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O último sorriso

por Rogério Costa Pereira, em 19.11.12

Saiu da casca, pendurou-se na beira do ninho, bateu as asas e gostou. Sentiu-se livre. O que não faz sentido pois nunca havia estado preso. No ninho nem sequer sentia, apenas estava à espera de nascer. O que não faz sentido, pois não sabia o que era esperar. Menos ainda o que era nascer. Mas a verdade é que para ali esteve, a bater as asas e a sentir aquele sentir. Ousou saltar. Sempre sem parar de bater as asas. E caiu ao de leve no ninho. Não gostou. Recuou até sentir a parede da casca sua mãe. Teve esse instinto a que na língua dos homens se chama medo. Baixou a cabeça. Deu um passo atrás e viu-se dentro do ovo que agora lhe apertava as asas. Baixou a cabeça e encolheu-se ainda mais. Mas o ovo estava cada vez mais pequeno. Levantou-se de repente e viu-se fora do ovo. Os estilhaços espalhavam a sua vergonha a quem a quisesse olhar. Deu um, dois, três passos atrás. Bateu as asas, abriu o bico e gritou. Um grito surdo onde se reconheceu. Saltou do ninho. Não no ninho. Bateu as asas e voltou a sentir aquela sensação estranha. Não caiu. Bateu as asas. E de novo. E de novo. Estava a andar no ar. Voava e gritava. Estava a gostar. Nisto sentiu uma prisão na garganta. Voava e tossia. Já não gostava. Sentia dor. O que quer que isso fosse. Dor era o nome que lhe vinha à cabeça. Queria gritar e libertar-se daquela sensação de voar só com meias asas. Fechou os olhos e continuou a bater as asas. Tossiu com força e sentiu algo desprender-se da garganta. Sorriu. Ia abrir os olhos. Já não a tempo de ver a árvore onde acabou por bater e que ali tinha crescido momentos antes. Parou a tosse. Parou as asas. Parou o coração. Caiu na terra molhada. Mesmo em cima do catarro que se havia soltado da sua garganta. Foi o último sorriso de um pardal.

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publicado às 21:53


"Sem relho nem trabelho" [António Marinho e Pinto]

por Rogério Costa Pereira, em 19.11.12
Se alguém contabilizasse os milhares de horas de trabalho que todos os anos os portugueses perdem nos tribunais em esperas ou com deslocações inúteis veríamos quão anacrónico e irracional é o funcionamento do nosso sistema judicial. Os nossos tribunais funcionam sob as ordens de quem não está preparado para os administrar. Os juízes foram formados para decidir processos e não para gerir tribunais. É muito frequente haver adiamentos de julgamentos em certos dias porque as salas de audiência estão ocupadas, enquanto em outros dias nenhuma delas é utilizada.
Outrora passava-se algo semelhante com os hospitais, mas o Estado resolveu, há décadas, esse problema formando administradores hospitalares, justamente para que os estabelecimentos de saúde fossem geridos com racionalidade e eficiência por profissionais especificamente preparados para essas tarefas. Em vez de aplicar esse modelo aos tribunais, os sucessivos governos têm assobiado para o lado, sem mostrar qualquer preocupação com os prejuízos que tal situação acarreta.
O atual Governo não só não está interessado em resolver a questão como ainda quer agravá-la através de uma reorganização do mapa judiciário completamente irracional e sem qualquer sentido estratégico. Em cerca de dez meses o Ministério da Justiça já apresentou quatro versões do mapa judiciário e a ministra já anunciou mais outra. Ora abre-se o tribunal que antes se decidira fechar; ora fecha-se aquele que antes se decidiu que ficaria aberto; ora tira-se competências a este tribunal e dá-se àquele, ora tira-se essas competências a esse tribunal para dá-las a outro. Enfim tudo parece decidir-se ao sabor do poder de grupos de pressão e do arbítrio da senhora ministra.
O Governo parece apenas interessado em colocar os municípios uns contra os outros e em dividir a própria Ordem dos Advogados, aliando-se a umas delegações contra outras com o apoio oportunista de alguns dirigentes distritais que se prestam ao papel de canas de pesca à linha. As sucessivas versões do mapa judiciário demonstram claramente que este Governo não está preocupado em servir o país e as populações, mas sim em criar fidelidades, premiar obediências e expandir clientelas.
Por que é que um diferendo de valor superior a 50 mil euros entre duas empresas de Matosinhos passará a ter de ser decidido no tribunal da Póvoa de Varzim? Por que é que um crime grave cometido em Chaves passará a ter de ser julgado em Vila Real? Por que é que o julgamento de um homicídio praticado em Abrantes passará a ter de ser feito em Santarém? Por que é que as populações de Monchique, de Mértola, de Mira e de mais algumas dezenas de outros municípios passarão a ter de percorrer dezenas (e em muitos casos mais de uma centena) de quilómetros para poderem aceder à justiça, quando têm tribunais na sede do seus concelhos, os quais, em alguns casos, foram inaugurados há poucos anos e custaram milhões de euros?
O Ministério da Justiça anunciou que os tribunais dessas dezenas de concelhos vão ser transformados naquilo que ele próprio designa como «Extensões de Proximidade», ou seja, entidades sem magistrados e apenas com funções administrativas e burocráticas. Mas não há ninguém no Ministério, no Governo ou no PSD que explique à senhora ministra que os tribunais são órgãos de soberania e que não podem ser tratados como repartições da administração pública ou como secções de uma qualquer loja do cidadão? Por que é que têm de ser as populações a percorrerem milhares e milhares de quilómetros todos os anos em vez de serem os magistrados a deslocar-se aos tribunais dos vários concelhos para, aí sim, administrarem uma justiça de proximidade em que as respetivas sentenças produzam cabalmente todos os seus efeitos preventivos e dissuasores de futuros comportamentos ilícitos?
Este Governo está a levar a cabo, na área da Justiça, uma política sem relho nem trabelho, tratando os tribunais como peças de xadrez que tenta mover ao sabor dos caprichos de burocratas ou dos interesses das suas clientelas. A justiça precisa de políticos abertos ao país e com linhas de rumo claras e não de fanáticos entrincheirados nos bunkers das suas certezas sectárias.
[António Marinho e Pinto]
Fonte: http://www.jn.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=2894450&opiniao=Ant%F3nio+Marinho+Pinto

