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Dies irae

por Licínio Nunes, em 26.03.14
N.B.: O que se segue pode ser insuportável. Eu sei!
As crianças que nasciam na Ucrânia no final dos anos de 1920 e no início dos anos de 1930 viam-se num mundo de morte, entre pais impotentes e autoridades hostis. Um rapaz nascido em 1933 tinha uma esperança de vida de sete anos. Mesmo em tais circunstâncias, algumas das crianças mais jovens conseguiam mostrar alguma alegria. Hanna Sobolewska, que perdera o pai e cinco irmãos e irmãs por causa da fome, recordava a dolorosa esperança do irmão mais novo, Jósef. Ao mesmo tempo que inchava devido à fome, não deixava de encontrar sinais de vida. Certo dia tivera a certeza de ver culturas que se erguiam do chão; noutro julgara ter encontrado cogumelos. «Agora viveremos!», exclamava, e repetia aquelas mesmas palavras antes de ir dormir, todas as noites. Depois, certa manhã, acordou e disse: «Tudo morre.»

Timothy Snyder — Bloodlands


Depressa estas situações deixaram de ser dignas de nota. Na escola de Yurii Lysenko, de oito anos, na região de Kharkiv, uma rapariga caiu, simplesmente, durante uma aula, como se tivesse adormecido. Os adultos correram para ela, mas Yurii sabia que não havia esperança, «que ela tinha morrido e que eles a iam enterrar no cemitério, como tinham enterrado outras pessoas no dia anterior e no dia antes desse e em todos os dias». Os rapazes de uma outra escola encontraram a cabeça decepada de um colega de turma enquanto pescavam num lago. Toda a família tinha morrido. Tê-lo-iam comido primeiro? Ou teria ele sobrevivido à morte dos pais apenas para ser morto por um canibal? Ninguém sabia; mas tais questões eram comuns entre as crianças da Ucrânia, em 1933.

Os deveres dos pais não podiam ser cumpridos. Os casais sofriam enquanto as esposas, por vezes com o angustiado consentimento dos maridos, se prostituíam junto dos líderes locais do partido, em troca de farinha. Os pais, mesmo quando ainda estavam juntos e agiam com a melhor boa vontade, dificilmente podiam cuidar dos filhos. Certo dia um pai, na região de Vynnitsia, saiu para enterrar um dos seus dois filhos e, ao regressar, encontrou o outro morto. Alguns pais amavam os filhos, protegendo-os, trancando-os em cabanas para os manterem a salvo dos bandos itinerantes de canibais. Outros enviavam os filhos para longe, na esperança de que pudessem ser salvos por outros. Havia pais a entregar os filhos a familiares distantes ou a estranhos e a abandoná-los em estações de comboios. Os camponeses desesperados que erguiam os filhos pequenos junto às janelas dos comboios não estavam necessariamente a pedir comida: muitas vezes estavam a tentar entregar as crianças a um qualquer ocupante do comboio, decerto um residente da cidade e que, como tal, não estava prestes a morrer à fome. Os pais e as mães enviavam os filhos para pedir na cidade, com resultados diversos. Algumas crianças morriam de fome no caminho ou chegadas ao seu destino. Outras eram levadas pela polícia para morrer no escuro, numa metrópole estranha, e serem enterradas numa vala comum com outros corpos pequenos. Mesmo quando regressavam, as notícias raramente eram boas. Petro Savhira partiu com um dos seus irmãos para Kiev, para pedir, descobrindo ao regressar que os seus outros dois irmãos já tinham morrido.

Confrontadas com a fome, algumas famílias dividiam-se, os pais viravam-se contra os filhos e os filhos uns contra os outros. Como a polícia estatal, o OGPU, se viu obrigada a relatar, na Ucrânia as «famílias matam os seus membros mais fracos, normalmente as crianças, e usam a carne para se alimentarem». Inúmeros pais mataram e comeram os filhos, tendo acabado por morrer de fome mais tarde. Uma mãe cozinhou o filho para si e para a filha. Uma menina de seis anos, salva por outros parentes, viu o pai pela última vez, enquanto este afiava uma faca para a matar. Outras combinações eram possíveis, é claro. Uma família matou a nora, deu a cabeça a comer aos porcos e assou o resto do corpo.

Contudo, num sentido mais lato, o que destruiu as famílias foi tanto a política como a fome, virando a geração mais jovem contra a mais velha. Os membros dos Jovens Comunistas serviam nas brigadas que requisitavam comida. No entanto, crianças ainda mais jovens, nos Pioneiros, deviam ser «os olhos e os ouvidos do partido no seio da família». Os mais saudáveis estavam encarregados de tomar conta dos campos para impedir os roubos. Meio milhão de rapazes e raparigas adolescentes e pré-adolescentes ocupavam as torres de vigia, observando os adultos na Ucrânia, durante o Verão de 1933. Esperava-se de todas as crianças que entregasses os pais.

A sobrevivência era uma luta moral, tanto quanto física. Uma médica escreveu a uma amiga, em Junho de 1933, que ainda não se tinha tornado canibal, mas que «não estou certa de que isso já não terá acontecido quando receberes esta carta». As pessoas boas foram as primeiras a morrer. Os que se recusavam a roubar ou a prostituir-se morriam. Os que davam comida a outros morriam. Os que se recusavam a comer cadáveres morriam. Os que se recusavam a matar os seus iguais morriam. Os pais que resistiam ao canibalismo morriam antes dos filhos. Em 1933, a Ucrânia estava repleta de órfãos e, por vezes, havia pessoas que os acolhiam. Contudo, sem comida, havia pouco que até o mais gentil dos estranhos pudesse fazer por tais crianças. Os rapazes e raparigas jaziam sobre lençóis e cobertores, comendo os próprios excrementos, à espera de morrer.

