No dia 31 de Maio de 1817, estreou-se, no Teatro alla Scala, de Milão, a ópera “A Pega Ladra”, do compositor italiano Giochino Rossini.
“A Pega Ladra” é uma ópera semi-séria, em dois actos com libreto de Giovanni Gherardini, baseado em “La pie voleuse”, de Badouin d'Aubigny e Louis-Charles Caigniez. É célebre pela sua abertura e destaca-se pelo uso das caixas. Rossini era conhecido pela rapidez com que compunha as suas obras e esta não foi excepção. Supostamente, o seu produtor teria sido obrigado a fechar Rossini num quarto, na véspera da estreia, para que ele concluísse a abertura. O compositor passava aos copistas, pela janela, cada folha da obra para que eles escrevessem o resto das partes orquestrais. A ópera foi revista por Rossini para actuações posteriores em Pesaro, em 1818, no Teatro del Fondo, em Nápoles, em 1819, e no Teatro de São Carlos, também em Nápoles, em 1820. O próprio Rossini fez uma revisão à obra para ser executada em Paris, em 1866. O compositor italiano Riccardo Zandonai fez a sua própria versão da ópera para uma apresentação em Pesaro, em 1941, e o maestro Alberto Zedda editou o trabalho original de Rossini, em 1979, para uma publicação da Fondazione Rossini.
Abertura da ópera “A Pega Ladra”, de Rossini Orquestra Filarmónica de Viena Maestro: Claudio Abbado
No dia 30 de Maio de 1926, nasceu em Bruxelas o maestro belga Edouard van Remoortel.
Estudou violoncelo e direcção de orquestra no Conservatório de Bruxelas. Em 1951 assumiu o cargo de maestro principal da Orquestra Nacional Belga. Entre 1958 e 1962 foi o director musical da Orquestra Sinfónica de Saint Louis, cargo para o qual foi nomeado depois de uma aclamada actuação como maestro convidado. No entanto, surgiram problemas entre ele e a orquestra devido à sua relativa juventude e pouca experiência como maestro e também por causa de conflitos de personalidade entre ele e os músicos. Na primeira temporada tentou despedir 42 músicos e, em contrapartida, eles decidiram que nunca mais tocariam para ele. Na última temporada da Orquestra Sinfónica de Saint Louis, van Remoortel só participou em sete concertos e o seu contrato já não foi renovado.
Durante a sua estadia em St. Louis, ainda apareceu como maestro convidado da Filarmónica de St. Louis, uma orquestra comunitária de amadores. Entre 1965 e 1969 dirigiu a Orquestra Nacional de Monte Carlo Edouard van Remoortel morreu em Paris, no dia 16 de Maio de 1977.
3º andamento da Sinfonia Espanhola, de Lalo Violino: Henryk Szeryng Orquestra Nacional de Monte Carlo Maestro: Edouard van Remoortel
Faz hoje 100 anos que se estreou o bailado "A Sagração da Primavera", do compositor russo Igor Stravinsky.
Depois de passar por revisões quase até ao dia da sua primeira apresentação, a obra foi apresentada pelo Ballets Russes, a 29 de Maio de 1913, no Teatro dos Campos Elísios, em Paris. O programa dessa noite começou com "As Sílfides", um bailado com música de Chopin, seguido de "A Sagração da Primavera". A estreia envolveu um dos mais famosos motins de música clássica na história. O ritmo intenso, o cenário primitivo e a coreografia chocaram o público que estava habituado à maior elegância do ballet clássico. A música complexa e os passos de dança violentos causaram vaias e assobios no público. Havia opiniões fortes na plateia entre apoiantes e opositores da obra, o que originou gritos e brigas nos corredores do teatro. A agitação na plateia eventualmente degenerou num motim. A polícia de Paris teve que intervir, mas não conseguiu evitar o caos durante o resto da apresentação. Diaghilev, o empresário dos Ballets Russes, ascendia e apagava as luzes numa tentativa para tentar acalmar a plateia. Depois do espectáculo, consta que Diaghilev comentou, num jantar com o coreógrafo Nijinsky e com o compositor Stravinsky, que o escândalo era "exactamente o que eu queria." "A Sagração da Primavera" tornou-se na obra mais conhecida de Stravinsky.
"A Sagração da Primavera", de Stravinsky Orquestra e Bailado do Teatro Mariinsky Maestro: Valery Gergiev Fagote: Rodion Tolmachev
No dia 29 de Maio de 1860, nasceu, em Camprodon, na Catalunha, o pianista e compositor espanhol Isaac Albéniz, mais conhecido pelas suas obras para piano, baseadas em música popular espanhola.
