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Imaginem-se, num dia de rigorosa invernia, a esfaquear uma almofada de penas no cimo de uma montanha. Agora imaginem-se – arrependidos do vosso acto – a voltar no dia seguinte para tentar recolher todas as penas aventadas, de forma a recompor a almofada. Imaginem a remissão impossível. Agora imaginem que as penas da almofada – todas e cada uma – acolhem um boato, uma bisbilhotice, um diz-que-diz, uma escuta mal-parida, uma fotocopiadora forense com vontade própria. Isto imaginado, de faca na mão, e sabendo que a almofada é o encosto do país – do vosso –, ou o travesseiro de um qualquer desafortunado – vocês, por exemplo –, confessem o fácil (e fortuito) que é esfaquear uma almofada de penas no cimo de uma montanha ventosa. E imaginem também que a faca não está na vossa mão e que o recosto é (era) o vosso.
* adaptação (excessivamente) livre de uma confissão fictícia em Doubt, filme protagonizado por Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman
O que é que se passa hoje? Houve alguma inspiração colectiva para a malta desatar a escrever com enviesamentos propositados? Agora é o amigo da vida humana César das Neves a fazer o aparente elogio da ciência como última instância de referência na nossa sociedade perdida, para depois nos explicar como a dita, "a ciência torturada", coitadita, tem sido manipulada - ó Ana Matos Pires, tu tem cuidado - assim, por exemplo:
Eu até podia passar ao lado disto. Eu até podia não dar importância ao professor que se engana nas datas. Mas acontece que ele escreve de má-fé. Acontece que ele difama quem dá o melhor de si todos os dias contra o flagelo da SIDA, passando-lhes um atestado de menoridade intelectual. Acontece que ele escreve um artigo inteiro que passa pelo TGV e pelas alterações climáticas para chegar onde sempre chega: à sua homofobia primária e ao seu totalitarismo, esse que sonha com uma sociedade em que a lei seja o reflexo não da Constituição ou do parlamento, numa sociedade aberta e plural onde ele também tem lugar, mas da sua doutrina que defende com tanta (má) fé.
A propósito do resultado do referendo pedido pela extrema direita na Suíça, com o resultado conhecido, acerca dos minaretes, com manifesta má fé, (ou confusão apenas?), vem-se dizer que "logo num ímpeto de luta pelo apagamento dos sinais religiosos resolveram proibir os minaretes. Por cá há quem queira fazer o mesmo aos crucifixos nos edifícios públicos".
Vou tentar ser muito simples: edifícios públicos não é o mesmo que espaços públicos.
E quanto a isto de haver "quem" queira retirar os crucifixos, sei lá, por exemplo das escolas, como o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, e como, sei lá, a Constituição portuguesa, não se trata de de agredir a Igreja católica, mas de defender a liberdade de todos, eu cá gosto de reler isto e isto.
É fantástico que se aproveite uma decisão idiota, xenófoba e que demonstra, como explica o Daniel, o perigo dos referendos a darem às maiorias o poder de limitar os direitos das minorias, para se equivaler a mesma à proibição de crucifixos (ou de símbolos de outras religiões) em edifícios públicos de um Estado laico.
Jesus diz que o Sporting já não é candidato ao título. Saramago, pega nisto pá.
Aguiar Branco tem um ar simpático, calmo, ponderado. Aguiar Branco passa genuinamente a imagem de quem não diz nada que resvale para fora das fronteiras do politica e democraticamente aceitável. Por isso mesmo, quando afirma, com a sua postura de pessoa amiga das liberdades, que se fosse Primeiro-Ministro divulgaria as escutas que estiveram na base de uma decisão do Procurador-Geral da República e do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, o que contribuiria, pensa, para a dignificação da função de PM, alguém menos atento pode não dar pela facada mortal que estas palavras irresponsáveis significam numa conquista essencial do Estado de direito que é a reserva da intimidade da vida privada, protegida constitucionalmente.
Na verdade, para além de ficar por saber como é que Aguiar Branco divulgaria as escutas, o que sendo demagógico talvez seja o menos interessante na ofensiva, passa-lhe completamente ao lado que a reserva da vida privada deve ser especialmente protegida exactamente quando, não havendo decisão judicial em contrário, outros actores - jornalistas, inimigos, opositores, etc. - disparam em argumentação juridicamente infundada para tentar chegar à reserva da vida privada do visado por outras vias, como é aqui exemplo a via da chantagem moral.
