro, permitindo ao governo reter, durante o corrente exercício, os subsídios de férias e de Natal subtraídos a funcionários públicos, pensionistas e reformados.
Em boa verdade, o único risco que Portugal corre, nas presentes circunstâncias, é o da subversão do Estado de direito sob a égide do actual executivo, com a conivência do presidente da República.
Sabe-se, no entanto, aonde é que eles querem chegar. Contando que o presidente da República, o tal que jurou cumprir e fazer cumprir a Constituição, continue, à semelhança do que fez no passado, a lavar as mãos como Pilatos, face às mais que prováveis violações da lei constitucional de que enferma o Orçamento do Estado para 2013, o que eles querem, com estes pronunciamentos, é intimidar e neutralizar o único órgão de soberania que ainda pode impedir a direita de impor no país a lei da selva. É este, muito provavelmente, o objectivo desta direita, vista ela, ou não, o disfarce de social-democrata.
Os "leões", pelos vistos, já andam à solta. Se conseguirem neutralizar o Tribunal Constitucional, não sei até onde irá a carnificina.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Quando se lê que o vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, Miguel Frasquilho, declarou hoje, na Assembleia da República que o seu partido vai votar favoravelmente o Orçamento do Estado para o próximo ano que é, nem mais nem menos, o que consagra “o maior aumento de impostos de que há memória”, “porque é uma questão de interesse nacional”, não sobra dúvida de que, para Frasquilho e para o PSD, o conceito de "interesse nacional" é muito versátil.
Tanto serve para recusar o relativamente modesto conjunto de medidas de austeridade do PEC IV, em Março de 2011, como, pelos vistos, justifica a aprovação do Orçamento portador do "maior aumento de impostos de que há memória".
Fazendo uso do conceito de "interesse nacional" com tal amplitude, que serve para justificar tudo e o seu contrário, quem é que ainda se afoita a levar a sério as palavras de tal gente?
(imagem e citações, daqui)
Autoria e outros dados (tags, etc)
O ministro da Economia, do Emprego e sei lá do que mais, Álvaro do Santos Pereira, na sua última intervenção na Assembleia da República, a que já me referi noutro local, afirmou, servindo-se do seu habitual estilo comicieiro, para não dizer de carroceiro, que "o Orçamento do Estado mais difícil dos últimos anos" "é a factura da festa da governação socialista", dando, com tal afirmação, dupla prova de que não é pessoa séria, pelo menos, politicamente, uma vez que é economista e tem, por isso, obrigação de saber do que fala. N
ão pode, por isso mesmo, ser levado a sério. Na verdade, os factos mostram à evidência que o agravamento das medidas de austeridade contidas no Orçamento apresentado pelo governo para o próximo ano, são, em primeira linha, resultado da acção deste governo que, não obstante o generalizado aumento dos impostos e do preço dos mais variados serviços e o corte de dois subsídios aos funcionários e reformado e pensionistas, foi incapaz de consolidar as contas públicas; de reduzir a dívida pública; e de conter o défice nos limites acordados com a troika.
Mas mais grave ainda é a falsificação a que procede em relação à história do aumento da dívida pública que ele atribui à festa socialista. É que, como o demonstra, com gráfico e números, este artigo de Manuel Caldeira Cabral, se "festa" houve, ela é, antes de qualquer outra coisa, uma "festa" cor de laranja.
Cito:
"Nos últimos 30 anos, a despesa pública aumentou de 29% para 45% do PIB. Um aumento do peso do Estado na economia de 16,3 pontos percentuais, dos quais 12,1 p.p. (75%) aconteceram em governos liderados pelo PSD e apenas 4,2 em governos PS."
Volto a citar:
"Observa-se que os três períodos com maiores contributos para o aumento do peso da despesa pública no PIB foram os da Aliança Democrática (+4,4), os governos de Cavaco Silva (+4,3) e os governos PSD-CDS (+3,4).
Em conjunto, estes três períodos governativos deram um contributo acumulado de crescimento de 12,1 pontos percentuais do total de 16,3 p.p. de aumento do peso da despesa pública verificado nas últimas três décadas. O contributo líquido dado pelos governos liderados pelo PS foi muito menor - apenas 4,2 pontos percentuais (2,2 +3,0 +0,8 -1,8 = 4,2), cerca de ¼ do total.
Façam-se as contas como se fizerem, o contributo dos governos PSD representou entre 74% e 76% do aumento total, um valor três vezes superior ao acumulado pelos governos PS."
E, para surpresa das surpresas, importa citar:
O governo de Sócrates destaca-se com uma descida do peso da despesa pública até 2008.