Albéniz foi um menino-prodígio que, com quatro anos, já tocava em público e, aos quinze, já tinha dado concertos em vários países do mundo. Aos sete anos, ficou aprovado no exame de admissão ao Conservatório de Paris, na classe de piano, mas foi-lhe recusado o ingresso, porque, enquanto brincava com uma bola que tinha tirado do bolso, partiu o vidro de uma janela. Depois de uma curta passagem pelo Conservatório de Leipzig, foi estudar para Bruxelas, em 1876. Em 1870, foi para Budapeste, com a intenção de estudar com Franz Liszt, mas, quando lá chegou, descobriu que Liszt se encontrava em Weimar, na Alemanha. Em 1883, encontrou o compositor e professor Felipe Pedrell, que o inspirou na composição de música espanhola, como a Suite Espanhola, op. 47. O quinto andamento dessa obra, chamado Astúrias, é, nos dias de hoje, mais conhecido por fazer parte do reportório para guitarra, embora fosse, originalmente, escrito para piano e, só mais tarde, transcrito para guitarra. Muitas das sua outras composições foram, também, transcritas para guitarra, em particular, por Francisco Tárrega. Albéniz afirmou, uma vez, que preferia as transcrições de Tárrega às suas próprias obras, originalmente escritas para piano. Durante a década de 1890, Albéniz viveu em Londres e Paris e escreveu, principalmente, obras para teatro. Em 1900 recomeçou a escrever música para piano. Entre 1905 e 1909, compôs a sua obra mais conhecida, Ibéria, uma suite de 12 “impressões”, para piano. Isaac Albéniz faleceu em Cambo-les-Bains, no País Basco, no dia 18 de Maio de 1909 e está sepultado no Cemitério do Sudoeste, em Barcelona.
Astúrias, da Suite Espanhola, op. 47, de Isaac Albéniz Guitarra: Andrés Segovia
Pareceu-me um matemático... Franklin Roosevelt, a respeito de John Maynard Keynes
Vamos imaginar que eu sou o executivo duma companhia de petróleo. Nada de coisas mixurucas, uma das Grandes Irmãs.
Sendo um "homem do petróleo", eu não sou um CEO de aviário; nasceram-me os dentes dentro do ramo e conhece-o como a palma das minhas mãos. Como também gosto mais de dinheiro do que da minha família toda, o estado das coisas não me agrada. E sendo um homem do petróleo, aquele calo no sítio onde os macacos se sentam, diz-me que tenho ao meu dispor o maior corpo de conhecimento, jamais acumulado por qualquer empresa privada. Está na hora de tirar partido dele. Fui ter com o meu pessoal de Investigação & Desenvolvimento e disse-lhes isto:
— Meus senhores, como é do vosso conhecimento, o nosso espectro de produção é 40-20-40 (50-10-40 na versão americana). 40% de produtos leves, de alto valor e alto preço. Mais 20% de produtos intermédios, de valor ainda muito interessante. Finalmente, 40% de produtos pesados, coisa de uva mijona. Não perdemos dinheiro com a uva mijona, mas não consegue passar disso. Portanto, quero que vocês me digam o que é preciso e quanto é que vai custar, para que daqui a 10 anos, o nosso espectro passe a ser algo como 60-30-10. Não mais de 10% de uva mijona.
Eles fizeram lá um daqueles conciliábulos, por sinal bastante rápido, para o que é comum na malta de I&D, e responderam-me:
— Olha, boss. Isto não tem nada que saber. O hidrogénio é o elemento mais abundante do Universo, mais de 30% da sua massa total é hidrogénio e o que para aí não falta é água. Abre os cordões à bolsa e daqui a dez anos (ou menos) tens aquilo que pretendes.
Eu disse-lhes "Muito bem. Preparem tudo, porque eu tenho que verificar mais um pormenor. Depois dou-vos a resposta final". Fui ter com os meus contadores-de-feijões, com os meus economistas e coloquei-lhes o assunto.
— Caríssimos, o nosso pessoal de I&D assegura-me que daqui a dez anos, poderemos estar a produzir muito mais gasolina e muito mais gasóleo, e muito menos fuel pesado. Vai-nos custar os olhos da cara, mas mais do que vale a pena. Ora a situação é simples: aquilo que vendermos hoje ao preço do fuel, não vamos ter amanhã, para vender ao preço da gasolina. Por isso, quero que digam qual deve ser a percentagem das nossas reservas que devemos guardar, para este propósito.
