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Uma gaivota voava voava...

por Rogério Costa Pereira, em 25.04.12

Francisco, não acredito que esta lembrança me venha de '74. Tinha dois anos, então. Talvez de '75. Seja como for, é a minha primeira memória de Abril.

Ontem, andaste pelas ruas de Abril connosco, perguntando-me de quando em vez "são estes os homens maus, papá?". Não, meu filho, e talvez te tenha falado demasiado dos homens maus. Mas aqueles! não eram os homens maus.

Quando puderes perceber isto, saberás quem são os Homens Bons.

Minha vida, meu Abril.

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publicado às 23:59


25 de Abril - Junta de Salvação Nacional

por Luis Moreira, em 25.04.12

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publicado às 23:50


Canções de Abril

por Luis Moreira, em 25.04.12

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publicado às 23:30

Abordar Abril sem falar dos clichés do cravo, da liberdade, do querer, do povo na rua, dos capitães, é difícil, mas não é impossível.

Abril e o seu vigésimo quinto dia são cada vez mais uma data longínqua. Na memória dos tempo perdem-se a vontade, o querer, os gritos, as músicas, os poemas daqueles momentos, mas também a dor de quem sofreu, de quem lutou, de quem ousou afrontar um poder instituído, uma guerra, uma noção de país parado no tempo.

Abril e o seu vigésimo quinto dia são hoje marcados por desfiles, com uma chaimite vilipendiada do seu verde azeitona por cravos mal pintados e “vivas abril” a deambular pelas ruas de Lisboa. Com sorte Abril é também uma sessão na Assembleia da República em que os discursos versam o mesmo de sempre e o grande destaque talvez seja a ausência do cravo na lapela de algum casaco ou a ausência de alguém.

Abril é também Grândola e um monumento à entrada da sua cidade em que pouco ou nada possui de bonito. Mas também ainda não vi um monumento a celebrar a conquista de tantos que seja verdadeiramente bonito. Abril não deveria ser bonito?

Porém abril talvez seja um piquenique familiar.

Abril não é ensinado nos bancos da escola da forma que deveria ser.

Abril é, para um jovem, um feriado, nada mais do que um simples feriado. É uma noite de copos. É uma manhã, ou principio de tarde, de cama, com sonhos preenchidos pela última loira, física ou líquida.
De Abril tanto ficou por fazer. De Abril ainda muito há a fazer.
Um Abril cada vez mais necessário. O modelo político/democrático necessita claramente de mutar, de evoluir. Para quando a eleição de nomes e não de partidos. Para quando o fim da brincadeira na casa da democracia portuguesa e lá estarem presentes realmente os representantes diretamente eleitos e não alguns nomeados nas listas e jogos das tricas políticas que nada conhecem da região pelo qual foram eleitos? 

Isso seria Abril. Voltemos aos sonhos, voltemos aos de sempre e assim continuemos.

Se tantos anos vivemos em perfeita calma e tranquilidade durante o Estado Novo, mais anos viveremos em perfeita calma e tranquilidade com o estado actual até Abril.

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publicado às 22:30


25 de Abril, no Fundão

por António Filipe, em 25.04.12

É assim, todos os anos, no Fundão. Há trinta e sete anos. Sem interrupções. Algumas dezenas de pessoas reúnem-se na Praça do Município e, quando soam as 12 badaladas da meia-noite no relógio da Câmara Municipal, iniciam uma marcha de cerca de uma hora, percorrendo algumas ruas do Fundão, cantando “Grândola, vila morena”, com acompanhamento de uma banda. Que maneira bonita de iniciar o Dia da Liberdade! Que maneira bonita de mostrar ao mundo que o 25 de Abril está vivo no Fundão!
Alguns políticos só aparecem em anos de eleições. Mas o povo, esse está lá sempre. Com chuva ou com frio, mais dez menos dez, as pessoas que realmente contam estão presentes. No final, sempre ao som da banda, canta-se o Hino Nacional. E, por vezes, ouvem-se gritos de “25 de Abril, sempre!” e “Fascismo, nunca mais!”.
Para o ano há mais. De certeza.



