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Os Berlinenses chamam-lhes "Os Franceses". Poucos terão retido os nomes de família, aliás, sem nunca perderem o poder e a influência que o seu número reduzido não pareceria destinar-lhes. "Os Franceses" são os descendentes dos Huguenotes fugidos de França, após a revogação do Édito de Nantes.

Foram instrumentais em todos os turbilhões europeus desde o fim do século XVII: apoiaram Frederico Guilherme da Prússia contra as pretensões hegemónicas da Suécia, apoiaram-no na primeira divisão da Polónia; apoiaram um Jüncker prussiano de boa cepa, quando este iniciou a reunificação da Alemanha, a partir de 1870. Otto von Bismarck parecia ter o zelo religioso que os Calvinistas consideram como iluminado e única fonte de legitimação do poder. Depois, Bismarck revelou-se aquilo que hoje nos aparece quase como um contradição em termos, um conservador inteligente. A unificação da Alemanha foi feita com base no que ficou conhecido como Capitalismo Renano e pelo dealbar do Estado Social. Os Franceses nunca perdoaram a traição, e passaram os últimos anos do século XIX a conspirar contra Bismarck; conseguiram os seus intentos e conseguiram confirmar a previsão do próprio: "A destruição chegará vinte anos após a minha partida". Quase mês por mês, a Europa foi mergulhada no matadouro da Primeira Guerra.



Curiosamente, o clero protestante em geral, foi um dos poucos corpos organizados da sociedade alemã que manteve uma oposição clara ao nazismo. Os Franceses nunca perdoaram a Hitler o facto deste ter alicerçado o seu poder no apoio dos católicos do Sul e da Santa Sé, em particular. A ocupação soviética e a República de Pankow devolveram os Franceses ao seu estatuto histórico habitual. Um dos que, pela lotaria das ligações familiares, manteve um nome de raiz francês, foi o seu último primeiro ministro. Sem qualquer surpresa, a porta-voz de Lothar de Maizière, é ela própria filha dum pastor Calvinista, notório pela liberdade de movimentos fora do comum de que sempre gozou, no tempo em que, para um alemão de leste, o resto do país do outro lado do muro, estava tão longe como Shangri-La.

É, de alguma forma, irónico, que a mais grave crise que a Europa conhece, desde o fim da 2ª Guerra, seja alimentada pelo zelo religioso profundo, remanescente das Guerras da Religião. No entanto, não conseguimos compreender o impacto desse zelo, sem referir um dos factos mais silenciados da História do séc. XX.

Os "Alemães dos Sudetas" não foram uma invenção de Adolfo Hitler. Existiam grandes comunidades de alemães na Boémia-Morávia; um deles era Oskar Schindler. Essas comunidades eram ainda maiores na Silésia, e, mais para o Norte, do Golfo de Keil até ao Golfo de Riga, toda a margem Sul do Báltico tinha populações germânicas desde os tempos da Liga Hanseática.

Em termos puramente numéricos, o deslocamento das populações germânicas, em face do avanço do Exército Vermelho, foi a maior limpeza étnica, num século notório por factos semelhantes. Quase 17 milhões de alemães foram deslocados. Muitos mais até do que as vítimas da "Grande Permuta", originada pela independência da Índia Britânica; Incomparavelmente mais do que as vítimas da Nakba ("A Grande Catástrofe") palestiniana. Os seus efeitos, contudo, não foram proporcionais aos números.

Iniciado nos finais de 1944, princípios de 1945, o movimento começou com a deslocação das povoações germânicas do Báltico. A administração civil alemã nunca entrou em colapso, nem mesmo no meio do "Crepúsculo dos Deuses" hitleriano; nunca foram criados campos de refugiados, semelhantes aos campos do desespero palestiniano. Os deslocados foram reunidos em campos de trânsito, na região de Hamburgo, e rapidamente dispersos pelas regiões rurais de toda a Alemanha, aquelas onde ainda existiam alguns excedentes alimentares, capazes de os sustentar. Após o fim das hostilidades, os "Quatro Poderes" repetiram o processo de dispersão; apenas os últimos se acumularam nos Lander da Prússia.