Estes, nem piscaram os olhos. A resposta foi imediata:
— Zero, boss. A resposta é ZERO! Mantém-te firme nos essenciais: Drill, baby, drill! Burn, baby, burn! Lembra-te do principal de HH.(1)
Foi nesta altura que eu decidi estar na hora de os "homens do petróleo" começarem a untar a barriga com manteiga de amendoim e darem lugar aos produtos de aviário. No fim de contas, os Mexias deste Mundo têm tudo o que é necessário para os tempos que correm, e ainda conseguem ser mais malandros do que eu.
Esta história é completamente inventada, mas os pontos essenciais não são. Em particular, a resposta final dos contadores-de-feijões. Está connosco desde 1931 e é matemática pura; Teoria dos Conjuntos, pura e dura. A citação inicial é um fait-divers sem qualquer importância na actualidade. Roosevelt e Keynes sabiam bem da sua influência mútua e, aquando duma deslocação académica de Keynes aos Estados Unidos, foi arranjada aquela entrevista, a única entre os dois homens. Não saltou qualquer patanisca. Keynes assumiu a posição snob dum dandy inglês, sim, aquele americano era um rapaz bem intencionado e esforçado mas..., não passava dum labrego lá das berças do Novo Mundo. Roosevelt foi muito mais sintético. Disse apenas aquela frase, que na época e sendo aplicada a um economista, era um insulto subtil e profundo. A sofisticação matemática não era nada bem vista, os economistas deviam limitar-se a recolher dados e interpretá-los, usando o bom senso e o seu conhecimento da economia real. Harold Hotteling viu o seu trabalho ser rejeitado por diversas revistas académicas, devido à sua "dificuldade matemática" e o Journal of Political Economics, da Universidade de Chicago, publicou-o antecedido de solenes avisos: "Cuidado, que este assunto requer uma sofisticação matemática fora do comum".
Aquele trabalho seminal não foi ignorado, nada disso. As folhitas de cálculo do gaspar hão-se de estar mais pranhas do que um ovo com as fórmulas de Hotteling, nenhum economista lhes consegue escapar. O que eles não querem que se saiba, são as conclusões, tão puramente matemáticas como o resto. As "duas economias" não são invenção minha, são a conclusão incontornável da análise de Hotteling. As economias de recursos renováveis podem ser tudo e mais alguma coisa, e à vista do pano é que se talha a obra; as economias de recursos exauríveis são loucas, e, mais do que isso, são um exemplo do falhanço total do mercado.
Num quadro de recursos não-renováveis, existem apenas três estruturas possíveis e todas três são más. A pior (dificilmente alguma vez terá existido) é o mercado livre. A outra a seguir (a mais comum, na prática) é o duopólio; podemos associá-lo à ideia de cartel, embora vá para além disso. A alternativa menos má é o monopólio. Hotteling comentou como, em algumas hipóteses sendo verificadas, os monopólios públicos conseguem ser ligeiramente melhores, ligeiramente menos negativos (!) do que os monopólios privados. Mas não mais do que isso. A economia de recursos exauríveis é amaldiçoada, culpem a Teoria dos Conjuntos.
Tudo isto nos leva ao Hans. Ao meu e ao Hans real, o mais importante. No fim de contas, seria inconcebível que a mesma cultura que produziu Leibniz e Kant, tivesse ficado reduzida a produzir clones rastejantes do Fritz.
Hans-Werner Sinn é professor de economia e reparou num pormenor paradoxal: à medida que as alternativas renováveis se vão tornando mais eficientes e mais acessíveis, os donos de recursos fósseis são presenteados com a escolha entre venderem hoje a baixo preço e venderem amanhã a um preço ainda menor. Adicionalmente, se os donos dos fósseis forem confrontados com a possibilidade da introdução de controlos regulatórios, obrigando-os a manter uma parte das suas reservas no subsolo, isso irá aumentar a pressão para os extrair e vender o mais rápido possível, enquanto essa regulação não existe.
Acontece que, e isto não é para provocar o Hans, o paradoxo não tem que ser verde. Como foi que a Alemanha Nazi travou a 2ª Guerra? Foi um conflito já muito mecanizado e os alemães nunca tiveram acesso a outras fontes petrolíferas, para além dos campos de Ploesti, na Roménia, que nunca foram grande espingarda. Como foi que eles conseguiram? A resposta: com o recurso a combustíveis sintéticos. Mais de 75% de todos os combustíveis líquidos, usados pela máquina militar-industrial nazi, foram destilados a partir do carvão. São ainda mais porcos do carvão, mas isso é irrelevante para o meu argumento. As patentes-base datam do início do século XX, tanto o processo de Bergius como o Fischer-Tpropsch têm mais de cem anos. No início deste século e perante o aumento dos preços petrolíferos, resultante da procura chinesa, algumas empresas americanas tentaram voltar a utilizá-los. Falharam, porque o mercado com que eles contavam para o arranque lhes foi vedado. A administração Bush, que negava as alterações climáticas, usou a legislação ambiental, herdada das administrações Clinton, para proibir (!) o Pentágono de comprar combustíveis sintéticos destilados do carvão. E pronto, já disse tudo de positivo que sou capaz de dizer a respeito do George W.