O gráfico, para confirmar:
O que ainda não percebi, culpa minha, por certo, é a razão por que, sempre que algum tonto vem com a história da "herança" recebida, não leva da parte do PS a devida e merecida resposta. Não digo que lhe enfiem aqueles números e o gráfico pela cabeça abaixo, mas, ao menos, que lhos plantem à frente dos olhos. E, já agora, que façam divulgar a verdade a toda a hora e em tudo o que é sitio. Doutra forma, as pessoas são levadas a crer que são verdadeiras as aldrabices ditas pelo "Álvaro" e por mais uns quantos tontos.
Será pedir muito?
Autoria e outros dados (tags, etc)
Quase toda a gente*, da direita e da esquerda, incluindo economistas proeminentes e até recentes ex-fanáticos deste governo garantem que o Orçamento para 2013 apresentado pelo governo de Passos, Gaspar & Portas não passa duma ilusão e que é inexequível. Se assim é, obviamente que tal significa que um governo que não é capaz de fazer previsões correctas, nem de executar o Orçamento por ele apresentado, em rigor, já não governa. Quando muito, vegeta, o que já não é propriamente uma novidade, pois, durante o exercício em curso, o governo também não foi capaz de executar o Orçamento, não conseguindo sequer que fossem atingidas as metas de redução do défice e de consolidação das contas públicas nele previstas (e revistas), motivo, aliás, do agravamento das medidas de austeridades consagradas no Orçamento para 2013.
Se a incapacidade de atingir os objectivos que se propõe é hoje tão evidente, não há, aparentemente, razão para que se mantenha em funções. É um governo que, para além de dilacerado pelas divisões no seio da coligação que pretensamente ainda o sustenta, já não existe e não conta. Muito simplesmente, limita-se a estar.
Enquanto está, constitui o mais grave obstáculo à resolução da crise que o país atravessa e se ainda se lhe pode atribuir alguma utilidade é a de servir de objecto de irrisão pública e de saco de pancadas.
Não me parece que tal utilidade justifique politicamente que Cavaco Silva o mantenha em funções.
Politicamente, seguramente, não, mas, se calhar, vistas as coisas do ponto de vista pessoal de Cavaco, o facto de o governo, enquanto está, também lhe poder servir de anteparo, justifique tudo e ainda mais alguma coisa.
(*Digo quase toda a gente, porque, pelos cálculos de Pedro Adão e Silva (no "Expresso" de ontem) ainda haverá umas sete pessoas que acreditam na bondade da estratégia deste governo. Pelas minhas contas ainda serão menos. Talvez umas duas: Gaspar e Passos. E mesmo assim tenho as minhas dúvidas: em relação a Gaspar, porque dizem que é "muito inteligente" e em relação a Passos, porque, não lhe sendo reconhecida publicamente tal qualidade, é suposto ter ouvidos, já que orelhas, pelo menos, tem.)
Autoria e outros dados (tags, etc)
Quando uma figura pública com as responsabilidades de Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados, se atreve a defender que não cabe aos tribunais pronunciarem-se sobre medidas de austeridade do Governo e designadamente sobre as constantes da proposta de Lei do Orçamento, dada a sua natureza política, é caso para perguntar se a Constituição levou súbito sumiço e, com ela, todas as normas nela insertas atinentes à competência dos tribunais, maxime do Tribunal Constitucional e, outrossim, se os tribunais ainda são órgãos de soberania. Curiosamente, o bastonário justifica a sua tese com base no princípio da separação de poderes. Curiosamente e, acrescento eu, contraditoriamente, porque, na leitura que ele faz de tal princípio, nem sequer tem sentido falar em separação de poderes, pois que o poder, se os actos do Governo não forem controlados pelos tribunais e designadamente, pelo Tribunal Constitucional, tenderia a ficar concentrado apenas e só no Executivo que, embora dela emane, acaba, na prática, por controlar a própria Assembleia da República, quando nela dispõe de apoio maioritário.
É, pois, também caso para perguntar: onde é que bastonário anda com a cabeça?
Autoria e outros dados (tags, etc)
Perante o estado de degradação a que chegou a coligação no poder e conhecidas que são as previsões independentes que anunciam que o Orçamento do Estado apresentado por este governo é inexequível e que vai conduzir a um desastre de enormes proporções, a confirmar-se a previsão do FMI, que aponta para uma possível queda da economia superior a 5%, é evidente que o Cavaco Silva já deveria ter tomado uma qualquer acção no sentido de pôr cobro a esta situação.
