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Estas declarações de Oliver Stone, que não dizem respeito apenas a Hitler, mas também, por exemplo a Estaline, dão que pensar. O famoso realizador diz-nos, por exemplo, que Hitler foi um bode expiatório fácil ao longo da história e que não podemos julgar as pessoas apenas como 'más' ou 'boas'. Hitler é o produto de uma série de acções. É uma relação de causa e efeito. Muitos americanos não entendem, afirma, a ligação entre a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. Também, Estaline, que não quer pintar como herói, ele que lutou tanto contra a máquina alemã, tem de ser analisado objectivamente.
Não vou, como se calhar se esperaria, repetir o evidente. Os mortos, os torturados, os deportados, os desaparecidos, os números que atingem tantos milhões. Não é esse o ponto que me interessa. O que me interessa, quer para estas personagens, quer para outras, é os limites do contexto como fenómeno de desculpabilização.
No caso de Hitler, todos sabemos da relação entre a primeira e a segunda guerra mundial, nomeadamente da humilhação alemã, resta saber se podemos continuar a oração desta forma: donde a singular construção jurídica de um sistema destinado a eliminar um grupo identificado, os judeus, passo a passo, lei a lei, retirando-lhes metodicamente direitos civis, um a um, para que o povo se fosse habituando e absorvendo como natural que aquela gente fosse outra gente, até ao resultado pretendido, que era o da desconsideração total do judeu, a não-pessoa e portanto carne para fogão.
Ora nada, circunstância alguma, permite aquele donde. O mesmo vale para Estaline que matou todos, mas todos os que o rodearam e tem nas costas milhões e milhões de mortos.
Não há contexto que suavize estes actos, estas pessoas.
Isto vale para qualquer pessoa. Todos nós conhecemos homens e mulheres com traços de personalidade marcados por traumas passados, por experiências concretas, pela vida que lhes calhou. Sabemos disso e passamos por cima da dureza, da frieza, da incapacidade de comunicação, da dificuldade em confiar, às vezes de antipatias, de amargos de boca, de tantas coisas.
Vidas há muitas. Sofrimentos há mais. Quanto a carácter, tem-se ou não se tem.
Por mim, dou por inútil deitar um pulha num divã de consultório.
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