O paradoxo não tem que ser verde, qualquer alternativa produzirá os mesmos efeitos, o Hans sabe-o bem. E o que é que ele propõe? David Hilbert e Karl-Fiedrich Gauss concordariam, Beethoven seria capaz de compor uma sinfonia em sua honra. Hans-Werner Sinn propõe um Monopólio Mundial e um Governo Mundial.
Ah! É um governo mundial muito suave, muito kantiano. Baseado nas Nações Unidas e capaz de ser construído gradualmente e por consenso. Mas não é menos mundial por isso, nem menos monopolista, por melhor que o autor o disfarce e fá-lo muito bem e de forma muito convincente. Em absoluto, vale a pena lê-lo. Nem sequer me importava de dar para este peditório. Pura e simplesmente não acredito que a urgência do assunto o permita.
E pronto! Isto conclui as maldições e confesso que escrevo estas frases com um suspiro de alívio. Resta o mais importante, a superação, mas as cores são outras. Vamos começar com um poema.
Vastos, vastos, nove rios atravessam a China E apenas um caminho-de-ferro de Norte a Sul Mao Tse Tung — Para onde foi o Grou Coroado? (2)
No dia 28 de Maio de 1787, morreu, em Salzburgo, na Áustria, o compositor, maestro, professor de música e violinista alemão Leopold Mozart, pai do mais popular e conhecido Wolfgang Amadeus Mozart. Tinha nascido em Augsburgo, na Alemanha, no dia 14 de Novembro de 1719.
Casou-se com Anna Maria Pertl, de quem teve 7 filhos, mas só 2 sobreviveram, Maria Anna Walburga Ignatia e Wolfgang Amadeus Mozart. Os outros morreram todos com menos de 1 ano de idade. Quando descobriu que tinha um menino-prodígio, Wolfgang, levou o pequeno de 5 anos pela Europa para apresentá-lo a todos e mostrar do que esse pequeno génio era capaz. Leopold iniciou Wolfgang na música, logicamente. Apresentava-o a reis, príncipes, e outros membros da nobreza e do clero. Talvez pela invulgar sorte que teve com os filhos, Leopold Mozart deixou para a história uma importante obra musical a que chamou Sinfonia dos Brinquedos. É certo que deixou igualmente várias outras sinfonias, música religiosa, concertos, divertimentos, sonatas para piano e um muito notável tratado de violino. Mas foi a Sinfonia dos Brinquedos, atribuída no passado a Joseph Haydn, que contribuiu para a sua fama.
Sinfonia dos Brinquedos, de Leopold Mozart Orquestra Filarmonia Maestro: Herbert von Karajan
No dia 27 de Maio de 1799 nasceu, em Paris, o compositor francês Fromental Halèvy, amplamente conhecido pela sua ópera “La Juive”.
O seu pai era cantor, escritor, professor de hebraico e secretário da comunidade judaica de Paris. Entrou no Conservatório de Paris com nove anos, em 1809, onde foi aluno e, mais tarde, protegido de Cherubini. Halévy foi mestre de coro no Teatro Italiano, enquanto lutava para conseguir realizar uma ópera. Foi nomeado professor do Conservatório de Paris em 1827 e membro da Academia das Belas-Artes, em 1836. Foi secretário perpétuo daquela instituição a partir de 1854. Fromental Halévy morreu em Nice, no dia 17 de Março de 1862, deixando a sua última ópera, Noé, inacabada. Foi concluída pelo seu genro, Georges Bizet, mas apenas foi executada 10 anos depois da sua morte.
Ária “Rachel,quand du Seigneur”, da ópera “La Juive”, de Fromental Halèvy Tenor: Plácido Domingo Orquestra de Paris Maestro: James Levine
Em última análise, existem apenas dois tipos de sociedades. Umas podem ser chamadas 'fechadas' e as outras 'abertas'. [...]O drama das sociedades abertas é que têm que permitir a actuação dos seus inimigos.
Karl Popper, in A Sociedade Aberta e os seus Inimigos
Quando me propus escrever esta série de posts, sabia antecipadamente que o assunto se iria tornar progressivamente mais difícil e pelo facto simples de existir uma hierarquia clara nos problemas sociais e civilizacionais gerados por aquela que é ainda (!) a nossa civilização. A primeira — e última, que fique claro — assente em combustíveis fósseis.