Numa aldeia na região de Kharkiv, várias mulheres fizeram o melhor que puderam por tomar conta das crianças. Como uma delas recordava, tinham formado «algo semelhante a um orfanato». As crianças que acolhiam estavam em condições miseráveis: «Tinham estômagos protuberantes; estavam cobertas de feridas, de crostas; os seus corpos rebentavam. Levávamo-las para a rua deitadas em lençóis e elas gemiam. Certo dias calaram-se de repente; voltámo-nos para ver o que se estava a passar e constatámos que estavam a comer Petrus, a criança mais pequena. Estavam a arrancar-lhe pedaços e a a comê-los. E o pequeno Petrus estava a fazer o mesmo, estava a arrancar pedaços do seu próprio corpo e a comê-los. Comeu tanto quanto pôde. Os outros miúdos encostavam os lábios às suas feridas e bebiam-lhe o sangue. Levámos Petrus para longe das bocas famintas e chorámos.»

ibidem


O canibalismo é tabu, tanto na literatura como na vida, já que as comunidades procuram proteger a sua dignidade suprimindo o registo de tão desesperada forma de sobrevivência. Os ucranianos no exterior da Ucrânia, então e até hoje, têm tratado o canibalismo como fonte de grande vergonha. Contudo, ainda que o canibalismo na Ucrânia, em 1933, diga muito sobre o sistema soviético, nada diz sobre os ucranianos enquanto povo.

idem ibidem

Existe na baixa de Manhatann um café literário chamado "KGB", local de tertúlias avant garde. Pequena provocação no género chic, nada demais. Ninguém em seu perfeito juízo imaginaria fazer o mesmo num local chamado "Gestapo". Óptimo! Agora falta o resto. Falta o mesmo peso do mesmo opróbrio. Ninguém pode dizer "Nós não sabíamos..."

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publicado às 18:28


O Primeiro Mandamento

por Licínio Nunes, em 21.03.14
Não terás outros deuses ante a Minha face.Exodus 20 2-17
As necessidades dum povo nómada, vivendo na margem dos grandes desertos, são simples e limitadas. Algumas direcções, apenas; para onde conduzir os rebanhos; onde encontrar água e locais para pernoitar. As necessidades dum estado moderno têm uma complexidade que seria incompreensível para os seus antepassados, contudo, podem ser enunciadas com a mesma simplicidade: "A quinta colectiva fornece o Estado e só depois o povo". Foi assim que os activistas do partido comunista da Ucrânia enunciaram e difundiram aquilo a que chamaram «O Primeiro Mandamento de Stalin», no início da década de 1930.

Em "O Arquipélago de Gulag", Alexander Solzhenitsyn cita um velho provérbio russo: "Não devemos olhar o passado. Aquele que olha o passado perde um olho." e acrescenta logo a seguir "E aquele que o esquece perde os dois". A história dos povos é feita destes esquecimentos selectivos; a sua memória colectiva tem, em grande medida, o propósito de permitir aos sobreviventes superarem os traumas dos eventos que eles próprios viveram, ou aqueles de que ouviram falar. A memória colectiva da Europa impõe hoje, como condição sine qua non de pertença, o reconhecimento formal do Holocausto. Os europeus passaram algumas décadas em tratamento oftalmológico intensivo, para, em boa medida, acabarem com óculos de lentes espessas e convenientemente rosadas. Convenhamos, a imagem industrial do Holocausto nazi, é a perpetuação duma falsidade. É a tentativa de perpetuar o mito da "competência técnica alemã", a realidade do genocídio foi essencialmente artesanal, sem ser menos assassina por isso. Começou muito mais cedo do que a versão oficial regista. Os Ucranianos chamaram-lhe Holodomor, ou extermínio pela fome.


