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..é-me impossível não declarar o Rodrigo Moita Deus como uma pessoa destituída de carácter. Pegar, qual empregado de qualquer totalitarismo de má memória, numa frase minha que quer apenas significar o evidente que lá se lê, isto é, que o que vários especialistas escreveram e falaram contra o projecto de RC do PSD se baseia em anos de estudo, em experiência na matéria, portanto, e não em qualquer alegado alinhamento - como haviam sido acusados - com o poder e retirar essa frase do contexto para pretender que eu teria produzido uma afirmação favorável ao imobilismo constitucional é inqualificável. Não tem qualquer desculpa, pelo contrário, não é burrice, é antes a inteligência (a que tenha) ao serviço da distorção do discurso alheio, técnica ao nível do esgoto. Sabe bem o Rodrigo, ainda por cima, de muitas ou pelo menos de algumas das minhas propostas para uma RC, coisa que já sucedeu muitas vezes. Calha que até já publiquei aqui no Jugular algumas delas.
Não sei se é tão proibido não concordar com o projecto de RC do PSD (excepto em aspectos como a moção de censura construtiva, se se eliminar a outra) que se leva com esta coisa de gente sem coluna vertebral.
PS: eu agradeceria, citando, aos membros do 31 da Armada que me telefonaram percebendo o evidente. Mas, nestas coisas, sou mais dada a evidências escritas. Talvez seja difícil, por aí.
Isto é um insulto gratuito e inadmissível. Li, com surpresa, há dias, alguém que escrevia, perante a avalanche de críticas ao projecto de RC do PSD (ao primeiro, àquele que mudou de preto para branco numa noite), produzidas por vários entendidos na matéria, que os ditos, ainda que capazes, talvez fossem alinhados com o poder. Sempre este argumento fatal. Esperava o desconfiado por gente isenta, e esperava, dizia, por Jorge Miranda.
Nem respondi. Uma pessoa habitua-se a esta coisa de escrever textos baseados em anos de estudo de uma matéria e de, se os mesmos desagradam ao partido da oposição, ser acusada de alinhada. Perante o projecto do PSD, padeço, portanto, desse vício; eu, o Professor Gomes Canotilho, o Professor Jorge Reis Novais, o Professor José de Melo Alexandrino, o Professor Vital Moreira, e outros, todos os que ouvi e li, tudo gente interessadissima em deitar fora a sua integridade científca a bem do poder, esse bolo de chocolate. Bando de patifes.
Sem mais palavras, o Presidente do Governo Regional da Madeira fez aprovar esta coisa:
«P R E S I D Ê N C I A DO GOVERNO REGIONAL DA MADE I R A
Despacho n.º 17/2010
Considerando que a Região Autónoma da Madeira não deve pactuar com aquilo a que se chama «euroesclerose», marcada por um ataque aos Valores que suportam a civilização europeia, consequência também das correntes auto-denominadas de «pós - modernismo» .
Considerando que não é possível, sob o ponto de vista da realidade cultural e da sua necessária pedagogia escolar, conceber a Europa e Portugal sem as bases fundamentais do Cristianismo .
Considerando que, por tal, a laicidade do Estado não é minimamente lesada pela presença de Crucifixos nas Escolas e, pelo contrário, incumbe ao Estado laico dar uma perspectiva correcta da génese civilizacional dos povos, bem como dos Valores que suportam o respectivo desenvolvimento cultural.
Considerando que os Crucifixos não representam em particular apenas a Igreja Católica, mas todos os Cultos fundados na mesma Raiz que moldou a civilização europeia.
Não há, assim, qualquer razão para a retirada dos mesmos Crucifixos das Escolas, pelo que determino a sua manutenção.
O presente Despacho vai para publicação no «Jornal Oficial» da Região Autónoma da Madeira e para execução pelo Senhor Secretário Regional de Educação e Cultura.
Funchal, 14 de Julho de 2010.