Arruada do 25 de Abril de 2012, no Fundão


 

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publicado às 22:16


_esistir

por António Leal Salvado, em 25.04.12

E tu estás a dormir?! Acorda, caraças!
A noite ia longa - a noite já lá ia havia muito, afinal. Música. Outra música. E depois a Grândola. Outra vez a Grândola... Alto, tão alto como todos os dias - mas mais sonoro, sim. E com outra melodia, sim, que esta melodia estremece-nos cá dentro, como que a despertar um bom pressentimento.
Salta da cama, pá! Vamos ao Terreiro do Paço!
Parecia fazer sentido... Aquela música e o nome daquela praça... E aquela paz na rua! Será possível?!
Eternos 20 minutos de arredores velozes, debaixo do acelerador nervoso. Palavras sem nexo. E as dúvidas. E a discussão, a duas esperanças.
- Será o Kaulza?, os gajos não perdoaram a malta das Caldas...
- Qual quê? Um golpe desses era no palácio, em silêncio, tu nem sabias de nada. E a Grândola?
Fazia sentido. E estávamos já às Amoreiras. E aclaravam-se as dúvidas. Aquele frenesi nas ruas... Nas ruas aquela Paz - aquela buliçosa Paz! E os soldados! Olha, são cravos!

Foram as lágrimas que nos pararam o carro. Saímos os dois. E demos o primeiro abraço em liberdade.
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38 vidas
A bem dizer, 37 a andar para a frente - umas mais e outras nem por isso. E agora a meterem-nos marcha-atrás. O Salgueiro Maia levou-o o Destino. O Otelo enterram-no vivo. É saudade o Ari a ver "passar a procissão do meu País a cantar". Do Zeca, é o medo de o calarem. O Adriano, o Zé Mário, os outros voltam a ser voz da coragem. Estridem mais os hossanas, as bandeiras passaram a pins na lapela das alpacas, a festa fechou-se em 2 horas mentirosas no covil de São Bento. Ilegalizaram os partidos políticos, que agora há os manuais de economia. Acabaram as eleições, que agora há mercados. Qual trabalho? agora há os juros. Fecham fábricas e despedem números. Proibem o Futuro, que agora há o défice.  Os valores confiscaram-nos para a bolsa. Abominam o Amor, que agora há a competitividade. Aboliram o Povo, que agora há a imagem-a-dar-ao-exterior. Dissolvem a Nação - isto agora é uma empresa.
Tu e eu, Irmão, somos agora dez milhões de mais-valia. Ou que emigremos.
E tu estás a dormir?! Acorda, caraças!

