"O Estado Novo desmoronou-se depressa mas dissolveu-se devagar, tão devagar que transbordou as dobras do século que o gerou". A frase é do Fernando Dacosta, na narrativa Nascido no Estado Novo (2001). O carácter certeiro do dito revela-se na unha encravada do pé deste País de hoje, sentado no sofá, a gemer de dores que tem e que não tem, de manta no colo e a tremer de medo; ai os horrores de pintar às cores a eterna parede cinzenta. Abril light deu nisto: um mortal encravado num sofá. O fascismo não se abate com cravos. Haja memória.
Este é mais um post a que eu dei o mesmo título-base — Crónica antecipada duma revolução inevitável — de outros anteriores. O motivo é simples: isto não vai acabar bem! Nunca acabou, porque seria agora que as coisas seriam diferentes? Até os chineses Han se conseguiram libertar do jugo mongol e, vejamos, nem o Relvas nem o Passos são exactamente um Genghis ou um Kublai. Como vai acontecer, não faço a menor ideia. Quando vai acontecer, também não sei, mas a este respeito é fácil estabelecer um limite superior: antes de 2050! Não, não é tranquilizador, mas é uma afirmação segura.
É que o Planeta está a aquecer, e a velocidade do aquecimento está a aumentar, porque cada vez emitimos mais dióxido de carbono para a atmosfera. O carvão será a principal fonte de energia em breve. Noticias péssimas mas inevitáveis: as potências emergentes não vão hipotecar a sua chance de desenvolvimento, para tirarem as castanhas do lume, num braseiro que não foram eles que acenderam. Estão já a fazer muito mais do que o "terço norte industrializado", a Europa, os Estados Unidos e o Japão, fizeram durante duzentos anos de Revolução Industrial. Inevitavelmente insuficiente, mas a questão política aqui, é que os gaspares e as merkels estão a destruir a coesão social, que a abordagem dos assuntos globais exige: quando a crise bate à porta, os ursos polares..., que se podam, como diria o Pernando. No planeta passos, as pirâmides de Gizé, obra de homens e mulheres livres e remunerados acima da média, nunca teriam sido construidas.
A temperatura média da atmosfera irá aumentar, algures entre os optimistas 2º C do protocolo de Kyoto e os virtualmente catastróficos 4ºC, cada vez mais inevitáveis. Isto significa energia. Mais energia na atmosfera. Quanta? É relativamente simples. O calor específico do ar, cp, é muito aproximadamente igual a 1 KJoule por quilograma e por grau Kelvin; a massa total da atmosfera é aproximadamente 5 × 1018 quilogramas. Por isso, depois de multiplicarmos os ingénuos 2º C de Kyoto, por 5 (e dividirmos pelo coeficiente adiabático, cp/cv, igual a 1,4), o resultado é aproximadamente 7,1 × 1018 KiloJoule. Ainda não dá para perceber, pelo que o mais aconselhável é adicionar seis zeros ao KiloJoule e dividir pela "latência" da atmosfera, e o resultado torna-se mais perceptível: cerca de 25 milhões de GigaWatt, ou seja, aproximadamente 25 milhões de reactores nucleares. Ora, como a Terra suportaria, no limite, cerca de 8000 coisas destas, aqueles números implicariam esventrar, escavacar, mineirar até ao tutano, mais ou menos 3000 Sistemas Solares como o nosso. Convenhamos que é muito mais simples queimar carvão e hidrocarbonetos fósseis, e libertar o dióxido de carbono produzido na atmosfera...
As consequências seriam as mesmas. Mas como escolhemos a forma mais simples de loucura, isso deixa-nos num imbróglio. É que não basta esperar que até lá, alguém invente alternativas: os pontos de não-retorno já foram ultrapassados e estamos a aumentar o problema, de forma abismal, a cada dia que passa. Aquilo que não fizermos hoje, enquanto a pressão ainda não é demasiada, irão os nossos filhos e os nossos netos ter que fazer pela necessidade da sobrevivência física imediata. Vão fazê-lo, mas apenas depois, ou enquanto, chamam meretrizes às respectivas avós e bisavós.
