O "Expresso" de ontem, depois de anunciar em letras gordas na 1ª página, que "
Passos quer remodelar o mais depressa possível", desenvolve o tema nas páginas interiores, especulando sobre o quando e o como. A dúvida que me assalta,
depois de questionar para que serve a remodelação, é qual é o objecto da remodelação. Dir-se-á que o objecto da remodelação só pode ser o governo. Mas será que este (ainda) existe?
A pergunta, por paradoxal que pareça, é legítima. Assente numa coligação há muito feita em cacos, colados apenas com o "mel do pote", o governo nunca foi mais que uma invenção sem pés nem cabeça, saída da mente dum "rapazola", confirmado agora por gente das suas próprias hostes, como "impreparado". Nada que qualquer olhar atento não tivesse visto há muito, mas realidade hoje evidente até para os mais distraídos. Como é também óbvio e, neste ponto, são múltiplas as análises coincidentes, que tal governo sempre foi disfuncional e nunca passou duma equipa desorganizada e, o que é mais grave ainda, formada por gente que, salvo raras ou nenhumas excepções, não tem gabarito para ocupar uma cadeira ministerial.
Que sentido faz pois falar em remodelação do pretenso governo quando o alegado primeiro-ministro, que o concebeu, tem dado sobejas provas de incompetência e de incapacidade e que tem hoje a sua credibilidade reduzida a zero. Tudo o que ele disser a partir a partir de agora, só pode ser entendido se lido ao contrário. Mas o que se diz do alegado primeiro-ministro pode repetir-se em relação a toda a equipa dita ministerial: Paulo Portas, por muito inteligente que se diga que é, já deu abundantes provas de que não é de fiar; o ministro Gaspar tem a sua competência completamente estilhaçada, pois todas as contas lhe saem furadas, tendo-se revelado incapaz de acertar em qualquer espécie de previsão económica; Aguiar Branco é o que sempre foi, uma nulidade; o Álvaro, desde a primeira hora classificado como "o homem dos pastéis", tem de há muito, colada na testa a palavra "pateta"; a super-ministra Assunção Cristas não passa de mais um super-fiasco ou, se preferirem, duma mosca-morta, porventura, não tanto por culpa própria, mas mais por culpa de quem lhe enfiou nas mãos quatro pastas em relação às quais ela não percebe patavina ; o ministro Mota Soares, "o homem da vespa", agora transportado numa "bomba", não deixou, por esse facto, de ser o que sempre foi: um zé-ninguém às ordens de Portas, capaz de dizer uma coisa, para logo a seguir, se desdizer, bastando que Portas lhe acene em sentido contrário; o ministro matemático Nuno Crato, que tomou a seu cargo a destruição da Escola Pública, já é mais conhecido por "Erro Crasso" do que pelo próprio nome; a ministra Paula Teixeira da Cruz, pelas posições que tem tomado, quer pressionando o Tribunal Constitucional, quer assegurando o fim da impunidade, com referência a casos concretos, dá provas de que, não obstante ser uma jurista, não faz ideia do que seja um Estado de Direito e revela ter uma personalidade em tudo desadequada ao cargo que ocupa, o de ministra da Justiça, cargo onde é exigível sentido de equilíbrio que é tudo o que ela não tem; o ministro Miguel Macedo está na berlinda desde que foi conhecida a história do subsídio de deslocação que recebia tendo casa em Lisboa e esteve novamente sob a luz da ribalta com a história da "cigarra e da formiga"; Paulo Macedo não se livra da fama de ser o encarregado do desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde.
E com isto tudo, estava a esquecer-me de Relvas, o relapso (por via dos muitos "lapsos") mentiroso, que "nunca" pressionou jornalistas e que é titular duma licenciatura por equivalência. Esquecia-me, é verdade, mas será que o nosso homem ainda é ministro?
Aqui chegados; pergunto: Haverá em toda esta construção alguma pedra que se aproveite?
Se não é o caso, para quê, remodelar?
Qualquer remodelação, nestas circunstâncias, é uma perda de tempo e não passa duma manobra de diversão.
