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A obsessão dele com o umbigo (dele)

por rui david, em 09.12.13

Li há dias uma crónica do Sousa Tavares enquanto separava as folhas do jornal para embrulhar o bacalhau.
Ele vinha do Brasil (mas em regime de baixa pegada ecológica) e ao chegar ao aeroporto, apanhou uma bicha por causa da greve de uns funcionários. O problema resolveu-se miraculosamente quando a sua indignação pelo transtorno cruel supostamente infligido pelos grevistas aos passageiros (e sobretudo a ele que não gosta de demoras nas bichas) ameaçava transformar-se num "caso de polícia" apesar de garantir que acha que a greve é um direito, etc., desde que não o chateie minimamente.
Daqui partiu directamente ao ataque à já famosa sessão da Aula Magna, de que verberou o "apelo à violência", que isto de violências não é nada com o Sousa Tavares. Violências é só para ele na bicha do aeroporto, o resto da indignação tem de esperar cordatamente por eleições.
Até porque ele ainda se lembra do terrível massacre que foi o cerco à Assembleia Constituinte em 75 (a mãe dele parece que ficou lá sequestrada três dias).
Mas o Passos Coelho também levou nas trombas, que este homem é de uma independência feroz, e quem bate na oposição por fazer greves ou reunir-se, bate no Governo por um assunto Grave: um ayatollah (sic) do Governo quer fazer qualquer coisa para chatear ainda mais os fumadores (e o Sousa Tavares fuma...). Logo, bordoada contra os ayatollahs do Governo.
Já durante a greve de professores no Verão passado, veio a história da dona Ermelinda que dava aulas numa sala infecta a oitenta alunos, para fundamentar umas considerações indigentes sobre os problemas dos professores e do ensino (também è contra o "facilitismo").
Há uns anos lembro-me que uma das suas bandeira de luta eram os GNR que multavam os incautos em excesso de velocidade nas rectas do Alentejo (parece que o Sousa Tavares viajava frequentemente pelas estradas do Alentejo e havia lá rectas e GNRs surgindo frequentemente diferentes interpretações sobre a velocidade aconselhável...).
E o ambientalismo dele começou a manifestar-se quando uns empreiteiros no Algarve começaram a desfigurar-lhe uma paisagem a que ele estava afeiçoado desde que ia lá em passeio, quando jovem e tornou-se numa obsessão "contra o betão".
Este tipo conseguirá pensar nalguma coisa que não seja o seu mundinho (grande, até dá para ir ao Brasil)?

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publicado às 20:59


Síria, esse "fenómeno sazonal"

por rui david, em 18.10.13

Subitamente reparei no silêncio que se fez à volta da guerra civil na Síria que continua pacatamente a decorrer com o seu cortejo de barbaridades enquanto o povo se congratula pelo bom senso das super potências e se falou em prémios Nobel para Putines, Obamas e... (believe it or not) Assades.
E assim continuará até um dia destes quando for preciso excitar novamente a opinião pública para propiciar uma intervenção militar inútil para quem sofre e lucrativa para quem fornece o "material".

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publicado às 10:14


CGTP

por rui david, em 16.10.13

I - A CGTP sabia que estava uma manif para o dia 26 de Outubro mas resolveu antecipar-se com uma iniciativa disparatada a 19 que afinal não se concretiza e já lançou confusão que chegue sobre a de 26.
Resumindo, o inimigo principal de quem se opõe ao Governo não é a CGTP.
Mas para a CGTP, o inimigo principal é quem ela imagine que lhe retira algum do protagonismo que pretende assumir nas lutas sociais.
É generalizadamente reconhecido o papel da CGTP como estrutura de contenção e enquadramento da contestação.
Está na moda dizê-lo, é a demonstração de argúcia analítica do mês, o padrão favorito da colecção Outono Inverno do comentário político.
Mas convém não exagerar. Convém não abusar.


II - Ontem contaram-me da situação dramática que vivem os estivadores.
Totalmente submetidos à Lei da Selva para "não prejudicar as nossas exportações", os nossos "riquinhos bens transaccionáveis".
À mercê de bárbaros engravatados e falinhas mansas.
Caluniados nos media por filhos da puta sem nome que deveriam ser punidos com uma noite, só uma noite a alombar em todos os sentidos pelos disparates que blateram irresponsavelmente e com total desconhecimento de causa que não seja o de defenderem cegamente a causa dos exploradores.
Mas o sindicato destes gajos não faz parte da CGTP. E a CGTP está-se borrifando para quem não faz parte da CGTP.
Se querem fazer qualquer coisa de útil para além de discursatas veementes mas inócuas que levem a concentração de Alcântara até ao Plenário dos Estivadores que se realiza no Sábado.

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publicado às 10:02


O "eleitorado do PC"

por rui david, em 30.09.13

As pessoas falam por vezes do "eleitorado dos partidos" como se o eleitorado de um qualquer partido fosse uma propriedade desse partido.
O caso mais conhecido é o do "eleitorado do PC" a quem alguns se referem como um rebanho de zombies acomodado num curral, de onde sairia nos dias de eleições para seguir para as mesas eleitorais colocar o voto. Cada zombie teria algures na testa uma porta onde à saída do curral seria introduzido um cartão contendo um chip onde estariam encriptadas as instruções (previsíveis) sobre como votar.
Tendo o PC obtido nestas eleições uma votação que lhe permitiu recuperar uma boa parte da influência que deteve no seu "território ancestral", logo alguns referiram que o PC recuperou o "seu eleitorado", sem explicar como o perdeu se era seu.
O que se passa é que este eleitorado que deu agora votos ao PC é um novo eleitorado, bastante diferente do que votava PC há vinte ou trinta anos atrás. 
O que é evidente é que a mensagem do PC passou a fazer sentido para uma nova geração de eleitores, algo que se julgava improvável e que será um dos aspectos que mais expectativa trarão para a evolução da situação política no país nos próximos meses.
O facto de este fenómeno se verificar na área tradicional de influência do PC e não noutra, apesar das grandes alterações que se verificaram naquela região e em todo o país e por muito que se refira a presença de uma estrutura organizativa forte e o facto de o crescimento não extravasar limites estabelecidos desde há décadas, pese o momento político excepcional que vivemos, serão certamente bom motivo de investigação para os cientistas sociais.