No mínimo dos mínimos, como "padrinho" deste governo, já deveria ter chamado os cônjuges desavindos para porem termo ao triste e degradante espectáculo que vêm exibindo na praça pública. O mais certo e o mais adequado à situação seria, no entanto, dissolver este Parlamento e convocar novas eleições. Por muito incerto que seja o resultado de uma tal opção, pior não seria do que o desastre para que este governo está a conduzir o país, pois o desastre é mais que certo, face a todas as previsões de entidades independentes e às opiniões quase unânimes dos especialistas sobre a inexequibilidade do Orçamento apresentado.
O facto, porém, é que, por enquanto, o "padrinho" não faz mais do que ressonar.
Minto: em abono da verdade deve dizer-se que, de vez em quando, durante os intervalos do ressonar, vai deixando um avisos no Facebook. Mas é tudo. Se calhar, Cavaco Silva acha que, como presidente da República, a mais não é obrigado. Só pode.
Autoria e outros dados (tags, etc)
“A minha educação foi extraordinariamente cara. Portugal investiu na minha educação de forma muito generosa durante algumas décadas. É minha obrigação estar disponível para retribuir essa dádiva que o país me deu."; "a [minha] participação no Governo tem por único propósito retribuir o enorme investimento que o país colocou na minha educação”.
Não é necessário possuir especial perspicácia para concluir que, nas entrelinhas das afirmações supra, o ministro Gaspar está a apresentar-se como uma verdadeira SUMIDADE. De facto, o enorme investimento feito pelo país na educação do ministro Gaspar, extraordinariamente cara, como insiste em afirmar, só tem justificação porque estamos perante uma personalidade com uma capacidade também ela extraordinária. A roçar o génio, admito eu, pelo que ponderei passar a tratar Sua Excelência, por Sua Sumidade, o ministro de Estado e das Finanças Vítor Gaspar.
Só não transformei essa intenção em resolução, porque o ministro Gaspar, ao declarar, simultaneamente, que se dispôs a participar no governo e a nele permanecer, apenas e só como forma de retribuir o investimento que o país colocou na sua educação, revelou um desprendimento, uma devoção à pátria e uma grandeza de alma tais que só estão ao alcance de quem já atingiu as raias da SANTIDADE.
Hesitei, pelas razões supra, no tratamento devido a Sua Excelência, entre Sua Sumidade e Sua Santidade, mas, ponderando, acho que devo optar, definitivamente pelo tratamento por Sua Santidade. Doravante, pois, o ministro Gaspar será tratado por Sua Santidade, o ministro de Estado e das Finanças, Vítor Gaspar.
(Imagem e citações daqui)
Autoria e outros dados (tags, etc)
O ministro Gaspar revelou hoje, em conferência de imprensa, as linhas mestras do Orçamento de Estado para 2013 e a primeira conclusão a tirar é que não se percebe para que serviram as últimas reuniões do tipo maratona do governo, pois a versão final apresentada não apresenta qualquer diferença relevante em relação ao chamado documento preliminar divulgado antes das referidas maratonas.
Daí que se possa tirar ainda uma dupla conclusão:
Primo: o governo demonstra que, para além de incompetente, não sabe às quantas anda;
Secundo: a proposta de Lei do Orçamento de Estado hoje apresentada pelo governo na Assembleia da República consegue um duplo prodígio: transforma, dum momento para o outro, centenas de milhares (serão milhões?) de portugueses da classe média em "ricos" e simultaneamente, leva uma boa parte dos novos "ricos" a engrossar a fila para a sopa dos pobres.
É obra!
(imagem daqui)
Autoria e outros dados (tags, etc)
"Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos." (Discurso de tomada de posse de Cavaco Silva, na Assembleia da República, em 9 de Março de 2011)
Já perdi o conto ao número de vezes em que, por acção do actual governo, os limites para os sacrifícios de que Cavaco falava nos idos de Março de 2011, foram ultrapassados. Constitucionalmente, Cavaco Silva tem a estrita obrigação de velar para que os sacrifícios impostos pelo governo se contenham dentro dos limites do suportável e se pautem por regras de justiça na repartição.
Todavia, não me dei conta de que, até agora, Cavaco Silva tenha tomado alguma iniciativa tendente a repor a justiça, ou a estabelecer limites à extorsão fiscal. Sendo assim, é caso para perguntar para que serve a Presidência da República, enquanto o cargo de presidente for ocupado por alguém com o perfil de Cavaco Silva?
