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«O acordo de dois partidos, revezando-se sucessivamente no poder, dizendo-se um liberal e outro conservador, segundo o regime inglês, falhara inteiramente na sua reiterada aplicação prática. O jogo permanente dessa rotatividade representativa, com vinte anos de funcionamento automático, desgastara todas as engrenagens, boleara todos os ângulos, puíra todas as arestas, safara todos os cunhos que caracterizavam o sistema.
Quem eram os liberais que pela contribuição de novas ideias se propunham acelerar a energia propulsora do parlamentarismo no sentido do mais rápido progresso?
Quem eram os conservadores incumbidos de coordenar a marcha e de manobrar os travões do maquinismo?...
Ninguém o saberia dizer, porque nenhum dos dois partidos a si mesmo se distinguia do outro, a não ser pelo nome do respectivo chefe, politicamente diferenciado, quando muito, pela ênfase pessoal de mandar para a mesa o orçamento ou de pedir o copo de água aos contínuos. (...)»
E ainda acrescenta, o jovem José Duarte:
«Um facto sumamente grave preocupava, no entanto, a atenção dos que isoladamente contemplavam a integral concatenação dos acontecimentos.
Esse facto era a decomposição da sociedade, lentamente, surdamente, progressivamente contaminada pela mansa e sinuosa corrupção política.
Quantos sintomas inquietantes!
A indisciplina geral,
o progressivo rebaixamento dos caracteres,
a desqualificação do mérito,
o descomedimento das ambições,
o espírito de insubordinação,
a decadência mental da Imprensa,
a pusilanimidade da opinião,
o rareamento dos homens modelares,
o abastardamento das letras,
a anarquia da arte,
o desgosto do trabalho,
a irreligião,
e, finalmente,
a pavorosa inconsciência do povo.»
(José Duarte Ramalho Ortigão - Últimas Farpas - 1911)
Agora, 100 anos depois (uma semana, um século, é tudo a mesma coisa neste pais que não se mexe), olhem para o que temos. Coelho dum lado, Seguro do outro. Em boa verdade, conseguem distingui-los? Não falo do ideal que temos dos (para os) partidos que encabeçam, falo da realidade desses cabeçudos partidos (o sim do PSD, o nim do PS ao OE2012, lembram-se?). O povo, esse, também continua o mesmo; tem exactamente os partidos que deixou medrar, com os líderes que merece. Um povo que não se mexe, num país que não se mexe, com partidos que bem se mexem sem se mexer. «Eu creio que Portugal acabou», dizia Eça há 120 anos. Provavelmente, estava certo. Esqueceram-se foi de enterrar o morto, que continua a fazer de vivo.

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publicado às 10:14


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