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publicado às 21:16


a legitimidade dos sem pudor

por rui david, em 29.09.13

Bom. Peço desculpa por alguns excessos de linguagem. São fruto de alguma frustração por saber que isto é um momento passageiro de alívio quando nada do essencial vai mudar. Mas é que tenho passado, temos passado, eu e tanta gente, tantos meses a ouvir barbaridades e a sofrer com mínima capacidade de resposta, a arrogância de um grupelho de facínoras que conquistou o poder absoluto em Portugal, que só um santo e nem todos os santos, poderia aguentar tudo isto e manter uma suposta fleugma supostamente britânica no momento em que essa gente é forçada a ver escarrapachada nos quadros de resultados eleitorais a legitimidade de que se arrogam sem qualquer pudor.

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publicado às 22:23


Arrest the Dukes (pela Salvação Nacional)

por rui david, em 22.07.13

Ainda não percebi tanta inquietação, em tantos sectores, insuspeitos alguns, até, pela aparente "interrupção" do processo político.
É que o culpado disto tudo é o Seguro. E o PS.
Parece-me que este é um dado polítíco insofismável que será sem dúvida realçado na maioria dos comentários políticos que durante a próxima semana nos darão uma visão abalizada da problemática da recente crise política (provocada pelo PS) que se viveu no País nos últimos vinte dias e cujo espectro foi finalmente afastado graças à sereníssima serenidade do Sr. Presidente da República e à coesão inabalável e irrevogável dedicação à Salvação Nacional, dos partidos da maioria.
A Esquerda (a verdadeira, a que não pactua, a que até se junta ao CDS e ao PSD, se necessário, sempre que os superiores interesses do povo, que fielmente interpreta, o exijam, para chumbar orçamentos, por definição, de direita, do PS na Câmara de Lisboa) sabe que Seguro é um crápula que não aproveitou para esfaquear o Cavaco quando se apanhou sózinho na sala com ele, tal como o Mestre de Avis fez ao cavaquista Conde de Andeiro, desperdiçando como direitista que é, uma oportunidade de ouro de instaurar a almejada Democracia Popular. Ou então deveria ter apertado o pescoço ao Passos enquanto dava um pontapé nos tomates ao Portas e com a terceira mão puxava os cabelos ao Cavaco, forçando a realização de eleições antecipadas, mas já. Pelo contrário, o idiota apenas exigiu eleições antecipadas já e sem condições, e nem sequer aceitou eleições antecipadas já, em Junho do próximo ano.
A Direita sabe que o Seguro é um cobarde pouco firme politicamente que cedeu às ameaças dos seus colegas de Partido pouco propensos à "Salvação Nacional" que ameaçavam partir o Partido ao meio, ignorando que é do interesse nacional (por definição acima dos partidos) que o PS se desintegre desde que mantenha uma direcção fantoche disposta a todos os acordos de interesse nacional que lhe sejam impostos pelos outros... partidos, os que interpretam, tal como o Sr. Presidente da República, o interesse nacional. Tal como se tem visto.
E, pior fraqueza política, não cedeu às pressões da Direita para que com ela constituisse a maioria necessária na Assembleia para jogar à bola com a Constituição de forma a instaurar no País todos os ajustamentos de Salvação Nacional que a Direita ache por bem fazer.
Um oportunista que queria eleições antecipadas a todo o custo apenas para ir para o poder para fazer a mesma coisa que os que lá estão e porque não tem qualquer alternativa, e que recusou, por oportunismo e irrealismo, a vitória de mão beijada (de que careceria sempre o mérito) oferecida pela brilhante iniciativa do Sr. Presidente, que consistiria na realização de eleições antecipadas ali já em Junho do próximo ano, a que poderia concorrer - e quiçá, ganhar- com um programa estabelecido pelo Sr. Presidente (só nas suas linhas gerais, é claro).
Até os observadores imparciais (desde que sejam imparciais de um lote alargado de partidos excluindo o PS) não deixarão de notar a irresponsabilidade de Seguro e do PS. 
Queria eleições antecipadas a todo o custo e recusou-as por princípios, sem qualquer consideração pelos que o criticavam por querer eleições antecipadas que uma vez gorada a possibilidade de o criticarem por aceitar tudo em nome de eleições antecipadas, se vêem agora obrigados à cambalhota de ter de o criticar por as não ter aceite.
Tudo isto faz sentido. Até porque, como muito bem explicou o presciente Henrique Monteiro (fez um triste post inteiro com isto), a "coerência" é só para os idiotas.