Ora, não cola. No caso, não há "níveis" de reserva de vida privada. O PM fala ao telefone com quem quer e se fortuitamente conversas suas são gravadas e não há interesse jurídico nas mesmas, por mais que a oposição, jornalistas e 300 Aguiares Brancos especulem à margem da separação de poderes sobre o teor das ditas conversas privadas do cidadão e PM José Sócrates, este, se renunciasse, como pretende Aguiar Branco, ao seu direito fundamental e pedisse - coisa gira - ao presidente do Supremo Tribunal de Justiça para divulgar a sua intimidade, estaria a ceder em duas dimensões totalitárias: na primeira, a sua própria reserva da vida privada ficaria reduzida a um brinquedo feito de plasticina à mercê das vontades não dos tribunais mas dos Aguiares Brancos desta vida; na segunda, a de todos nós, que saberíamos pelo PM quanto vale e para que vale afinal ter um sistema de direitos, liberdades e garantias, especilmente protegido, no caso esta coisa insignificante que é a reserva da vida privada.
Comecem a dar-lhe facadas, comecem. Uma, duas, três. Acham mesmo que é só o PM que sai prejudicado?
E que tal passar pelo supermercado?
Como qualquer coala (o Eduardo pôs-me a par da terminologia) que se preze, não li o 2666 antes da tradução. Leio-o, agora, à maneira do desejo de Bolaño: como cinco livros separados. A seguir à Parte dos Críticos, arrisquei a releitura do Primo Basílio; depois de Almafitano, aventurei-me (sou masoquista) na última xaropada de Dan Brown; após a Parte de Fate - e depois de ter espreitado os Crimes -, dediquei-me ao Alienista. O que vale um post é o facto de, entre Partes (Livros), sentir o olhar acusador da contracapa de Bolaño, como que ofendida - como se não tivesse sido ele a outorgar aquela herança, com o raio do fumo daquele cigarro sempre a queimar e que não acaba nunca. Vou-te ler todo, pá, descansa, e depois vou pôr Borges a espreitar por detrás do teu cigarro. A decoração já está combinada - vais ficar bem, a olhar para mim assim que entro na sala.
Comecei ontem a ler O Alienista, dum tipo que por uma dúzia de anos não calhou ser português. Nunca tinha lido este conto - alguns chamam-lhe novela - de Machado de Assis (é um pecado, eu sei), mas o que aqui releva é que as primeiras páginas, o asilo, a recolha e a afluência voluntária e massiva dos dementes, as janelas verdes, tudo me lembrou este Portugal com que lutamos.
- É óptimo ir a museus sozinho com o Miguel Abrantes - dá para aproveitar os descontos de grupo;
- O Miguel Abrantes é do Benfica porque é o único clube em Portugal que tem um estádio com capacidade suficiente para o acolher;
- O Miguel Abrantes nunca anda de elevador, que a capacidade máxima não permite;
- Quando o Miguel Abrantes sai sozinho à noite normalmente acaba cada um para seu lado;
- Abrantes tem menos gente do que o Miguel Abrantes.
- Ontem tentei ir jantar fora com o Miguel Abrantes, mas, como para grupos grandes "só com reserva", acabámos por desistir;
- Quando respeita ao Miguel Abrantes, a frase "o Miguel Abrantes está na fila para a casa-de-banho" ganha todo um novo significado.
Ao ler isto e isto de Nuno Pombo - que entre outros comentários que suscitou, destaco a pérola seguinte : "(..) se os homossexuais que praticam o swing (que são a maioria) decidirem casar (ainda que os seus casamentos sejam, em número, uma minoria relativamente aos restantes) isso irá, por sua vez, afectar e fazer diminuir a dignidade do casamento enquanto instituição jurídica, já que um dos deveres do casamento civil é precisamente o dever de fidelidade" - lembro-me sempre da raiz dos discursos que como o bater de asas de uma borboleta no oriente pode provocar um furacão no ocidente.
Este é o drama prático e jurídico dos direitos sociais. Aqui trata-se da concretização justa do direito à segurança social, no entanto condicionada pelo princípio dos meios financeiros disponíveis, ou pela reserva do possível, ou do que se lhe queira chamar nos livros. Na prática, é isto: efectivamente, sob pena de ruína do sistema, pode não ser possível dar a resposta justa a quem trabalhou que nem um cão desde os tempos em que devia ter estado a estudar e a brincar.