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publicado às 20:30

 O 25 de Abril  de 1974, prestes a comemorar 38 anos, enquadrou-se numa situação geral em que o fim do fascismo, o fim da guerra, a ideia do socialismo e a iniciativa popular estavam intimamente ligados quer do ponto de vista político, quer ideológico, quer da consciência da massa - as lutas contra a guerra do Vietname, o Maio de 68 (em que a luta dos estudantes e, depois, do proletariado, sacudiu a canga ideológica e partido-sindicalista vigentes), a luta da OLP e na América Latina, tinham aberto brechas fundas na concepção burguesa de que o capitalismo é regulável, é o pai da democracia e dos direitos humanos e que a representatividade resolve tudo. 
A luta popular, obrigando os militares, teoricamente no comando, a dar passos maiores que as pernas, levou ao que se chamou a divisão do MFA. Sublinhe-se que, para a intelligentzia da época, só os militares que apoiavam conscientemente ou não (?) o PS e a direita não eram considerados partidários.
As tropelias do PREC consistiram na luta pelo apoderamento dos direitos de cidadania:
A partir do verão de 75 a burguesia liberal e a social-democracia estavam a retomar as rédeas da carroça e apenas restava um obstáculo que, embora intrinsecamente pouco importante, no contexto do PREC era intransponível por métodos democráticos: as poucas unidades que se mantinham abertas à osmose entre movimento popular e o dos soldados – motor de toda as conquistas sociais e democráticas - dificultavam o grande objectivo militar do MFA desde «o dia inicial»: tropas nos quartéis à espera das ordens do primeiro Spínola que saltasse outra vez. Daí o 25 de Novembro da sagrada aliança “Nove”-PS-PSD-CDS- bombistas, CIA, serviços secretos alemães e franceses. 
O 25 de Novembro aliviou a social-democracia da pressão popular e permitiu-lhe liderar, durante algum tempo, o processo de instalação das estruturas económico-ideológico-políticas que iriam impor o neoliberalismo em todo o esplendor do cavaquismo. 
A revolução popular de Abril não tinha, de facto, condições para ir mais além. A social-democracia, de facto dominante, mantinha-se, como pensamento e prática política, vocacionada para garantir que o trabalho devia aceitar a exploração e imposições do capital como forma de garantir a democracia. Assim, o PSD passou a ser o grande e duradouro, em união ou em oposição, aliado do PS na defesa do regime e da sua subordinação à NATO.
Entretanto o PCP jogava o seu papel de representante dos interesses nacional-internacionalistas da URSS, um pé no governo outro no movimento popular, e os partidos à esquerda, cheios de entusiasmo posto na luta, tinham uma percepção geral marcada pelas ortodoxias que se aproveitaram de 1917 e das suas sequelas, ideologicamente capturados e sem resposta para a realidade decorrente da II Guerra Mundial. 
Da crise de 73 resultou que o capital deixou de poder tolerar algum bem-estar do trabalho tendo o neoliberalismo liquidado as ilusões social-democratas na sua bonomia. Mas a resposta foi a capitulação. O PS perdeu o pé, fechou tudo o que pôde na gaveta e deitou fora a chave. 
Durante o PREC, a derrota do fascismo, o fim da guerra e a irrupção do movimento popular obrigaram a social-democracia e mesmo os liberais do PSD e os democratas cristãos do CDS a mostrarem-se mais à esquerda para não serem cilindrados. O próprio Mário Soares confessou ainda muito recentemente na série de entrevistas à RTP que o PS foi obrigado a tentar esconder a sua real configuração ideológica apresentando-se mais à esquerda do que aquilo que lhe competia.
A surpreendentemente abrangente revolução de Maio de 68, numa sociedade europeia aparentemente auto-satisfeita, deixara dependuradas do pau da roupa as ideologias de esquerda reinantes (ao contrário do que diz a direita que lhes atribui papel marcante assim como vulgata pseudo-marxista) e pôs a civilização burguesa debaixo de fogo (cf. António José Saraiva). Portanto não é de estranhar a quase obscena ausência de referências ao Maio de 68 pelas esquerdas durante o PREC.
A social-democracia, sustentáculo do sistema capitalista democrático, esteve ausente das movimentações mundiais do Maio de 68, nomeadamente em França onde toda a sociedade atravessou uma comoção solidária com a revolta estudante e operária. E quando a greve geral na França de 68, a maior a que o século vinte assistiu, parou 10 milhões de trabalhadores da cidade ao campo, obrigando De Gaulle a preparar a intervenção militar às ordens do torcionário general Massu, não hesitou em abraçar a solução de eleições gerais como escapatória que foi decisiva para a derrota do movimento às mãos dos partidos do sistema incluindo o PS e o PCF tendo este último obedecido aos apelos de De Gaulle para esvaziar a participação proletária na revolução que já sabotara. Ao PCF e também ao PS interessava não o desenvolvimento da luta anti-capitalista mas os réditos eleitorais que, em especial o PCF, vieram de facto a obter. 
A social democracia depois da II Guerra Mundial é, na realidade, parafraseando José Régio à rebours, filha de um pacto entre o Plano Marshall e a NATO. As condições criadas pelo investimento norte-americano na reconstrução da Europa destroçada, permitiram ao capital surpreender-se com o seu próprio entusiasmo pelo aprofundamento da democracia alicerçada na irrupção radiosa do Estado social.
Para a social-democracia, a democracia nasce de uma boa relação entre o capital e o trabalho e não da luta popular. Daí o pavor do PS durante o PREC que Mário Soares não se cansa de anatematizar, apesar de a luta popular ter como objectivos fundamentais as reformas que a social-democracia teoricamente preconizaria. E esquecendo que a Constituição que tanto gosta de citar, se deve exactamente a essa luta.  
A social-democracia, hoje, perante a brutalidade dos seus aliados, não encontra outra resposta que não seja a crítica de circunstância, como diria o velho Luís Pacheco, incapaz ideologicamente e pelos interesses rapaces que foi abraçando, de arranjar uma resposta ancorada na transformação social. Desde a assinatura do acordo com a troika, fundador da instauração do anti-Estado social e do retrocesso civilizacional a que assistimos, até à patética abstenção violenta e à irrisória adenda ao tratado orçamental, é toda a evidência de uma capitulação antiga.
É, pois, incapaz de se posicionar hoje numa frente de luta que exige o corte com a troika, a auditoria à dívida e a sua renegociação, para libertar o povo português da espiral assassina.
Qualquer reforma consistente, por mais elementar e óbvia que seja, exige um empenhamento corajoso na luta anti-capitalista. O PS, se dermos crédito ao sempre interveniente Mário Soares, está mais a precaver-nos para uma luta antifascista (“O retorno do fascismo”, DN, 17 de Abril 2012) que abre sinal para a unidade em defesa de um regime que o capital financeiro já se encarregou de liquidar.
O que precisamos de facto é de juntar forças para lutar por um Estado de direito socialista que aproxime o trabalho do seu destino histórico e ético: tomar conta da economia. 
E viva o 25 de Abril!

