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A lei da selva

por Francisco Clamote, em 26.10.12

 

Fernando Ulrich, presidente do BPI, que, atendendo às suas frequentes e disparatadas declarações, mais parece um banqueiro enxertado num fala-barato, veio mostrar-se preocupado com a possibilidade de o Tribunal Constitucional vir a pronunciar-se sobre o Orçamento de Estado para 2013, à semelhança do que aconteceu relativamente ao Orçamento deste ano, alertando para o perigo de se estar a caminhar para uma "ditadura do Tribunal Constitucional".

Diga-se que o fala-barato mais não faz do que repetir, ainda que por outras palavras, as  afirmações do deputado do PSD, Miguel Frasquilho, que, apesar de ter outras responsabilidades políticas, não teve pejo de considerar que o  “enorme aumento de impostos” previsto para 2013 é a consequência da decisão do Tribunal Constitucional de “chumbar” os cortes dos subsídios a funcionários públicos e pensionistas, decisão que do seu ponto de vista, “lesou os interesses de Portugal”. 

Trata-se num caso e noutro de afirmações irresponsáveis, porque não há qualquer risco nesse sentido e, no caso do deputado Frasquilho, as afirmações são, além do mais, falsas, tendo em conta que o acórdão do Tribunal Constitucional limitou os efeitos da sua decisão para o futuro, permitindo ao governo reter, durante o corrente exercício, os subsídios de férias e de Natal subtraídos a funcionários públicos, pensionistas e reformados.

Em boa verdade, o único risco que Portugal corre, nas presentes circunstâncias, é o da subversão do Estado de direito sob a égide do actual executivo, com a conivência do presidente da República. 

Sabe-se, no entanto, aonde é que eles querem chegar. Contando que o presidente da República, o tal que jurou cumprir e fazer cumprir a Constituição, continue, à semelhança do que fez no passado, a lavar as mãos como Pilatos, face às mais que prováveis  violações da lei constitucional de que enferma o Orçamento do Estado para 2013, o que eles querem, com estes pronunciamentos, é intimidar e neutralizar o único órgão de soberania que ainda pode impedir a direita de impor no país a lei da selva. É este, muito provavelmente, o objectivo desta direita, vista ela, ou não, o disfarce de social-democrata.

Os "leões", pelos vistos, já andam à solta. Se conseguirem neutralizar o Tribunal Constitucional, não sei até onde irá a carnificina.

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publicado às 21:33


As palavras que eu nunca diria

por António Leal Salvado, em 26.10.12
Francisco Louçã deixou ontem o Parlamento. E que o deixou mais pobre parece consensual. Em tempo de oposição mais necessária, em tempo de oposição meramente adjetiva quando não insípida ou contraproducente, o pensamento profundo e claro de Louçã faz falta, ainda mais falta, e a oratória assertiva e contundente do ex-dirigente bloquista parte deixando uma trincheira mais desmoronada.

Tudo, portanto, na hora em que, ao longo de toda a sua carreira de parlamentar, mais necessária era a continuação do seu combate.

No discurso de despedida, Francisco Louçã fez questão de declarar que renuncia aos benefícios económicos a que tem direito pela atividade que desenvolveu como deputado. Quis dar e deu exemplo do espírito de serviço que deve ter quem defende convictamente o que pensa melhor para o seu país - e da honra pessoal que constitui a única retribuição adequada a esse serviço. Esta declaração foi, a meu ver, o menos coerente e louvável de toda a sua atitude. A renúncia às polémicas mordomias de deputado foi uma tomada de posição nobre e exemplar. Mas, não deixando de o ter sido por aquilo em que dela discordo, foi menos exemplar e menos nobre do que seria se não tivesse sido publicitada no discurso. Até porque pode trazer e certamente trará uma nota de equívoco e até de duvidosa coerência na postura que o deputado cessante tem mantido na vida política nacional.