Enquanto órgão de soberania, aparentemente, não serve para nada, mas não vou ao ponto de afirmar que é completamente inútil, porque serve, pelo menos, para sustentar uma numerosa clientela constituída pelo pessoal das suas Casas (Civil e Militar), funcionando, pois, como uma original e singular Instituição Pública de Solidariedade Social. Será o bastante para que não se advogue a sua imediata extinção? Creio que, pelo menos, é de ponderar a hipótese, num momento em que tanto se fala em cortar nas "gorduras" do Estado.
Autoria e outros dados (tags, etc)
OS NOVOS ESCALÕES DE IRS:
Até 7.000€ - 14,5%
Entre 7.000 e 20.000 - 28,5%
Entre 20.000 e 40.000 - 37%
Entre 40.000 e 80.000 - 45%
Mais de 80.000 - 48%
Fonte
A confirmarem-se estes escalões, não há dúvida que os "ricos" aumentaram imenso em Portugal e em menos de 24 horas:
Quem tenha um rendimento mensal à volta de 2800 € é "rico". Quem receba mensalmente 1500 €, para lá caminha e quem tenha um rendimento mensal à volta de 5700 €, é "riquíssimo", pois leva com a taxa máxima de imposto. Para este governo, não há dúvida de que é mesmo.
Compreende-se, finalmente o porquê das 20 horas de reunião do Conselho de Ministro. Fabricar, dum momento para o outro, tantos milhares de novos ricos não era e não foi tarefa fácil.
Como diria o Marques Mendes, isto é "um ataque à mão armada", embora eu prefira falar de uma "roubalheira descarada".
Felizmente, "mitigada".À moda do Gaspar, Claro!
Autoria e outros dados (tags, etc)
"Portugal continuará, até 2017 inclusive, a ser um dos países do mundo com menor crescimento, com mais desemprego e a economia continuará a perder posições no ranking do poder de compra per capita indica o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ou seja, cada português, continuará a descer (a empobrecer) quando se olha para a lista dos mais de 180 países analisados pela instituição.
De acordo com as projeções do Fundo, que é um dos elementos da troika no país que tem estado a desenhar, juntamente com o Governo, o programa de ajustamento económico e financeiro,Portugal chega a 2017 em pior situação económica relativa do que estava em 2011."
(
Luís Reis Ribeiro; "
Ajustamento falha e Portugal cai nos rankings do FMI até 2017". Na íntegra:
aqui)
***
O que os dados do Relatório de Outono das Perspectivas Económicas Globais (World Economic Outlook) do FMI (a que o artigo, parcialmente reproduzido, se refere) revelam é um filme de terror, o que, para os portugueses, nem sequer é novidade, pois não só estão a ver o filme, estão a vivê-lo.
Mesmo assim, não deixa de causar calafrios constatar que, segundo as previsões do FMI, "Portugal chega a 2017 em pior situação económica relativa do que estava em 2011."
A dimensão da traição ocorrida nos idos de Março de 2011 está para além da tragédia, é o que estas previsões anunciam com total limpidez.
E, pelos vistos, Portugal, ao contrário de Roma, até paga a traidores, se bem que só a alguns. Eu não pago e não perdoo a nenhum: nem aos que agiram por oportunismo político, nem aos que actuaram por ânsia de poder, nem a quem apadrinhou e fomentou a traição. Pelo menos, enquanto não vir um qualquer sinal de arrependimento.
Autoria e outros dados (tags, etc)
O menos que se pode dizer da intenção manifestada por António José Seguro de vir a apresentar
propostas de revisão da lei eleitoral, incluindo a redução do número de deputados é que se trata dum passo em falso. É verdade que a medida faz sentido para quem se proponha cavalgar a onda populista e para quem pretenda criar mais um motivo de atrito entre os partidos da coligação que sustenta o actual (des)governo. No entanto, não parece coadunar-se com a estratégia de quem se tem afirmado interessado em desenvolver uma oposição responsável e construtiva. E é evidente que também não é minimamente adequada ao estabelecimento de pontes entre os partidos da oposição, já que a ideia é frontalmente contrariada quer pelo PCP, quer pelo BE, por razões sobejamente conhecidas, pontes que me parecem ser absolutamente essenciais para criar alguma hipótese de alternativa a este governo que tem os dias contados a menos que as instituições da República e o país encarem com normalidade que se prossiga no caminho que leva ao desastre total.
E, o que é ainda mais grave, é que a intenção manifestada, revela uma visão desfocada da realidade, porque a redução do número de deputados não é, e nunca foi, uma questão essencial, já que não resolve nenhum dos muitos problemas com que o que país se debate. Pelo contrário, desvia as atenções do que é vital, neste momento, que é encontrar um caminho para sair do impasse em que o país se encontra.