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publicado às 17:09


Obrigado (bis)

por rui david, em 22.07.13

De uma escola de jornalismo aparentemente em vias de extinção porque parece fraquejar no campo da criação de "bens transaccionáveis", "irrealista" e  diferente do "atento venerador e obrigado" em relação aos empresários na mó de cima que pauta os Joões Vieira Pereiras desta vida, Rui Cardoso Martins faz na página 33 da Revista do Público deste fim de semana, e a propósito dos recentes desenvolvimentos do caso BPN/BIC, uma avaliação mais nuanceada de Luís Mira Amaral, um empresário "de mangas arregaçadas" que, curiosamente, escreve habitualmente no mesmo caderno do Expresso que o João Vieira Pereira. É a tal "promiscuidade"... mas aqui não tem mal, certo?

O artigo chama-se:

 

"

MIGA C/ BIFE DO LOMBO AMAGAL

ALTA CLASSE MÉDIA MAS BAIXA

 

Há no Universo um português capaz de sobreviver a qualquer insolvência financeira de um país, à irrevogável implosão do sistema político, à explosão da bomba atómica. Mais do que sobreviver, irá crescer e multiplicar (o seu) dinheiro. Quando a própria barata for extinta por lixos tóxicos, teremos a menos barata figura de Mira Amaral para contar o Apocalipse.

Luís Fernando de Mira Amaral (Amadora ou arredores, 4 de Dezembro de 1945, quatro meses depois de Hiroxima e Nagasáqui) é uma forma de vida com características adaptativas que nunca se viram na Evolução (morrer, aliás, é uma maneira simples de dizer que se acabou a margem de lucro).

Segundo registos escondidos nas montanhas da Suíça, do Utah e no planalto de Luanda, mas também escancarados na Internet porque ele adora perdigotar entrevistas, é um caso único: foi delegado sindical e ministro; é representante da classe média e banqueiro internacional; é, finalmente, um espoliado pelo fisco e reformado que recebe 18 mil euros de pensão por ter passado umas semanas na administração da Caixa Geral dos Depósitos — dos quais, aliás, se queixa.

O grande Mira tem a marca dos cruzamentos genético-sociais de sucesso. Porquê? Porque pensa nos objectivos como um sindicalista, age sem escrúpulos como um banqueiro e fala como se estivesse numa tasca. Anda por aí “encantado da vida” (voltaremos a isto) até que o vêm aborrecer com peditórios e negócios que só dão, inexplicavelmente, milhões caídos do céu.

Uma das frases mais célebres, em entrevista à TVI, Outubro de 2012 (as datas são importantes, é no tempo que a espécie evolui):

“O país está muito aflito, o único sítio para taxar era na classe média. Portanto, eu próprio não gosto, sou vítima disso, sou classe média, não sou rico, mas tenho de compreender que não há outra alternativa.”

Em Julho de 2013 (esta é fresca), Amaral justificava à Lusa que o Estado português, isto é, nós (o que, segundo ele, é ele também!), vai pagar ao seu banco não os 22 milhões de “indemnizações judiciais” que já recebeu, nem 100 milhões como depois se falou, mas talvez 816 MILHÕES (notícia do PÚBLICO). Depois de comprar a estrutura toda do BPN por apenas 40 milhões: “O acordo de compra e venda do Banco Português de Negócios, entre o BIC e o Estado, prevê que todos os eventos ocorridos antes da privatização do BPN são da responsabili- dade do Estado e não do BIC.”

Isto é uma ficção, não é para acreditar.

Ex-ministro da Indústria, insigne representante da Escola Cavaquista, “ou da Escola da Marreca, como se dizia no meu tempo” — explicava um ta- xista a caminho do Casino —, Mira Amaral só man- tém total respeito pelo anilhador de alcagarras das Desertas por vocação, e que se fez Presidente da República para ganhar a vida. Cavaco Silva “não foi eleito para ser paizinho” do PSD e CDS. Sobre os filhinhos, lembre-se o que disse na comissão de inquérito da Assembleia da República, há um ano, sobre a compra do BPN: “Julgava eu, encantado da vida, que não havia negócio para a compra do BPN, que ia para outra”... começou o banqueiro, e nós resumimos., mas depois o primeiro-ministro Passos Coelho telefonou-lhe e disse: “Oh Mira Amaral, eu como primeiro-ministro tenho o dever de tudo fazer para salvar...”, mas o Mira disse-lhe que não ia lá “só com simpatia”, depois a secretária de Estado Maria Luís Albuquerque “não abriu a boca” numa reunião, mas ligaram para Luanda para o presidente do BIC “que estava ‘briefado’ por mim” e étcétera e tal, e o Amaral usou a sua “experiência como delegado sindical” e disse aos sindicatos “meus amigos” e coiso, e pô-los na ordem. E passou “duas semanas descansado de férias no Algarve”, mas afinal o Governo falhou e foram semanas “a partir pedra”, até que ele disse “não tenho mais paciência para este filme, acabou” e “por mim fechei a loja”.

Mas a loja não fechou, e continuou a vender-nos muito caro (a caminho dos cinco mil milhões de lour€iros). A propósito de loja, Mira Amaral é maçon, só novidades para Vs. Exas.

Academicamente, é licenciado em Engenharia Electrotécnica pelo Instituto Superior Técnico. Na prática, é doutorado honoris causa em Engenharia Financeira, com estágio na Academia BPN. É mestre em Economia da Universidade Nova de Lisboa, com a tese O Consumo de Energia no Sector Automóvel em Portugal. Mas prepara a dissertação: O Consumo de Activos Tóxicos no Sector Bancário do PSD-PS Faz Andar os Automóveis e Beneficia a Saúde. Em conversa com a sua consciência, que a tem, que a tem, ah pois tem, às vezes responde sozinho às suas frases mais bonitas.

“A melhor opção para os portugueses competentes é emigrar.”

— Não, a melhor opção para os portugueses incompetentes é negociar com um primeiro-ministro incompetente.