Mário Tomé

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publicado às 19:00


25Abril - Rendição do Quartel do Carmo

por Luis Moreira, em 25.04.12

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publicado às 17:00

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publicado às 15:30


Donos de Portugal

por Rogério Costa Pereira, em 25.04.12

Donos de Portugal from Donos de Portugal on Vimeo.

Donos de Portugal é um documentário de Jorge Costa sobre cem anos de poder económico. O filme retrata a proteção do Estado às famílias que dominaram a economia do país, as suas estratégias de conservação de poder e acumulação de riqueza.
Mello, Champalimaud, Espírito Santo – as fortunas cruzam-se pelo casamento e integram-se na finança. Ameaçado pelo fim da ditadura, o seu poder reconstitui-se sob a democracia, a partir das privatizações e da promiscuidade com o poder político. Novos grupos económicos – Amorim, Sonae, Jerónimo Martins - afirmam-se sobre a mesma base.
No momento em que a crise desvenda todos os limites do modelo de desenvolvimento económico português, este filme apresenta os protagonistas e as grandes opções que nos trouxeram até aqui.
Produzido para a RTP 2 no âmbito do Instituto de História Contemporânea, o filme tem montagem de Edgar Feldman e locução de Fernando Alves. 
A estreia televisiva teve lugar na RTP2 a 25 de Abril de 2012. Desde esse momento, o documentário está disponível na íntegra em donosdeportugal.net.
Donos de Portugal é baseado no livro homónimo de Jorge Costa, Cecília Honório, Luís Fazenda, Francisco Louçã e Fernando Rosas, editado em 2011 pela Afrontamento e com mais de 12 mil exemplares vendidos.
donosdeportugal.net
facebook.com/donosdeportugal

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publicado às 14:04


PIDE/DGS - a besta matou

por Luis Moreira, em 25.04.12

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publicado às 13:00


Onde é que eu estava no 25 de Abril?