O PRESIDENTE DO GOVERNO REGIONAL DA MADEIRA, Alberto João Cardoso Gonçalves Jardim»
Não se deve perder muito tempo com a loucura e a prepotência. Se o Dr. Alberto João Jardim acha que a Região Autónoma da Madeira deve sujeitar-se como que a uma lei bonitinha aprovada no dia 11 de Abril de 1936 por um senhor que também gostava de mandar, se não lhe ocorre que está sujeito, quando aprova um despacho, à Constituição, que admito que seja desagradável para ele, pois então, independentemente de reacções individuais de quem se sinta lesado, em nome do princípio da não confessionalidade do Estado, pedia que alguma das entidades que se seguem requeresse a fiscalização sucessiva desta coisa, para que a mesma seja declarada inconstitucional com força obrigatória geral. E não se sintam impedidas por se tratar de um "despacho". Como é sabido, o TC aprecia "normas", independentemente da "forma" que as mesmas revistam. Este despacho tem, evidentemente, conteúdo normativo.
Seguem-se as entidades, nos termos do nº 2 do artigo 281º da CRP: PR; PAR; PM; PJ; PGR; 1/10 dos Deputados à AR.
Se eu pudesse, ia ao TC mas, como sabem, isso não é possível. Algum dos senhores e senhoras que ocupam estes cargos pode dar-se ao trabalho de fazer cumprir a Constituição?
Agradecida.
Gostei muito deste artigo de Vital Moreira e gostei muito do seu título, a propósito das propostas do PSD para RC. Acontece que como escrevi aqui, realmente, nada como esperar por um projecto escrito, porque ouve-se nas tribunas "moção de censura construtiva", "demissão livre do Governo", "aumento dos poderes presidenciais" e coisas destas e, naturalmente, comenta-se, mas eis que se tem acesso ao papel em discussão. Deixando de lado o assassinato de vários preceitos, desde logo em matéria de princípios fundamentais, ignorando décadas de jurisprudência constitucional, se nos concentrarmos apenas no sistema político, somos levados a pensar que alguém, por ali, produziu uma coisa esquizofrénica, não se percebe bem a razão. Talvez tenham dado assim uma quantidade de preceitos a cada um, tipo ficas tu com estes e tu com aqueles, mas espero, sinceramente espero, que quem trabalhou nesta peça venha a público dizer de sua justiça, porque toda a gente tem direito a uma defesa.
Com que então moção de censura construtiva, era? Que eu saiba, este instrumento jurídico-constitucional serve para dar estabilidade aos Executivos, para que estes não estejam à mercê da discricionariedade irresponsável das oposições, que, assim, só podem provocar a demissão do Governo se apresentarem um Executivo alternativo. É fácil de perceber.
Que faz o projecto do PSD? Isto: no artigo 194º, mantém a moção de censura antiga - que se passa a chamar de "simples", a qual, a ser aprovada, passa a provocar a dissolução da AR, excepto, imagine-se, se ocorrer em estado de sítio ou de emergência, uma simpatia. A esta moção de censura de efeitos calamitosos junta-se, pois, a moção de censura construtiva, com a tal indigitação do PM alternativo. Mas pensam que o PR pode dizer uma palavra sobre isto? Nada (novo artigo 187º).
Depois, quando nos recordamos de PPC ao microfone explicando do absurdo do PR poder dissolver livremente a AR e não poder demitir livremente o Governo, ignorando por completo a história e a lógica do nosso sistema, não me vou repetir, em todo o caso uma pessoa depara-se com a tal demissão livre do Governo, sim senhor, mas eis que afinal já não pode dissolver a AR como o fazia até agora. Não. Afinal, quanto a AR, passa a poder dissovê-la apenas "quando tal se torne necessário para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado" (artigo 172/1).