João Marques de Almeida (JMA) vem defender aqui que ficou patente no debate prós e contras que os defensores do casamento entre pessoas do mesmo sexo têm claramente uma agenda escondida.
Ao contrário de outros, que defendem que o PS (e quem apoia a proposta do mesmo) está a esconder a adopção, JMA avança com a curiosa tese de que a verdadeira agenda escondida, a motivação mais profunda, de muitos (não de todos) é um ataque à religião e a um modo de vida conservador. Segundo o cronista "aquela discussão foi um bom exemplo de como, muitas vezes, as lutas de libertação se tornam rapidamente em novas formas de opressão. O direito à diferença também inclui um modo de vida conservador e muito próximo da religião. E deve ser defendido por todos aqueles que valorizam a liberdade, mesmo que não o pratiquem".
Também defende que quem é contra o casamento aposta no casamento para o impedir e que quem é a favor do casamento afasta o referendo porque tem medo de perder.
Vamos por partes.
JMA, com o devido respeito, não podia ter chutado mais ao lado. Quem, efectivamente, quer impor um "modo de vida", "conservador", por vezes, muitas vezes, "próximo da religião" a uma sociedade inteira é precisamente quem estava, no programa citado, do lado do não ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Esses sim desrespeitam o tal princípio de liberdade individual que surge citado e prezado pelo cronista. Basta pensar em como se defendeu que o casamento é uma instituição milenar, anterior ao Estado, necessariamente entre um homem e uma mulher, definidor do estatuto da mulher.
Na capa da última Sábado, o Sol e o Público são apresentados como os "inimigos de Sócrates" a quem o BCP cortou publicidade. Alguém me sabe dizer se os referidos jornais já vieram desmentir serem inimigos do Primeiro Ministro? Ou, doravante, deve passar a ser reconhecido como notório que assim é? Que tudo o que ali se faz e ali se diz é feito e dito por inimigos de Sócrates? E que se trata pois - sempre tratou - de uma questão pessoal?
Bzz, bzz, bzz. Alguns seres foram imaginados para serem enxotados (enxotar e esmagar são aqui sinónimos). Zotes bzudos, têm como destino um encontro imediato forçado e sangrento e de asas partidas com o vidro da janela que não percebem. Não percebem que o varejento disforme que os encara é o reflexo do filho da mãezinha que os desovou (são filhos únicos). Tentam desviar-se, uma e outra vez, até que alguém lhes ponha fim ao anseio. Um pano de cozinha basta. É um favor que lhes fazem, que as moscas domésticas querem-se higienizadas em casa ‒ e depois pela sanita abaixo. O horizonte que se vê de cá da janela, por mais cinzento que apareça, é um azul em potência que eles não podem impedir. O Campo Pequeno é prós touros.
Na Rússia, continuação de boas notícias.
Temos a Direita a reagir a quente a problemas como ao da supervisão por parte do Banco de Portugal com propostas destas.
Não é possível, não pode ser, reserva de Constituição, blá, blá, blá, mas mais importante: não resolve nada governamentalizar o PR e gosto sobretudo da parte em que se prevê que o Chefe de Estado, assim, sozinho, com toda a discricionariedade, possa, com base numa fórmula vaga, destituir os presidentes das entidades reguladoras caso considere que "cometeram erros graves no desempenho das respectivas funções".
"(...) anúncio do Ministério da Justiça de que vai apresentar um decreto-lei para interromper os prazos processuais dos advogados entre 15 e 31 de Julho. Isto significa na prática que todos os processos que não sejam urgentes param de 15 de Julho até ao fim das férias judiciais, no início de Setembro." [RTP]
Não é exactamente a mesma coisa, mas também está bem.
custa muito ser diferente. a inês é a única pessoa na sua família que acredita em deus. decidiu, com 20 anos, ser baptizada e pediu aos pais e aos quatro irmãos para estarem presentes. a família da inês tomou-a por estúpida e irracional e fez essa coisa que devia ser crime, a troça. a inês entrou para a sua nova família sem ninguém que a vira crescer ao seu lado. custa muito ser diferente.