por António Filipe, em 25.04.12

No dia 25 de Abril de 1974 estava a cumprir o serviço militar no quartel de Lanceiros 2, na Ajuda, em Lisboa, como polícia militar.
Pouco mais de um mês antes, a 16 de Março, tinha havido uma tentativa de derrubar o regime fascista, a que só o Regimento das Caldas tinha aderido. Por serem poucos, estes militares foram facilmente interceptados à entrada de Lisboa e alguns ficaram presos no RAL1, donde só sairiam no dia 25 de Abril.
Sendo eu polícia militar, fui destacado para aquele quartel, para ficar de guarda aos militares que tinham sido presos. Como já andava nas lutas antifascistas há alguns anos, aproveitei a oportunidade para tirar algum partido da situação. Como é óbvio, não foi tarefa fácil conquistar a confiança daqueles militares. Mas, cerca de duas semanas depois, com todo o cuidado que era exigido na altura (nem nos próprios colegas se podia confiar), consegui convencer alguns de que estava do lado deles. Cedo me apercebi que o General Spínola estava, de certo modo, envolvido naquela intentona. Coisa que não me agradou muito, mas nem por isso deixei de me interessar pelos acontecimentos. Spínola tinha escrito o livro “Portugal e o Futuro”, cuja publicação tinha sido autorizada por Marcelo Caetano um ou dois meses antes, o que, só por si, gerava algumas suspeitas. Na realidade, Spínola não era a favor da independência dos povos colonizados, embora defendesse o fim da guerra colonial. Era, antes, apologista de uma espécie de federação, em que as colónias continuariam a fazer parte de Portugal. De qualquer maneira, o livro, que, se bem me lembro, esgotou imediatamente, serviu para despertar muitas consciências, tanto nos meios militares como civis. Como gerou alguma polémica, era tema de discussão à mesa do antigo café Monte Carlo, onde se reunia muita gente de esquerda e que, de vez em quando, era alvo de rusgas. Acho que Marcelo Caetano, ao autorizar a publicação do livro, tinha em mente dar a ideia de que havia alguma liberdade (não estivéssemos nós na chamada Primavera Marcelista). Mas teve azar. Virou-se o feitiço contra o feiticeiro. Mas, adiante.
Devido a várias conversas com os militares detidos no RAL1 e com os quais consegui travar alguma amizade, foi possível aperceber-me que aquilo não ficava por ali. Que, mais tarde ou mais cedo, uma outra tentativa de derrubar o governo iria ter lugar. E, com o passar dos tempos, fiquei convencido, que, à segunda volta, iria ser bem-sucedida. Era evidente que o povo já estava farto e que bastava um pequeno rastilho para provocar um grande fogo. Por esse motivo, a partir do início de Abril, passei a dormir no quartel, coisa que não fazia já há muito tempo, a não ser que estivesse de serviço. Sempre à espera que, em qualquer altura, alguma coisa acontecesse.
E aconteceu. Por volta das 3 da manhã do dia 25 de Abril, fui acordado bruscamente por um colega (ou “camarada”, como era hábito chamar-se). Note-se que este colega era também camarada da luta antifascista.
- Acorda, Filipe, há um golpe de estado!
- E quem é que está à frente disso? – perguntei, já adivinhando a resposta.
- Consta que é o Spínola.
Como estava cheio de sono, pois tinha adormecido cerca de duas horas antes, respondi, com tom irónico:
- Então, deixa-me dormir, porra.
A verdade é que, quase ao mesmo tempo que dizia isto, levantei-me e comecei a indagar sobre o que tinha acontecido. Havia poucos pormenores. Na rádio já se ouviam indícios de que alguma coisa estava a acontecer e começavam a ser transmitidos comunicados do MFA. Mas os pormenores eram poucos, embora já se ouvissem muitas canções do Zeca Afonso, Letria, Adriano, José Mário Branco, etc. Seja como for, vivi aquele dia intensamente e com alguma esperança de que as coisas iriam mudar.
O comandante de Lanceiros 2 não se queria render. A porta de armas continuava fechada. Cá fora, na Calçada da Ajuda, uma multidão exigia a nossa rendição. Foi-nos transmitido pela população que, nas ruas de Lisboa, reinava o caos, principalmente porque o povo já não respeitava a polícia civil e havia pouca polícia militar na rua. Por isso, era imprescindível que saíssemos do quartel o mais depressa possível. Passámos toda a manhã no quartel, com as portas fechadas. Centenas de homens frustrados, como prisioneiros, na parada, sem saber o que fazer. Discutiam-se todas as hipóteses. As dúvidas eram muitas. A esmagadora maioria apoiava o golpe. O sentimento de impotência era constrangedor. Os fascistas ainda conseguiram usar o quartel para servir de refúgio aos ministros do exército e da defesa. E foi na tarde do dia 25 de Abril, por volta das 3 horas, que assisti à cena mais impressionante e aquela que mais me marcou em todos os eventos que se seguiram: como os ânimos dos militares de Lanceiros 2, principalmente de um ou dois capitães, dos alferes, dos furriéis e praças, já estavam muito exaltados devido ao facto de o comandante não se render, o governo fascista, ainda em funções, decidiu que seria mais seguro retirar os ministros refugiados naquele quartel. Um helicóptero pousou na parada para levar os ministros para outro lado (suponho que iam para Monsanto). Ao mesmo tempo que os dois ministros se dirigiam para o helicóptero, começámos todos a ir ao paiol, arrecadação onde eram guardadas as armas e munições, e, contra todas as regras e sob o protesto do 1º cabo que aí estava de guarda, fomos buscar todo o tipo de armas que encontrámos, principalmente, metralhadoras G3 e pistolas Walter. Éramos mais de 400 homens. Dirigimo-nos para o helicóptero, rodeando-o. Quando o helicóptero levantou voo, ouviu-se um som que eu nunca tinha ouvido antes e que ficou na minha cabeça durante muito tempo: o som de mais de 400 armas a carregar as balas ao mesmo tempo. As armas foram apontadas para o helicóptero. Mas nenhum militar teve a coragem de disparar. Se só um tivesse disparado, seriam centenas de balas a atingir o helicóptero. Entretanto, já nos tinha chegado aos ouvidos que, no Cristo-Rei, se encontrava um ou mais carros de combate com os canhões apontados para o nosso quartel e prontos a disparar, caso não se concretizasse a rendição. Quando o helicóptero se afastou, reparo que, ao meu lado, um furriel chorava como um bebé. A revolta era enorme. A frustração indiscritível. Abracei-me a ele, ao mesmo tempo que, aos soluços, me dizia: “Temos que fazer qualquer coisa. Armas já nós temos.” Foi nessa altura que, acompanhados de um capitão e um alferes, nos dirigimos ao quarto do comandante para o obrigarmos a render-se. A tarefa foi mais fácil do que tínhamos pensado. O “velhote”, logo que viu 4 armas apontadas para ele, telefonou para a porta de armas, dando autorização para abrir as portas do quartel. Não sei o que se passou depois com o comandante, porque só me lembro que, ao ouvir o telefonema, saí a correr para a parada, gritando: “Já se rendeu, já se rendeu!”. A confusão foi grande e só depois de várias peripécias e mais de três horas passadas é que as portas do quartel se abriram. E o cenário foi deslumbrante! Ao som das palmas de centenas de pessoas que se encontravam na Calçada da Ajuda e dos gritos de “O Povo está com o MFA!”, os jipes e outras viaturas da Polícia Militar, iam saindo do quartel. Uns para patrulhar as ruas, outros para o Quartel do Carmo e para outros locais onde eram necessários. A mim calhou-me ir para junto da sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso. Só sei que passei a noite, no Largo de Camões, quase sempre debaixo de um Unimog, para me proteger dos tiros que, esporadicamente, eram disparados do telhado da sede da PIDE.
Não fui a casa durante quase uma semana. Ia ao quartel, uma vez por dia, tomar um banho e dormir umas (poucas) horitas. Todo o tempo era pouco para andar na rua, no meio da multidão, que nos tratava com um carinho que nunca mais senti. Comida não faltava. O povo trazia-nos tudo, desde sopa a feijoada, embora nós insistíssemos que só queríamos sandes, porque eram mais fáceis de comer em andamento. E, caso curioso, quando agradecíamos, a resposta era quase sempre a mesma: “Nós é que estamos agradecidos”. O primeiro “Dia do Trabalhador” em liberdade (1º de Maio) foi um dia memorável. Nunca tinha visto tanta gente nas ruas. E, mais importante, nunca tinha visto tanta alegria e tanta força popular. A panela de pressão tinha rebentado. O poder era, nitidamente, do povo.

