Depois de afirmar que o caso da "licenciatura" de Relvas na Lusófona era um "não assunto", Passos Coelho veio ontem dizer, às 15h41, durante o debate na AR, perante a interpelação de António José Seguro sobre o número de desempregados, que "Fazer a descrição do desemprego não é fazer a avaliação do Estado da Nação".
Daí, concluo eu, sem forçar, que com o esteio em que se apoia (Relvas) já um tanto apodrecido e fragilizado, Passos/Coelho está em vias de dar um tombo. Ainda que tal não venha a acontecer, certo, certo é que ele já não sabe o que diz. Ou, então, anda com a mente por outras paragens. Talvez também não seja, de todo, despropositado deixar aqui uma pergunta feita por outrém (Tiago Mesquita): "Senhor primeiro-ministro: temos caras de palhaço?"
Podia ter-te chamado Heinrich, podia ter-te chamado Reinhard, podia até ter-te chamado Frederich. Optei pela hipótese mais curta, apenas porque estava decidido a não te chamar Fritz. Isso iria evocar estereótipos do passado mais os monstros que lhes deram origem, e isso é aquilo que eu pretendo evitar.
Segundo julgo saber, estás muito zangado com os custos que estes madraços mediterrânicos, nos quais me incluo, te estão a imputar. É melhor nem falar nos gregos, esses passam a vida a dizer Opa!; estavam mesmo a pedi-las, e as dívidas são para ser pagas, excepto as do Fritz, certo? Porque esse teve a sorte de lidar com os políticos anormalmente inteligentes da segunda metade do século XX.
Eu não tenho essa sorte e tu tens ainda menos sorte do que eu. Neste momento estás à beira da ira, porque soubeste que, duma forma ou de outra, vais ter que suportar os custos do resgate do sistema bancário espanhol. Cem biliões de euros! Carga que tu sentes como uma ameaça à tua arduamente ganha prosperidade. O que tu não sabes nem sonhas, é que a carga financeira em cima dos teus ombros é 100 vezes superior!. E que vais ter que suportar essa carga durante uma geração, o que significa, tu e os teus filhos. E que as más noticias não se ficam por aqui: se tiveres muito azar, vais ter que suportar aquelas rendas; se tiveres um pouco menos de azar, vais ter que suportar o triplo.
Estes números são confusos, e não é por acaso, é porque o espírito humano não consegue lidar com grandes números. Por isso, vamos parar com esta balbúrdia de milhões e biliões e triliões, e vamos adoptar apenas os prefixos do Sistema Internacional, concebidos exactamente para lidar com aquela limitação: Kilo, Mega, Giga, Tera, Exo..., a base é sempre 10 e o expoente aumenta de 3 em 3. Aqui há uns dias, embandeiraste em arco, porque a produção de energia eléctrica, de origem foto-voltaica, no teu país, tinha atingido o limiar psicológico de 1 GW. Seria ocasião para celebrar, não fora dar-se o caso de, nesse mesmo dia, teres pago cerca de 3.6 MegaEuros em rendas energéticas, por aquele feito.
Como um ano tem 365 dias, e tu precisas de quase trinta vezes aquela potência para atingires um limite físico importante, a percentagem de energia de fontes renováveis que pode ser injectada na rede eléctrica, sem modificações, isto significa que, ao fim de 25 anos, terás pago 10 TeraEuros de rendas eléctricas, cerca de 100 resgates espanhóis. Será que começas a perceber porque é que eu disse ser este o pior cenário possível? Vais ter aquela carga financeira absurda, para responderes a cerca de 1/3 das tuas necessidades eléctricas, apenas; o que quer dizer que quando os teus filhos acabarem de pagar, estarão na situação de não terem sido capazes de evitar a felicidade das baratas.
Sabes do que estou a falar, decerto. Daqueles insectos insuportáveis, de carapaça dura, que nunca conseguimos exterminar. Já por cá andavam, muitos milhões de anos antes de o primeiro australopiteco pisar a superfície do Planeta, e por cá irão continuar. É que as baratas adoram o calor, e adoram aquela molécula formada por um átomo de carbono e por dois átomos de oxigénio, a que chamamos dióxido de carbono. E nós sabemos como a concentração de dióxido de carbono na atmosfera é responsável pelo equilíbrio delicado entre radiação incidente e radiação reflectida que regula a temperatura na Terra.