Os soviéticos justificaram, durante décadas, o Muro de Berlim e a sua presença militar maciça na ex-Alemanha de Leste, com os riscos do "revanchismo alemão". A expressão designou muito mais a má consciência dos seus autores do que as realidades sociais profundas do sentir alemão. "...designou...", pretérito. Não foi por acaso que Bona foi escolhida como capital da ex-Alemanha Ocidental. A sua localização, nas margens do Reno. Os Renanos sempre desconfiaram "daqueles prussianos, perpétuos escravizadores de eslavos". Da forma mais irónica que é possível, foi a queda do Muro que constituiu a grande oportunidade histórica dos Franceses.

Eu paguei a Hitler (link acima) não é um livro agradável de ler. Fritz von Thyssen negou, depois da Guerra, ter autorizado a publicação das suas memórias. Mas para além do testemunho pessoal, o ponto mais notório, impensável à época, é a proposta da divisão da Alemanha em duas. Neste sentido, não só se veio a revelar premonitório, como, mais importante ainda, extremamente actual.

Estamos hoje a viver o terceiro grande assalto alemão à Europa, no prazo dum século. "Imperialismo" é uma palavra sempre à mão de semear, mas soa de forma estranha, quando reparamos que os seus altos-sacerdotes, e não só pelas suas motivações religiosas, estão mais próximos dos ayatollas iranianos do que do "Não voltaremos a Canossa" de Bismarck. Não sei que nome lhe dar, e é irrelevante. Desde o início deste século, esta Alemanha está claramente a viver acima das nossas posses. E não é por acaso que tantos dos seus quadros de topo tenham tido origem no aparelho de estado da República de Pankow. Afinal os soviéticos tinham razão: os perigos do revanchismo alemão eram bem reais, eles apenas identificaram erradamente as suas origens.

Os Huguenotes da Prússia detêm hoje um poder enorme. Parte desse poder é de origem difusa, resultante do domínio das Internacionais Financeiras em tanto do Mundo; parte é estritamente europeu e não se constrói sem traidores. As declarações duma de-putada do PSD, hoje mesmo, durante a discussão das moções de censura, na AR, são quase demasiadamente más para terem ocorrido. Ocorreram. Foram aplaudidas. Numa República menos a-bananada, seriam motivo mais do que suficiente para que o Primeiro Magistrado da Nação sobre elas se pronunciasse e sem ambiguidades. Não acredito que essa tomada de posição venha a ocorrer. No fim de contas, o mais certo é que Aníbal Cavaco Silva também esteja a ser pago pela Troika.

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publicado às 21:44


Portagens (intervenção de 3/10 na AM do Fundão)

por Catarina Gavinhos, em 04.10.12

Todos os dias faço 80km para ir trabalhar e voltar para casa. Até há pouco tempo fazia esse percurso na A23 e demorava menos de 30 minutos a chegar ao meu trabalho. Agora não, uso a Estrada Nacional 18 e demoro mais 10 minutos. Perco mais 20 minutos por dia, mas não posso acrescer às minhas despesas 80 euros por mês, afinal sou funcionária pública, o que quer dizer que nos últimos dois anos sofri um corte nos meus rendimentos de 30%. O empréstimo para pagar a casa que comprei numa época em que nem sequer havia casas para alugar mantem-se.

Nestas minhas viagens tenho cada vez mais tempo para pensar, sou uma optimista e gosto de ver o lado positivo até das tragédias. No outro dia, às 8:30 da manhã, em filinha indiana fartei-me de rir com a situação. Temos uma estradita entupida, à mercê dos rebanhos que ainda por lá passam, e a menos de50 metrostemos uma auto-estrada luzidia, com o tráfego do lá vai um. Imaginem ter de explicar isto a um extraterrestre, basta imaginar a qualquer não português. Não dá, é de um absurdo tão grande que não dá para explicar.

Os nossos magníficos governantes que negociaram este processo garantiram à concessionária um lucro sem risco, o que quer dizer que quanto menos nós passarmos na A23 mais o estado paga por terem falhado as inenarráveis previsões. Ora, os nossos magníficos governantes de agora mostram-se incapazes de rasgar este tipo de contratos ruinosos e ainda por cima obrigam todos a pagar umas portagens para as quais nem as empresas nem as pessoas têm dinheiro.