Como esta perspectiva não me agrada, não me agrada mesmo nada, considero preferível estimar quanto é que nos custaria, hoje, abordar o problema de frente. As respostas são duas e a mais importante é estritamente qualitativa: aproximadamente metade do que irá custar aos nossos filhos e netos, lá pela metade do século; a segunda é quantitativa e o trabalho pesado já foi feito por uma agência do governo americano: cerca de 3,5 cêntimos a mais no custo base do kilowatt.hora de electricidade com origem no carvão, cerca de 8,3 cêntimos a mais no custo base de 1 quilograma de gás natural e cerca de 10 e 11 cêntimos a mais nos custos base de, respectivamente, 1 quilograma de gasóleo e de 1 quilograma de gasolina -- e quem preferir continuar a enganar-se a si próprio, fazendo contas em litros de gasolina e metros cúbicos de gás, pois que multiplique os últimos números por 0,8.
Aquele trabalho notável que eu referi, tenta subtilmente induzir o governo americano a abordar o assunto como uma prioridade de segurança nacional, logo como um custo social, a ser equitativamente suportado por todos os cidadãos, pois todos estão em risco. Feito à moda do planeta-gaspar, os números acima representam um terço do aumento dos preços hoje, e um sexto do aumento dos preços, daqui a 40 anos. Não deixe que os seus filhos e netos chamem aquelas coisas feias à sua mãezinha.
Porque é nessas alturas que a lucidez dos visionários se torna quase insuportável.
Give me back my broken night my mirrored room, my secret life it's lonely here, there's no one left to torture Give me absolute control over every living soul And lie beside me, baby, that's an order! Give me crack and anal sex Take the only tree that's left and stuff it up the hole in your culture Give me back the Berlin wall give me Stalin and St Paul I've seen the future, brother: it is murder.
Things are going to slide, slide in all directions Won't be nothing Nothing you can measure anymore The blizzard, the blizzard of the world has crossed the threshold and it has overturned the order of the soul When they said REPENT REPENT I wonder what they meant When they said REPENT REPENT I wonder what they meant When they said REPENT REPENT I wonder what they meant
You don't know me from the wind you never will, you never did I'm the little jew who wrote the Bible I've seen the nations rise and fall I've heard their stories, heard them all but love's the only engine of survival Your servant here, he has been told to say it clear, to say it cold: It's over, it ain't going any further And now the wheels of heaven stop you feel the devil's riding crop Get ready for the future: it is murder
There'll be the breaking of the ancient western code Your private life will suddenly explode There'll be phantoms There'll be fires on the road and the white man dancing You'll see a woman hanging upside down her features covered by her fallen gown and all the lousy little poets coming round tryin' to sound like Charlie Manson and the white man dancin'
Give me back the Berlin wall Give me Stalin and St Paul Give me Christ or give me Hiroshima Destroy another fetus now We don't like children anyhow I've seen the future, baby: it is murder — Leonard Cohen
1. O Presidente eleito toma posse perante a Assembleia da República.
2. A posse efectua-se no último dia do mandato do Presidente cessante ou, no caso de eleição por vagatura, no oitavo dia subsequente ao dia da publicação dos resultados eleitorais.
3. No acto de posse o Presidente da República eleito prestará a seguinte declaração de compromisso:
"A secretaria do Tribunal Constitucional encerrou sem que o Presidente da República tenha ali entregue hoje, último dia do prazo, um pedido de fiscalização preventiva da constitucionalidade do OE 2013. Agora Cavaco Silva tem até dia 31 para promulgar o diploma. Segundo foi noticiado sábado pelo Expresso - sem que Belém tenha desmentido ou confirmado -, o PR deverá accionar a intervenção do TC depois de promulgar o decreto, usando a chamada fiscalização sucessiva de constitucionalidade." [DN]
Artigo 130.º da Constituição da República Portuguesa (Responsabilidade criminal)
1. Por crimes praticados no exercício das suas funções, o Presidente da República responde perante o Supremo Tribunal de Justiça.
