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P(ost) S(criptum): amo-te!

por Rogério Costa Pereira, em 11.04.09













Partindo duma sentença do João Miranda, até há pouco tempo colunista do Diário de Notícias, parto para uma reflexão. De acordo com Miranda: "Jornalista que tem relação de carácter pessoal com político X encontra-se numa situação de conflito de interesses quando defende político X em coluna de opinião."


Imaginemos que o "jornalista" é a Fernanda Câncio e que o "político X" é José Sócrates. Especulemos ainda que ambos têm uma relação (tudo indica que sim, e de ciência certa, uma vez que foram vistos juntos no cinema e vaiados - juntos - na ópera). Aqui chegados, especulemos ainda mais (em jogos infantis especula-se muito). Faça-se de conta que a Fernanda é fulana para se deixar instrumentalizar pelo namorado - é disso que a acusam certo?, melhor, aquilo de que a acusam passa por dar como adquirido tal facto: que a Fernanda Câncio é veículo, instrumento, do namorado, que ela diz e faz o que o putativo apaixonado lhe manda, o que é coisa que realmente se ajusta à sua forma de ser e estar. Nem é preciso conhecê-la, basta lê-la.


Adquirido tudo isto, facilmente percebemos, por exemplo, a forma como a Fernanda se opôs à decisão do PS de votar contra as propostas do Bloco de Esquerda e dos Verdes a propósito da legalização do casamento entre homossexuais. "Por amor", escreveu artigos no jornal, posts no blogue e, pasme-se, ainda e sempre "por amor", até foi obrigada, presumo que pelo namorado, a aparecer no Parlamento em pleno dia da votação. Ao lado, precisamente, dos apoiantes dessas mesmas propostas – as tais que foram vilmente recusadas pelo PS. Concerteza que José Sócrates há-de ter delirado com a atitude da "namorada de", por certo que extasiou com a fidelidade canina que a "namorada de" lhe devotou - deu-lhe, é certo, imenso gozo a forma como a mesma "espécie de jornalismo" que agora se insurge contra a "namorada de" a usou – à "namorada de" - para vender o seu mênstruo do dia seguinte.


Ironias à parte, a questão é simples: em Portugal tudo se resume às medidas pessoais de cada um, aquela espécie de régua lésbica com que, baseados nos nossos preconceitos e vivências, medimos, e vivemos, tudo o que nos rodeia. "Fernanda Câncio escreve sobre o caso Freeport? Fernanda Câncio diz que a investigação jornalistica é fajuta ou anda lá perto? Medindo-a (à situação e à Fernanda) com a minha moldável reguinha [leia-se: se fosse eu], então a conclusão é óbvia: a gaja está feita com o gajo, feita voz do dono". Perfeito silogismo à la porra.


Assim sendo, questiono-me, e para arrumar este tema, será que o mesmo jornalista que tem relação de carácter pessoal com o político X se encontra numa situação de conflito de interesses quando ataca esse político X em coluna de opinião? - sei que atacar e defender são o preto e o branco de uma dialéctica redonda e sem sentido, mas não fui eu que comecei com as palermices.


Como pretendo despachar tudo num post, salto para o caso "jugular: blogue oficial do PS". Durante a semana que passou tive oportunidade de me manifestar, pontualmente, contra as opiniões do Miguel Vale de Almeida, aqui no blogue – acho que está a ver mal a coisa, admitindo que ele pense exactamente o mesmo de mim. Logo se levantaram azuis e democráticas vozinhas, em abuso da tal reguinha, a salivar pela “cisão à vista". Sejamos claros, abomino a política do PS para a Justiça e acho que José Sócrates é o principal responsável pelo descalabro, uma vez que não há-de ter sido a Fernanda a escolher o Ministro da Justiça. Entraram a matar, e de forma demagógica, com a questão das férias judiciais. O processo executivo continua uma lástima e as sentenças continuam a servir para emoldurar e colar na parede. A “nova lei do divórcio” é uma história da carochinha - um belo escape para encontros de contas conjugais com o único fito de fugir aos credores (não vos maço com pormenores num post que se quer generalista). O novo Código dos Contratos Públicos é um labirinto normativo, com rasgos de iliteracia, sem ponta por onde se lhe pegue. O sucessivo adiamento da entrada em vigor de novas leis (o regulamento das custas judiciais é um bom exemplo) é uma vergonha em qualquer Estado que se quer de Direito (mais uma vez, e por pudor, não entro em pormenores, tal é o fastio). Trabalho com três Códigos de Processo Civil ao mesmo tempo. Estive há dias numa conferência onde a oradora principal começou a prelecção com a frase: “até ontem à noite isto era assim, não cuidei de confirmar pela manhã”. Chega para ilustrar a diarreia legislativa. Em suma, tenho razões de sobra para abominar, sequer pensar, em votar PS nas legislativas que se aproximam – sendo a alternativa a que é, resta-me ir à praia nesse dia. Ou então votar PS, que do mal o menos (eu e o centrão, que não somos poucos).