As duas primeiras maldições são simples. Resultam de restrições físicas e a única coisa que a sôdona física nos diz é por onde não podemos ir e quais são os buracos que iremos encontrar, ao longo do caminho. A terceira, o trólaró do "Há petróleo no Beato!" parece ser um assunto já de outra natureza, mas continua a ser uma restrição física. O tempo decorrido entre a descoberta duma qualquer jazida fóssil e a sua produção plena nunca consegue ser inferior a uma década. O facto de as sociedades envolvidas sentirem, de facto, os seus efeitos muito depressa — veja-se o exemplo da Escócia e da Noruega, com a descoberta do petróleo do Mar do Norte — está já na interface entre a física e a economia e mostra-nos como existe alguma margem de manobra em torno das maldições fósseis. Chama-se inteligência colectiva e não é pelo facto de ser rara que se revela menos importante.
O que me fez andar para aqui às voltas, como um cão a tentar morder o rabo, foi ter-me apercebido que as minhas palavras a respeito das erupções de violência, quando a curva de Hubbert sofre aquelas inflexões qualitativas, podem ser lidas quase ao contrário daquilo que eu quis dizer. Para começar, eu não estava a dizer algo como "...descobri uma nova lei da história...". As leis da história são apenas o exercício do direito humano à estupidez, de Marx aos gasparídeos. Muito diferentes, que fique claro, mas com um ponto comum e esse ponto comum é maleita de que eu não sofro : a crença em leis da história.
O período de tensão actual (desde o início do século), resulta do ponto mais complicado da curva de Hubbert, ou seja, o pico da produção. No entanto, os actores principais, sentiram essas tensões de forma completamente diferente. Bush & Co. sentiram-nas como a necessidade de controlar a oferta, tal como o senhor Saddam tinha sentido as tensões dos choques petrolíferos dos anos setenta, e reagiram exactamente da mesma forma, a única diferença é que uns invadiram o Irão e os outros invadiram o Iraque. Resultados semelhantes.
Os choques de preços do início do século, esses, foram o resultado de os líderes chineses terem sentido a necessidade de assegurar a sua própria procura, percebida como estando numa fase de crescimento exponencial; exactamente o mesmo que franceses e britânicos sentiram, no tempo do Sykes-Picot. Mesmas necessidades, resposta diferente. Que seja do meu conhecimento, não houve sangue derramado, como consequência dos choques de preços do início do século. A diferença chama-se, novamente, inteligência colectiva.
Não estou a tentar justificar o regime chinês, que fique claro. Estou apenas a tentar abocanhar a minha própria cauda, e acho que já encontrei uma maneira de o fazer. Isto é a Internet, portanto, peço aos leitores que façam um exercício simples. Agarrem numa folha A4 e listem todos os episódios de agressão externa chinesa, durante os últimos 2 000 anos. Nada de tergiversar. Se teve origem em território chinês e foi dirigida ao exterior, é chinesa (incluindo os episódios resultantes da expansão mongol).
Ninguém conseguiu encher a primeira página, pois não? Agora, regressem àquela resma de papel A4 e comecem a listar os episódios de agressão externa do Reino da Suécia, durante os últimos 800 anos. A expansão viking dos séculos anteriores nem sequer é para aqui chamada. Então, a resma de papel chegou, ou já estava nas lonas? Talvez aquele intangível e indefinível a que chamei inteligência colectiva exista, no fim de contas.
Voltemos então às maldições. O paradoxo de Popper, que citei no início, não é assunto de opinião, não é coisa passível de "...eu acho que..."; as achações e as crenças não são para aqui chamadas. É apenas uma construção lógica. Se algumas sociedades são abertas, então têm que permitir a actuação dos seus inimigos. Tanto o Adolfo como a Guidinha dos limões, recentemente falecida, subiram ao poder usando os mecanismos de abertura das suas próprias sociedades. Um, para o tirar de lá, foi preciso destruir meio continente; quanto à segunda, foi impossível evitar que se metastizasse numa catrefa enorme de gaspares. Continuamos sem saber o que lhes fazer, sem destruir a outra metade do mesmo continente. E isto porque o lema de Popper tem um corolário: se existem apenas dois tipos de sociedades, existem apenas dois tipos de economias. Umas são de recursos exauríveis, as outras de recursos renováveis.
