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Gostei muito deste artigo de Vital Moreira e gostei muito do seu título, a propósito das propostas do PSD para RC. Acontece que como escrevi aqui, realmente, nada como esperar por um projecto escrito, porque ouve-se nas tribunas "moção de censura construtiva", "demissão livre do Governo", "aumento dos poderes presidenciais" e coisas destas e, naturalmente, comenta-se, mas eis que se tem acesso ao papel em discussão. Deixando de lado o assassinato de vários preceitos, desde logo em matéria de princípios fundamentais, ignorando décadas de jurisprudência constitucional, se nos concentrarmos apenas no sistema político, somos levados a pensar que alguém, por ali, produziu uma coisa esquizofrénica, não se percebe bem a razão. Talvez tenham dado assim uma quantidade de preceitos a cada um, tipo ficas tu com estes e tu com aqueles, mas espero, sinceramente espero, que quem trabalhou nesta peça venha a público dizer de sua justiça, porque toda a gente tem direito a uma defesa.


Com que então moção de censura construtiva, era? Que eu saiba, este instrumento jurídico-constitucional serve para dar estabilidade aos Executivos, para que estes não estejam à mercê da discricionariedade irresponsável das oposições, que, assim, só podem provocar a demissão do Governo se apresentarem um Executivo alternativo. É fácil de perceber.


Que faz o projecto do PSD? Isto: no artigo 194º, mantém a moção de censura antiga - que se passa a chamar de "simples", a qual, a ser aprovada, passa a provocar a dissolução da AR, excepto, imagine-se, se ocorrer em estado de sítio ou de emergência, uma simpatia. A esta moção de censura de efeitos calamitosos junta-se, pois, a moção de censura construtiva, com a tal indigitação do PM alternativo. Mas pensam que o PR pode dizer uma palavra sobre isto? Nada (novo artigo 187º).


Depois, quando nos recordamos de PPC ao microfone explicando do absurdo do PR poder dissolver livremente a AR e não poder demitir livremente o Governo, ignorando por completo a história e a lógica do nosso sistema, não me vou repetir, em todo o caso uma pessoa depara-se com a tal demissão livre do Governo, sim senhor, mas eis que afinal já não pode dissolver a AR como o fazia até agora. Não. Afinal, quanto a AR, passa a poder dissovê-la apenas "quando tal se torne necessário para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado" (artigo 172/1).


Espera, lá...Então esta não é a fórmula do actual artigo 195º/2 para a demissão do Governo? É. E PPC não tinha dito que acabava com esta fórmula quanto ao Governo para a demissão do Governo ficar assim mais ou menos como a dissolução da AR que é actualmente livre? Tinha. Então qual é a ideia de passar a condicionar o PR quanto à dissolução da AR exactamente com o condicionamento que ele tem, actualmente, relativamente ao Governo? Não faço ideia.


Sei que isto seria a ruína do nosso sistema político. Uma AR que não pode ser dissolvida discricionariamente pelo PR, um Governo que passa, esse sim, a depender da vontade do PR, assim, sem mais, gerando-se uma confusão entre o Executivo e o PR que estava arrumada desde 1982. Mas, ao mesmo tempo, pasme-se, naquilo que o PR deve ter uma palavra, que é a indigitação de um PM, zero, quando este resulta da aprovação de uma moção de censura construtiva.


Para acabar em beleza, esta última moção não vem substituir a outra, não. A oposição passa a ter um menu. Se quer arriscar diz: é a construtiva, se faz favor e está aqui o PM alternativo; se não está para se chatear, diz antes: é a simples, mas se for aprovada, não se esqueçam que não está em causa só a demissão do Governo, dissolve-se logo a AR, acabou-se. E o PR? Alguma palavrinha no meio disto tudo? Nada.


Confusos?


Espero que sim.


É a loucura total.


O PSD que apanhe as peças. Isto assim não dá.


 


Adenda: parece que mudaram alguma coisa e a novela continua. Cenas dos próximos capítulos, todos os dias.