Apesar disto, dizem-me, estou a soldo do Rato. Já fiz por uma medalha, acrescentam outros. A tal reguazinha dos medíocres volta a atacar. Outros ainda, seres estéreis, rasteiros que nem barriga de jacaré, entre metáforas, acusam-me de ser a voz da dona – e aqui a minha dona seria a Fernanda de quem, relembro, Sócrates é dono (há aqui um fenómeno em cadeia). Cata-ventos de barriga de cerveja, que em vez de vento a soprar têm a azia a cuspir-lhes fel. E, ainda assim, continuam a rodar.

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publicado às 01:37


40 comentários

De Carlos Vidal a 11.04.2009 às 02:02

Muito bom.
Incisivo, brilhante.

De Rogério da Costa Pereira a 11.04.2009 às 02:11

Vida, assuma-se de vez e avance para o clube de fãs.

De lampiao a 11.04.2009 às 02:36

clap, clap, uma verdadeira declaração de amor:

Rogério, após um abraço beijado: Oh! Os teus lábios apagaram os pecados dos meus!

Fernanda: E os meus lábios guardaram para eles o pecado que encontraram nos teus...´

não é bonito :))))

De Ricardo a 11.04.2009 às 02:39

Ok. Este post já deve ter dado para ascender um pouquito na fila dos pretendentes aos jobs. Parabéns.

Agora, a parte da "régua lésbica"!!! "régua lésbica"??? Ahahahah... Verdadeiramente surreal...

Só há uma coisa a dizer sobre tudo isto: A venerável jornalista Câncio, supostamente "namorada" do PM, não pode falar de assuntos que envolvam o suposto querido. Ponto final, parágrafo. E, sempre que o fizer, será sujeita a mil suspeições. Há algo de mais cristalino que isto?

De weber a 11.04.2009 às 02:43

Muito bem argumentado.
Contudo, sobra denunciar um embuste.
Na minha mercearia (em dois postes, um sobre L'Affaire Salengro e, num outro, sobre a última crónica de Ferannda Câncio, jornalista no DN) Mainstreet, coloquei várias vezes a questão noutro plano.
Não há processo Freeport (vidé "freeportização" da politica nacional) e, menos ainda, "caso" José Sócrates no licenciamentoi do Freeport.
No suposto "caso" Freeport foram constituidos dois arguidos: um tal Charles e um tal Pedro, o que não significa que sejam culpados do quer que seja.
Porque é que insistem em meter José Sócrates ao barulho, se, o homem, nem sequer é supeito (dixit PGR)?
E porque é que a jornalista Fernanda Câncio, que tem uma coluna de OPINIÃO (então os senhores jornalistas, opinadores, politicos e outras profissões correlativas...já não distinguem opinião de noticia, de investigação!) no DN não pode escrever, discorrer sobre o que está a acontecer, a contaminar, a disseminar-se e a poluir a Justiça, a PGR, o Governo, os Partidos, a Assembleia da República e , sobretudo, a Comunicação Social, a "freeportizar" o País?
Desde quando é que pode, alguém, em seu juizo perfeito, decidir em nome de Fernanda Câncio, e por ela, quais os temas que pode, ou não pode tratar na sua coluna de Opinião?
Ele há um vento de insanidade, que varre Portugal!
É, pois, necessário resistir. Eu faço-o, modestamente, na minha mercearia.
A opinião de MST, no Expresso, vai também nesse sentido.
J.A.

De Rogério da Costa Pereira a 11.04.2009 às 02:44

Ontem obrigaste-me a comer peixe-galo, não me convidaste para os fumos que inspiraram este teu comentário.

De Ana Matos Pires a 11.04.2009 às 02:47

Nada, nadica mais cristalino, claro claríssimo como água suja. Que tristeza tamanha, que sítio este onde a minha filha está a crescer. Fuck, ponto final.

De Rogério da Costa Pereira a 11.04.2009 às 02:56

Ana, ponto final parágrafo, disse o cromo. Reduz-te e cala-te - não incomodes os leitores.

De LM a 11.04.2009 às 02:57

Mas será difícil ver que é diferente comentar assuntos políticos/de Estado ou questões que emanarão de confusões criminais/particulares de Sócrates? Quanto a estas, parece-me que alguém próximo dele não deveria publicar opinião assinando como jornalista.
Criticar uma posição política nada tem a ver com alvitrar sobre negras perseguições que movem ao homem.
Quanto a isto ser o blogue do PS, julgo que isso se refere aos prosadores de relevo público.

De lili a 11.04.2009 às 02:59

A Imprensa neste país tornou-se um imenso tablóide.

Régua lésbica, Rogério? Régua lésbica?

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