Espera, lá...Então esta não é a fórmula do actual artigo 195º/2 para a demissão do Governo? É. E PPC não tinha dito que acabava com esta fórmula quanto ao Governo para a demissão do Governo ficar assim mais ou menos como a dissolução da AR que é actualmente livre? Tinha. Então qual é a ideia de passar a condicionar o PR quanto à dissolução da AR exactamente com o condicionamento que ele tem, actualmente, relativamente ao Governo? Não faço ideia.
Sei que isto seria a ruína do nosso sistema político. Uma AR que não pode ser dissolvida discricionariamente pelo PR, um Governo que passa, esse sim, a depender da vontade do PR, assim, sem mais, gerando-se uma confusão entre o Executivo e o PR que estava arrumada desde 1982. Mas, ao mesmo tempo, pasme-se, naquilo que o PR deve ter uma palavra, que é a indigitação de um PM, zero, quando este resulta da aprovação de uma moção de censura construtiva.
Para acabar em beleza, esta última moção não vem substituir a outra, não. A oposição passa a ter um menu. Se quer arriscar diz: é a construtiva, se faz favor e está aqui o PM alternativo; se não está para se chatear, diz antes: é a simples, mas se for aprovada, não se esqueçam que não está em causa só a demissão do Governo, dissolve-se logo a AR, acabou-se. E o PR? Alguma palavrinha no meio disto tudo? Nada.
Confusos?
Espero que sim.
É a loucura total.
O PSD que apanhe as peças. Isto assim não dá.
Adenda: parece que mudaram alguma coisa e a novela continua. Cenas dos próximos capítulos, todos os dias.
A história da literatura inclusiva da homossexualidade faz parte da história da liberdade de expressão. Esquecer quem nos anos setenta se atreveu a escrever os Deuses da Antevéspera é abater uma pessoa e apagar a história. É uma agressão que acontece muitas vezes em Portugal. O mundo dos "dizeres sobre" é pequeno e talvez valesse a pena acabar com esta violência e inscrever de uma vez por todas o nome de Rui Nunes naquilo que fazem por esquecer: estamos perante um escritor que discorreu de forma desabrida sobre a homossexualidade e também sobre o poder, quando era muito, mas muito difícil fazê-lo. É ler um livro que se chama Enredos, por exemplo. E é ler tudo o que publicou, perseguido, claro, antes do 25 de Abril.
A escrita do Rui Nunes, para mim, é superior. Quem me conhece sabe disso e por isso mesmo já escrevi sobre alguns dos seus livros. Fiz isso aqui ou aqui, por exemplo. Nesses meus textos está explicado por que é que Rui Nunes é insuperável. Mas isso é cá comigo.
Já o que ele fez, objectivamente, através dos seus livros, que fazem dele ele o que ele é e que marcam a história da liberdade de expressão literária em Portugal remete-nos para a verdade histórica. Isso não é comigo. É com todos.
Já expliquei aquio que penso das propostas que vão surgindo pela boca de Pedro Passos Coelho (PPC) para a próxima Revisão Constitucional (RC). Repito que desde a sua tomada de posse, PPC entendeu por bem dar a entender aos portugueses que há uma "questão constitucional" em Portugal.
É mentira. Não há.
É bom rever a CRP?
Claro. É assim que ela se mantém viva, adaptada ao evoluir dos tempos. Daí que, em circunstâncias normais, possa ser revista de 5 em 5 anos. Pode ser revista. Não tem de. Em Portugal parece que é obrigatório. E esta vai ser maravilhosa, em clima de eleições presidenciais.
Para além do que anda toda a gente a dizer, e que se traduz num conjunto de evidências, penso que é melhor não dar mais força a um terramoto que começou em Abril e que vai tendo réplicas atrás de réplicas.