Dizer que um qualquer bem é um recurso renovável, não significa que a respectiva economia seja um mar de rosas. A água e a energia são os dois recursos primordiais para a existência de grupos sociais organizados. A água, não só é renovável como é indestrutível. Faça-se o que se fizer, o total de água do planeta permanece constante. O problema é que nós não "bebemos água"; bebemos água potável, o que a torna um recurso crítico. O primeiro de todos a ter sido regulado pelo Estado. O que faria Ramsés, se lhe aparecesse um qualquer gasparídeo a propor privatizar a água potável? Acho que mandava que lhe atassem as mãos e os pés à cauda de quatro cavalos diferentes e que chicoteassem as garupas dos quatro ao mesmo tempo. Hmmm! É capaz de ser uma ideia...
Quanto ao outro daqueles recursos primordiais, a energia, não tem que ser, à partida, uma coisa ou outra. No entanto, as energias fósseis são um caso de economia de recursos exauríveis; em absoluto, são o único caso. Em cada quilograma de aço que sai das siderurgias, existe uma percentagem elevada de "aço antigo"; não é preocupação ecológica, é o facto de ser mais barato fazê-lo desta forma, do que processar apenas minério de ferro recém-extraído. Os combustíveis fósseis, queimam-se e acabou. Em última análise, não há nada que nos consiga proteger da lógica inexorável da economia de recursos exauríveis; nem a tal inteligência colectiva, mesmo esta só resulta durante períodos limitados de tempo. Acho que estou só a respirar fundo, antes de contemplar a sua loucura essencial.
[RAYMOND CHANDLER TO EDGAR CARTER, March 28, 1947]
By the way, do you ever read the Bible? I suppose not very often, but I had occasion to the other night and believe me it is a lesson in how not to write for the movies. The worst kind of overwriting. Whole chapters that could have been said in one paragraph. And the dialogue! I bet you Macmillan’s are sore as hell they didn’t get to publish it. They could have made it a best-seller easy. And as for getting it banned in Boston I don’t think they’d even have to grease the Watch and Ward Committee to put the red light on it.
No dia 26 de Maio de 2005, morreu de cancro, em Nova Iorque, a pianista americana Ruth Laredo, conhecida como “a primeira-dama do piano”. Tinha nascido em Detroit, no estado de Michigan, no dia 20 de Novembro de 1937.
Aos dois anos já tocava algumas canções no piano. Frequentou o Liceu Mumford, em Detroit, que acabou em 1956. Sob a tutela do pianista Rudolf Serkin, licenciou-se, em 1960, no Curtis Institute of Music de Filadélfia. Nesse mesmo ano casou-se com o violinista boliviano Jaime Laredo. Em 1962, ganhou as audições internacionais para jovens artistas de concerto. Ainda no ano de 1962, Ruth Laredo estreou-se com orquestra, num programa em que Leopold Stokowski dirigiu, no Carnegie Hall, a Orquestra Sinfónica Americana. Ficou conhecida pelas suas gravações das obras de Scriabin e Rachmaninoff e foi a primeira pianista a gravar as obras completas para piano solo, de Rachmaninoff.
Prelúdio em sol maior, op. 32, nº 5, de Rachmaninoff Piano: Ruth Laredo
Em 1904, o coronel (depois general) Younghusband, comandou uma expedição militar britânica ao Tibete. Não teve grande assunto, mas, à chegada a Lhasa, o comandante britânico reportou uma recepção entusiástica. Os cidadãos da capital acotovelavam-se nas ruas, batendo palmas à passagem das tropas. Se isto não é entusiasmo..., acontece que os tibetanos batem palmas para afugentar os demónios. Ah! E deitam a língua de fora, em sinal de respeito. Por isso, nada de deitar a língua de fora ao nosso Zé Grilo, que a senhora Maria anda a fazer umas sessões de meditação Mahayana e pode ficar com ideias.
Juro a pés juntos que não faço a menor ideia de qual é o contexto cultural do gesto do senhor Shinzo Abe, actual primeiro-ministro do Japão. A única certeza que eu tenho é que não é aquilo que (nos) parece. Mas lá que parece, parece. E tanto que parece, que a francesa de Berlim há-de estar com o pêlo todo eriçado. E com motivos para isso.
Então não querem lá ver que aquele..., qualquer coisa duma figa, não só não quer saber duma dívida pública superior a 200% do PIB, como pôs o estado nipónico numa senda de gastação desenfreada e pretende induzir — t'arrenego, Belzebu, gasparacho, beldroega — inflação! Inflação, pelo menos 2% ao ano. Inflação, aquela coisa que devora as rendas financeiras. E ainda por cima, parece estar a funcionar.
