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As doenças infantis da Esquerda — I: A perguiça

por Licínio Nunes, em 27.02.14
Este devia ser um livro importante. O livro que faltava. Não é, o "livro que faltava" continua em falta. Durante anos, li múltiplos excertos, vi os muito interessantes vídeos de promoção, até que disse para mim mesmo "...é desta".

E o primeiro contacto não podia ser melhor. "A doutrina do choque" de Naomi Klein, na edição portuguesa da Smartbook tem um buraco na capa, tal como teria sido provocado por uma bala. O início da "Introdução" já o conhecia, daqueles excertos que referi e apenas renovou o meu sentimento de asco perante a exibição do Mal. O Mal existe. No meio da destruição cataclísmica de Nova Orleães, resultante do furacão Katrina — e em grande medida, da incompetência do Governo de George W. Bush — Milton Friedman descortinou uma oportunidade, "[...]a oportunidade de reformar de forma radical o sistema educativo", acabando com as escolas públicas e substituindo-as por um sistema de vouchers, a serem gastos em "instituições privadas", realizando assim "[...]uma reforma permanente.", fim de citação.

Não sei se o "Tio Miltie" tinha "666" gravado no meio da testa, mas sei que a sua invocação me faz desejar que o Inferno exista, para que ele lá esteja a apodrecer em agonia permanente, até à consumação dos séculos. Mas sei também que a hipótese razoável é que Friedman não tenha sido a Besta do Apocalipse. Apenas uma grandessíssima besta.


Agora, e para entrar no tema deste post, uma besta sem dúvida, mas não um calão. Porque uma das doenças infantis da esquerda é a sua óbvia e manifesta preguiça intelectual. Comecemos pelas palavras. A designação mais comum para a narrativa dominante é a de "neoliberalismo" (baralha por completo os americanos e Naomi Klein dedicou alguns parágrafos a tentar superar o "ruído" gerado), substituída por vezes por "ordoliberalismo", germanismo obscuro e, tanto quanto me consigo aperceber, sem qualquer interesse. Os seus adeptos chamam-lhe "doutrina (ou síntese) neoclássica".

Ora para que algo possa ser "neoclássico", tem primeiro que ter existido algo como uma Teoria Clássica. E existiu. A expressão foi inventada por John Maynard Keynes para designar o conjunto de teorias económicas que ele próprio tinha ensinado durante muitos anos. Vejamos a sua síntese:

[...]O facto de os seus preceitos, aplicados à prática serem austeros e por vezes intragáveis, deu-lhe uma aura de virtude. O poder sustentar uma superstrutura lógica vasta e coerente conferiu-lhe beleza. O poder explicar muitas injustiças sociais e crueldades aparentes como incidentes inevitáveis da marcha do progresso, e mostrar que, em geral, as tentativas de modificar esse estado de coisas provavelmente causaria mais danos do que benefícios emprestou-lhe autoridade. O ter propiciado alguma justificação para a liberdade de actuação do capitalista individual atraiu-lhe o apoio das forças sociais dominantes, agrupadas atrás da autoridade.

O que falta nesta descrição para descrever a tal "neo-síntese"? Teríamos que acrescentar o zelo evangélico, o extremismo da crença absoluta e a confiança em "leis inexoráveis", mas não muito mais. Talvez não seja preciso dizer mais do que isto:

Quem, como eu, acreditar que a liberdade do intelecto é o principal motor do progresso humano, não pode deixar de se opor a [...] tanto como à Igreja de Roma. As esperanças que [...] inspiram, são, no essencial, tão admiráveis como as que são instiladas pelo Sermão da Montanha, mas são sustentadas tão fanaticamente num caso como no outro e igualmente susceptíveis de produzir os mesmos danos.
E fica resumido o essencial. Quem tiver curiosidade em saber quais são as expressões em falta ([...]), pode lê-las no original, livremente disponível no Projecto Gutenberg. Mas fica o mais importante por dizer. Por mais asquerosas que as suas posições e o seu evangelismo tenha sido, e foi, Milton Friedman foi um professor de economia. E o seu trabalho académico foi vasto, discutível e árduo. Podemos dizer, como o fez Paul Krugman, que John Maynard Keynes foi uma espécie de Martinho Lutero da ciência económica e que Friedman foi o inevitável Inácio de Loyola, mas continuamos apenas no domínio da analogia e da metáfora. A verdade — como Naomi Klein reconhece — é que os alunos do "Tio Miltie" não eram animados a bajular o mestre, mas a criticá-lo com toda a severidade e energia que conseguissem reunir. As expressões operativas, aqui, são "trabalho vasto" e "trabalho árduo". Vejamos a sua contraposição.