“O reequilíbrio das contas públicas é um equilíbrio manhoso, sem estabilidade, a meu ver.”

— Mas o reequilíbrio das contas do BPN-BIC é um equilíbrio manhoso, com rentabilidade, a meu ver.

“Todos os dias aparecem novos eventos que caem em cima do BIC.”

— E todos os dias aparecem novos branqueamentos que caem em cima do mexilhão.

Agora até nós, que estávamos encantados da vida, ficámos sem paciência para este filme e fechamos a loja, oh Mira Amaral."

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publicado às 16:27


Obrigado

por rui david, em 22.07.13

No Caderno de Economia do Expresso deste fim de semana, João Vieira Pereira, afronta corajosamente os "interesses instalados" e o "politicamente correcto".

Como?

Com um inovador elogio aos empresários que durante a semana passada disseram aos partidos que se deixassem de tretas e "se unissem", com a vantagem de se eximirem a explicar exactamente em torno de quê...

Diz o João que "felizmente existem empresários que não ficam à espera que os partidos façam alguma coisa. É a eles que temos em primeiro lugar de dizer "obrigado"".

É claro que num país despolitizado e com baixos níveis de formação e escolaridade, o que mais falta não é pessoas ansiando por uniões sem se saber em torno de quê e a papaguear o discurso da "ausência de alternativas", ainda que em muitos casos a "alternativa" seja aliviá-las dos direitos que o "despesismo" e a "ineficiência" lhes atribuíu durante as últimas três décadas. Basta entrar em qualquer café, basta ouvir as opiniões no emprego, basta assistir a conversas em qualquer local público. Empregados de escritório, bancários, pequenos lojistas, economistas de vão de escada formados na escola da leitura do Expresso e meios de comunicação análogos, até desempregados, partilham daquela esperança...

Mas é que a maioria não é empresário e o papel do João Vieira Pereira, é, e bem, destacar os empresários. E entre estes, os que exportam.

Porque na realidade, os empresários que exportam são os únicos que "arregaçam as mangas"... 

Por ele, o país passaria bem, até, sem políticos, excepto aqueles que fossem também empresários que exportam, ou, na pior das hipóteses, aqueles que à semelhança dele, como jornalista, trabalhassem com sinceridade, empenho e honestidade, para promover os empresários. Os que exportam.

E faz sentido: é que os partidos, em geral, não são empresas de referência. Como tal, "não criam riqueza" e muito menos "bens transaccionáveis", pelo que, como empresas, são claramente inferiores às empresas. A única hipótese seria, talvez, transformar os partidos em empresas. Empresas exportadoras.

Constata ele, e bem, que "Um acordo (entre partidos) só é possível se o resultado final para os partidos coincidir com o melhor para todos nós". Este "para todos nós", é importante, já que, como sabemos, o objectivo das empresas é alcançar o melhor "para todos nós", ao contrário dos partidos.

Daqui se conclui que o País, o Mundo, deveriam ser governados por e para os empresários. Com o João Vieira Pereira num lugar elevado na hierarquia. Só assim a Democracia faria sentido.

É claro que o João sabe que os putativos brilhantes resultados das nossas exportações que recentemente foram divulgados, são um crescimento relativo cujo destaque se deve em grande parte à performance inferior de outros sectores devido à crise económica interna. E que comparar os objectivos de partidos e empresas e avaliar o seu desempenho com critérios despropositados é que não faz qualquer sentido.

Quero dizer, não faz sentido para alguns irrealistas, entre os quais admito, e disso me penitencio, me incluo.

Mas é caso para deduzir que o João Vieira Pereira andava tão mortinho para agradecer aos empresários... que qualquer pretexto seria bom. Para que mais poderia ele desejar a sua crónica semanal no Expresso de Economia?

E pronto, está feito!

Resta-nos agradecer-lhe tão clara demonstração  da natureza do chamado "jornalismo" da "área económica": verdadeiros "muck rackers".

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publicado às 15:19

«To my friends who live outside of Turkey:

I am writing to let you know what is going on in Istanbul for the last five days. I personally have to write this because at the time of my writing most of the media sources are shut down by the government and the word of mouth and the internet are the only ways left for us to explain ourselves and call for help and support. [ler o resto


A vossa atitude é heróica e justifica-se por si mesma.

Estás a ser ingénua, porém, se pensas que isso vos integra numa irmandade cidadã com a comunidade dos países "civilizados".
Não é assim que funciona. Vocês estão fora dela. Porque estão muito acima.
Por exemplo, em Portugal, nos anos do crescimento, se alguém tentasse opor-se a que se destruísse um Parque para fazer um Centro Comercial, não seria a polícia a atacar-vos. Seria o resto da população.
Mas se eventualmente isso não acontecesse, podes estar certa de que a nossa polícia seria pelo menos tão brutal como a vossa, apenas suscitaria uma menor reacção do resto da população, pelo que não haveria história para os media contarem. Quando muito, a generalidade dos cronistas apoiariam a "óbvia necessidade da intervenção" da polícia para reprimir o que chamariam de "provocadores". E nem vou falar dos desenvolvimentos que envolvem o questionar da "legitimidade" do Governo turco eleito democraticamente, pelos manifestantes. Aí então, podes estar certa de que a imprensa daria imensa relevância ao caso. Não sei é se seria no mesmo sentido em que tu ingenuamente acreditas. Podes estar certa de que irias sofrer uma profunda decepção.