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publicado às 01:02


Oração

por Luís Grave Rodrigues, em 19.11.12

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publicado às 00:17


Géza Anda – Pianista húngaro

por António Filipe, em 19.11.12
No dia 19 de Novembro de 1921 nasceu, em Budapeste, o pianista húngaro Géza Anda. Fantástico intérprete do repertório clássico e romântico, particularmente conhecido pelas suas gravações e interpretações de Mozart, foi, também, um óptimo intérprete de Beethoven, Schumann, Brahms e Bartók.

Estudou com alguns professores de nomeada do séc XX e foi aluno de Dohnányi e Zoltán Kodály, na Academia Franz Liszt, em Budapeste. Em 1940, Géza Anda ganhou o prémio Lizt e, no ano seguinte, ficou conhecido internacionalmente pela sua interpretação do Concerto nº 2, de Brahms. Nesse mesmo ano, também estreou com a Orquestra Filarmónica de Berlim, dirigida por Wilhelm Furtwängler, que o intitulou de “o trovador do piano”.
Em 1943, Géza Anda radicou-se na Suíça, assumindo a cidadania daquele país, em 1955. Em meados da década de 1950 deu masterclasses no Mozarteum de Salzburgo e, em 1960, assumiu a posição de director das masterclasses de Lucerne, sucedendo a Edwin Fischer. Foi, também, um notável intérprete da música de Schumann. O Novo Dicionário Grove cita a sua “leitura carismática de Bartók e Schumann”. Na verdade, era considerado o principal intérprete de Bartók, da sua geração.
Em 1965 foi nomeado Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras e, em 1970, tornou-se membro honorário da Royal Academy of Music. Géza Anda morreu no dia 14 de Junho de 1976, com, apenas, 55 anos, em Zurique, na Suíça. Embora, no princípio da carreira, tocasse muito pouco Mozart, foi, mais tarde, muito respeitado pelas suas interpretações daquele compositor. De facto, foi o primeiro pianista a gravar o ciclo completo dos concertos para piano de Mozart, o que aconteceu entre 1961 e 1969, dirigindo, ele próprio, a orquestra, a partir do teclado.


Concerto nº 16, para piano e orquestra, de Mozart
Orquestra de Câmara Inglesa
Maestro: Géza Anda

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