2. A iniciativa do processo cabe à Assembleia da República, mediante proposta de um quinto e deliberação aprovada por maioria de dois terços dos Deputados em efectividade de funções.
3. A condenação implica a destituição do cargo e a impossibilidade de reeleição.
Artigo 131.º da Constituição da República Portuguesa (Renúncia ao mandato)
1. O Presidente da República pode renunciar ao mandato em mensagem dirigida à Assembleia da República.
2. A renúncia torna-se efectiva com o conhecimento da mensagem pela Assembleia da República, sem prejuízo da sua ulterior publicação no Diário da República.
Explicar o que ninguém consegue entender Que o que aconteceu ainda está por vir E o futuro não é mais como era antigamente.
Quem me dera ao menos uma vez Provar que quem tem mais do que precisa ter Quase sempre se convence que não tem o bastante Fala demais por não ter nada a dizer.
Quem me dera ao menos uma vez Que o mais simples fosse visto Como o mais importante Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente.
Quem me dera ao menos uma vez Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três E esse mesmo Deus foi morto por vocês Sua maldade, então, deixaram Deus tão triste. (...)"
No dia 20 de Dezembro de 1974 morreu, em Paris, o compositor francês André Jolivet, conhecido pela sua devoção à cultura francesa e ao pensamento musical. Tinha mascido no dia 8 de Agosto de 1905.
A música de André Jolivet baseia-se no seu interesse pela acústica e atonalidade e também pelas influências antigas e modernas, especialmente em instrumentos usados nos tempos antigos. Compôs numa grande variedade de formas, para muitos tipos de agrupamentos. Foi encorajado pelos pais (um pintor e uma pianista) a tornar-se professor. Estudou numa universidade para professores e chegou a ensinar numa escola primária, em Paris, com um intervalo de três anos, para servir no exército. Eventualmente, optou por seguir as suas próprias ambições artísticas e começou a aprender, primeiro violoncelo e, depois, composição. O primeiro professor de Jolivet foi Paul Le Flem, que lhe proporcionou uma base sólida em harmonia e contraponto. Depois de ouvir um concerto de Arnold Schoenberg, começou a interessar-se por música atonal e, seguindo a recomendação do seu professor, tornou-se no único aluno europeu de Edgard Varèse, que lhe transmitiu os seus conhecimentos de acústica, música atonal e orquestração. Em 1936, Jolivet fundou o grupo “La Jeune France”, com os compositores Olivier Messiaen, Daniel-Lesur e Yves Baudrie. Este grupo tentava restabelecer uma forma de composição mais humana e menos abstracta. Quando era adolescente, o seu sonho era escrever música para o teatro, o que o inspirou nas suas primeiras composições, incluindo a música para um ballet. Jolivet foi o director musical da Comédie Française, de 1945 a 1959. Enquanto ocupou esse cargo compôs música para peças de Molière, Racine, Sófocles, Shakespeare e Claudel. Também continuou a compor para as salas de concerto, muitas vezes inspirado pelas suas frequentes viagens, adaptando, para o estilo francês, textos e música do Egipto, Médio Oriente, África e Ásia. Durante as décadas de 50 e 60, do séc. XX, Jolivet escreveu concertos para uma grande variedade de instrumentos, que exigem do solista uma técnica fora do normal. Foi um dos poucos compositores a escrever para o Ondes Martenot, compondo um concerto para aquele instrumento electrónico em 1974, 19 anos depois de o instrumento ter sido inventado. Em 1959, André Jolivet fundou o Centro Francês de Humanismo Musical, em Aix-en-Provence e, a partir de 1961, foi professor de composição no Conservatório de Paris. Morreu na capital francesa, no dia 20 de Dezembro de 1974, deixando inacabada a sua ópera “O Soldado Desconhecido”.
Concerto para percussão, de André Jolivet Percussão: Masako Iguchi Orquestra do Conservatório de Música de San Francisco Maestro: Alasdair Neale