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Há pouco mais de sete meses comecei um texto destes sem saber onde iria terminar, o que iria dizer. Não que isso me importasse muito. Sabia que o escreveríamos a quatro mãos. Hoje, faço-o de novo. Lembrar-me de ti, Padrinho, é lembrar-me dos tempos que passámos juntos. E, os tempos que passámos juntos, passámo-los entre futebóis, como adversários. Avô e neto. Tu com o teu Benfica, eu com o meu Sporting. És um lampião fanático; fizeste de mim um lagarto moderado.
Senti-te morto para estes somenos sentires terrestres quando deixaste de saber como andava o teu Benfica. A seguir veio a agonia, vieram as dores. Não merecias um fim assim, merecias um fim com um golo à Eusébio. Ora vê lá se te lembras: Costa Pereira, Mário João, Ângelo Martins,Cavém, Germano, Mário Coluna, António Simões, Fernando Cruz, José Augusto, José Águas e Eusébio. Confessa que me ditavas esta linha ao ouvido enquanto eu dormia, para ver se me entranhavas a maleita, como tantas vezes ma desfiavas comigo acordado. Tiveste azar, que esta fortuna que é nascer sportinguista não tem cura. Os 5-3 ao Real Madrid, os dois golos do Eusébio, a segunda Taça dos Campeões Europeus. Tudo isso me repetiste e repetiste e repetiste, vezes sem conta, anos sem conta. Lembro-me dos nossos relatos ouvidos em silêncio no 1º andar, do hábito que tinha de vir cá abaixo, tropeçando por aquelas escadas trôpegas, cada vez que o Sporting marcava um golo. Houve um dia em que desci sete vezes. Era um Sporting-Benfica, lembras-te? Aposto que não, que te fazes esquecido. A minha madrinha, tua mulher, em cima de cujo o caixão o teu assentará, erguia as mãos aos céus e dizia-me: “Sete vezes? quem é que vai aturar aquele homem?”. No dia seguinte evitas-te olhar-me nos olhos, como se eu fosse a encarnação daquele diabo do Manuel Fernandes que havia enfiado quatro batatas ao teu glorioso.
Mas nós, este nós que hoje parece desaparecer, éramos mais que rivais de bola. Tu és o meu avô. Eu sou o teu neto. E este nós nunca desaparecerá, que a carne, mera ilusão dos sentidos, não é assim tão forte. Lembro-me agora das histórias que me contavas, de quando eras guarda-fiscal, de como correste atrás daquele contrabandista montanha acima. De como pertenceste a uma coisa pândega que o populacho chamava brigada dos isqueiros. Lembro-me das pastilhas que me levavas ao ciclo, nos intervalos das aulas. Lembro-me daquela coisa estranha que me fazias aos lábios enquanto me pedias para dizer “o Sporting não presta”. E, a esforço, que não é fácil falar com os lábios a castanholar um no outro, saia algo parecido com: (tradução) “quem não presta é o Benfica”. Hoje faço isso ao teu bisneto e ele ri-se, embora tenha tido o cuidado de o baptizar sportinguista logo ao segundo dia de vida − só espero que não me saia o tiro pela culatra.
Como à minha madrinha, também pouco te visitei. E não é por isso que vos amo menos (o pretérito aqui não tem lugar – amo-vos e sempre vos amarei). Tenho muita dificuldade em lidar com a vida que se apaga em dor. Fui ver-te ao hospital e não te pude ver. Estava lá alguém com o teu nome, sim, mas já não eras tu. Estavas em tormento, ao contrário do que hoje a tua serenidade aparenta. Não sou forte o suficiente para ver o homem mais forte do mundo reduzido àquele penar. O momento em que o clímax da natureza insiste em fazer-nos sofrer, que o coração só pára quando pára e ela − dura lex sed lex – é que determina o anti-climax dos homens. Quando o coração pára.