Claro que vão existir mais acidentes, que mais gente ficará ferida ou até mesmo morrerá, e todos vamos perder mais tempo. Se o resultado dos acidentes for a morte não é uma tragédia para o governo, afinal a probabilidade do morto ser um pensionista ou um desempregado é cada vez maior, logo o seu desaparecimento é um benefício para as contas públicas. Os feridos é que é pior, a não ser que comecem também a racionar os tratamentos aos acidentados.

Parece que este governo está habituado a modelos económicos aos quais falta claramente a variável portugueses, esta corja de piegas, cigarras e ignorantes que, ainda por cima, em tempos de crise, não gastam dinheiro… E que, apesar das ideias geniais do governo e do Borges, continuam a fazer derrapar as contas públicas e o deficit. Logo a eles, que têm uns modelos tão bonitos, ainda mais bonitos que os da tróica, havia de lhes calhar este povo!

Hoje, depois de termos tido o desprazer de ouvir em segunda ou terceira mão, as inevitabilidades que nos esperam, depois de ter sido abandonada a inevitável subida da TSU para os trabalhadores, só me apetece dizer que esta última mudança  inevitável  no pagamento das SCUT, acabando com os benefícios para os moradores, foi só o corolário de um processo que não consigo qualificar de tão ignóbil que é. Dá vontade de lhes dizer que podem ficar como os 15% das portagens mais caras do país e… fazerem o que bem entenderem com eles. Os portugueses já perceberam que a única coisa verdadeiramente inevitável não tem nada a ver com política.

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publicado às 18:22

(clique na imagem para aumentar)

Se um dos objectivos da Vigília e da Arruada de LOGO À NOITE é a Comemoração do Aniversário da República, a aproveitar a sua última dedicatória em forma de feriado, obviamente, e também em defesa da República e da Democracia, não deixaremos de nos manifestar Contra o Conformismo e Situacionismo, sim, mas também Contra a Política de Terra Queimada do actual governo, ontem intensificada pelo teor da explicação do capanga gaspar aos "estrangeiros na sua própria terra" (penso que a expressão é do Daniel Oliveira). Assim, fica de novo o convite (cliquem na imagem para aceder ao evento). O sofá é confortável, bem sei, cabe-nos continuar a lutar para não termos de passar a sentar o cu no chão, sem pão e com a cara roxa de vergonha e dor perante a dor dos nossos filhos. Até mais logo, pois! 

 

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publicado às 10:30


Pena de Morte: a posição da Igreja Católica

por Luís Grave Rodrigues, em 04.10.12

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publicado às 00:08

No dia 4 de Outubro de 1815, estreou-se no Teatro S. Carlos, em Nápoles, a ópera "Elisabetta, regina d'Inghilterra”, de Gioachino Rossini. O papel principal foi interpretado pela futura esposa do compositor, a soprano espanhola Isabella Colbran.
“Isabel, Rainha de Inglaterra” é uma ópera em dois actos com libreto de Giovanni Schmidt, baseado na peça “O Pajem de Leicester”, de Carlo Federici. Rossini compôs “Elisabetta” utilizando várias melodias de outras óperas. A abertura, inicialmente escrita para “Aureliano em Palmira”, tornou-se famosa como a abertura de “O Barbeiro de Sevilha”.
A acção desta ópera passa-se em Londres, durante o reinado da Rainha Isabel I e é o primeiro projecto de Rossini no Teatro de S. Carlos de Nápoles, a mais importante sala de espectáculos da época. O famoso empresário Domenico Barbaja tinha preparado cuidadosamente o lançamento do compositor, que tinha apenas 23 anos: a um elenco de luxo, juntou cenários sumptuosos, desenhados pelo célebre arquitecto Antonio Niccolini.


Ária “Qant'è Grato All'alma Mia”, da ópera “Isabel, Rainha da Inglaterra”, de Rossini
Mezzo-soprano: Joyce DiDonato
Orquestra da Academia de Santa Cecília, Roma
Maestro: Edoardo Muller

 

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publicado às 00:01


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