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Alertado pelo João Galamba, lá fui ler o post do João Miranda, com o apelativo título “Direito de matar” (com tal título, dificilmente um post pode ser mau). E não me arrependi, porque me diverti imenso (o Galamba nem sabe o que perdeu).
Depois de um curto arrazoado, o JM conclui:
“No caso dos snipers, a decisão é tomada no terreno em reacção ao desenrolar dos acontecimentos. Existe uma grande probabilidade de se cometerem erros de avaliação, de se atingirem inocentes ou de a função para que foram constituídas as forças policiais ser subvertida. Existem por isso boas razões para que o uso de snipers no mínimo seja escrutinada por autoridades independentes. A principal função desse escrutínio é dissuadir os usos inadequados deste instrumento policial.
Mas esta até é uma posição moderada. Existem boas razões para se colocar em causa o poder do ramo executivo do Estado para tirar a vida através da iniciação de um nível mais elevado de violência que aquele que foi utilizado pelos alvos. A natureza do Estado recomenda que o seu poder seja sempre limitado. Devem ser-lhe retiradas as formas mais extremas de poder.”
Vindo dessa entidade blogo-etérea que é o João Miranda, a falha só pode ser minha, mas raios me partam se percebo sequer como é que, sem ser a brincar, no que não me convenço, alguém possa escrever tal disparate e assinar por baixo. É que a simples ideia do uso de snipers a ser escrutinado por autoridades independentes remete-me para o melhor de Monty Python. Mais: tenho a certeza que com a utilização de tal nonsense até o Herman voltaria a ter piada.
À laia de declaração de interesses, sejamos claros: eu não acredito no João Miranda. Literalmente. Não se trata apenas de não acreditar no que ele escreve, eu pura e simplesmente não acredito que ele exista. Acho que se trata de um produto da imaginação colectiva, assim tipo três pastorinhos, ou coisa que o valha - mas isso são coisas que não são para aqui chamadas.
Mas dando de barato que ele existe, apenas para efeitos de raciocínio, sem conceder, parece-me óbvio que o João Miranda é um puro provocador. Ou seja, não me parece que ele acredite, de acreditar, em tudo o que escreve. O que realmente lhe dá gozo é esticar uma corda invisível num passeio público e ficar, na varanda, a ver as pessoas caírem. A rir-se que nem um perdido. E, no caso, as pessoas caem mesmo: levam-no a sério, comentam, concordam, discordam.
Vejamos: ao escrever aquela barbaridade do escrutínio dos snipers “por uma autoridade independente” (o tipo é mesmo bom), e caso estivesse a falar a sério, que autoridade independente teria ele em mente? Teria que ser privada, isso é certo. Uma espécie de ONG feita comité, digo eu.
Depois vem o pormenor que ele não esclarece, o tal comité independente agiria no terreno? BES a BES? E assim sendo, como decorre óbvio, cada sniper teria direito ao seu próprio comité, formado por não menos de três pessoas, para não haver empates e com direito a apelo para instâncias superiores, também elas independentes, claro. (até parece que estou a ver: “senhor gatuno, por decisão do senhor sniper, corroborada, por unanimidade, pelo comité escrutinador independente, decidimos matá-lo, assim que o senhor decida afastar a cabecinha assim um bocadinho para o lado direito. Tem, portanto, 15 segundos para apelar para o comité escrutinador independente de apelo. Caso assim pretenda, afaste a cabecinha assim um bocadinho para o lado direito”).
Não sendo no terreno, e tratando-se de um comité supra e extra situação, a coisa ainda tem mais piada, pelo tipo de discussões que propiciaria, com muito mais tempo para escrutinar.
Mas onde o João exagera, e se revela o brincalhão que é, é no último parágrafo, quando, após a cena do escrutínio dos snipers, escreve: “Mas esta até é uma posição moderada.” Que mimo. O tipo leva-nos às lagrimas e depois diz que é uma posição moderada. Para terminar esta curta análise, que isto era merecedor de ensaio, chamo, de forma avulsa, a atenção para as expressões “iniciação de um nível mais elevado de violência que aquele que foi utilizado pelos alvos”, que se vê ter sido coisa pensada em rima, e depois transformada assim em prosa corrida, para a paródia não ser muito óbvia, e “a natureza do Estado”, que ele se dispensa de nos explicar, tão óbvia ela é - para todos os que o seguem. Ao João.
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