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publicado às 20:51


Os terríveis equívocos da Raquel Varela

por rui david, em 22.05.13

O primeiro equívoco foi relativamente à natureza do programa.
Raquel julgou participar numa discussão política sobre a situação dos jovens portugueses quando de tratava de um programa "para jovens" num formato tipo SIC Mulher(1) em que o debate possível se esgota na produção de banalidades decorativas que apenas servem de pano de fundo à exibição de um conjunto de projectos particulares.
O segundo e gravíssimo equívoco, decorrente do primeiro, foi ter sido a única pessoa a interpelar o Martim de igual para igual, como o empresário responsável pelos seus actos, que é.
Como o levou a sério, a ele e ao programa, despoletou a reacção emocional de uma horda de paternalistas e maternalistas cuja percepção da discussão política, embora mais em sintonia com a natureza do programa, se resume à convicção de que "atacaram uma criança".
A resposta do Martim foi banal e comum a gerações de empresários e ideólogos, mas isso não interessa aos protectores dos direitos da criança, indiferentes ao conteúdo desde que seja um qualquer que permita o indispensável êxtase da vindicação: o miúdo não se calou e respondeu à doutora.
A resposta encontrada a la minuta justifica a tentativa da direita de se apropriar da onda emocional gerada inscrevendo-lhe o seu programa desregulador das relações de trabalho que vem de longe e é independente de conjunturas.
O resto, "Ai Martim, filho, que derrubaste a arrogância esquerdista"?
O resto testemunha os traumas e profundos e persistentes ressabiamentos que marinam no inconsciente colectivo de uma parte da população. A qualidade da sua expressão é lixo.
(1) Esta caracterização da SIC Mulher não pretende ser depreciativa. Trata-se apenas de tentar ilustrar melhor a diferença.

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publicado às 16:12


crónica de uma morte anunciada

por rui david, em 22.03.13

A catástrofe é eminente e não vejo meios de conjurá-la.
Vem-me também à memória a Crónica de Uma Morte Anunciada do Garcia Marquez.
Os adversários do determinismo histórico têm tido a oportunidade de ver desenrolar-se à sua volta nos últimos dois anos um processo cujo desenvolvimento é conhecido de todos, salvo, aparentemente, alguns dos seus principais protagonistas, mas que é inexorável.
Inúteis os milhões de estudos sobre exemplos idênticos noutras épocas, divulgados numa escala nunca antes imaginada.
O rumo está traçado. E não se limita à alegada "destruição criativa" dos "mercados". Começa a assumir contornos que põem novamente em cena a solução última para os problemas criados pela acumulação excessiva: a guerra.

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publicado às 12:32

A frase colorida do Francisco José Viegas, lorpamente reproduzida com as convenientes e púdicas aspas nos mais diversos media, acabou por tornar num fait divers um assunto grave: a concepção, por um governo nostálgico do marcelismo, dos "cidadãos" como informadores da polícia.
E não é um acto isolado, vem no seguimento dos e-mails que o Director Geral da Autoridade Tributária e Aduaneira lembrando que "se exigir a colocação do seu NIF na fatura, o consumidor pode consultar no Portal das Finanças se o emitente a enviou para a AT. Pode sempre inserir qualquer fatura no mesmo Portal ...", mas vai mais longe.
Da persuasão à "colaboração", passam agora a uma intimidação inconstitucional sobre as pessoas.
Em vez de se deleitarem na reprodução da frase, ah! que ar fresco, ah! que liberdade de expressão, e a tratarem ao nível do famoso deslize inconveniente do Mota Amaral sobre o "curioso número", esperar-se-ia era que os media reagissem violentamente e tratassem do assunto como aquilo que é, mais uma manifestação do espírito totalitário "custe o que custar" de pessoas do actual governo que não têm o mínimo de cultura política democrática.
E não me digam que o papel dos media não é emitir "opinião", porque quando alguns e algumas jornalistas classificam isto como "um exagero", estão a emitir uma opinião, só que uma opinião errada. 
Claro que o Relvas "respeita", não lhe custa nada. "Exageros" e vernáculo come ele ao pequeno almoço.

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publicado às 20:22


"política feita por mulheres..."

por rui david, em 08.02.13

Um aspecto que ressalta do escândalo com as finanças do PP espanhol no poder é o número de mulheres que estão no topo da hierarquia dos conservadores: Esperanza Aguirre, Ana Mato, Dolores Cospedal, Ana Botellha, Soraya Santamaria, etc., etc....
Desmentindo, como era de esperar, a célebre máxima piedosa da "política feita por mulheres...", degladiam-se com a mesma ferocidade e falta de escrúpulos que os machos latinos que as rodeiam ou servem.
Nada disto é estranho. É apenas o reflexo da normalização democrática e dos efeitos da demografia na política.
Mas não deixa de ser curioso que o facto seja particularmente evidente na área política mais conservadora de um país tão conotado com o machismo.

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publicado às 10:12


Linguagem Corporal

por rui david, em 19.06.12

Gosto desta imagem roubada à AlJazeera.

Uma imagem que é o oposto da que é habitualmente transmitida pelos "radicais" quando penetram nos "antros do poder", esmagados por um mundo que desconhecem, os fascina e inevitavelmente acaba por absorvê-los ( nunca me esqueço da passagem do livro de memórias do ultra reaccionário neocon David Horowitz antigo estudante radical, quando se encontrou pela primeira vez com uma Rockfeller qualquer, membro de uma elite que ele tanto odiava e que tanto o fascinava a pontos de... se ter tornado no miserável em que se tornou), recebidos por "homens de estado" do "establishment" que os recebem com alguma complacência mais ou menos hostil, mas mantendo o mínimo de cordialidade necessária para salvar as convenientes aparências.