Por mais que se questione a seriedade dos nossos políticos em exercício, por mais que se propugne uma mudança de regime eleitoral e representativo em Portugal - e eu alinho firmemente em ambas essas posições - é pelo menos perigoso desvalorizar o papel do deputado no estado democrático. Dizer-se o que Louçã disse e publicitar-se como e no momento em que o publicitou pode centrar a mensagem de cessação num "vou-me embora e nada quero pelo que aqui fiz", o que permite a leitura de que isso que ali fez não foi trabalho, não importou sacrifício de outras actividades profissionais que legitimamente lhe proporcionassem remuneração, tempo de aposentação e carreira. E isso, nos tempos de mais que suspeita da honradez de quem exerce cargos políticos, como são estes que vivemos, apenas dá mecha no populoso fácil de quem cavalga a legítima revolta popular contra o oportunismo dos carreiristas para demagogicamente propor a extinção do Parlamento ou a redução do número de deputados - como se as minorias não merecessem ser protegidas (e cada vez mais), como se as desgraças do país se resolvessem com os 60 cêntimos que aos impostos de cada português custa manter o poder legislativo na Assembleia da República.

Quem entende a atividade política como a mais generosa disponibilidade para com o próximo não pode deixar de admirar o gesto de Francisco Louçã. Mas, pelo próprio fundamento dessa admiração, também não deixará de pensar: "eu renunciaria como ele renunciou, mas não o publicitaria como ele publicitou". Até porque quem já exerceu funções públicas e renunciou a todas as vantagens e mordomias dela decorrentes sabe que o momento em que se sente mais nobre essa renúncia é aquele em que ela se pratica e se silencia. Confiando que o exemplo sempre vem ao de cima. Com a beleza e a força de significado de vir pelo seu próprio pé. De ser um exemplo completo.

* Também publicado em http://quadratim.blogspot.pt -

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publicado às 19:00


Walter Gieseking - Pianista franco-alemão

por António Filipe, em 26.10.12

No dia 26 de Outubro de 1956, morreu em Londres o pianista franco-alemão Walter Gieseking. Tinha nascido em Lyon, França, no dia 5 de Novembro de 1895. Ambos os pais eram alemães. Possuía, portanto, dupla nacionalidade. Recebeu as primeiras lições de piano da mãe e estudou depois com Karl Leimer em Hannover, ingressando aí no conservatório com a avançada idade de 16 anos. Cinco anos depois de ter entrado no conservatório encontramo-lo a tocar o Concerto nº 1 para piano e orquestra de Franz Liszt. É largamente lembrado pelas suas interpretações de Debussy assim como as de Ravel, embora o seu reportório seja imensamente grande.
Uma das coisas fascinantes em Walter Gieseking é a sua total mentalização da forma de tocar piano. Conta-se que tinha, certa vez, um concerto à noite e que recebeu nesse dia a partitura de uma nova obra que ainda não tinha sido estreada. Lê a partitura no comboio e toca a peça à noite de cor! Também consta que não estudava muito. Que por vezes passava horas e horas em frente a uma partitura mas que não chegava sequer a experimentar o que quer que seja num piano, o que chegava a irritar bastante a sua mulher. O mais incrível é que as suas gravações, em conjunto com as críticas da época, mostram-nos um pianista de excelente técnica e um som magnífico.
Walter Gieseking permaneceu na Alemanha durante a 2ª guerra mundial, mas, às vezes, também actuava na França, na altura ocupada pelos nazis. Isto fez com que o acusassem de colaborar com o partido Nazi. Alguns dos seus concertos, especialmente nos Estados Unidos, foram cancelados, devido a protestos contra o pianista. Eventualmente, o seu nome foi limpo por um tribunal dos Aliados e, em 1953, Gieseking fez, com muito sucesso, uma tournée pelos Estados Unidos. Morreu durante uma gravação da Sonata nº 15, para piano, de Beethoven. Já tinha gravado os primeiros três andamentos e estava previsto gravar o quarto no dia seguinte. Morreu durante a noite, antes de terminar a gravação.


1º andamento da Sonata nº 21 "Waldstein", de Beethoven
Piano: Walter Gieseking

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publicado às 00:01


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