Anda por aí alguém a fazer-se passar pelo primeiro-ministro Passos/Coelho e a defender que "é necessário criar valor suficiente para defender um modelo não de baixos salários num determinado país ou economia", modelo que 'só pode ser sustentado por um tecido económico que "aposte na inovação e na qualidade"'.
Tudo indica que se trata de um sósia do primeiro-ministro, apesar de Passos/Coelho apresentar, frequentemente, dupla personalidade (Passos a dizer uma coisa e Coelho a fazer outra e vice-versa). De facto, mesmo sendo assim, estou em crer que o actual primeiro-ministro, que tem defendido e praticado uma política de baixos salários e que tem desinvestido, como nunca, nas áreas da educação, da ciência e da inovação, nunca se teria lembrado de fazer tais afirmações, tão contraditórias elas são com a sua prática e com as suas orientações políticas.
A prova, porém, de que se trata mesmo dum sósia está na fotografia (em baixo) que ilustra a notícia. Perante esta, fica-se com a certeza absoluta. O indivíduo que se fez passar por primeiro-ministro, embora seja muito parecido com este, esqueceu-se de cortar o cabelo à escovinha, que é o modelo que Passos/Coelho agora usa. Este descuido é que permitiu descobrir-lhe a careca. Que lhe sirva de emenda e para a próxima que tenha mais cuidado. O indivíduo, apesar de documentada a fraude, ainda não foi preso. Pelo menos não há notícia de que tal tenha acontecido.
As medidas de arrasamento económico e escravidão social impostas pela troika nunca na História solucionaram crises. Mas isso não bastaria para arruinar Portugal se o Governo tivesse estratégia ou pelo menos preocupação com a economia do país e a dignidade da nação.
O Governo não tem a menor ideia de que a obsessiva tara de arruinar o Estado para safar os luxos e os privilégios do capitalismo selvagem assenta na religião de uma corrente neo-liberal caduca e desmentida pela Ciência e pela História. Mas isso não seria suficiente para assassinar o País e a Nação se em Portugal não estivesse instalada uma classe de predadores do bem comum à custa do oportunismo, do compadrio e da submissão ao tráfico da desvergonha.
Os autarcas, políticos profissionais e demais parasitas reunidos na gigantesca associação criminosa que domina Portugal sublimam a incompetência (de nada terem feito na vida senão a graxa e o compadrio) com a acumulação de mordomias, privilégios e arranjinhos em que se ajeitam entre si – e o consequente locupletamento ladroeiro à custa do erário público. Mas isso não acordaria o Povo se não sofresse a ladroagem mais que na pele e já no osso.
O Povo português é ordeiro, pacífico e resignado. Mas isso já não basta para suster a indignação, desde que todos os pressupostos mínimos da decência estão já a ser grosseiramente violados pela corja no poder.
E é por isso que aqueles que toda a vida lutaram pela cidadania, pelo debate de ideias, pela vitória do pensamento e da palavra justos, já sentem a força libertadora da ética cada vez mais evidente e iminente: a população já espera na rua os políticos da trafulhice profissional – e um dia destes vai-lhes às ventas!
Depois ter garantido, urbi et orbe, que não iria invocar a "herança" do passado para justificar as suas políticas, Passos/Coelho e as figuras, figurinhas e figurões que o acompanham não têm feito outra coisa que não seja lançar culpas sobre os governos do PS por todos os males do país, os passados, os presentes e, não é difícil presumir, os futuros.
Até anteontem.