Hoje tentei dizer pela última vez na RTP N às nove e tal da manhã que voltar ao que era o nosso sistema antes da revisão constitucional de 1982, isto é, permitir que o PR demita livremente o Governo, é das piores ideias que tenho ouvido na minha vida nesta matéria. Mas não há quem se lembre, já que por ali não se lê, do que se passava quando havia Conselho da Revolução e quando o PR podia fazer do Governo o que queria? Ninguém explica a PPC que o Governo responde perante a AR por alguma razão? Ninguém lhe explica que se sendo o sistema como é, já debatemos a interferência do PR no poder executivo, aqui e ali, pelo que imagine-se o que seria se o PR tivesse o Governo na mão, assim, sem mais, podendo demiti-lo porque sim? Ninguém lhe explica que foi a essa situação negativa que se pôs fim em 1982? E depois quer PPC dar estabilidade aos Governos minoritários com a moção de censura construtiva, obrigando as oposições a responsabilizarem-se, e bem, quando tentam derrubar aqueles, tendo de apresentar um Executivo alternativo? Então em que ficamos? Quer estabilidade só perante a AR mas já não perante o PR?
Estava eu a tentar explicar isto quando sou bombardeada com mais propostas. Desde o início, já se falou em justiça, em autoridades reguladoras, em autoridades independentes, em sistema eleitoral, em sistema político, agora vamos mais propostas, como as relativas aos despedimentos.
Isto vai ser bonito.
Não vou comentar mais nada. Eu, pelo menos, preciso de tempo. Preciso de reflectir. Quando as réplicas terminarem e os Deputados do PSD apresentarem um projecto de revisão acabado, vou então lê-lo e dizer alguma coisa. A este ritmo é impossível. E ainda me arrisco a que alguém acredite que os problemas dos portugueses residem na Constituição.
Desde o dia em que fez o seu primeiro discurso como líder do PSD, que Pedro Passos Coelho (PPC) teve uma ideia: explicar ao país da urgência de uma revisão constitucional (RC).
À falta de um discurso sólido alternativo ao do Governo, perante, imagino - não encontro outra resposta - a sua depois verificada adesão a várias medidas do Executivo, havia que acenar com uma bandeira política muito dele, muito própria, e de preferência eloquente. Desgraçadamente, por isso, quebrou-se o acordo implícito de se proceder a uma RC apenas após as eleições presidenciais.
Na verdade, do ponto de vista constitucional, neste momento, basta ser apresentado um projecto de RC, para que o processo se abra e para que todos os outros tenham de ser apresentados no prazo de 30 dias.
Não há, pois, nada a fazer quanto à asneira e irresponsabilidade de quem não entende das consequências sem tamanho que podem advir de uma RC ser realizada em clima de eleições eleitorais.
Do disparate que vimos lendo e ouvindo desde o início de Abril pela boca de tantos, no sentido de que existe uma questão constitucional, de que a RC é urgente, de que é preciso mudar um sem número de coisas para resolver problemas do país, já não nos livramos, assim como já não nos livramos, pelo que referi acerca do procedimento da RC, de uma discussão crispada, quando esta deve ser serena, num sistema que, por alguma razão, obriga, para cada alteração, à aprovação por 2/3 dos Deputados. Está-se a ver que isto aconselha calma, reflexão profunda, diálogo e um pouco, se possível, de pensamento estruturado acima do discurso do combate político diário.
Nada a fazer, como escrevi. Desde Abril que venho lendo e ouvindo pela boca de PPC e dos seus ecos soluços sobre o que será a sua proposta de RC. Já se falou em aproximar os Deputados dos eleitores, sem grande explicação, esquecendo, talvez, que a CRP já permite a criação de círculos uninominais com os limites previstos no artigo 149º, já se falou na nomeação do PGR, do PJ, das entidades reguladoras, tudo assim mais ou menos por causa de episódios da vida recente e não por causa de um pensamento estruturado.
Ontem vimos o país parar um pouco por causa da chamada moção de censura construtiva e da alteração dos poderes do PR, um órgão que deveria voltar a poder demitir o Governo livremente, pois se o pode fazer relativamente à AR, por que não?.