E o resto é história.
E muitas histórias se passaram nos dias e meses seguintes. Só não as conto agora, porque esta crónica já vai longa e não quero maçar muito. Talvez para o ano, continue. No mesmo local, no mesmo dia e à mesma hora. Se, entretanto, o governo, se ainda lá estiver, com a ajuda da “abstenção violenta” do PS, não decidir aplicar “uma revolução tranquila” a esta Pegada.
Viva a Liberdade! Viva a democracia!
25 de Abril, sempre!

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publicado às 11:15

Isto é quase sobre o 25 de Abril

por Miguel Cardoso, em 25.04.12

 

Andava eu pelos quinze anos e corria 1988. Frequentava o décimo ano do curso de Humanidades e era uma sala cheia de mulheres, cinco tipos para cerca de vinte raparigas. E isso era bom.

Cresci numa família em que a política sempre esteve sentada à mesa e os adjectivos não se poupavam aos seus piores intérpretes, aqueles que se iam anafando com o poder sem ligar pataco ao povo eleitor. Dia-sim-dia-sim, uma discussão com o meu pai, egocentrismo adolescente versus cristalização de ideias própria da idade adulta, luta de titãs, iludia-me eu, na realidade, apenas arrogância e euforia do puto que dava os primeiros passos no uso da razão. Mas isso sei eu agora e sabia já ele na altura. Falta-me ele e a sua argumentação irritante. Haveria de achar piada a esta coisa amorfa que vivemos, penso que podia até, veja-se bem como o mundo é composto de mudança, dar-lhe razão, pelo menos numa coisa ou outra menos importante. Nunca dei o braço a torcer. Gosto de pensar que nisso sou parecido com ele. E sinto que isso é bom.

Por essas e por outras, o 25 de Abril nunca me foi estranho, tal como o antes e o depois e o entendimento do que significava a privação de liberdade e a conquista da mesma.

O passado é uma coisa mutante, uma mescla de realidade-que-já-não-é com imaginação-criativa-e-tendenciosa-que-gostávamos-que-fosse. Ainda assim, tenho em mim a imagem, mais ou menos distinta, de uma turma de Humanidades curiosa e interventiva. Havia pessoas com ideias e convicções, não tão boas como as minhas, claro está, mas estavam lá e havia luta. E isso era bom.