Porque eu, o Senhor vosso Deus, sou um Deus invejoso e trarei os crimes dos pais sobre os seus filhos e os filhos dos seus filhos, até à terceira e quarta geraçõesibidem
Os camponeses da Ucrânia tinham aceite o estado bolchevique, porque este lhes tinha permitido libertarem-se dos grandes proprietários tierra-tenientes. Mas de repente tinham passado a ser inimigos de classe, kulaks ricos (em muitos casos, o seu capital reduzia-se a um porco ou uma vaca) e alvos a destruir.
Foram erigidas torres de vigia nos campos para impedir que os camponeses tomassem qualquer coisa para si. Só na região de Odessa, foram construídas mais de setecentas torres de vigia. As brigadas [de activistas do partido comunista] iam de casebre em casebre, mais de cinco mil membros nas suas fileiras, apoderando-se de tudo o que conseguissem encontrar. Os activistas usavam, como recordou um camponês, «longas varas metálicas para procurar em cavalariças, pocilgas, fogões. Procuravam por todo o lado e levavam tudo, até aos mais ínfimo grão». Atravessavam as aldeias «como a peste negra» gritando «Camponês, onde está o teu cereal? Confessa!». As brigadas tomavam tudo o que se parecesse com comida, incluindo o jantar sobre o fogão, que eles próprios comiam.
Como um exército invasor, os activistas do partido viviam da terra, tomando o que podiam e comendo até estarem cheios, obtendo poucos resultados do seu trabalho para além da miséria e da fome.Talvez devido a sentimentos de culpa, talvez devido a sentimentos de triunfo, humilhavam os camponeses onde quer que fossem. [...]
Mulheres apanhadas a roubar numa quinta colectiva foram despidas, espancadas e arrastadas nuas através da aldeia. Numa aldeia, a brigada embebedou-se no casebre de um camponês e os seus membros violaram, à vez, a filha deste. As mulheres que viviam sozinhas eram rotineiramente violadas, de noite, sob pretexto de confiscação de cereais... e, de facto, depois de violarem os seus corpos, levavam-lhes a comida. Este era o triunfo de Stalin e do seu Estado.
Timothy Snyder — Bloodlands
Um deus invejoso, sem dúvida. Pela primeira vez na história, no meio duma fome generalizada, as cidades sobreviviam melhor do que os campos que as rodeavam. Invejoso e sádico, mas cheio de imaginação. Os refugiados camponeses não estavam de facto a pedir pão, mas sim, envolvidos num complot contra-revolucionário, oferecendo-se como propaganda viva para a Polónia e outros estados capitalistas que desejavam desacreditar as quintas colectivas. À medida que o sucesso da grande reforma socialista se aproximava, os seus inimigos, levados ao desespero por esse sucesso, imolavam-se pela fome, para o tentarem sabotar.

Mas mostrarei o Meu amor àqueles que seguirem a Minha palavra e obedecerem aos meus mandamentos.idem ibidem
Tal como o velho provérbio russo nos lembra, há sempre quem pense que os demónios ficam guardados em segurança nos armários onde os tentamos trancar. Mas eles teimam em regressar, não é verdade, Vladdy?. Ou talvez os cidadãos de países democráticos sejam de facto idiotas que odeiam aquilo que têm. Ou talvez aquele "amor" dos deuses sádicos dure pouco. A verdade simples é que temos sempre o olho da mente para usarmos desde que estejamos dispostos a fazê-lo. E a verdade ainda mais simples, é que, dos dois grandes assassinos do século XX, Adolfo Hitler nunca enganou ninguém, nem nunca pretendeu ser outra coisa senão um monstro racista; até os seus propósitos genocidas estavam já razoavelmente enunciados nas leis da "higiene racial", da eugenia e da eutanásia. O outro, embrulhou-se no manto da "libertação" — categoria escatológica distinta da "liberdade", note-se — e do "progresso social"; e da "felicidade dos povos". Será que estes mantos desculpam, de alguma forma os seus seguidores? Ou será apenas a crença naquela promessa?

O conhecimento dos crimes nazis levantou a pergunta inevitável, isto é, "O que é que os alemães sabiam?". O péssimo espectáculo recente do Vladdy torna a outra pergunta de novo urgente: "O que é que os comunistas sabiam?". Desconfio que vai ficar tão mal respondida como a anterior, mas não é menos incontornável por isso.

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publicado às 15:45


Crucifixo

por Luís Grave Rodrigues, em 21.03.14
                
      

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publicado às 00:29


Realidade

por Luís Grave Rodrigues, em 16.03.14
          
   

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publicado às 00:15


Universo

por Luís Grave Rodrigues, em 13.03.14
            
        

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publicado às 00:15


Uma luta chamada Afonso, de apelido Monsanto

por Rogério Costa Pereira, em 09.03.14

Quero agradecer aos monsantinos Hélène e João a forma como têm lutado por Monsanto e pela preservação do Património de Monsanto. Sem eles (e mais alguns, lamentavelmente poucos, mas certamente bons), sem a Taverna e agora o Fornvm, Monsanto continuaria a trilhar o caminho do esquecimento e da degradação.

Não me lembro de nos últimos tempos termos ido a Monsanto sem que o cantinho deles fosse o nosso poiso certo. Continuam a encabeçar a luta contra as antenas que o capitalismo selvagem permitiu que fossem instaladas no Castelo. Com a sua luta mexeram com os pequenos e podres poderes que fazem de erva-daninha por esse portugal dos pequeninos afora.

Quem ora os afronta e os vota a um quase ostracismo, acompanhado pelas sempiternas queixinhas disto e daquilo nos tribunais, nas câmaras e o diabo a quatro, já perdeu à partida. A Luta da Hélène e do João não é luta que se perca. E nem um nem outro são gente de baixar os braços por causa de tiros de inveja seca.

A vossa Luta, meus caros, é uma luta de Mulheres e Homens Bons. Uma luta pela dignidade de uma terra. Impossível de perder, demore o tempo que demorar a vencer. Vieram de Lisboa e, para além do resto – e já é tanto –, deram a Monsanto um bebé; Afonso, Monsantino de gema, esse, que um dia virará homem e continuará de peito feito e aberto a luta dos pais.

Tenho orgulho em conhecer-vos e em ser vosso amigo. A vossa luta e as vossas ganas cimentam ainda mais a minha certeza de que um dia teremos de volta o nosso Portugal, esse que tantos transformaram nessa areia que ora quase nos escapa pelos dedos. Mas não escapará. Com gente assim, gente como vocês, não escapará.

Bem-hajam por Monsanto, bem-hajam pelo vosso exemplo. Bem-hajam por tudo. E continuem a fazer por ser felizes. Os cães ladram mas a caravana passa.