Aqui, Tsipras, borrifando para o protocolo das gravatolas ( para quem não sabe ou não se lembra, a chamada "imagem de marca" de Tsipras é, tão só, o uniforme dos militantes de extrema esquerda maoísta de antes do 25 de Abril, isto é, seria um sósia perfeito do famoso Heduíno "Vilar", caso este tivesse uma mínima capacidade de sorrir espontâneamente) ocupa confortavelmente o espaço supostamente pertença do adversário e toma a iniciativa de falar com um ar descontraído.

É ele o "statesman".

Samaras, incomodado, hirto, encurralado a um canto, espera, com impaciência e algum temor.

É assim que deve ser.

 

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publicado às 09:12


O falso dilema

por rui david, em 10.05.12

Será que alguém consegue perceber isto?

Seumas Milne, no Guardian.

European elections: if the left doesn't lead revolt against austerity, others will

"As the cost of the establishment's austerity deepens, the polarisation between left and right is portrayed in much of the media as the rise of "extremes". But it's both absurd and repugnant to equate racist or xenophobic nationalists, which have kept supposedly centrist governments in power from Denmark to Italy, with leftist parties rooted in social movements that stand for a progressive political and economic alternative."

 

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publicado às 13:35


Aula de História em "Realidade Aumentada"

por rui david, em 08.05.12

Intrigam-me aqueles que falam nos "extremos" que implodiram o "centro" grego, como "duas faces da mesma moeda".

Geralmente os mesmos que acham que um partido como, digamos, o Bloco de Esquerda, é o "equivalente", do outro lado do espectro político, à extrema direita neo-nazi que vai re-emergindo na Europa e se sentem desconfortáveis por não ser geralmente reconhecido a esta última o mesmo "estatuto" de participante do processo político "normal".

O vídeo da Conferência de Imprensa do líder do Partido que acaba de obter cerca de 7% do voto dos gregos, é, assim, para desgraça dos gregos e nossa ilustração, enquanto formos a tempo, uma peça educativa chave que deveria ser mostrada nas escolas, às criancinhas. Isso, que seja nas tais aulas de Educação Cívica que alguns acham tão supérfluas.

Também é edificante, no vídeo, a reacção da "Imprensa Livre" que abarrotava a sala à procura do "frisson" da "novidade" e que mansamente obedeceu à intimação do serviço de ordem do candidato a Fuhrer grego para que se levantasse "em sinal de respeito". Obedeceram, sim, como cordeirinhos e ao que é dado ver na peça, a esmagadora maioria ficou na sala ordeiramente escutando a arenga. O que seria se uma repórter qualquer cobrisse discretamente a cabeça para entrevistar um qualquer ayatollah iraniano... o que seria!

 

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publicado às 10:04

E ao primeiro dia “os mercados” reagiram ...

Faz parte de um novo estádio superior da democracia, uma nova extensão do Pensamento Único, é o retorno – para ficar -do Fim da História.

Para além dos políticos e das suas propostas existe agora uma elite opiniosa com abundante representação nos media que entre discursos apologéticos da “liberdade” e da “democracia” se auto-erigiu como porta voz dos “mercados”.

Oráculos, sacerdotes, mediúnicos pára-raios-os-partam com pernas por onde desce à terra a energia criativa dos mercados...

Ao sufrágio universal, sobrepõe-se agora o mandato dos “mercados” por interposta pessoa dos seus médiums.

Em certas forças políticas mais vocacionadas ou mais rápidas no processo de aggiornamento, já começa a não se distinguir entre uns e outros.

Felizmente que os partidos que compõem o nosso Governo já empreenderam essa crucial reforma estrutural.

Previamente aos actos eleitorais, esta elite previne-nos num tom entre o compungido ( “não há alternativa...”) e o eufórico, percorrendo consoante o protagonista e a circunstância todas as tonalidades da escala histriónica da arrogância (não há alternativa!”), das consequências inevitáveis das reacções dos “mercados” a cada uma das nossas escolhas.

Sem nos dar escolha.

Porque escolher, pode ser nefasto.

Portas-te bem (fazes o que te dizem e permites ao “mercado” “serenar”, tranquilo quanto às “medidas” com que te vai entalar entre elogios que soam ao afago que o dono prodigaliza ao cão que lhe foi apanhar um galho de árvore na passeata matinal pelo parque e protestos de que tu estás disposto a todos os sacrifícios pelo dono) ou portas-te mal, não elegendo quem os mercados ou os seus médiums te “aconselharam”, e arcarás com a culpa pela reacção naturalmente “negativa” desses mercados.

Complementarmente, os médiums transformam-se em oráculos que alertam atempada e preventivamente “os mercados”.

Olhem que o Monsieur Hollande é “dangereux", delatava há dias a capa da libérrima Economist, procurando descaradamente influenciar as eleições francesas.

Nesta fase de progressiva irrelevância dos políticos e da política e a sua substituição por este espiritismo sem mística, pergunta-se se não seria mais fácil (mais racional, menos “despesista”) mais honesto até, e mais divertido, acabar de vez com o sufrágio universal (vendo bem, uma chatice...) e instituir a eleição das figuras de topo do Estado (os “nossos” representantes) por um colégio de opinion makers, jornalistas da área económica e empresários aos quais procuram desesperadamente agradar (é que “não há alternativa!”) os jornalistas da área económica e os opinion makers.

Não precisamos já de deputados, precisamos é de gente – desejavelmente muito menos do que os deputados e por isso maior a poupança – Estado mais pequeno - um dogma essencial da Fé - que saiba interpretar o sentir soberano dos mercados. E agir em consonância. Uma nova Igreja.