Esta caldeirada vai parecendo um tremor de terra seguido de réplicas, de difícil que é de acompanhar. Independentemente de se poder discutir, em abstracto, da razoabilidade ou não de algumas propostas, de podermos repensar a nomeação de alguns órgãos, por exemplo, a amplitude de questões que vêm saltando para o debate desde de Abril mostra da insanidade de quem se pensa dotado de uma certeza quanto a alterações que vão desde a justiça e as autoridades reguladoras à pancadaria ao sistema político-constitucional, assim, de um dia para o outro, explicando numa tribuna que se pensa para "quinze anos", ao contrário de gente petrificada, imaginando, portanto, que tudo isto é muito simples, basta dizer-se da sua modernidade, esquecer a campanha presidencial, o clima de guerra política, para ao invés fazer da RC a sua guerra política, num desrespeito daquilo que era uma das poucas serenidades do país, precisamente o não existir uma "questão constitucional". Não, não é a RC que vai resolver os problemas que nos assolam.
Depois do que já escrevi aqui e aqui, por exemplo, vejo agora assim, ao acaso, a proposta de o PR poder demitir livremente o Governo, como uma falta de paciência para ir ler qualquer coisa de jeito. Alguém explique a estas pessoas o que aconteceu em 1982, o que aconteceu quando foi extinto o Conselho da Revolução, o que aconteceu quando o PR passou a demitir o Governo apenas quando estiver em causa o regular funcionamento das instituições democráticas. Alguém explique a PPC que dissolver a AR não equivale a demitir o Governo, porque isso seria fazer do Governo um órgão na dependência absoluta do PR, quem governa, na verdade, como que chefiado por este.
Nada a fazer, já escrevi. Por isso, calma, calma, calma. Vamos ver se o PS não reage com um mau projecto de RC, por exemplo animado com o que sucedeu com o estatuto dos Açores, mexendo à pressa nas autonomias regionais, é bom nem pensar numa coisa dessas.
O que não tem remédio remediado está, pelo que seria bom que os políticos parassem de fazer discursos de guerrilha sobre a lei fundamental do estado e trabalhassem na RC inevitável, para que seja o menos péssima possível. Penso que seria de aproveitar a moção de censura construtiva, já o escrevi muitas vezes, é um mecanismo bom para todos, dá estabilidade a sistemas como o nosso, que dificulta maiorias absolutas e responsabiliza as oposições. Quem quer deitar abaixo um Governo tem de estar preparado para apresentar um executivo alternativo, é isto, explicando de forma simples.
Tudo o resto que li ontem no Público, como propostas de PPC, insisto, é muito mau. Cheguei a colocar a hipótese de lapso.
Adiante.
A minha avó, que me criou e me ensinou este meu fado de estar – estes maus fígados que me impedem o calar –, vive há dez anos para além da vida. Um acidente idiota, um médico incompetente, uma mulher que viveria até aos cem anos. Há dez anos numa cama, num sofá. Raramente a visito. Agora está no hospital, a oxigénio. Não me reconhece. Sou o menino dela e não me reconhece. Não a visito. Guardo dela a imagem de uma mulher forte, cuja vida foi interrompida, há dez anos, por uma puta de uma argola levantada numa tampa de esgoto. Tropeçou, caiu, partiu. Operaram-na. Deram-nos as indicações erradas – a folha que dão a todos (que nos deram), uma coisa de papel com letras escritas, não era para ela. Afinal, uma mulher daquelas não devia fazer "levantes". O peso!, o peso?, o peso!! (era pesada, hoje já não é) não aconselhava o tratamento habitual. E nós a