Vocês são a caravana.

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publicado às 00:04


Isto dá pica, pá!

por Licínio Nunes, em 05.03.14
Ora eis que o mundo encontrou um tema de discussão mais excitante do que o pontapé-na-bola, ou seja, a Ucrânia e mais exactamente a invasão (!) da Crimeia. A qualidade lógica dos argumentos é muito semelhante, sendo que a sua forma geral tem a seguinte forma: "Se Iraque então Crimeia; Iraque, logo, Crimeia". Não vou discutir a falácia, ainda corria o risco de estragar a emoção que a (dis)puta manifestamente produz. Nem uma palavra a respeito do "et tu quoque". Vou apenas fazer notar que, em termos bíblicos, poderíamos dizer de forma logicamente equivalente "Se Adão então Caim; Adão, logo, Caim", et voilà, todos os pecados e crimes da história explicados e justificados no milagre duma falácia elementar.

Mas isso iria estragar a emoção dos golos mais recentes, das peripécias da arbitragem — ou neste caso da sua ausência — e, sobretudo, da incerteza a respeito do resultado final, aquele que vai contar para os livros de história, ou da FIFA, vai dar ao mesmo. Vou apenas referir um dos aspectos mais referidos pelos..., analistas, digamos. Estou-me a referir à fraqueza geo-estratégica dos Estados Unidos, incluindo mas não limitado a, fraqueza da sua liderança, isto é, a tese "...O Obama é um banana. O Putin é um líder forte...". Quem é que os tais anal(istas) preferem no domínio estrito do pontapé-na-bola? Na actualidade, o Cristiano Ronaldo baralha tudo e elimina toda e qualquer informação pertinente que a comparação pudesse conter. Adiante.

A única super-potência restante à superfície do planeta está efectivamente num situação de grande impotência, do ponto de vista militar. E ainda bem, acrescento eu. Mas isso não se deve a nenhuma crise de vontade, nenhuma falta de liderança. Deve-se a algo mais simples — e acho que o falcão McCain, ele próprio ex-piloto da Marinha, também não viu — deve-se à geografia. Qualquer escalada militar da confrontação, por parte dos USA, implicaria sempre o envio duma esquadra para o Mar Negro. Os porta-aviões da classe Nimitz são 33 metros mais compridos do que o comprimento máximo possível/permitido nos estreitos dos Dardanelos e do Bósforo.


Ou seja, a crise actual ainda não descambou em confrontação quase aberta, graças àquelas curvas apertadas, na imagem acima. Mas vamos aos factos, porque no que respeita às análises, essas oscilam apenas entre os silogismos do Tadeu e a californicação do Tavares.

E os factos são que o Vladimir pestanejou. É rigorosamente como se o Adolfo tivesse pestanejado em Munique. Nenhum de nós tem como saber o que seria o mundo se isso tivesse acontecido, mas quem quer que tenha um mínimo de conhecimentos da história do nosso tempo, sabe que muita coisa teria sido diferente, não digo sequer que seria diferente para melhor. Diferente, de certeza. Por isso, Vladimir, vai brincar como os teus foguetes, vai. Já muitos perceberam o que eu disse, tanto que os teus sabujos já andam por aí a preparar a justificação da retirada. Quanto aos istas cá do burgo: consolem-se, a selecção joga hoje, o fcp vai ter um novo treinador, isto é, o vosso mundo vai voltar à chatice do costume.

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publicado às 14:27


Um Oceano não nos separa…

por Rogério Costa Pereira, em 04.03.14

Ontem estive na conversa com o André J. Gomes. Brasileiro. O curioso, e isso acontece-me quase sempre que falo com brasileiros, foi a facilidade com que passámos adiante o que não interessa, a forma como não falámos do que é meramente instrumental (embora, convenhamos, o André seja um tipo diferente; basta ler os textos dele na Bula).

Nunca tínhamos trocado palavra e avançámos directo para o "- Tás bom, pá?; - Sim, o que contas?". Passe o exagero, fica a ideia. E eu contei, e ele contou. Alguém já havia caminhado quinhentos anos por nós. Alguém falou a mesma língua. Quinhentos anos a musicar confianças. O mais próximo que sinto, em termos de afinidade – e ainda assim a léguas de separação, por causa de uns cheques carecas pelo meio −, é com Espanha e com os espanhóis.

E dou por mim a pensar que, Espanha à parte, mas essa também se deixou enrolar no mesmo nó górdio que nós (e este tipo de nós só se “desatam” à espadeirada), − dizia, Espanha à parte, a distância geográfica não é um bom referencial.

A Alemanha, no que respeita a caminho caminhado, fica bem mais longe de nós do que o Brasil. A Europa, essa, fica no outro lado do mundo. Puta de jactância, a nossa, que nos cegou a boca e emudeceu os olhos. Portugal virou-se para o lado errado. Fomos atraídos pela cenoura do dono que nos cavalga e hoje já nem a cenoura é necessária. Nem sequer a ameaça de chicote; obedecemos sem ameaça e de rojo lambemos as patas de quem nos põe a pata em cima.

O tempo que não perdi a falar com o André é bem o exemplo do tempo que Portugal perdeu nesta caminhada inglória em que o caminho não se faz andando. Rio, para não chorar, quando penso no que seria ter tido aquela conversa, com um alemão. Ainda que fossemos percebendo, em inglês, o que o outro diz, nunca nos entenderíamos. As nossas referências são outras. Trocámos uma identidade, feita de História comum, por dinheiro fácil.

