O Roberto é muito português de feitio, diz uma senhora ao telemóvel. A mesma que assevera, aqui penso que já a falar para a praia inteira, que não se sente profissionalmente realizada lá fora e que Portugal está sempre fora do nosso tempo (dela e do Roberto). Entretanto, o resto da família, num português entremeado de francês, diz mal do DSK (demorei quase a conversa toda a perceber de quem raio falavam, embora o nome estivesse constantemente a ser repetido). Todos os homens usam anéis e correntes de ouro. As mulheres berram. Quando estão a usar a parte avec do cérebro, berram ainda mais alto. Ao falarem com o homem que aluga os toldos, fazem-no em francês. Ele, sem as olhar nos olhos, responde-lhes em português cuspido. E lá continuam todos, uma frase em português, uma frase em francês. Perguntam em francês, respondem em português. Tudo feito de forma aleatória (ou fui eu que não logrei ali ver regra), numa mistura intrigante e enervante. A do Roberto desligou o telemóvel e foram todos à água, excepto um que "estava capaz de dormir aqui um bocadito". Não percebi se era o Roberto.
Fizeram-me lembrar um fulano que insistia em falar francês comigo. Quando lhe disse que falasse português, ele desculpou-se com a dentadura, que tinha sido comprada "na Franca". Juro que não é anedota. Agora, vá lá (eles dizem muito isso no fim das frases), vou ver se mudo de sítio.
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