Nós manter-nos-mos tranquilos consumidores, “rebeldes” nos anúncios de jeans, cheios de vitalidade no apoio à selecção nacional.

É uma utopia (diziam que eram perigosas) realizada. E é mau? É que não há alternativa. Podemos começar a balir.

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publicado às 17:23

A polémica sobre o "encerramento da MAC" é um bom exemplo de como as premissas do pensamento único que se impôs nos últimos anos no domínio da economia e logo depois, da política, se vão espraiando pelas mais variadas áreas, incluindo a da Saúde.

O refrão, é sempre o mesmo. "Não há alternativa"...

A "urgência" de acabar com os "graves desperdícios" que se verificarão devido à existência da nossa mais importante Maternidade, faz lembrar a dos vendedores de casas ou automóveis em segunda mão quando nos querem impingir uma qualquer "oportunidade", não poucas vezes ruinosa.

No caso da MAC, faz impressão como há o atrevimento ignorante de pretender justificar o seu encerramento com fundamento numa hipotética melhoria da "segurança" nos cuidados de saúde prestados.

Na MAC, um dos pilares do nosso SNS, que contribuiu de forma decisiva para o gigantesco progresso conseguido em Portugal em todos os indicadores de saúde pública na sua área de intervenção, a nível mundial!

Os contornos são outros, como se pode ler em dois textos que me parecem relevantes sobre a polémica.

 

Do primeiro, publicado no site "Iniciativa para uma auditoria cidadã à dívida", com o título "A MAC e o Novo Hospital de Loures"e assinada por Bruno Maia, destaco:

"A MAC é a maior maternidade do país, a que realiza o maior número de partos por ano, a que tem uma diferenciação científica e técnica mais desenvolvida, e tem vindo a aumentar o seu montante assistencial nos últimos anos. Mais de 5000 partos foram realizados o ano passado naquela unidade. Mas em Lisboa existe capacidade instalada para partos que é superior àquela que de facto é necessária. Porquê? Porque existem na cidade 4 serviços de obstetrícia-ginecologia: MAC, Santa Maria, Estefânia e S. Francisco Xavier. E nos últimos 10 anos, o Estado decidiu aumentar a capacidade instalada na Estefânia e em S. Francisco Xavier, sabendo de antemão que nestes dois locais o número assistencial era baixo e não se previa que aumentasse. Na MAC também foram realizados investimentos avultados de melhoramento das instalações. A única diferença da MAC para as outras duas é que esta tem vindo a aumentar o número de mulheres que atende. Existem três investimentos, dois fúteis e um muito proveitoso – então qual é a decisão do ministro? Fechar o investimento que valeu a pena! Já os seus antecessores foram negligentes com o Estado ao gastarem dinheiro em algo que não era necessário, mas Paulo Macedo quer ser ainda mais negligente, deitando ao lixo o único dinheiro que foi bem aplicado."

"Em primeiro lugar, uma boa parte do movimento assistencial realizado pela MAC diz respeito à área que abrange o concelho de Loures. Sempre foi assim: enquanto as mulheres de Loures não tinham um hospital perto, recorreram, durante anos, à MAC. Ora, no contrato da PPP de Loures, Estado e grupo BES acordaram a abertura naquele Hospital de um novo serviço de obstetrícia-ginecologia para a realização de um total de 1800 partos por ano. Isto sabendo que havia um excedente histórico na cidade de lugares para partos. Ou seja, quem negociou este contrato da parte do Estado não se baseou nos estudos que apontavam para este excedente, e foi negligente, pois atribuiu uma função ao novo Hospital de Loures que não era necessária e que é paga à entidade privada.

Em segundo lugar, custa bastante acreditar que o grupo BES Saúde, tendo conhecimento deste excesso de oferta, tenha aceitado assinar este contrato sem contrapartidas. Apesar do anúncio oficial ter sido muito recente, os rumores do fecho da MAC têm já alguns anos. Talvez a informação prestada àquela entidade privada na altura da celebração do contrato não tenha sido apenas rumor, mas promessas futuras.

Em terceiro e último lugar, está em risco o financiamento estadual ao grupo BES Saúde. A renda anual que é dada àquela entidade para gerir o novo hospital está, contratualmente, dependente do serviço assistencial previamente definido. Ou seja, se os 1800 partos anuais não forem atingidos, o grupo BES perde uma parte pré-definida na renda. Isso aliás está bem explícito no contrato da PPP, na cláusula 72, relativa a falhas de desempenho da entidade gestora do estabelecimento, onde se refere claramente que “Quando ocorram falhas de desempenho, a Entidade Pública contratante tem o direito de proceder a deduções aos pagamentos a realizar à Entidade Gestora do Estabelecimento”. Ora é esta parte da renda que a eng.ª Isabel Vaz não quer perder de forma nenhum e é aqui que o fecho da MAC contribui para os seus bolsos.

O fecho da MAC deita ao lixo uma importante verba pública, gasta nos últimos anos com a renovação desta unidade, para no futuro colocar mais uma parcela de dinheiros públicos na carteira de um grupo privado."