Agora, chegou a factura da nossa estupidez. Paguem e não bufem. Ou  façam como eu, não paguem e bufem… Soltemos a jangada de pedra, com ou sem além-Olicença, e não paremos onde parou a de Saramago. Porto de Galinhas é um bom destino, desta vez sem que seja porto de descarga de escravos (as tais “galinhas” que deram o nome àquele sítio de aportar). Não literalmente, entenda-se, que um Oceano não nos separa…

Alea jacta est, a porra. O Rubicão existe nas nossas cabeças amestradas. Não há rio para atravessar. Basta tirar a venda e olhar.

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publicado às 19:42


O IV REICH − DEUTSCHLAND, DEUTSCHLAND ÜBER ALLES… *

por Rogério Costa Pereira, em 03.03.14

Quando partimos da parte para definir o todo corremos o risco de generalizar; e quando generalizamos cometemos injustiças, porque necessariamente excluímos ou incluímos no todo algo que, por Princípio, mereceria ser considerado à parte. E tratado como tal.

Inventei esta espécie de trava-línguas de má colheita para avisar que, ao dizer o que vou dizer, necessariamente cometerei injustiças. Porque nem todos os alemães são iguais (adiante explicarei o propósito disto). Mas são injustiças medidas, calculadas, submetidas a uma espécie de Princípio da Concordância Prática.

Normalmente, este Princípio é usado quando se verifica o confronto de dois Direitos e um tem de prevalecer sobre o outro – veja-se a questão da Liberdade de Imprensa versus o Direito à reserva sobre a Intimidade da Vida Privada; até que ponto é legítimo um jornalista revelar factos da vida privada de quem quer que seja?

A resposta tem de ser dada caso a caso. Será legítimo um jornalista dizer que o vice-Primeiro Ministro é homossexual? Obviamente que não. E se esse mesmo político for o líder de um partido que tem como uma das bandeiras a luta contra o casamento entre homossexuais? Aí a coisa complica-se. Mas a resposta, para mim, continua a ser não. E podíamos ir por aí adiante com esse vice-Primeiro Ministro. Ou então mudar de assunto.

Não mudemos de assunto. E se um jornalista seguir o conselho de Ana Gomes que, no programa Conselho Superior, da Antena 1, disse, antes da formação do actual Governo, em 7 de Junho de 2011, o que foi resumido (presumo que por um jornalista) assim?: «Em relação à formação do Executivo, a eurodeputada socialista defende que os meios de comunicação social devem assumir o seu papel de contribuir para a transparência do passado dos políticos, nomeadamente do presidente do CDS-PP, Paulo Portas. Ana Gomes acredita que estão em causa a idoneidade e credibilidade pessoais e políticas de Paulo Portas para voltar a desempenhar cargos governamentais e lembra o caso dos submarinos. Ana Gomes vai mais longe e acusa Paulo Portas de ter encetado uma “campanha de desinformação” e de calúnia de dirigentes socialistas, associando-os ao processo Casa Pia.»

Mas Ana Gomes foi ainda mais longe e falou de “dois ministros do Governo de Durão Barroso que fariam investidas em meios de prostituição, um deles até disfarçado de cabeleira postiça”. E termina, alertando a Imprensa para que “não digam que não sabiam e que não foram avisados.”. Na altura não tive dúvidas, e referi-me a Ana Gomes como alguém que toca-e-foge, mas deixa as incumbências e os trabalhos sujos para os outros. Mas, no que aqui interessa, ficou o desafio de Ana Gomes à Imprensa. Investiguem e revelem o passado de Paulo Portas. E a verdade é que nem a Imprensa investigou (o que Ana Gomes insinua que a Imprensa já sabe), nem Paulo Portas moveu qualquer processo contra Ana Gomes. Só isto dava uma notícia.

Mas e se um jornalista investigasse? E se um jornalista escrevesse sobre “os dois ministros do Governo de Durão Barroso que fariam investidas em meios de prostituição, um deles até disfarçado de cabeleira postiça”? Seria legítima esta invasão, por um jornalista, na vida privada dos tais “dois ministros do Governo de Durão Barroso”? Se o benefício adveniente dessa intromissão resultasse em ganhos para o país, obviamente que a mesma estaria legitimada.

Em suma, Concordância Prática de Direitos é isso mesmo. Colocá-los, na prática, em concurso e, perante a impossibilidade de ambos se exercerem na plenitude, verificar qual deve prevalecer. Olhando, com bom-senso, os deves e os haveres. Os ganhos e os perderes.

Apliquemos agora este mesmo Princípio, ainda que violentado, à tentacular Alemanha de agora. Será possível legitimar a injustiça em que se traduz a violenta generalização de afirmar que todos os alemães são iguais? E qual a importância de tão ingrata tarefa?

Vamos a factos.

A Alemanha entre 1914 e 1945 tentou por duas vezes dominar a Europa e, em medidas diferentes, praticamente a reduziu a escombros (em termos físicos, económicos, políticos e sociais). Sendo que de ambas as vezes o domínio da Europa seria o trampolim para o domínio do mundo. Esta questão aparece para além do explícito quando propagandeado pelo ideal nazi. Um império de mil anos, imutável e perfeito à imagem da “raça alemã” (o que quer que isso seja). Não me vou alongar em questões como o “misticismo nazi”, que é por muitos visto como a trave mestra do “ideal ariano”; mistura de esoterismo, fanatismo, megalomania, homofobia, racismo, anti-semitismo, xenofobia e demais maleitas congéneres. Basta dizer que a ideia assenta no facto de o nazismo ser a religião e o führer o deus.