Calhou-me em sorte uma professora de Filosofia demasiado jovem que volta e meia se esquecia dos rapazes numa turma que era um mar de raparigas e embarcava por conversas e gestos que, mais não fosse, nos traziam de volta da Lua à sala de aula. E isso era bom. No ano seguinte, o azar compensou-nos com um professor de formação padreca.

Sentado na última carteira, com vista para a rua incluída no pacote, a atenção era só a necessária. Ao meu lado estava o Nuno, dois anos mais velho e a mesma atenção. Já nos tínhamos cruzado, mas foi nesse ano que nos conhecemos. Na teoria, trazíamos o manual em aulas alternadas, na prática acertámos meia-dúzia de vezes. Continuo a ver o Nuno de vez em quando, não convivemos, mas ainda o tenho como amigo. Acredito que ele pensará de forma semelhante. E isso é bom. Vou enviar-lhe este texto.

Numa dessas aulas de Filosofia, sei lá a propósito de quê, disse-me o Nuno que o seu pai tinha festejado o seu nascimento em plena Serra da Gardunha, às escondidas, com três ou quatro amigos de confiança. Que fazê-lo em casa era arriscado, não era dia de alegrias e festejos, mesmo a pretexto do berro para a vida do primogénito. Alguém ouviria e chamaria as autoridades. As paredes tinham mais ouvidos que hoje. E olhos também.

O Nuno nasceu a 27 de Julho de 1970, dia da morte de António de Oliveira Salazar. Faltavam quatro longos anos para o 25 de Abril, as pessoas ainda se confundiam muito quanto aos direitos e deveres e a liberdade era uma coisa estranha. Ainda hoje as pessoas se confundem quanto a isso tudo. E isso é mau.

Sei bem que há muitas outras histórias, bem mais importantes e sérias, terríveis, sobre a ditadura e o 25 de Abril. Mas a liberdade, ou a falta dela, também se constrói de pequenas coisas com significado. Um pai e a alegria escondida do primeiro filho. Coisas para não apagar nunca. Para que não volte a ser mau.

Nuno, gosto de pensar que ando perto da verdade. Faz de conta, que nem me digas o contrário, afinal, o passado é o que queremos fazer dele.

Como o 25 de Abril.

Como o futuro.

A jogada volta a estar do nosso lado.

 

(imagem)

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publicado às 11:03

Saí de casa ali em Alvalade mal raiou o dia  e segui para a Baixa. Deixei o carro perto da Avenida da Liberdade e segui a pé. Soldados da GNR cosiam-se às paredes da Estação do Rossio observados por populares. Jovens militares em posição de combate nas esquinas.

Praça do Comércio onde se viam carros de combate. Omnipresente uma fragata no Tejo não sei porquê ameaçadora. Confirmei mais tarde que era mesmo ameaçadora. Á distância percebiam-se as movimentações. Soubemos mais tarde que um jovem soldado (hoje a viver na Figueira da Foz) tinha salvo a situação ao negar-se a disparar contra as tropas rebeldes.

A todo o troar das lagartas no asfalto para o Quartel do Carmo. Uma multidão. Chamou-me a atenção do desastre, que parecia eminente, a inexperiência dos soldados. A G3 que eu conhecia tão bem era manejada de forma pouco profissional. Procurei o comandante. Lá estava, percebia-se pela calma e determinação. Não gritava e tinha perto de si um círculo de militares com quem estabelecia a ligação hierarquia.

Os rumores é que Marcelo Caetano não se rendia. Salgueiro Maia manda disparar tiros de aviso. A tensão é de cortar à faca. Aparecem dois civis que após conversa breve com o capitão entram no quartel. A voz trovejante de Sousa Tavares faz-se ouvir de cima de uma "chaimite".

Depois tudo de desenrola muito depressa. Salgueiro Maia entra no Quartel para conversações. O aproximar do fim reforça a fúria na multidão. Spínola vem aí. Soube-se mais tarde que o combinado era Salgueiro Maia prender sem condições Marcelo Caetano. Não foi assim, evitar o derramamento de sangue foi um objectivo claro.

A "Chaimite" sai do Carmo debaixo de gritos e impropérios e com muitos populares a darem fortes murros na chapa da viatura. A última cena de um golpe militar fechava o pano daquele dia glorioso. Olhei em volta. A serenidade de Salgueiro Maia controlava a situação. Não tardaram a tratá-lo mal.