O povo pode ter tido a distracção de eleger a actual maioria parlamentar e escolhido, de forma indirecta, o tal governo. Não me parece, a crer nas últimas e recentes manifestações, que esteja muito disposto a deixar-se enganar segunda vez.
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Em qualquer transformação, ocorre sempre um ponto em que nada parece acontecer e em que tudo muda. Os anglo-saxónicos chamam-lhe
"tipping point". A minha tradução fica aquém do sentido original, e por isso fui à procura duma imagem que encerrasse as 998 palavras que me faltam. Estamos, em Portugal e na Europa, a atingir aquele ponto. Estou certo que o emulo de Sísifo que, na imagem, empurra a pedra pela encosta acima, não o consegue antever.
Albert Camus adiantou-se à resposta por uns meros dois anos. Não temos hoje qualquer desculpa para a ignorar e para eleger a revolta como única resposta ao absurdo aparente da condição humana: o ponto de viragem (de inflexão, de min-max, de max-min, etc., etc.) é
o ponto em que tudo de essencial se define. Há quem pense que este foi o livro mais importante do século XX; há quem pense que chegámos ao dia de hoje porque os líderes das duas super-potências foram educados nas suas conclusões. O que ainda ninguém nos ensinou, foi como lidar com
o impulso suicidário das elites de baixa qualidade que, por acidente histórico, estejam no poder quando aqueles pontos se aproximam. Isto apenas faz com que a responsabilidade recaia sobre nós todos, os soberanos. O Povo.
As declarações do Borges que temos, são apenas o episódio mais recente dum facto impensável ainda pelos finais de Agosto: está criado uma unanimidade quase total contra o actual governo. Não nos iludamos, muitos querem apenas que algo mude para que tudo fique na mesma. Entre os adeptos do "refrescar a coligação" e
o "[...]gerar riqueza, para pagar dívidas[...]" (sic), do TóZé Seguro, a única diferença são as caras dos protagonistas. Para os restantes, a vasta maioria, este é o ponto de viragem, que define se algo de essencial muda ou se tudo permanece como está. O tempo do NÃO! está rapidamente a esgotar-se, e pelo seu próprio sucesso. A superação faz-se sempre pela afirmativa. Ou então não se faz. De forma claramente Bórgica, mesmo que indubitavelmente mais polida,
Bernard-Henri Lévy fez o diagnóstico certeiro da situação. O mais importante — prova provada de que os mestres do pensamento servem sempre para alguma coisa — é que Bernard-Henri Lévy traçou o próprio quadro para a superação dialéctica do dilema que enuncia.

O filósofo francês estabelece a
federalização da dívida dos Estados-membros como algo semelhante à Ilha dos Amores, de Camões. A recompensa pelos trabalhos e perigos atravessados; tem razão. Está redondamente enganado. No âmbito da sua própria narrativa, é apenas um Borges letrado. Nunca os Povos da Europa irão aceitar a sua narrativa, sua, da sra. Merkel, de todos os neo-liberais austeritários que o Inferno pariu, ou há-de parir. Continua a ter razão: ou a Europa é capaz de federalizar as dívidas públicas dos seus Estados-membros, ou não tem futuro. Não poderia estar mais errado: esta é uma condição de partida, nunca um ponto de chegada, num futuro mais ou menos vago.
Aquilo que o sr. Lévy não é capaz de fazer, pelo menos não mais do que o nosso inefável e (in)Seguro TóZé, é reconhecer — e dizê-lo — que é impossível pagar a dívida; nem mais nem menos do que
satisfazer o pedido do Grão-Vizir. Toda a dívida, num quadro de reservas fraccionárias e de criação monetária pelo crédito, é impossível de ser paga: cresce sempre, exponencialmente. Até a alemã; especialmente a alemã, com os enormes
Core Tier I ratios dos seus bancos (barbarismo infame que designa o número de vezes que o montante total dos depósitos dos seus clientes é multiplicado, para atingir o total de créditos concedidos, e sobre o qual são cobrados juros).
O ponto de viragem será atingido quando um Povo da Europa conseguir a coragem ingénua da criança que foi capaz de exclamar
"Mamã, o Rei vai nú...", enquanto os (i)(r)responsáveis adultos gabavam as plumagens do manto que não existia. Vejamos as consequências.