Por isso, quando um daqueles suspeitos do costume vos arengar com as "inevitabilidades" e com os "consensos", mais o respeito devido a Sua Excelência, chamem-lhe algo que Sua Excelência não consegue perceber: Kaijin ! Não há problema. A PGR não vai conseguir acusar ninguém, porque nenhum de nós consegue pronunciar correctamente o japonês. O mais provável, é que seja exactamente isso que o senhor Abe esteja a dizer. O tradutor do Google apresentou este resultado para "Ombu Kaijin!" e eu transcrevo: "Fuck you, bárbaro sub-humano, monstro marinho do outro lado do mar!"
No dia 25 de Maio de 1929, nasceu, em Brooklyn, Nova Iorque, a soprano americana Beverly Sills. De ascendência ucraniana e romena, foi considerada pelo New York Times a cantora de ópera mais popular nos Estados Unidos desde Enrico Caruso.
Aos quatro anos, cantou para um programa de rádio, com o nome de Bubbles Silverman. Consta que o seu apelido, "Bubbles" (que significa “bolhas”), se deve à sua personalidade efervescente e aos seus cabelos ruivos. Aos oito anos cantou num pequeno filme e foi então que adoptou o nome artístico de Beverly Sills. Teve a sua estreia profissional aos 16 anos numa companhia itinerante de operetas de Gilbert and Sullivan. Cantou operetas durante muitos anos, até que se estreou na ópera como Frasquita, da Carmen, de Bizet, em Filadélfia. A partir daí, viajou com a Companhia de Ópera de Charles Wagner por toda a América do Norte. Em 1955 estreou-se na New York City Opera e, em 69, no Teatro alla Scala, de Milão, onde foi um êxito tão grande que apareceu na capa da revista Newsweek. Apesar da sua grande fama nos Estados Unidos, Beverly Sills só se estreou no prestigiado Metropolitan Opera de Nova Iorque, em 1975, recebendo 18 minutos de aplausos sem interrupção. Retirou-se dos palcos no dia 27 de Outubro de 1980, com uma gala de despedida na New York City Opera, passando a ser directora geral daquele teatro. Foi presidente do Lincoln Center e do Metropolitan Opera. A 28 de Junho de 2007, a Associated Press e a CNN noticiaram que Sills tinha sido hospitalizada, gravemente doente, devido a um cancro de pulmão. Beverly Sills faleceu 4 dias depois, a 2 de Julho de 2007, aos 78 anos, deixando um indiscutível legado para a ópera e as artes em geral.
Toda a vida se dedicou a grandes causas sociais – segundo um seu biógrafo, ela conseguiu reunir mais de 70 milhões de dólares para ajuda de crianças deficientes.
Ária “Sempre Libera”, da ópera “La Traviata”, de Verdi Soprano: Beverly Sills Maestro: Julius Rudel
Qual a razão para o palhaço ter ficado aborrecido por o Miguel Sousa Tavares o ter chamado palhaço? Pediu à procuradoria para investigar. Nada a investigar. Foi palhaço, mesmo, que ele te chamou. Já a subsunção dos factos ao direito são outros quinhentos. Um palhaço tipo bobo da corte, mas que não faz rir e sim chorar. Um palhaço que é co-responsável pelo estado miserável do país. Um palhaço que invoca santos em assuntos de Estado. Um palhaço que vive num mundo de "cidadões". Um palhaço que me envergonha. És um palhaço, Cavaco, e é fácil prová-lo. O interesse em dizê-lo alto e bom som é mais que legítimo. De resto, um palhaço como tu não pode ser lesado na honra. Não a tem. Só mais uma coisa, PALHAÇO, escolheste o Miguel pela notoriedade? Queres fazer dele um exemplo? É que tens centenas de mulheres e homens a chamarem-te isso e muito pior, todos os dias, no Facebook. Há alguma razão para não mandares a procuradoria analisar o nosso caso? Ou são coisas de palhaços, que só um palhaço entende?
Adenda: mais palhaçadas. MST parece não ter uma coisa que o pai tinha. Ele que leia as actas da AR de quando o pai era deputado e talvez aprenda o que é ser excessivo. Saudavelmente excessivo.
No dia 24 de Maio de 1810 estreou-se, no Teatro Hofburg, em Viena, a Abertura “Egmont”, de Ludwig van Beethoven.