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Posto de Comando da Pontinha

por Luis Moreira, em 25.04.12

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25 de Abril, Miguel Portas

por Rogério Costa Pereira, em 25.04.12

As palavras que eu tinha alinhavado para Abril estão de luto e não verão a luz do dia, mesmo porque os meus companheiros de pegada já disseram e dirão da Alma de Abril (que é a minha) e do Abril que lhes vai na Alma (que é o meu).

No que me toca, este meu Abril vai dedicado à memória de um homem e à lembrança da falta que nos fará o seu sorriso e a sua presença.

A sua calma e temperança.

Morreste-nos de corpo -- de corpo apenas --, mas pelo caminho que caminhaste deixaste-nos meio caminho andado.

"Mas quando é que o povo respira?", perguntavas. Em breve!, e com a tua sempiterna ajuda!, que Homens como tu a morte não leva.

Eterna saudade, Miguel. Abril (e não me resumo a este dia) é e será por ti.

Assim o fiz hoje, assim o farei no dia que está cada vez mais próximo.

Obrigado, Miguel.

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No dia em que Salgueiro Maia desceu à rua

por Luis Moreira, em 25.04.12

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25 de Abril - Comunicado das Forças Armadas

por Luis Moreira, em 25.04.12

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25 de Abril - E Depois do Adeus

por Luis Moreira, em 25.04.12

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25 de Abril - Grândola Vila Morena

por Luis Moreira, em 25.04.12

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25 de Abril - Arruada no Fundão

por Rogério Costa Pereira, em 25.04.12

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Mário Laginha – Compositor e pianista português

por António Filipe, em 25.04.12

No dia em que se deu a revolução de 1974, fazia 14 anos um dos mais notáveis músicos da geração de portugueses actuais. Mário Laginha, nasceu a 25 de Abrirl de 1960.
Uma sólida formação clássica – fez o Curso Superior de Piano do Conservatório Nacional (terminado com a classificação máxima) – deu-lhe ferramentas para evoluir como intérprete e compositor, desenvolvendo uma identidade própria. É isso que lhe tem permitido escrever para formações tão diversas como a Big Band da Rádio de Hamburgo, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, a Orquestra Filarmónica de Hanôver, o Remix Ensemble, o Drumming Grupo de Percussão e a Orquestra Nacional do Porto. Compõe também para cinema e teatro.
A sua “casa” é o jazz, mas recusa encerrar-se lá dentro. Na sua música podemos encontrar um pouco de quase tudo, porque não fecha as portas a quase nada. Mário Laginha procura em vários lugares o material para construir o seu próprio universo musical. Muito mais do que misturas, há assimilação. O que se pode ouvir, no final, é... música.
A sua carreira tem sido construída ao lado de outros músicos, de uma forma constante e intensa. E com raras excepções: o primeiro disco a solo, Canções e Fugas, é editado em 2006. Mário Laginha usa com virtuosismo e rigor a técnica clássica para compor seis fugas, cada uma antecedida por uma canção na mesma tonalidade, seguindo o esquema dos prelúdios e fugas de Bach. Não há revivalismos: as suas composições têm uma sonoridade contemporânea, muito inspirada, apesar de notoriamente complexa.
Para Mário Laginha, fazer música é sobretudo um acto de partilha. E tem-no feito com personalidades musicais fortes. O duo privilegiado com a cantora Maria João é um dos casos mais consistentes e originais da actual música portuguesa. Mais uma vez, o jazz funciona aqui como uma rede, mas sem amarras: há ecos africanos, brasileiros, indianos, da música tradicional portuguesa, pop, rock, clássico... A parceria de Mário Laginha e Maria João originou uma dezena de discos e a participação em alguns dos mais importantes festivais de jazz do mundo.
No jazz, tem um parceiro natural: Bernardo Sassetti. A mesma solidez de formação e um disco gravado em conjunto. Pedro Burmester (com quem também tem um disco gravado) tem sido a sua principal ponte com a música clássica, desde finais dos anos oitenta. Laginha leva a sua bagagem musical para um repertório do século XX, oferecendo-lhe um forte sentido rítmico. Sem improvisações, porque também sabe ser fiel à partitura.


“A menina e o piano” por Mário Laginha e Bernardo Sassetti
* Texto de António Leal Salvado

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25 de Abril

por Ariel, em 25.04.12

 

Esta é a madrugada que eu esperava

O dia inicial inteiro e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio

E livres habitamos a substância do tempo

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

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