A questão é, pois, elementar. Em cerca de 30 anos, a Alemanha (vou aqui ser simplista e chamar-lhe apenas Alemanha; na verdade há mais do que uma Alemanha) foi a génesis das duas grandes guerras convencionais à escala global. Durante a II Guerra Mundial, já com os aliados portas adentro, os alemães (e aqui vem a primeira generalização) ficaram com Hitler até ao fim. Já Hitler se tinha reduzido à sua primeira essência de cobarde, encafuando-se num buraco e terminado com a infeliz nascida que mudou a rota do planeta, e continuavam os alemães a lutar por esse desatino genocida de um louco com voz de rádio.

Mais factos.

Século XXI; eis de novo a Alemanha como potência económica mundial. E eis de novo a Alemanha, reunificada desde 1989, com ganas de dominar o mundo. Há, desta feita, uma nada ténue diferença para as vezes anteriores. É que em 2013 a Alemanha está efectivamente a comandar os destinos, no terreno, de pelo menos três países; Chipre, Grécia e Portugal. E com ganas de o alcançar em tantos quanto possa, o que rapidamente conseguirá, se os homens de bem e sem preço marcado na testa não se mexerem. Espanha, Itália, França, Holanda. E caídos estes, os restantes vêm com o troco. Omito propositadamente a Irlanda, porque não passou de um ensaio. Um teste à Inglaterra. E a Inglaterra é (são), por razões históricas, económicas e geográficas, “outros quinhentos”.

Ainda mais factos.

E agora vou apenas limitar-me ao que não oferece dúvida. Ao que nos toca, embora na Grécia as coisas não sejam muito diferentes. Desde que permitimos, empurrados pelo actual Governo, a entrada da troika em Portugal, quantas vidas se perderam? Entre suicídios, doença, fome, frio; ou “apenas dor e mágoa”. Quantos morreram antes de tempo e quantos não chegaram a nascer? Quantos emigraram? Quantos não imigraram?

Mas há algo que devo esclarecer, sob pena de estas palavras perderem aqui o sentido. Estarei, de forma abusiva, a confundir a troika com a Alemanha? E os infames mercados e as agências de rating?; e bildenberg e o Goldman Sachs? Obviamente, nem tudo isto é Alemanha, basta atentar no declarado ódio visceral que Merkel tem ao Goldman Sachs. Quanto ao triunvirato “Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional” estamos conversados. Os dois primeiros são notoriamente marionetas da Alemanha e o FMI é uma espécie de sempre-em-pé onde haja tostão para extorquir. Alemanha, pois. Os mercados, as agências de rating, bildenberg e o Goldman Sachs, não sendo dominados pela Alemanha − que apenas terá algum poder partilhado nos três primeiros e alguns agentes infiltrados no último −, não vão muito além da agiotagem em grande escala, sem pretensões de ocupar efectivamente o terreno. E a Alemanha, com brio e vocação, aproveita o que mais lhe interessa, a médio e longo prazo. A germanização da Europa. Um império de mil anos, imutável e perfeito.

E, com esta conjugação de factores, teremos em breve um Portugal que manterá o nome como mera referência geográfica. O Algarve e parte do Litoral Alentejano serão uma espécie de Flórida europeia, onde os boches virão morrer no descanso do führer. No resto do país, uma China a custo zero. Trabalho escravo. Construir aqui, espetar a etiqueta “Made in Germany” (ao “made in” não podem eles fugir) e vender para o resto do mundo.   

Apliquemos agora a esta loucura, quiçá minha, o tal Princípio da Concordância Prática, ainda que necessariamente adulterado.

De um lado temos uma nação próspera, organizada como nenhuma outra, que pé ante pé se foi recuperando, também graças a um Mundo que lhe garantiu rédea solta e lhe tirou o açaime. Uma nação que vive numa Democracia interna bem mais saudável do que a nossa (suprema ironia). Um país repleto de fervorosos cidadãos, que exercem cidadania efectiva.

Do outro lado, temos todos os factos atrás elencados. Aquilo que, sem arriscar, chamo de IV Reich. Por mera curiosidade − ou nem por isso −, diga-se que esta expressão, IV Reich, foi usada pela primeira vez por Rudolf Hess, já depois do Julgamento de Nuremberga, quando grunhiu algo como “eu serei o führer do IV Reich”. Não calhou. Mas a verdade é que calhou o sacana morrer tarde, já com 93 anos, em 1987. Teorias acerca das causas da sua morte não faltam, mas a maís razoável, atendendo ao facto de o bicho estar cego e praticamente não se conseguir mexer, é que tenha mesmo sido assassinado e o suicídio “versão oficial” não passar de uma emenda bem pior que o soneto. Adiante.