a rita, pelo contrário, nasceu numa família de 7 irmãos, na ilha de são miguel, uma família conservadora, católica, de missa diária. a rita apaixonou-se pelo miguel e ficou grávida com 20 anos. a sua mãe disse-lhe que nunca ultrapassaria tamanha vergonha social, a sua filha pecadora, sentenciou-lhe um casamento, a filha recusou, isso valeu-lhe umas bofetadas e vários insultos. a rita abortou espontaneamente e a família ficou feliz.. a rita saiu de casa e foi viver com o miguel, no porto. passaram 3 anos e nunca mais disse ou ouviu mãe e pai. custa muito ser diferente.
o joão ganhou uma bolsa e frequenta uma universidade privada cujo nome não interessa. o joão gosta de vestir-se de preto. porque sim. lembra-lhe o avô, que usava uma camisa escura. o joão não tem dinheiro para ir aos jantares de turma, nem para comer sandes e sumos nos intervalos, nem para ir sair de bar em bar nessas noites que custam não menos de 30 euros. o joão tem borbulhas na cara e ténis da feira. as suas notas acima do 14, coisa rara no curso de direito, não chegam para fazer amigos, para entrar num grupo. custa muito ser diferente.
custa muito não ser diferente mas tratarem-nos como diferentes. a inês, a rita e o joão são a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Tenho andado, de dia para dia, para escrever algo sobre a questão daS faceS ocultaS dos últimos dias, mas a falta de tempo - e acima de tudo a falta de paciência - não mo têm permitido. E não seria ainda hoje; sucede que reparei que a João, a propósito de outro assunto, resume tudo numa frase dirigida aos nossos esforçados media: "Ao menos esperem pela autópsia antes de potenciarem suspeitas que, até ver, são perfeitamente infundadas e constituem, de facto, um atentado à saúde pública". A frase vinha a propósito da gripe A e da actuação dos media, mas serve como uma luva - é aliás a frase perfeita - para caracterizar a forma como os media têm tratado o caso Face Oculta.
Quanto ao Segredo de Justiça, continua como dantes. Tudo como sempre, aliás:
" (...) foi uma torrente contínua de violação ao segredo de Justiça: antes de Leonor Beleza ter sido notificada da acusação, esta foi publicada integralmente em todos os jornais; a LUSA difundiu-a pelos meios de comunicação social, as rádios e as televisões divulgaram-na perante os portugueses. (...) Na tarde em que Leonor Beleza foi pronunciada, à porta do Tribunal, (...) foi chamada de "assassina", foi impedida de dizer uma palavra em sua defesa e só não foi agredida porque advogados e jornalistas a protegeram a todo o custo (...) " - Proença de Carvalho, artigo publicado no "Público", 4 de Novembro de 1996;
"É público e notório que o segredo de Justiça tem sido abertamente violado (...) Não uma mas muitas vezes" - António Ribeiro Ferreira, DN, 4 de Novembro de 1996.
Há remédio? Não, não há. Actualmente, é permitido aos media, cantando e rindo e gozando, fazer o inaudito: violar o segredo de justiça e fazer disso notícia - uma espécie de dois em um: é notícia a notícia e é notícia o facto de a notícia ser notícia.
E assim, temos a justiça transformada numa espécie de abertura snuff (na acepção fílmica) de telejornais. É claro que a justiça (não merece maiúscula) é a principal responsável - as fotocopiadoras não têm perninhas nem vontade própria. Neste caso, então, é gritante a forma como o actual estado de coisas é pacifico. Arrasadoramente pacífico. Neste caso, houvesse vontade, as fontes seriam facilmente descobertas, que o processo - pelo menos a parte daquelas escutas - ainda não chegou às partes e às suas largas costas.
Mas não, mais vale assumir - logo à cabeça - a impossibilidade da coisa. Aliás, este país está cheio de finais impossíveis, tanto que até o facto de ser um país parece uma impossibilidade, um claro erro de casting. A relação entre a justiça e os media, se podia resultar em algo saudável - particularmente para a primeira, caso resolvesse adaptar a linguagem -, surge como uma relação de cumplicidade criminosa.
Tudo como que num circo de feras, gladiadores, césares. Tudo a fervilhar, como que numa sopa esquecida ao sol. Até ao dia em que aquilo que só acontece aos outros nos aconteça a nós. Parece restar-nos - parece ser mesmo essencial - que nos aconteça a nós sermos os violados pelo segredo de justiça (sim, que a expressão, ironicamente, ganhou esta carga). Talvez nesse dia desça uma luz.
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