A respeito de como organizar a economia dum estado socialista, V.I. Lenin escreveu em Estado e Revolução: "Não conheço nenhum socialista que tenha tratado destes problemas[...]", porque "[...]nada se consegue encontrar [a este respeito] nos textos dos bolcheviques nem sequer dos mencheviques" e tudo isto porque "dificilmente se encontra na obra de Marx uma palavra sobre a economia do socialismo". Então essas obras e esses textos são a respeito do quê? Resposta: o zelo evangélico, o extremismo da crença absoluta e a confiança em "leis inexoráveis". Claramente, não chega!

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publicado às 13:28

"Por su madre portuguesa fue conocido como Paco, el de Lucía, al identificar, igual que en Andalucía, al hijo con el nombre de la madre, Lucía Gomes" [Publico.es]

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publicado às 10:25


O homem esquece e a história insiste.

por Rogério Costa Pereira, em 21.02.14
O que se está a passar na Ucrânia não é "apenas" uma guerra civil. É um braço de ferro entre o Ocidente e a Rússia. O povo ucraniano está no meio desta Guernica de XXI. Há sempre um campo de treino, e há sempre uma cobaia. Desta vez coube-lhes a eles. E é isto. O homem esquece e a história insiste.

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publicado às 00:11


o dia em que o homem-lobo anda à solta

por Rogério Costa Pereira, em 20.02.14

A expressão tem de ser reinventada. Não é o diabo que anda à solta; é o homem, mesmo. Quantas guerras regionais são necessárias para assumirmos que vivemos duas Guerras Mundiais ao mesmo tempo? Esta que nos assombra o dia-a-dia em forma de homens-lobo "eleitos" em formato "democracia" mascarada, e esta outra de trincheiras à antiga, espoletada pelos mesmos homens-lobo. Os poucos Homens e Mulheres que restam têm de tomar a palavra. E a palavra não é feita de palavras. Já é hora de mudar de nome, de deixar de ter medo do medo; ou arriscamo-nos a voltar a ter um número tatuado no cérebro (os poucos que ainda não o ostentam, com orgulho). O mundo, esse, já o resumiram a um código de barras. Francamente, estou farto de escrever. É tempo de olhar o relógio.  

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publicado às 21:30


Mudar o Mundo [a propósito da carta a um pai]

por Rogério Costa Pereira, em 19.02.14

Li a carta do filho ao pai [link] e do pai ao filho [link].

“(…) Ontem, o meu pai foi-se embora. Muita gente se despediu com palavras de encorajamento. Outros, contudo, mandaram-no para Cuba. Ou para a Coreia do Norte. Ou disseram que já devia ter emigrado há muito. Que só faz falta quem cá está. Chamam-lhe palavrões dos duros. Associam-no à política, de que se dissociou activamente há décadas (enquanto lá esteve contribuiu, à sua modesta maneira, com outros músicos, escritores, cineastas e artistas, para a libertação de um povo). E perguntaram o que iria fazer: limpar WC's e cozinhas? Usufruir da reforma dourada? Agarrar um "tacho" proporcionado pelos "amiguinhos"? Houve até um que, com ironia insuspeita, lhe pediu que "deixasse cá a reforma". Os duzentos e tal euros. Eu entendo o desamor. Sempre o entendi; é natural, ainda mais natural quando vivemos como vivemos e onde vivemos e com as dificuldades por que passamos. O que eu não entendo é o ódio. (…)”

Não percebo. Não percebo esta gente, não percebo esta cambada de energúmenos de sofá, que nada fazem para além de coçar os tomates e dizer mal do árbitro; sem nunca ter mexido uma palha que fosse, porque se sentem bem até a comer merda, desde que a merda seja o prato da moda. E que acima de tudo não pareça mal comer merda.   

Mas percebo muito bem a razão de estarmos como estamos. Este país de agora é a imagem cuspida e escarrada da maioria estatística que o habita. Invejosos, calaceiros, mandriões, parasitas; infelizes que se alimentam das desgraças dos outros. Vivem sem viver. Gritam para dentro, porque os tomates que não têm servem apenas para coçar. Nada mais. Não chegam a ser gente, são meras coisas que para aí andam. Cúmplices, por inacção, do estado de sítio que nos arranca os sentires.