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publicado às 16:49


7 comentários

De Ricardo a 21.07.2010 às 18:48

Isabel,

Estão explicadas as suas objecções quanto às alterações propostas para o sistema político.  Concordo com elas.

Mas essas não são as únicas alterações propostas para a revisão constitucional pelo PSD.  O resto não merece uma palavra?

De JC a 21.07.2010 às 19:43

Vejamos... Nas eleições legislativas, embora teoricamente se elejam deputados, cada vez mais o que está em causa, de facto, é a eleição de um 1º ministro. No projecto do PSD, podendo o PR não aceitar o 1º ministro indigitado, não se estão a conceder maiores poderes, arbitrários, ao PR e a desvalorizar o poder legislativo e os partidos, na prática colocando estes sob tutela presidencial?
E, no caso de dissolução da AR, quem define o que é "estar em causa o normal funcionamento das instituições democráticas"? Na prática, não significa isto que o projecto do PSD concede ao PR mais poderes, podendo dissolver a AR e demitir o governo?
Cumprimentos
JC

De João José Fernandes Simões a 22.07.2010 às 00:45

Eu diria que é Pedro Passos Coelho sem saber o quer mas a querer alguma coisa.
Não percebemos é o quê. Pior, é que acho que nem ele percebe!

Assim, um dias destes, ainda vai ficar a 'andar por aí'.
C'mó outro, que continua a 'palrar' e eu a 'fugir' dele a mudar de canal da tv (não sei que raio de 'amor' tem aquela 'santa' da SICN para tanta vez convidar o homem!)

É uma tristeza. Tal, que até a Alberto João já dou razão sobre 'essa gente do cont'enente'.

 

De Isabel Moreira a 22.07.2010 às 10:08

já leu o documento? se eu me pronunciasse sobre todas as alterações teria de pedir um dia de férias para explicar da estupidez de tanta coisa. quanto às questões do ensino, do trabalho e da saúde, que são, à parte do sistema político, as mais importantes, já houve tanta gente a pronunciar-se e bem, que não vejo necessidade de repetir o que já foi dito. no entanto, uma vez que ontem à noite, ao que parece, se firmou o texto do PSD, vou esperar para ver o que de lá saiu para ver se vale a pena dizer mais qualquer coisa. de qualquer maneira, interessa-me mais pegar num aspecto particular, como este que discuto aqui, como exemplo, basta este, de como esta proposta não pode ser levada a sério. a partir do momento em que não deve ser levada a sério, mais vale não perder demasiada tinta com ela, a não ser nisto que escrevo, isto é, na demonstração da inconveniência, da falta de pensamento estratégico, da falta de coerência intrínseca da proposta e da distância entre o dito e o feito.

De Isabel Moreira a 22.07.2010 às 10:16


de acordo com este texto sujeito a alterações em discussão interna no PSD, o PR não pode recusar o PM indicado após  a aprovação de uma moção de censura construtiva, é isso. o PR passa a estar limitado na dissolução da AR, com essa fórmula (que é a actualmente existente para a demissão do Governo), cuja verificação de pressupostos é sua compência, ainda que sujeita a controlo, quando actualmente a dissolução é livre.

De Marcelo do Souto Alves a 22.07.2010 às 11:28


    Mecânicos, ou relojoeiros?


E pensar que eu, tão crédulo, cheguei a crer que a proposta do PSD merecia alguma atenção. Obrigado por nos ajudar assim a encontrar referências válidas, por entre a densa névoa de mistificação e ignorância que a comunicação social cria à nossa volta.


Depois de ler esta sua tão eficaz quanto bem exposta análise ao documento em causa, quer-me parecer que o PSD actual é comparável a um mau mcânico que, farto de cometer erros com o cárter e a suspensão hidráulica, decidiu tornar-se... relojoeiro.

De João Bosco a 22.07.2010 às 14:19

Francamente, o seu texto parece-me confuso e repleto de apelos à emoção. Nunca compreendi esta forma de fazer política apesar de constatar que é comum em Portugal. Gostaria de saber o que pensa, mas, sinceramente, da leitura do que escreveu apenas retiro incompreensão, confusão, excitação, indignação.

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