Os irlandeses desprezam os gregos pelas suas mordomias, os gregos desprezam os portugueses por ainda não terem sido sujeitos ao tratamento completo que os atormenta. Os portugueses desprezam-se a si próprios. As vítimas da Doutrina do Choque eram alvo de violência. Consumiam energia. Hoje, irlandeses, gregos e portugueses punem-se a si próprios. Será que os espanhóis vão conseguir continuar a ser espanhóis? De acordo com uma deputada da actual maioria, os desempregados..., que se fodam.
A diabolização das vítimas requer muito menos energia do que o "Choque e Espanto", a maioria do trabalho é feito pelos destinatários; contra os outros destinatários, mas também contra si próprios, estado final da eficiência dos mercados. Esta é a segunda grande invenção da finança mundial. A primeira até dá jeito. Este é o capítulo em falta no livro de Naomi Klein.
Revela também o início do estado final da evolução do capitalismo. Com que então, era o Imperialismo, Vladimir Ilich? Nada disso. O estado final do capitalismo é o austeritarismo, em que a acumulação de capital (financeiro) só é possível num ambiente de estagnação económica e de deflação. Até hoje, o crescimento económico era necessário para a acumulação de capital, pelo que os contratos sociais destinados a aumentar a prosperidade global eram sempre possíveis.
Acabou! Crescimento económico implica inflação e a inflação devora as mais valias financeiras. Os austeritários não o vão permitir. Os europeus que ainda não sabem que se desprezam a si próprios vão começar a descobri-lo em breve.
No essencial, é apenas a minha mania com estes velhos filmes a preto-e-branco, mas neste caso, revela-nos também a origem dos nossos problemas actuais. Se prestarmos atenção, a partir dos 07:20, quando o Jimmy Stewart começa a falar de si próprio, ele conta como, em tempos, ele e um colega tinham tido o sonho de compreender e dominar aqueles milhões -- hehehe, Jimmy, milhões, só? -- de pequenos motores que se escondem numa folha verde.
Quando a Anne Miller lhe pergunta o que aconteceu, ele responde "Bem..., ficámos sem financiamento. O meu amigo vende automóveis, e eu fui trabalhar numa coisa esquisita chamada 'Banca'...". Mas é então que o grande segredo é desvendado: "...e inventei uma coisa chamada 'futuros e derivados'. Vocês e os vossos filhos hão-de amaldiçoar a hora em que não me deram atenção.". Com grande relutância, o Frank Cappra acabou por concordar que aquela última frase fosse eliminada da versão final.
Ficámos assim a saber como grande parte dos nossos tormentos são o resultado da vingança fria dum inventor rejeitado. Resta-nos compreender a parte mais difícil, ou seja, a reprodução da estupidez. No final da semana passada, ficámos a saber como um dos super-Mários estava pronto para tudo; na passada quinta-feira, ficámos a saber que, mais uma vez, a montanha tinha parido um rato.
Não sei quantos mais partos falhados consegue a pobre montanha a que chamamos Europa, suportar. Vivemos tempos de pausa olímpica, pelo que as más noticias ficam para o início do Outono. Como de costume, aliás. No entretanto, nós portugueses, continuamos a assistir, quase impávidos e ainda muito serenos, à destruição da nossa própria modernidade, fraca, hesitante, desigual; modernidade, apesar de tudo. E sempre que penso nisto, há uma frase que me vem à ideia.
Não sei quem foi o autor original. Paul Krugman citou-a a respeito da "desvalorização interna" a que os Países Bálticos foram sujeitos, e nada melhor retrata os tempos que vivemos: "Fazem o deserto e chamam-lhe Paz". Aos imensamente estúpidos que nos des-governam, talvez fosse preferível citar Frank Capra: "Não vais conseguir levá-lo contigo".
No dia 4 de Agosto de 1940, o compositor Darius Milhaud dirigiu a orquestra, numa emissão de rádio, da CBS, em Nova Iorque, na estreia da sua peça “O Cortejo Fúnebre”. Milhaud, compositor frequente de bandas sonoras, escreveu “O Cortejo Fúnebre”, para uma cena particularmente emocionante do final do filme “Espoir” de André Malraux, sobre a Guerra Civil de Espanha. A peça usa temas de canções populares da época, ainda que não necessariamente de carácter fúnebre. O concerto de estreia, nos estúdios da CBS, foi dedicado a todos aqueles que já tinham morrido na Segunda Guerra Mundial. Do mesmo modo, esta obra fez parte de um concerto pela Orquestra Sinfónica da Áustria, realizado em Viena, em 1995, para comemorar 50 anos de paz.
O Cortejo Fúnebre, de Darius Milhaud Orquestra de Louisville Maestro: Jorge Mester