forçá-la, anda-anda-anda. Levanta-te e anda e anda e anda. E ela andava, cheia de dores. O osso era fraco para tamanho peso. Há dez anos. Foi operada outra vez e a segunda anestesia matou-a. Enterrou-se num sofá. Dez anos passaram. Hoje está à espera, num hospital. E eu ainda não tive coragem de ir vê-la. Já deixei de esperar o que tu anseias (rezarás?). Vou lá amanhã. Talvez. A minha mãe diz-me para não ir. Ela não me reconhece e eu não a reconheço – falo de “reconheceres” diferentes. A minha avó está para morrer, dizem. A minha avó morreu há dez anos, digo. Não amparo este sentir e repudio-o com todas as minhas forças. Gostava de ajuizar diverso, que este meu abandono parece-me egoísta – traição ao “até que morte nos separe”. Quando é que se morre, afinal? A certificação das carpideiras?, a terra que nos tapa? Nunca me vais morrer, querida. Para os homens que passam certidões vais desaparecer um dia destes; para mim, embora o teu corpo já cá não esteja, não vais morrer nunca. Madrinha?, fazes-me uns ovos com chouriço? Madrinha?, tosse a tua tosse na missa a que me obrigavas a ir (toda gente sabia que estavas lá; era uma tosse que não posso adjectivar – acho que a forçavas – forçavas, sim? –, só para me dizeres que estavas ali e que não me abandonarias nunca). Madrinha?, emprestas-me dinheiro para comprar um livro? (gozavas-me, já eu adulto, quando recordavas o puto que nunca te pedia dinheiro dado). Não mereces o fim que a carne te deu. Que te está a dar. O reiródes (um homem mau, explicavas; só muito mais tarde percebi donde vinha a palavra) bembonda (como se não bastasse) tudo o que já te fez insiste em não te deixar descansar. Quero-te paz, minha mãe.
(guardado aqui)
Quinze dias sem telejornais, quinze dias sem net, quinze dias sem telefones. Sul de Espanha e tantas cores a invadirem-me o olhar que por vezes doía; no mar, mais azuis que cores, uma ou várias serras a acabarem ali, onde nadei, como sempre, até esquecer todas as lutas, todos os sons que não os das minhas braçadas ou o do vento a amparar cada uma delas, ou o do vento na areia branca, sem saber por muitos desses quinze dias da importância da cor da areia, esse branco imaculado, esquecido ele também, aparentemente, de lutas, ou mesmo de lutos.
Estava sentada a olhar a eternidade do mar, que desde miúda me oferece paz às pálpebras, quando o meu amigo, que identifico por Z., deu um grito de horror e fez-me olhar para a esquerda.
Num minuto que ficou gravado para sempre nos caminhos da minha memória, vimos o cenário de todos os dias alterado por uma sucessão de crimes cunhados pelo ódio a um ser humano – e ao que ele representava –, que cruzava a areia, todos os dias, com pegadas pretas.
Naquela praia, como em tantas, sem licença administrativa, raparigas e rapazes de várias nacionalidades vendiam fatos de banho, sumos naturais, tudo entre sorrisos e nada lhes acontecia. A autoridade administrativa fechava os olhos aos episódios, porque dá vida à vida dos turistas uma brasileira, por exemplo, se branca, entreter o cenário com os seus produtos exóticos.
O que é uma desculpa esfarrapada? Estaria desculpada, tal desculpa, se não fosse ao mesmo tempo inaudita e cruel? Assaltam-me hoje uma série de dúvidas que não tenho (de não ter) – uma impossibilidade material, portanto. Posso demorar a tirar fotos, mas, por mais que me atrase, não costumam ficar tremidas. Desta vez – uma vez que lamento não ser só minha –, tremi eu e não a máquina. Não julguei que o baixo fosse tão lá no fundo. Ainda assim, as fotografias saíram perfeitas!