Pressionado pela derrapagem das contas públicas (o homem, apesar do aumento brutal e generalizado dos impostos e dos esbulhos a que procedeu, inconstitucionais, hoje sem margem para dúvidas, já sabe que não vai conseguir consolidar as contas públicas, nos termos do memorando) e sem saber o que fazer, depois da declaração de estarem feridos de inconstitucionalidade os cortes dos subsídios de férias e de Natal, apesar de ter contado com a benevolência dos juízes do Constitucional que lhe permitiram que ficasse com o roubo dos subsídios deste ano, Passos/Coelho, anteontem, durante o debate sobre o Estado da Nação, viu-se forçado a dirigir apelos ao PS para "assumir as suas responsabilidades", indo ao ponto de convidar a "participar na avaliação do Programa de Assistência Económica e Financeira e a na preparação do Orçamento de Estado" um partido relativamente ao qual não tinha tido até agora outra atitude que não fosse a de o atacar e desconsiderar. Coisa nunca imaginada, quanto mais vista!
O homem, para chegar a tais extremos, por certo que já teme que o céu lhe caia em cima, ou que o chão lhe falte debaixo dos pés. Ou as duas coisas juntas. Já não está simplesmente aflito. Vive numa situação permanente de atrapalhação.
Entretanto, acabo de sentir uma lágrima a cair-me pela cara abaixo. Não, não foi com pena do homem. O raio dum mosquito é que teve a ousadia de entrar por um dos meus olhos adentro, causando-me uma tal irritação que me levou às lágrimas! (ilustração daqui)
É preciso enterrar el-rei Sebastião é preciso dizer a toda a gente que o Desejado já não pode vir. É preciso quebrar na ideia e na canção a guitarra fantástica e doente que alguém trouxe de Alcácer Quibir. Eu digo que está morto. Deixai em paz el-rei Sebastião deixai-o no desastre e na loucura. Sem precisarmos de sair do porto temos aqui à mão a terra da aventura. Vós que trazeis por dentro de cada gesto uma cansada humilhação deixai falar na nossa voz a voz do vento cantai em tom de grito e de protesto matai dentro de vós el-rei Sebastião. Quem vai tocar a rebate os sinos de Portugal? Poeta: é tempo de um punhal por dentro da canção. Que é preciso bater em quem nos bate é preciso enterrar el-rei Sebastião.
No dia 13 de Julho de 1924 nasceu em Vidalenzo, perto de Parma, o tenor italiano Carlo Bergonzi, que se manteve a cantar até aos 75 anos. Começou os estudos vocais como barítono, no Conservatório de Parma, quando tinha 14 anos. Durante a 2ª guerra foi prisioneiro de guerra, na Alemanha. Depois da guerra, regressou a Itália e estudou no Conservatório Boito, em Parma. Estreou-se como barítono em 1948, no papel de Fígaro, da ópera “O Barbeiro de Sevilha”, de Rossini. Em 1951, depois de retreinar a voz, teve a sua estreia como tenor, em Bari, no papel principal de “Andrea Chenier”, de Umberto Giordano. Nesse mesmo ano, para assinalar o 50º aniversário da morte de Verdi, a Rádio Televisão Italiana contratou-o para uma série de transmissões de óperas menos conhecidas daquele compositor. Em 1953, Carlo Bergonzi estreou-se no La Scala de Milão e em Londres e, em 1955, na ópera Lírica de Chicago. Um ano depois estreou-se no Metropolitan Opera, no papel de Radamés, da “Aida”, de Verdi. Nos anos 60 prosseguiu uma brilhante e intensa carreira, tanto em casas de ópera como em gravações de estúdio. Continuou a dar concertos até aos anos 80, altura em que as suas qualidades vocais se começaram a deteriorar, devido à idade. Mas o seu concerto de despedida só se veio a realizar no dia 17 de Abril de 1996, no Carnegie Hall. No ano 2000 foi anunciado que Carlo Bergonzi iria interpretar o papel de Othelo, no dia 3 de Maio desse ano. Mas, devido a problemas de garganta, teve que ser substituído. Resta apenas uma gravação do ensaio geral onde se percebe que, embora com 75 anos, a voz de Carlo Bergonzi continuava fresca.
Ária “Vesti la giubba", da ópera “Pagliacci”, de Leoncavallo Tenor: Carlo Bergonzi Maestro: Daniel Lipton