Lamentavelmente, e isso custa-me muito (e digo-o de cabeça fria), beneficiarão da luta de quem a trava todos os dias. Da minha, sim. E da de tantos outros, que acreditam que o impossível não passa de uma desculpa que os fracos inventaram para justificar o comodismo e o medo que têm de ousar ser gente.

Luto aqui, nas ruas, nos tribunais, nas salas de aula. Por onde passo. Para mudar o mundo, sim. Claro que tento. Claro que ouso. Claro que mudo. Sou pai, porra! Como é possível não querer mudar este mundo? E ainda que não fosse — pai —, tentaria na mesma. Claro que é possível mudar o mundo sozinho. Porque, felizmente, ainda que poucos, somos muitos a estar sozinhos nessa demanda. Quanto mais sozinhos nos acharem, menos difícil será existir. E quem nasce assim, só existe duma forma. Existindo. E assim se inventou a roda. E inventaremos tantas rodas quantas forem necessárias. Para mudar o mundo.  

Mudar o mundo e extirpar dele quem fez por o trazer até aqui; quem faz por o manter por aqui. Mudar o mundo a cada dia, porque, mesmo mudado, o mundo continuará carente de metamorfoses benignas. A cada dia. Todos os dias. Criar Homens. Impedir que nasçam novos lobos do Homem.

Fernando Tordo regressará a este país, sim. E voltará pela porta grande, pela mesma porta por onde, quer queiram quer não, também saiu. Porque um Homem assim não cabe em portas pequenas.

E agora vou continuar a mudar o mundo, sem me preocupar com quantidades, mas ciente de que ontem já era tarde. Vou tentar manter-me pelo desamor de que fala o João Tordo, mas é-me muito difícil. Destroem-nos a essência e o respirar, esses animais. No que me toca, e desde que não me tolde o pensamento, posso bem com o ódio que não me apoquenta. Eu entendo ódio, e penso que o João Tordo também. Talvez seja outro o sentimento que tanta repugnância nos causa. Nem é bem um sentimento, bem vistas as coisas; é apenas um cheiro fétido. 

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publicado às 16:40


Regresso à casa dos mortos

por Licínio Nunes, em 18.02.14
Deve ser explicado claramente aos Alemães que a guerra cruel conduzida pela Alemanha e a resistência fanática dos nazis destruíram a economia alemã e tornaram inevitáveis o caos e o sofrimento e que os Alemães não podem evitar a responsabilidade pelo que lhes aconteceu. A Alemanha não será ocupada com um propósito de libertação, mas como uma nação inimiga derrotada — Henry Morgenthau Jr.

Em A casa dos mortos, o ensaio que fecha aquela obra monumental que é o Pós-Guerra, Tony Judt conta-nos como o reconhecimento do Holocausto — e de outros holocaustos menores — se tornou a condição sine qua non para que os povos e os países possam ser aceites como pertencentes à Europa. E sumariza aquela conclusão surpreendente, mas já repetidamente ilustrada ao longo da obra, de como aquele reconhecimento é recente. A França recusou-se a falar em "crimes contra a humanidade" até finais dos 1980's; os governos da antiga europa soviética fizeram-no apenas já este século; Primo Levi foi traduzido para francês apenas após a sua morte.


Foram os alemães os primeiros a fazê-lo. Em finais dos anos 70: "Até 1968 tinham-se registado apenas 471 visitas de estudo a Dachau [é um subúrbio de Munique]; no final dos anos 70, este número tinha excedido, em muito, as cinco mil por ano.", op. cit.; "Holocausto" foi vista por cerca de 20 milhões de alemães. As políticas de "desnazificação" dos anos imediatamente a seguir à guerra foram um fracasso absoluto. Uma conclusão irrecusável e surpreendente, pelos menos para mim que sempre estive convencido do contrário. Porque a este respeito, a pergunta essencial é "Para os alemães, quem foi Joseph Stalin?" e a resposta: o santo protector que os livrou de Henry Morgenthau. A directiva JCS 1067 (Joint Chiefs of Staff) regulou o governo da zona de ocupação americana até 1947, altura em que o Plano Marshall começou a ser elaborado. Os "Morgenthau Boys", dominantes no governo da zona americana, demitiram-se em massa, quando a directiva JCS 1779 entrou em vigor. Contudo, a vasta maioria dos alemães não recorda ter sido punida pelo seu apoio ao nazismo. Eles acham que foram remunerados por terem estado na linha da frente da Guerra Fria. Têm razão.