Ser-me-á, perante tais factos, legítimo cometer a injustiça de enfiar todos os alemães no mesmo saco e olhá-los por igual, porque não há tempo para fazer distinções? Ver em cada alemão um inimigo só porque é alemão? Por natureza (minha) diria que não, que mais vale ousar a injustiça de deixar em liberdade mil culpados, do que a maior injustiça de prender um inocente. [e agora entrem os violinos]

E se em vez do Euro, a arma fosse de guerra convencional? E se em condições “ideais” cada alemão fosse agora chamado de volta às trincheiras?; chamado de volta ao viver e matar hitleriano? Os netos da Alemanha genocida estariam aí para as curvas? Se sempre estiveram (ainda não passaram 100 anos sobre a Primeira Guerra Mundial), se economicamente estão… Se para um alemão de classe média viver ao estilo “Deutschland,Deutschland über alles” é necessário chacinar de fome, de frio e de doença dez portugueses (eufemismo, bem sei; serão mais), se a Merkel acabou de ser reeleita, que conclusões posso tirar?

Eis-nos, pois, em pleno matar ou morrer de um IV Reich, bem mais “eficaz” do que os anteriores.

Será injusto tomar a parte pelo todo? Mas e se a parte andar perto do todo? Se for o quase todo? E eis a Justiça de não generalizar versus a Justiça de perder tempo a escolher. E digo perder tempo porque os alemães já provaram (demasiadas vidas matadas) que, quando somados (quando em matilha), perdem a individualidade em favor de um “ideal” de conquista que lhes corre na massa do sangue. A Historia não mente e insiste em não errar. O problema dos homens é precisamente terem memória curta. A reunificação da Alemanha equivaleu, metaforicamente, à união da fome com a vontade de comer. Quem come é sempre a Alemanha, os devorados somos nós; os outros.

“A História é uma velhota que se repete sem cessar” [Eça de Queirós, in Cartas de Inglaterra] e a verdade é que a Alemanha já nos disse − gritou, ameaçou, matou −, por demasiadas vezes, que não cabe nela.  

Arriscai por Justiça não ser injustos (é perigoso e longo o caminho de separar tão pouco trigo de tanto joio). Eu arriscarei, também por Justiça, sopesar a injustiça que a História me grita com a injustiça de ser “Justo”. Ainda que os alemães não sejam todos iguais, os resultados da Alemanha aplicada no terreno são sempre os mesmos. No que me toca, antes morrer de pé e berrar de dor do que rastejar às ordens de um kapo que no momento tem assento em São Bento e em Belém.

É possível alterar este fado? Claro que sim! Levanta-te, descruza os braços, ergue os punhos e muda o teu mundo. Se cada um mudar para melhor o seu mundo, o mundo muda (e sim, continuo a acreditar; vivo ao som de violinos, se isso vos fizer felizes; mas sei que um dia alguém inventou a roda, e muitas rodas se seguiram e outras tantas se seguirão.)

E a velhota pára de se repetir.   

 

* Texto escrito em 17 de Novembro de 2013 e que, por razões que para aqui não interessam, não foi publicado. O actual cenário na Ucrânia não me faz mudar a essência do que escrevi, mesmo porque o que penso da Alemanha não se altera por causa do que penso desta Rússia putinesca. Não sigo a teoria do mal menor e não troco o péssimo pelo mau

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publicado às 23:58


As terras de sangue e o mosaico que resiste

por Licínio Nunes, em 03.03.14
No final do século XIX, houve um historiador inglês que se lamentou de, para estudar as comunidades cossacas na região de Lviw, ter que dominar o polaco, o ukraniano, o moldavo, o yiddish, o russo e o arménio; comentou que para fazer o mesmo estudo algures na bacia do Don lhe bastava saber falar russo...

O mesmo poderia ser dito a respeito daquela 'Europa do Meio' que se estende geograficamente do Báltico aos Cárpatos e ao Mar Negro. Deste lado da Europa, tudo estabilizou relativamente cedo; a Península Ibérica manteve muito exactamente as suas fronteiras actuais, após a conquista de Granada, em finais do século XV. A Europa central foi, durante séculos, um mosaico étnico e linguístico complexo, e a sua história política é, em boa medida, a historia dos compromissos que aquele mosaico exigia. Enquanto os dois grandes imperialismos (e totalitarismos) da Europa continental foram mantidos sob controlo. Quando deixaram de o ser, primeiro aliaram-se e depois degladiaram-se numa guerra de extermínio mútuo.

Terras de Sangue de Timothy Snyder conta-nos essa história. Surpreendente em muitos aspectos, sobretudo para aqueles como eu que ainda consideravam que o genocídio nazi tinha sido uma construção industrial demoníaca, mas relativamente restrita no espaço. E conta-nos como os dois bigodudos à compita pelo título de maior assassino de massas do século vinte transformaram esse aspecto da sua actividade em ocupação diária, no caso do grande pai dos povos, durante 15 anos.


Hitler ganhou o título. Por uma margem menor do que muitos julgam, mas ganhou-o. Houve um outro campeonato em que, pelas suas características espácio-temporais mais vastas, os nazis não chegaram a ser competidores sérios. Estou a falar da limpeza étnica, título maior e indiscutível de Stalin. A uniformidade étnica e linguística que hoje existe na maior parte da Europa é o resultado da acção daqueles dois, embora em minha opinião, para compreendermos este segundo fenómeno e a maneira como fez a Europa tal qual é, seja necessário recorrer a algo mais vasto do que o trabalho de Timothy Snyder.