Do segundo, publicado no blog Cidadania LX, com o título MAC, e assinado pelo geógrafo João Seixas, destaco:

"A MAC é futuro: é onde nascem mais bebés. A MAC é sucesso: no nascimento de cada novo ser, no excelente serviço público, no combate à mortalidade infantil.
A MAC é cosmopolitismo: no centro da nossa cidade principal, acessível a todos e pelos mais variados meios. A MAC é identidade: todos, mesmo os que lá não nasceram, sentem a MAC como útero urbano. A MAC é um dos centros efectivos e afectivos de toda uma sociedade.
O hospital de Loures, no alto de uma colina e longe de qualquer centro (vê-se Loures lá em baixo, a oeste umas torres de Santo António dos Cavaleiros) é enorme. Imponente. Obeso. Construído pelos grupos Mota Engil e Opway, gerido pela Espírito Santo Saúde, irá prover a centenas de milhares de utentes, como nós tributários somos chamados. Custou centenas de milhões de euros, investimento a ser evidentemente rentabilizado.
Mas a saúde não tem preço. Adaptaram-se quatro carreiras de autocarros, mas quase só se chega lá de automóvel. À disposição, uma vasta gama de fast-food, perdão, de fast-road. Um novo-riquismo territorial, cheio de molhos e maioneses, de grandes marcas, claro, que nos deu cabo da saúde.
Pois uma metrópole dispersa tem custos altíssimos. Gasta imensa energia, consome loucamente, é bastante esquizofrénica. É muito doente.
A contínua concentração económica e de poder, em Portugal, feita sem qualquer visão integrada de território e de promoção da qualidade de vida; feita sem uma real estratégia de saúde colectiva; continua assim a promover a desconcentra-ção territorial da sociedade, e a deslocação tectónica das nossas centralidades, mobilidades e identidades. Se não é intencional, é grande a irresponsabilidade. Se é intencional, é a maior loucura."

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publicado às 13:32


Fim de um ciclo

por rui david, em 06.04.12

Têm-me deixado estupefacto algumas reacções à medida do Governo de congelamento das reformas antecipadas.

Nem tanto quanto à medida em si, mas relativamente à forma como foi implementada.
Quero dizer... o PSD não me admira nada, a multidão dos seus comentadores "independentes" nos media concorda que a ausência de comunicação prévia foi um mero "erro de comunicação"...
Admira-me sim, que o Secretário Geral da CGTP (já nem falo da alforreca da UGT, cuja opinião não interessa ao Pai Natal, ou melhor, interessa que se cale) tenha classificado a medida como "um embuste"...
Um "embuste"! Este homem devia voltar para as Novas Oportunidades (se é que ainda as há...). Este sujeito regurgita burrocraticamente uma palavrita que aprendeu em 30 anos de "contestação", sem perceber as implicações qualitativas deste acto do governo (a forma como foi implementado) relativamente ao seu relacionamento com o povo português.

Mudámos de "regime".

Este acto do Governo é a reentrada no sistema salazarista de governo.
Isto é um tipo de actuação que mostra com o que o povo português e particularmente, ou sobretudo, quem trabalha, pode esperar dele a partir deste momento.

Uma actuação traiçoeira que impõe medidas de enormes consequências pela calada da noite apanhando as pessoas totalmente desprevenidas.

A partir deste momento está demonstrado que não há leis, não há "estado de direito", não há possibilidade de se fazerem "planos", tudo depende da vontade absoluta da seita que nos governa.

As "leis do trabalho" e o arremedo de "concertação social" volatilizaram-se de uma penada.
E a "oposição" que continue a ser "responsável" e a debitar as bocas gerais e inconsequentes, civilizadíssimas, dos Drs. Seguro e Zorrinho, e o estimado irmão coreano Bernardino que continue a bater na tecla de que este governo é "igual aos anteriores" (o Bloco recolheu ao leito, se excluirmos o facto de que Louçã escreveu um livro e um tal Gil Garcia formou um novo partido que tanta falta fazia) ... bom proveito lhes faça.

A "responsabilidade" de uns e a irresponsabilidade de outros, são afinal o reflexo ou o prémio da serenidade do povo (tão elogiada lá fora e tudo...).
E um sinal verde para o Governo: meus senhores, neste momento não há simulacro de legitimidade democrática no País. Podem fazer o que quiserem. Não se dêem ao trabalho, sequer, de manter a rábula sobre a reposição dos subsídios, algures no futuro, deixem-se de "erros de comunicação". Instituam desde já um programa televisivo semanal com o título "Conversas em Família" tendo como protagonista o Dr Coelho em que na primeira emissão ele assuma desde já e de uma vez por todas que acabou.

Ah! falta (ainda) de forma visível a parte policial... descansem que por este caminho não há-de faltar muito tempo.

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publicado às 21:49


Golpada?

por rui david, em 06.04.12

A medida de boquear as reformas antecipadas e, sobretudo, o "estilo" como é imposta não é nem uma mera golpada nem (oh Meu Deus!) uma medida que preserve o emprego de quem o tem.

É uma medida humilhante, traiçoeira, que revela uma feroz desconfiança e antagonismo relativamente a quem trabalha e que é digna de um regime ditatorial.

É uma medida salazarista.

É uma medida que evidencia, como nenhuma outra até agora, a natureza perversa desta seita que os portugueses elegeram.

E é totalmente absurdo achar-se que "reforça o emprego" de quem quer que seja.

Em primeiro lugar, porque graças às medidas que têm vindo a ser tomadas, o Governo, ou quem quer que seja, têm hoje, quase que se diria os incentivos para despedir sem qualquer justificação ou custos.

Em segundo lugar, porque o emprego a que hipoteticamente a sua ausência daria lugar seria um emprego precário e desprotegido que se tivesse  efeito nos números do desemprego seria de mera cosmética.

Em terceiro lugar por uma razão de evidência quase lapalissiana: porque era o regime em vigor até agora, e foi com ele em vigor que se chegaram aos números do desemprego. Isto é, o seu impacto, nessa matéria, é zero.

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publicado às 09:52


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