Mas vamos fechar este assunto. Tony Judt dá-nos mais uma peça de informação essencial: o Plano Marshall foram cerca de 15 000 milhões de dólares (da época); o montante extorquido pelos soviéticos dos países de leste (incluindo a Checoslováquia!), a título de compensações de guerra, foi muito aproximadamente o mesmo. Se algo mais necessitar ser dito a este respeito, não só não sei como o fazer, como não estou interessado em fazê-lo. Recordemos apenas as décadas de trampa de Éluard a Sartre, e a respectiva contraposição vertical: Albert Camus!

Aquilo que hoje nos leva de volta à casa dos mortos é diferente e é algo que os povos da Europa decidiram que não querem discutir e é algo que nós, portugueses, estamos a conhecer pela primeira vez. Estou a falar da colaboração. Não necessita ocupantes, apenas colaboracionistas. Gaspares decididos a "irem mais além" do que aquilo que lhes é pedido. Aquilo que os colaboradores do presente estão a fazer é o mesmo que os seus antepassados de toda a Europa fizeram. Solícitos, dedicados, sempre tentando antecipar aquilo que os seus "protectores" pretendem.

Temos pouco de Europeus. Para dizer a verdade, nem sequer temos a certeza de querermos ser Europeus. Não aprendemos nada com os erros e os problemas da Europa. Hoje, no momento em que somos a cobaia, a antecipação do continente que está para vir, ninguém nos ouve e pelo pior dos motivos: não temos nada para dizer. Pelo menos, nada que os outros Europeus não queiram esquecer.

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publicado às 15:18


Dia nacional do esquecimento

por Rogério Costa Pereira, em 09.02.14

E pára tudo. Pára a miséria, a fome, a doença; parem de atentar no ataque deste vil governo de vis ao Estado Social e seus moribundos Serviço Nacional de Saúde e  Ensino Público. Hoje, pára tudo. Esqueçam as pensões e os salários roubados mês sim, mês sim. Hoje é dia de placebo. Vamos todos gritar pelas camisolas que correm no relvado atrás de uma bola. E dizer mal dos que vestem de negro e decidem contra as nossas camisolas. Vamos enchê-los de alcatrão e penas. As vitórias deste povo medem-se pelos golos que as camisolas marcam. E viva o cavaco, viva o coelho. Hoje é o dia nacional do esquecimento.

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publicado às 15:23


O que diria nuno crato de nuno crato?

por Rogério Costa Pereira, em 06.02.14

 

Numa entrevista ao "Jornal de Negócios", em 25 de Julho de 2008, o hoje ministro nuno crato disse: «Felizmente tenho bastante liberdade porque estou no ensino superior. Se estivesse no ensino secundário sentir-me-ia bastante diminuído pela falta de liberdade».

E, hoje, em pleno tornado cratiano, o que diria nuno crato sobre a liberdade dos professores? Que críticas teceria o crato de 2008 às actuais políticas para o ensino? O que diria crato -- tão crítico de Bolonha -- às licenciaturas de dois anos que ele vai ensaiando? O que diria nuno crato à destruição vigente do serviço público de educação? E, já agora, o que diria nuno crato sobre a forma como nuno crato engavetou o relatório sobre a licenciatura do relvas?

Sem me perder em mais exemplos, como contextualizaria este nuno crato as afirmações do nuno crato de 2008? 

Em suma, "O que diria nuno crato de nuno crato?"

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publicado às 20:46


Mas que chatice, pah…!

por Licínio Nunes, em 06.02.14
O que será que transforma o assunto do aquecimento global numa espécie de «teste do papel de tornessol», que separa as pessoas de bem daquelas que o não são? Não faço ideia, porque, se alguém me perguntasse, começaria sempre por dizer que existem aqui assuntos com um elevado potencial de confusão. Comecemos pelo princípio, pois.


  • «Aumento de temperatura média» é uma das poucas formas humanamente inteligíveis para referir as quantidades astronómicas de energia envolvidas.

  • Muitas pessoas, ou quase todas, manifestam uma dificuldade real em se relacionarem com fenómenos que estão manifestamente muito longe da sua experiência quotidiana, sem que esta dificuldade as transforme em pessoas de mal.