Resta um único exemplo daquele mosaico complexo que a Europa já foi, é a Ucrânia e os ucranianos não parecem nada dispostos a deixarem-se "normalizar". E por isso, àqueles que hoje ecoam as mentiras do homem em imitação ferrugenta do aço que se conseguiu arranjar, digo-lhes apenas para irem para a putin-que-os-pariu. Ou será que alguém com dois dedos de testa não percebeu o que significa a presteza com que o tiranete de Moscovo aceitou o convite alemão para conversações?

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publicado às 15:49


pegada vezes pegada

por Rogério Costa Pereira, em 02.03.14

Mudam-se os tempos, mudam-se as formas. Não se muda a vontade. A pegada desdobra-se, agora de forma mais uniforme e interactiva, nas quatro plataformas que já existiam mas que agora se unem em torno de uma imagem, embora as referências e a substância de cada uma se mantenham.

 

Para além, da pegada (original) [http://pegada.blogs.sapo.pt/], onde se mantém válida a advertência de cabeçalho, mas que será sempre onde tudo começou e a partir de onde tudo se desenrola, a pegada está no Ouvir & Falar [https://www.facebook.com/groups/ciclodetertulias/], no pegadabook [https://www.facebook.com/pegadablogue] e no twitter [https://twitter.com/pegadablogue], que passará a ser alimentado essencialmente através dos posts que se vão publicando nos demais.

 

Aproximam-se tempos ainda mais complicados. Em carne ou em letra continuaremos ser o que somos. Não ousamos menos do que querer mudar o mundo (nenhuma mulher ou homem de bem tem o direito de querer menos); se cada um insistir nessa forma de estar, ele acaba por mudar. Sempre assim foi e não seremos nós a viver a excepção. A bem, coisa que se assemelha cada vez mais a uma utopia sem pernas, ou a mal.

Reinvente-se a roda, pois.

 

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publicado às 03:18

Give me back the Berlin Wall
Give me Stalin and St. Paul
I've seen the future, brother
And it is murder.
Leonard Cohen — The Future

Que alguém defenda o pastorinho das aparições de Caracas, é ridículo mas ainda consegue ter piada; que alguém defenda os santinhos de Havana, é provavelmente apenas mais um exemplo daquela contabilidade privada com os beatos da sua devoção, que Eça nos contou como os portugueses não resistem a manter, o caruncho sendo apenas mais um activo no deve e haver respectivo. Que alguém defenda o tirano de serviço em Pyongyang entra directamente no campo da obscenidade, mas enfim, trata-se de um pequeno país de bilhete postal, longínquo e misterioso, o equivalente moderno dos principados balcânicos do início do século vinte, mais não sendo do que a luta do pobre Joe Dalton, vítima do raquitismo, contra o malandro do Lucky Luke e só mesmo o Jolly Jumper para se dar conta dos erros de script.

Agora, aqueles que a respeito da Ucrânia mártir, não conseguem nem querem perceber que "o Coelho" é apenas um micro-Putin, entram directamente numa categoria escatológica bem definida, os coprófagos, isto é, aqueles que comem merda e gostam do sabor. Estão muito bem acompanhados: por mais que se esforcem, nunca vão conseguir chegar aos calcanhares deste fulano.


Jean-Paul Sartre. O exemplo mais acabado da profundidade que a esquizofrenia organizada do cérebro humano consegue atingir. O autor de "Os Caminhos da Liberdade"" foi o mesmo que lia calmamente L'Humanité pelas esplanadas de Paris — o órgão oficial do PCF publicou-se livremente até ao início do Verão de 1941 (mais de um ano após a rendição da França) -- e que, quando questionado a respeito do andamento da guerra, respondia "Ça ne me concerne pas". Será que o dizia "Com a morte na alma"? Ninguém o registou, sabemos apenas que o fazia "...para não atraiçoar os trabalhadores", fosse lá o que fosse que isso queria dizer.

Jean-Paul Sartre é o epítome da coprofagia europeia, que conseguiu muitas vezes atingir o génio, sem nunca deixar de exibir a sua natureza fecal. Quando pelo fim da Primavera de 1968, os operários dos complexos fabris da Renault nos arredores de Paris regressaram ao trabalho, os "revolucionários" da Sorbonne foram de férias. Em Agosto, quando os tanques soviéticos se passearam pelas avenidas de Praga, estavam, literalmente, de férias. E no fim de contas, aqueles eram os tanques bons. Nada de generalizações: "Que venez-vous faire Camarade / Que venez-vous faire ici / Ce fut à cinq heures dans Prague / Que le mois d'août s'obscurcit" — Jean Ferrat, Camarade"
Há uma precisão que não pode deixar de ser feita. A coprofagia não é uma doença de toda a Esquerda. Nas suas formas mais extremas, fica circunscrita ao "comunismo oficial" e àquela categoria histórica tão especificamente europeia como os Alpes, que são — essencialmente, foram — os compagnons de route. Os sectores não comunistas nunca atingiram esta profundidade, ficando-se sempre pela sua estirpe mais suave e muitas vezes com imensa piada, do anti-americanismo. Uma relação análoga à da varíola com as bexigas doidas. Também as tive e recordo-me perfeitamente de o médico me dizer que aquela forma atenuada (para além da vacina, claro) era a melhor garantia de nunca vir a ter problemas com o maior assassino da história da humanidade. No fim de contas, esta é provavelmente a conclusão importante: não há muito de errado nas doenças infantis, desde que façam parte do processo de maturação e não deixem marcas permanentes.


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publicado às 16:02


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