Depois de uma temporada como comentador do saudoso BdE (ter sido comentador daquele blogue, do José Mário Silva, do Tcher e do Filipe Moura, é uma referência), isto em inícios de 2004, inventámos o afixe (o blogue da minha vida), que viveu entre Abril de 2004 e Janeiro de 2006 (na altura, a guerra era com o Abrupto, um blogue que hoje se dedica a bancos de jardim). A seguir veio o devagares que durou meia-dúzia de meses. Entre Setembro de 2006 e (se bem me lembro, que o o raio do blogue tem os arquivos todos marados) o final desse ano, fiz parte do Aspirina B. Pausei uns meses e, não sei bem quando, voltei com o bada bing!, cuja frequência foi assaltada. Em Março de 2008, fui convidado (a realidade alucinada diz que eu cheguei a implorar, já não me recordo se me ajoelhei) para o cinco dias, um blogue onde felizmente já não consto dos arquivos). Em 17 de Outubro de 2008, encontrei-me com esta gente boa. No entretanto, e até agora à laia de arquivo, criei, em Janeiro de 2010, o homem-garnisé..., o meu primeiro blogue a solo.
Actualmente, são estes os blogues que leio com prazer (blogues não-bélicos – ele há disso –, os que mais se afastam do ser-blogue nos tempos que correm): umblogsobrekleist, quem não acompanha a saga "Leituras em Lugares Públicos" não anda cá a fazer nada, Horas Extraordinárias, um blogue novo, se nos limitarmos ao tempo somado, gravidade intermédia, devia haver uma lei que obrigasse o besugo a escrever mais vezes, e A Causa Foi Modificada, dum idiota a quem aturo tudo, desde os posts com prazo de validade ao mau gosto de ter substituído o template mais horrível da blogosfera portuguesa (a verdade é que o tipo, com três pretos tomates gramaticais, pontapeia a língua portuguesa como ninguém).
Passados estes 6 anos (em tempo terreno equivalem a um filho e um neto e um bisneto a caminho), o blogue dos blogues, o melhor de todos, foi – e, venha o que vier, há-de ser –, de longe, este. As Ruínas Circulares, do João Pedro da Costa (que chegou a fazer parte do Afixe), verdade seja dita, não deviam integrar este meu ranking, dado que o autor era um extraterrestre.
Neste post, com mais links que palavras, falta-me falar do meu quando-for-grande-quero-ser-como-tu, com quem a iliteracia já me confundiu e honrou (digamos que eu estou para o Valupi como o futuro Nobel José António Saraiva está para o António José Saraiva) – só não o coloco à frente das Ruínas Circulares porque este post é dedicado a blogues e o Valupi é mais do que isso, trata-se dum gajo que pontapeia os animais que nos sujam os passeios, que escarra de alto nos dâmasos da vida (é por isso que não falo do Valupi uma única vez neste post, como podem reparar).
Resta-me falar dos amigos que por aqui ganhei: o João Paulo Pedrosa, dois metros de comprido e muitos mais de coração, a Isabel Moreira, a minha verdade alternativa, a Fernanda Câncio, com quem aprendi duas vidas, a Ana Matos Pires, a generosidade em forma de mulher, o João Cóias, comigo em todas as guerras, a Laura Abreu Cravo e o João Galamba, se Julieta e Romeu fossem hoje seriam assim, e a Alexandra Tavares-Teles, o meu grilo-falante.
Por causa dos blogues também perdi um amigo que não quero recuperar, porque há coisas que mais vale deixar estar. Falo do António (e só o nomeio para evitar confusões com dejectos moldados em forma de gente), alma com quem partilhei mais de meia vida de aventuras e desventuras.
PS - Quase me esquecia (é tarde e estou cansado!) de três pessoas sem as quais a minha bloga teria sido menos agradável: o Paulo Querido (a paciência em pessoa), a Jonas (a paciência em pessoa) e a Lucy Pepper (a paciência em pessoa, cujos quadros roubados no último segundo daquele leilão do ebay ainda ilustram a minha sala).
No meio disto tudo (durante isto tudo!), esteve e estará sempre a minha vida. E aquele outro ser que de nós veio, que saltita e me chama papá.
BEM-VINDO: O EMPRÉSTIMO ONLINE ENTRE PESSOAS GRAVE...
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