Estamos a perturbar esse equilíbrio e é fácil prová-lo. A neve tem aquele aspecto fofinho, porque é essencialmente formada por bolhas de ar, envolvidas numa teia de cristais de água sólida. E a neve cai, com grande regularidade, todos os anos, nas regiões árcticas. Sob o seu próprio peso, muitas daquelas bolhas de ar rebentam, e inicia-se o processo da formação do gelo; no ano seguinte, novos nevões irão acelerar aquele processo e formar uma camada de gelo única, com uma data. Se fizermos uma perfuração vertical, no permafrost da Sibéria ou da Groenlândia, obtemos um cilindro de gelo que é também um relógio geológico. E podemos contar para trás, como se fossem anéis de crescimento duma árvore, e, quando chegamos à época pretendida, localizamos uma bolha de ar aprisionada no gelo, retira-mo-la com um seringa e colocamos a amostra num analisador. Et voilà!, um retrato da atmosfera no tempo dos dinossauros. Por isso sabemos que houve já, no passado geológico do Planeta, épocas em que a concentração de dióxido de carbono foi escandalosamente maior do que é hoje. A diferença, é que, naquela altura, não existiam seis biliões de seres humanos a tentarem sobreviver, à superfície da Terra...
...Ah! E as baratas eram do tamanho de porcos. Por isso, se não quiseres que o teu esforço financeiro, e o dos teus filhos, seja em vão, não vais ter que suportar 100 resgates espanhóis, vais ter que suportar o triplo. Só que estamos perante um grande problema: para que isto seja possível, vão ter que ser feitos grandes investimentos em infra-estruturas, e o investimento em infra-estruturas é anátema para o pensamento ordo-liberal.
Por todos os deuses do Valhalla, não me expliques o anátema! Constato apenas que, para um ordo-liberal, só se deve construir um novo aeroporto, quando os aviões começarem a cair por falta de pistas para aterrarem. Se não te perdeste naqueles números absurdos das rendas energéticas, acima, terás reparado que não incluem o custo dos equipamentos necessários, e que há um factor de 10 que precisa de ser explicado. Quanto à primeira parte, não te preocupes. É apenas mais um montante equivalente a cerca de um resgate espanhol, mas é um investimento na Economia Real; o preço é exagerado, mas vai-te permitir fabricar máquinas, para venderes aos senhorios das rendas eléctricas e comprares bratwurst e cerveja, e mesmo fazeres umas férias de Verão no Mediterrâneo, para ouvires o "O Sole mio!" sem ser no auto-rádio coreano do teu BMW.
O tal factor de 10, esse, precisa de ser explicado, e as explicações vão longas, mas não há volta a dar-lhe. Trata-se apenas do valor descontado habitual, nas áreas de energia. Para percebermos o que é que isto tem a ver com rendas energéticas, basta recordarmos que 1Kg de hidrocarbonetos é equivalente a cerca de 120 lâmpadas de 100 watts, que estejam ligadas durante uma hora; depois resta-nos perceber porque é que aquela falência absoluta do mercado, que Harold Hotelling demonstrou, conseguiu migrar do âmbito dos recursos exauríveis para o das energias renováveis.
Se fosse dado a teorias da conspiração, era capaz de pensar ser esta desgraça das rendas eléctricas apenas a tentativa de reproduzir aquela natureza intrinsecamente falida. Como as teorias da conspiração são sempre uma constatação de ignorância, fica-me a constatação empírica dos factos. Mas isto não é o mais importante.
Olha, Hans, consegui -- com grande esforço, confesso -- aprender a gostar, e muito, das realizações dos teus maiores. E também a relevar aquela tendência do Fritz para, volta não volta, meter uns antolhos de mula na cabeça e conseguir ser mais obnóxio do que as ditas. Mas o tempo urge, Hans; as baratas estão impacientes. Por isso, abre-me esses olhos duma vez, PORRA!
Conheço mal o Minho. Em resultado dessa ignorância (única explicação possível), sempre pensei que este exemplo de literatura fraca, traduz o sentir profundo da região. Os minhotos de gema que me perdoem, ou então que não em perdoem e desanquem. Não consigo evitá-lo.
Talvez pelos mesmos motivos, a actual coligação governativa, e em particular as reacções recentes à recente decisão do Tribunal Constitucional, a respeito do confisco dos subsídios da função pública e dos reformados, evocam-me duas personagens típicas de Júlio Dinis, coligadas, hoje como ontem, contra natura, mas as necessidades do poder, e da ocupação do poder, falam mais alto.