Quando, em 1809, Beethoven recebeu uma encomenda para escrever música programática para a peça “Egmont”, de Goethe, escritor por quem Beethoven tinha profunda admiração, o compositor aceitou imediatamente. A música incorpora a convicção de Egmont e de Beethoven de que a morte não é um fim quando a esperança e os ideais permanecem intactos. Egmont conta a história da perseguição espanhola ao povo dos Países Baixos, durante a Inquisição, no séc. XVI. O Conde Egmont é, inicialmente, leal aos espanhóis, porém sente-se incomodado quando vê as injustiças cometidas por eles e pede tolerância por parte do Rei de Espanha. No entanto, por ordem do Duque de Alba, comandante das forças espanholas, Egmont é preso e condenado à morte. A sua morte como mártir servirá, mais tarde, como impulso decisivo para a rebelião. Egmont, de Beethoven, consiste num conjunto composto pela abertura e mais nove peças para voz e orquestra, que narram essa história. A abertura em particular, destaca-se, hoje em dia, nas salas de concerto, devido à sua força, nobreza e carácter triunfante.
No dia 23 de Maio de 1934, nasceu, em Nova Iorque, o inventor, músico e engenheiro norte-americano Robert Moog, que viria a falecer a 21 de Agosto de 2005, em Asheville e, juntamente com o compositor Herbert Deutsch, inventou o moderno sintetizador (o Moog, apresentado num congresso em 1964).
O primeiro Moog era monofónico (o que impossibilitava a criação de acordes) e precisava ser afinado constantemente, pois era analógico. No entanto, Robert Moog criou a empresa Moog Music Inc., na qual foram produzidos os sintetizadores utilizados na banda sonora do filme Laranja Mecânica e pelo grupo de rock progressivo Emerson, Lake & Palmer, pelo teclista Keith Emerson. Lançou posteriormente o Minimoog, o mais vendido da empresa em todos os tempos, depois o Moog Taurus, um sintetizador para ser tocado com os pés, utilizado como um contrabaixo, o Vocoder (que ligado a um microfone, permitia alteração na voz), o Polymoog, de 1976, polifónico e que vinha com sons gravados de fábrica, e o Moog Liberation, teclado que permitia ser colocado no utilizador como uma guitarra, além do Memorymoog, que permite a gravação de sons pelo teclista. A utilização do sintetizador, hoje tão banalizada na música rock e nos ambientes de salão e de baile, tem também permitido interessantes leituras da música clássica. Exemplo disso é a interpretação do 3º Andamento do Concerto Italiano, BWV 971, de Bach que nos é dada pelo teclista Don Dorsey, no sintetizador.
3º andamento do Concerto Italiano, de Johann Sebastian Bach Sintetizador: Don Dorsey
Gonna make a song of great social and political import:
Oh lord won't you buy me a Mercedes Benz. My friends all drive porsches, I must make amends. Worked hard all my lifetime, no help from my friends. So oh lord won't you buy me a Mercedes Benz
Oh lord won't you buy me a color TV. Dialing for dollars is trying to find me. I wait for delivery each day until 3. So oh lord won't you buy me a color TV.
Oh lord won't you buy me a night on the town. I'm counting on you lord, please don't let me down. Prove that you love me and buy the next round. Oh lord won't you buy me a night on the town. Everybody.... Oh lord won't you buy me a Mercedes Benz My friends all drive porsches, I must make amends. Worked hard all my lifetime, no help from my friends. So oh lord won't you buy me a Mercedes Benz.
O primeiro equívoco foi relativamente à natureza do programa. Raquel julgou participar numa discussão política sobre a situação dos jovens portugueses quando de tratava de um programa "para jovens" num formato tipo SIC Mulher(1) em que o debate possível se esgota na produção de banalidades decorativas que apenas servem de pano de fundo à exibição de um conjunto de projectos particulares. O segundo e gravíssimo equívoco, decorrente do primeiro, foi ter sido a única pessoa a interpelar o Martim de igual para igual, como o empresário responsável pelos seus actos, que é. Como o levou a sério, a ele e ao programa, despoletou a reacção emocional de uma horda de paternalistas e maternalistas cuja percepção da discussão política, embora mais em sintonia com a natureza do programa, se resume à convicção de que "atacaram uma criança". A resposta do Martim foi banal e comum a gerações de empresários e ideólogos, mas isso não interessa aos protectores dos direitos da criança, indiferentes ao conteúdo desde que seja um qualquer que permita o indispensável êxtase da vindicação: o miúdo não se calou e respondeu à doutora. A resposta encontrada a la minuta justifica a tentativa da direita de se apropriar da onda emocional gerada inscrevendo-lhe o seu programa desregulador das relações de trabalho que vem de longe e é independente de conjunturas. O resto, "Ai Martim, filho, que derrubaste a arrogância esquerdista"? O resto testemunha os traumas e profundos e persistentes ressabiamentos que marinam no inconsciente colectivo de uma parte da população. A qualidade da sua expressão é lixo. (1) Esta caracterização da SIC Mulher não pretende ser depreciativa. Trata-se apenas de tentar ilustrar melhor a diferença.