Constata-se, face a esta sondagem (infografia infra), que, apesar da queda a pique do PSD nas intenções de voto, o PS não sobe e que só fica à frente do PSD, porque as intenções de voto neste partido vêm por aí abaixo.
O facto só pode ter, a meu ver, uma explicação: António José Seguro não é um líder que esteja à altura das circunstâncias.
Confesso que até nem desgostei das suas últimas intervenções, mas noto que é suficientemente tíbio para assumir, por inteiro, o legado do partido que lidera. O PS não tem nada que se envergonhar do seu passado, incluindo o mais recente, porque, se erros houve e sempre os há-de haver, porque errare humanum est, a verdade é que os anteriores governos liderados por José Sócrates, apesar das múltiplas resistências, obstruções e até traições, com origem, inclusive, nos partidos ora no poder e na Presidência da República, deixaram obra em múltiplos campos, obra que só pode ser motivo de orgulho para o partido. Relembro, designadamente, o investimento nunca visto na área da investigação, da ciência, da educação e da inovação, nas energias renováveis e nas novas tecnologias, sectores por onde terá de passar o desenvolvimento no futuro e que este governo tem vindo, sistematicamente, a desprezar. Com os resultados que estão à vista.
Para Seguro se mostrar inseguro basta acenarem-lhe com as PPP, onde, provavelmente, também poderá ter havido erros, mas o certo é que nem aqui o actual líder do PS tem razão para se encolher. As PPP, nomeadamente as rodoviárias, tinham um propósito mais que justo. Só quem vive no litoral é que não reconhece que as obras lançadas com base nessas parcerias visavam antes de mais contribuir para evitar o isolamento e a desertificação do interior. O país não é só Lisboa e Porto. A coesão territorial, finalidade última dessas obras, só pode ser vista como uma política mais que justa.
Infelizmente não acabam aqui as queixas contra a actuação de António José Seguro, um homem ponderado, como ele diz, com verdade, e sereno, até demais, acho eu. De facto, como é que ele não é capaz de se insurgir e de desfazer a teia através da qual os partidos da direita se esforçam por atribuir ao PS a responsabilidade pela vinda da troika e pela assinatura do memorando? Não saberá ele que foi Sócrates quem mais se opôs à chegada da troika, tendo resistido até não ter outra solução, já depois da queda do Governo, forçada por toda a oposição, da esquerda à direita, com esta a reclamar e a pressionar, há muito, a entrada do FMI?
Sabe com toda a certeza, pelo que é imperdoável que continue a pactuar com o logro. Por isso, daqui lhe digo: ó homem, conserve toda a sua ponderação e serenidade, mas solte-se. Duma vez por todas. Se não é capaz, dê o lugar a outro que seja capaz de pôr os pontos nos is.
"(...) Cinderela das histórias, a avivar memórias, a deixar mistério. Já o fez andar na lua, no meio da rua e a chover a sério. Ela, quando lá o viu, encharcado e frio, quase o abraçou. Com a cara assim molhada, ninguém deu por nada, ele até chorou... (...)" Cinderela, Carlos Paião
É preciso que algo mude, para que tudo fique na mesma
Giuseppe de Lampedusa — Il Gatopardo
Foi bonita a festa, pá. Fiquei contente; acho que ficámos todos, pelo menos a maioria sã de nós. No entanto, depois da catarse colectiva, entrámos no período mais perigoso. Estes são os dias do leopardo.
Se lermos de forma ingénua as reacções ao passado 15 de Setembro, podemos ficar com a sensação que o actual governo está condenado e a breve prazo. Espero que não. Espero que o domínio do inenarrável Relvas sobre o aparelho do PSD seja tão profundo como todos os comentadores afirmavam ser, até há poucas semanas; espero que o cinismo do sr. Portas tenha ainda muitas oportunidades de se manifestar; espero que Aníbal Cavaco Silva se revele tão intrinsecamente indeciso como revelou ser durante o buzinão da Ponte.
Estes são os dias do leopardo. Giuseppe de Lampedusa rever-se-ia nas declarações de Mário Soares. Estão perfeitamente alinhadas com a indigência eurocrática dos super-Mários e superam de longe as meias-tintas envergonhadas de Pacheco Pereira. É preciso um protagonista de ar grave e queixo prognástico. Se for Bento de nome, os eurocratas chamar-lhe-ão super. Que pena não ser Mário!
Estes são os dias do leopardo, em que já nos começaram a informar suavemente que nada existe para além dos ditames da troika. Têm razão. Enquanto o sorriso Pepsodent — que os portugueses elegeram, não esquecer — não decidiu ficar na História como o autor da maior reversão social desde a primeira partilha da Polónia (*), Portugal parecia condenado a seguir as pisadas da Grécia, no caminho da destruição social, lenta e triste.