Esta é a realidade imposta, cruel, dolorosa e fria. Por nós, humanos, não por mais nada. Na nossa realidade – na nossa realidade, minha e tua −, muito mais forte do que este teatro de sombras, tu estás lá fora, à espera que este oficio acabe, enquanto fumas o teu cigarro. E depois acompanharás, enfadado, este féretro ao lugar onde os corpos se amontoam.
Contigo, meu amigo (e agora mudei de assunto), vai-se o meu último avô. Assim, dirão as pessoas, mal-sabedoras que mantenho os quatro com que nasci. Joaquim, assim se chama o meu primeiro, desapareceu-me da vista tinha eu oito anos. Sei pouco dele – hei-de-de fazer por saber mais −, mas sei que faz parte de mim, do meu pai e do meu filho, e isso é-me suficiente para, neste lugar de culto que não é o meu, lhe confessar o amor que lhe tenho. O amor que tenho aos meus, quase sempre mal mostrado e pouco ilustrado, é o meu deus, o meu único deus. Laurinda, nunca a tratei por tu, coisas da criação. Era a generosidade em pessoa, podia ter-lhe escrito um texto quando morreu (escrevi-lhe depois, com os sentidos em ebulição), a contar-vos isso mesmo, a contar de como me faz falta. Não calhou. Contar-vos-ia de como me ensinou − há coisas que um tipo aprende sem se aperceber – a trabalhar. Quando trabalho doze horas por dia, que é coisa que me acontece vezes demais para quem tem um filho, muito me lembro dela. Mulher-viúva, cedo teve de fazer pela vida. Hoje em dia seria um ícone para as damas que queimam soutiens a cada crónica de jornal. Lembro-me de ti, querida avó, a vender o que vendias (perdoa-me este “tu” tardio), no mercado do Fundão. Lembro-me de ti a ganhar a vida e, garanto-te, não há dia em que não ponha em prática o que de ti aprendi. À minha maneira, vou ao mercado do Fundão todos dias vender o que tenho, que no meu caso são letras e letras e letras. E vozes; vozes que por vezes resultam vãs.
Da minha querida madrinha Albertina, a quem há sete meses dediquei umas letras por estas alturas em que o coração pára de bater, pouco mais tenho a dizer do que o que disse na altura. Tenho o supremo privilégio de ter duas mães, tu és uma delas.
Dedico as últimas sentenças deste texto à minha mãe e ao meu filho. E são estas as últimas palavras deste texto que já vai longo. Tens, mãe, um neto para ajudar a criar. Para levar a passear. Para ensinar o que achares por bem dar-lhe a saber. Falo em nome dos teus pais − sinto-os connosco −, canaliza toda essa energia que dedicaste aos teus queridos pais para o teu neto. Para os demais netos que hás-de ter. A isso chama-se vida.
“É a vida”, diz-se quando alguém morre. Curiosamente, diz-se poucas vezes “é a vida” quando alguém nasce.
Padrinho, madrinha, avó, avô: tenho-vos, cada um à sua maneira, marcados a ferros na minha alma. Uns dirão que se acabou um tempo, que tenho quase quarenta anos, que é natural ter perdido todos os meus avós. A esses direi apenas: que não perdi ninguém, que sou a mistura dos quatro. Joaquim, Laurinda, Albertina, Joaquim. E que o meu filho ter-vos-á a cada um também como referência. Não perdi quatro avós, tive, tenho e terei quatro avós. Bem-haja por isso.
E agora, os cinco violinos me perdoem, termino com esta. Para ti, Padrinho Joaquim. Desencosta o pé da parede fronteira a esta Igreja e vem ver como as promessas são para cumprir. Amo-vos a todos. À minha maneira silenciosa e carrancuda, sim, que sou como o escorpião da fábula. Neste caso, e no que farei de seguida, é sempre tudo mais forte do que eu. Jamais deixaria ir o meu querido adversário de bola sem lhe dar este gozo. Que o Visconde de Alvalade me perdoe a ignomínia que, em forma de hino, se segue, mas a verdade é que trocaria o Sporting inteiro e toda a sua história por mais um ano, por mais um segundo, de vida-vivida, consciente e sem dor deste meu avô.
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