O ministro Relvas é o "brasileiro Seabra"; oportunista, manobrista, gosta de se mover nas sombras e tecer a sua teia longe dos olhares das gentes. O ministro Portas é o "Joãozinho das Perdizes"; arruinado, talvez, mas morgado genuíno. O problema é que, por um lado o brasileiro Seabra Relvas não pode ocupar o lugar de topo, ninguém o aceitaria, e o morgado Joãozinho P. Portas, das Perdizes, claro, não suporta o novo-riquismo do outro. A solução encontrada foi recorrer ao proverbial "Cão de Palha", capaz de suportar o foco dos holofotes, enquanto toda a gente finge acreditar que ele é o Numero Uno e ele finge acreditar no que os outros acreditam. Este arranjo de circunstância introduziu uma complexidade adicional na trama, que o autor original evitou a todo o custo.
É que o Numero Uno não é um, são dois. Dois irmãos siameses, separados à nascença para disfarçar a sua origem, mas como o mesmo percurso, a mesma postura e a mesma consistência espinal. Pedro Passos Coelho e António José Seguro são como duas ervilhas da mesma vagem. E só conseguimos compreender o estado actual da tram(ói)a se nos lembrarmos disso. O problema é que, se Júlio Dinis tivesse tido estatura -- e vontade -- para assumir esta complexidade, não teria escrito "A Morgadinha...", teria escrito "Os irmãos Karamazov". Ele não o fez, eu não o sei fazer, e a única coisa que me veio à ideia para conseguir compreender a confusão da lei que é inconstitucional, mas ainda não, foi recorrer a uma modernice e fazer uma análise SWOT.
Vejamos os factos: as declarações do CDS a respeito do acórdão do TC revelam que este foi sentido como uma ameaça -- canto inferior direito; as declarações vindas do PSD, desde o Numero Uno, ao incontornável Professor Marcelo, denotam um sentimento de oportunidade -- canto inferior esquerdo. O CDS gostaria de transformar a sua fraqueza, no que respeita a influenciar as decisões do constitucional, em forças -- passar do canto superior direito para o canto superior esquerdo; O PSD conhece a sua força, neste assunto, mas não quer enfraquecer o gémeo António José, irmão siamês, logo essencial, logo não o pode permitir, logo, para evitar que o parceiro virtual da coligação não se sinta a deslizar para a direita, tem que evitar que o parceiro nominal deslize para a esquerda.
Confusos? Eu estou. E começo a convencer-me que a verdadeira matriz é outra.
No dia 12 de Julho de 1934 nasceu em Shreveport, Louisiana, o pianista americano van Cliburn, que obteve reconhecimento internacional em 1958, quando, aos vinte e três anos, venceu o primeiro Concurso Internacional Tchaikovsky, em Moscovo. Aos três anos começou a aprender piano com a mãe. Aos seis anos, van Cliburn e a família foram viver para Kilgore, no Texas e, aos doze, ganhou um concurso estatal de piano, que lhe deu a oportunidade de tocar com a Orquestra Sinfónica de Houston. Aos dezassete anos entrou para a Juilliard School, em Nova Iorque e, aos vinte, estreou-se no Carnegie Hall. Mas foi o seu reconhecimento em Moscovo que deu fama internacional a van Cliburn. O primeiro Concurso Internacional Tchaikovsky foi um acontecimento organizado para demonstrar a superioridade cultural soviética, durante a guerra fria. Os russos tinham tido uma vitória tecnológica, em Outubro de 1957, com o lançamento do Sputnik. A interpretação de Cliburn valeu-lhe uma ovação de pé, que durou oito minutos. Quando chegou o momento de anunciar o vencedor, o júri viu-se obrigado a pedir autorização ao presidente russo, Nikita Khrushchev, para atribuir o primeiro prémio a um americano. “É o melhor?” – perguntou Khrushchev – “Então dêem-lhe o prémio.” Quando Cliburn regressou aos Estados Unidos teve direito a uma parada, em Nova Iorque, a primeira vez que tal honra foi atribuída a um artista clássico. A capa da revista Time proclamava: “O texano que conquistou a Rússia.”
3º andamento do Concerto nº 1, para piano, de Tchaikovsky Piano: Van Cliburn Maestro: Kirill Kondrashin