Talvez Passos Coelho venha afinal a ser lembrado como a nossa Maria Antonieta. "...comam croissants..."? Qual quê! Comam merda, que se calhar até isso é bom demais para vocês, idiotas inúteis que sonharam poder construir uma vida com base no vosso trabalho e proporcionar um futuro melhor aos vossos filhos. Os seres superiores são como o Borges, prosperam nos mares revoltos da manipulação financeira. Por isso, estes são os dias do 'quanto pior melhor'. E recomeçam já na próxima sexta-feira.
Para isso, é preciso que os Portugueses resistam aos dias do leopardo. Quanto mais a situação do poder austeritário apodrecer, maiores as chances de que este velho continente sacuda a modorra da sua decadência. É adequado que sejam os Portugueses a fazê-lo. De novo. Quando Vasco da Gama zarpou para a Índia, os seus grandes inimigos eram banqueiros venezianos. Hoje, os traidores da Europa mudaram-se mais para norte. "Se Deus tivesse cagado cimento, o resultado teria sido Frankfurt", escreveu Günther Grass.
Seria bom que pudéssemos destruir a traição europeia a tiro de canhão, de longe, como Franciso de Almeida o fez ao largo de Diu. Provavelmente, vamos ter que pagar o preço. O preço de sermos um Povo Soberano.
(*) Quando Frederico Guilherme da Prússia assumiu soberania completa sobre os territórios da Prússia Oriental, uma das suas primeiras medidas foi reinstaurar a servidão da gleba, abolida quase cem anos antes, por Jan II Kasimierz Vasa.
No dia 20 de Setembro de 1957 morreu Jean Sibelius, um compositor finlandês que foi um dos mais populares do final do séc. XIX e início do séc. XX e cuja genialidade musical desempenhou um papel importante na formação da identidade nacional finlandesa. Tinha nascido no dia 8 de Dezembro de 1865, na cidade de Hämeenlinna, no Grão-Ducado da Finlândia, então pertencente ao Império Russo. Era conhecido pela família como Janne mas, quando era estudante, teve a ideia de usar a forma francesa do nome e passou a ser conhecido por Jean. Terminou o liceu em 1885 e começou a estudar Direito na Aleksander's Imperial University, em Helsínquia. As suas melhores notas eram na disciplina de música e, por isso, desistiu de Direito e, de 1885 a 1889, estudou música na escola de música de Helsínquia (hoje a Academia Sibelius). De 1889 a 1890 continuou os estudos em Berlim e, depois, em Viena, até 1891. Em 1911 submeteu-se a uma intervenção cirúrgica, por suspeita de cancro na garganta. A perspectiva de morte coloriu várias das suas composições na época, incluindo Luonnotar e a Quarta Sinfonia. Mas Sibelius só veio a falecer no dia 20 de Setembro de 1957, em Järvenpää. Está sepultado num jardim de Ainola, a casa que Sibelius mandou construir e onde viveu desde 1904. Em 1972, as duas filhas de Sibelius ainda vivas venderam Ainola ao Estado da Finlândia. O então Ministro da Educação e a Sociedade Sibelius transformaram-na num museu, que está aberto desde 1974. A principal parte da música de Sibelius é a sua colecção de sete sinfonias. Como Beethoven, o compositor finlandês usou cada uma das suas sinfonias para trabalhar uma ideia musical ou desenvolver o seu próprio estilo. Sibelius fez parte de um grupo de compositores que aceitou as normas de composição do Século XIX. Por essa sua preferência, foi muitas vezes criticado como conservador, por críticos que o comparavam sobretudo com Gustav Mahler, seu grande rival musical. Mas a natureza severa da orquestração de Sibelius era para ele uma opção por um estilo em que à música se deve retirar tudo o que é supérfluo – e isso pode mesmo ser visto como uma "característica finlandesa". Ciente do que queria e do papel que a sua música desempenhava como característica da identidade finlandesa, Sibelius – que viria a ser reconhecido pelo seu país ao ponto de o governo ter encomendado o desenho de uma imagem sua ao consagrado artista gráfico Erik Bruun para a cunhar numa nota da moeda oficial – reagiu sempre com firmeza às críticas de conservadorismo que eram dirigida à sua música. Ficou célebre a sua frase: «Não prestem atenção ao que os críticos dizem. Nunca nenhum prémio foi dado a um crítico.»
Valsa Triste, de Sibelius
Deutsche Kammerphilharmonie Bremen Maestro: Paavo Järvi