Um montante muito apreciável da dívida pública total, dos países da Europa, é detida por credores institucionais. Em boa medida, por outros Estados-membros; Portugal detém parte da dívida grega, como até os gregos detêm parte da dívida irlandesa. É por tudo isto que é incontornável declarar uma
moratória a todo o serviço da dívida; e por maioria de razão, essa moratória irá funcionar para o sr. Bernard-Henri Lévi e para todos os loucos suicidários deste continente como na velha maldição chinesa
"Que todas as tuas preces sejam atendidas": a dívida pública europeia vai ser federalizada, duma forma ou doutra.
Depois, é preciso que estejamos preparados para lidar com aquele impulso auto-destrutivo para o qual Jared Diamond nos avisou; para a repetição das chantagens execráveis a que os gregos foram sujeitos no início do Verão, e ainda mais. Nunca gostei muito do escudo, mas se tiver que ser, que se dane. Não faço ideia que nome é que os catalães vão dar à sua nova moeda.
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Quem já foi a uma manifestação da CGTP na vida foi a todas. Quero eu dizer que a manifestação do Terreiro do Paço foi igualzinha a qualquer outra que tenha ocorrido ao longo dos últimos trinta anos. A manifestação foi grande? foi!. Podia ter sido maior? sem dúvida.! Aliás, devia ter sido muito maior. Só não foi por manifesta incapacidade ligada ao sectarismo cada vez mais presente no discurso de Arménio Carlos. Não há paciência, não há pachorra, com este tipo de discurso não há futuro. Se por um lado a grande força da manifestação de 15 de Setembro foi também a sua fraqueza por falta de uma direcção que guiasse e enquadrasse o protesto, com a CGTP a coisa é exactamente ao contrário, a sua fraqueza é o seu discurso não inclusivo e profundamente dissociado da uma nova realidade laboral, social e económica, completamente diferente da que existia há trinta anos. Acresce uma nota de mau gosto absolutamente lamentável terem chamado para animar a festa os homens da luta, uma vergonha, eu nem queria acreditar. Este nivelar por baixo é indigno.
Resumindo, gostei de lá ter estado, cantei a Internacional, o hino da Intersindical, a Portuguesa, só não ouvi uma única palavra do Arménio Carlos. Infelizmente ele não tem nada para me dizer.
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No dia 30 de Setembro de 1908 nasceu, em Odessa, o violinista russo David Oistrakh,
considerado um dos mais importantes intérpretes do violino do séc.XX – tão importante que ficou conhecido como “o rei David”.
Ilustres contemporâneos seus, como Khachaturian e Shostakovich, dedicaram-lhe os seus concertos para violino; e Prokofiev fez para ele um arranjo da sua sonata para flauta, convertendo-a na segunda sonata para violino e piano.
Tendo iniciado os seus estudos musicais aos 5 anos, David Oistrakh obteve a formatura no Conservatório de Odessa em 1926 (tinha então 18 anos) e debutou como concertista em 1933, em Moscovo. A partir de 1934 repartiu a sua actividade musical de prestigiado professor, director de orquestra e concertista de afanosas tournées, que começaram pelas diversas repúblicas da então União Soviética.
Em 1937, David Oistrakh ganhou em Bruxelas o 1º prémio de interpretação do Concurso Rainha Isabel. Desde então, o seu impecável estilo e a sua técnica perfeita colocaram-no entre os maiores intérpretes do violino em todo o mundo. A partir de 1951 fez intermináveis digressões pela Europa e pela América, com a maior admiração de todos os críticos.
Gravou discos interpretando as mais importantes obras para violino e com as melhores orquestras. Foi considerada insuperável a gravação do Concerto para 2 Violinos, em Ré menor, de Bach, que fez com seu filho Igor Davidovich. E ficou célebre a gravação que fez, numa autêntica equipa de luxo (com o pianista Sviatoslav Richter, o violoncelista Mstislav Rostropovich e o maestro Herbert von Karajan) do Triplo Concerto de Beethoven.
David Oistrakh faleceu, em Amesterdão, no dia 24 de Outubro de 1974.
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