A falta de sentido de oportunidade, por parte de Seguro é, pois, total.
Autoria e outros dados (tags, etc)
O "Expresso" de ontem, depois de anunciar em letras gordas na 1ª página, que "
Passos quer remodelar o mais depressa possível", desenvolve o tema nas páginas interiores, especulando sobre o quando e o como. A dúvida que me assalta,
depois de questionar para que serve a remodelação, é qual é o objecto da remodelação. Dir-se-á que o objecto da remodelação só pode ser o governo. Mas será que este (ainda) existe?
A pergunta, por paradoxal que pareça, é legítima. Assente numa coligação há muito feita em cacos, colados apenas com o "mel do pote", o governo nunca foi mais que uma invenção sem pés nem cabeça, saída da mente dum "rapazola", confirmado agora por gente das suas próprias hostes, como "impreparado". Nada que qualquer olhar atento não tivesse visto há muito, mas realidade hoje evidente até para os mais distraídos. Como é também óbvio e, neste ponto, são múltiplas as análises coincidentes, que tal governo sempre foi disfuncional e nunca passou duma equipa desorganizada e, o que é mais grave ainda, formada por gente que, salvo raras ou nenhumas excepções, não tem gabarito para ocupar uma cadeira ministerial.
Que sentido faz pois falar em remodelação do pretenso governo quando o alegado primeiro-ministro, que o concebeu, tem dado sobejas provas de incompetência e de incapacidade e que tem hoje a sua credibilidade reduzida a zero. Tudo o que ele disser a partir a partir de agora, só pode ser entendido se lido ao contrário. Mas o que se diz do alegado primeiro-ministro pode repetir-se em relação a toda a equipa dita ministerial: Paulo Portas, por muito inteligente que se diga que é, já deu abundantes provas de que não é de fiar; o ministro Gaspar tem a sua competência completamente estilhaçada, pois todas as contas lhe saem furadas, tendo-se revelado incapaz de acertar em qualquer espécie de previsão económica; Aguiar Branco é o que sempre foi, uma nulidade; o Álvaro, desde a primeira hora classificado como "o homem dos pastéis", tem de há muito, colada na testa a palavra "pateta"; a super-ministra Assunção Cristas não passa de mais um super-fiasco ou, se preferirem, duma mosca-morta, porventura, não tanto por culpa própria, mas mais por culpa de quem lhe enfiou nas mãos quatro pastas em relação às quais ela não percebe patavina ; o ministro Mota Soares, "o homem da vespa", agora transportado numa "bomba", não deixou, por esse facto, de ser o que sempre foi: um zé-ninguém às ordens de Portas, capaz de dizer uma coisa, para logo a seguir, se desdizer, bastando que Portas lhe acene em sentido contrário; o ministro matemático Nuno Crato, que tomou a seu cargo a destruição da Escola Pública, já é mais conhecido por "Erro Crasso" do que pelo próprio nome; a ministra Paula Teixeira da Cruz, pelas posições que tem tomado, quer pressionando o Tribunal Constitucional, quer assegurando o fim da impunidade, com referência a casos concretos, dá provas de que, não obstante ser uma jurista, não faz ideia do que seja um Estado de Direito e revela ter uma personalidade em tudo desadequada ao cargo que ocupa, o de ministra da Justiça, cargo onde é exigível sentido de equilíbrio que é tudo o que ela não tem; o ministro Miguel Macedo está na berlinda desde que foi conhecida a história do subsídio de deslocação que recebia tendo casa em Lisboa e esteve novamente sob a luz da ribalta com a história da "cigarra e da formiga"; Paulo Macedo não se livra da fama de ser o encarregado do desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde.
E com isto tudo, estava a esquecer-me de Relvas, o relapso (por via dos muitos "lapsos") mentiroso, que "nunca" pressionou jornalistas e que é titular duma licenciatura por equivalência. Esquecia-me, é verdade, mas será que o nosso homem ainda é ministro?
Aqui chegados; pergunto: Haverá em toda esta construção alguma pedra que se aproveite?
Se não é o caso, para quê, remodelar?
Qualquer remodelação, nestas circunstâncias, é uma perda de tempo e não passa duma manobra de diversão.
O povo pode ter tido a distracção de eleger a actual maioria parlamentar e escolhido, de forma indirecta, o tal governo. Não me parece, a crer nas últimas e recentes manifestações, que esteja muito disposto a deixar-se enganar segunda vez.
Autoria e outros dados (tags, etc)