  • Existem apenas três processos de transmissão de calor. Quando fazemos passar uma corrente de ar através do radiador dum automóvel, estamos a utilizar o mais lento e menos eficaz de entre eles: o processo de condução, que segue leis lineares entre paredes planas e leis logarítmicas entre paredes curvas; muito mais eficaz (e mais rápido), é o fenómeno que ocorre sempre que uma massa de qualquer fluído é sujeita a diferenciais de temperatura, ou seja o processo de convecção, que segue leis quadráticas; o processo de radiação segue leis quárticas e a transmissão de energia ocorre a uma muito elevada percentagem da velocidade da luz. Será que dá para começar a perceber porque é que a acção humana consegue perturbar e de forma muito rápida o equilíbrio entre a radiação incidente e a radiação rejeitada para o espaço?

  • A energia de um fotão é proporcional à quarta potência da temperatura absoluta do corpo emissor (daí o ponto anterior). 99% da atmosfera são moléculas simétricas, dois átomos de oxigénio, ou de azoto, unidos um ao outro por uma ligação covalente; estas moléculas são virtualmente transparentes em todas as bandas de energia.

  • Depois fica o 1% restante, uma parte do qual são as moléculas assimétricas, como o dióxido de carbono, responsáveis pelo efeito de estufa: são opticamente transparentes na banda do visível (alta energia - baixo comprimento de onda) e opacas à «radiação térmica», grosso modo, a partir dos 288 ºK (a temperatura média da superfície dos oceanos). A radiação de corpo negro resultante do aquecimento da superfície, das construções, do relevo, «não sai», literalmente.

  • Veja-se que, sem efeito de estufa, não existiria vida à superfície da Terra, porque a atmosfera seria um imenso lago de azoto líquido. Não é o «efeito de estufa» (que tem sempre que existir, com atmosferas como a terrestre) que está em causa; o que está em causa é o desequilíbrio induzido pela actividade humana. E este é o ponto em que o tal «teste do papel de tornessol» começa a actuar...

  • A Teoria do Corpo Negro Radiante permite-nos usar um vocabulário unificado, ou seja, uma qualquer emissão pode ser descrita pela temperatura absoluta do emissor. A luz visível anda entre os 3000 ºK da cromosfera e os 6000 ºK da fotoesfera; aquela radiação térmica começa abaixo dos 300 ºK (oceanos), prolonga-se pelos trezentos e poucos das massas verdes do planeta, até cerca dos 315 ºK (a temperatura corporal dos mamíferos superiores). Qual é a temperatura dos gases à saída do tubo de escape dum automóvel? Ou da chaminé duma fábrica?

  • Este é o ponto em que o Sherlock Holmes se recusou a aceitar o caso da antropogénese: «Caro Holmes, não há aqui mistério. O(s) culpado(s) deixam impressões digitais por tudo quanto é sítio...» Vamos resumir: não existe nenhuma fonte estacionária de radiação entre os 350 ºK e os 550 ºK, para além da actividade industrial humana.



Não gosto de muitas das abordagens deste assunto. A minha terá pelo menos tantos defeitos como aqueles que encontro em outras. Mas algo subsiste. Estamos a falar de energia; os vórtices polares são energia, as tempestades marítimas são energia, os ventos ciclónicos são energia. Ninguém (em seu perfeito juízo) disse que «aquecimento global» significa que as temperaturas reais vão aumentar este ou aquele valor. Logo, a partir de certo ponto, aquilo que fica não são confusões; isto NÃO é uma confusão: é uma pessoa de mal. E já agora, as moreias frontais dos glaciares que restam, no hemisfério Norte, estão neste momento a avançar. Depois, lá pela primavera, vai recomeçar o parto dos icebergs...

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publicado às 16:13


O mundo velho triunfou?

por Manuel Tavares, em 06.02.14

 

 

Há já algum tempo que não escrevo... Circunstâncias da vida pessoal tornaram mais aguda a minha consciência de como deve ser difícil para muitos, com menos condições materiais que eu, conseguirem sequer uma respiração que lhes instile alguma esperança no corpo e sobretudo na alma.

 

No entanto sou pouco dado a derrotismos apesar de episódicas melancolias. Sou um optimista compulsivo, porque a vida a isso obriga também, no entanto não estamos por aqui apenas "para tocar o barco para a frente", esquecendo que este mete água sempre pelos mesmos rombos no casco.

 

Sempre detestei alarmismos excessivos e teorias da conspiração... No entanto algo se passa aqui e no mundo, que é no mínimo alarmante e não despido de carácter conspirativo.

 

As pessoas querem mudanças mas já não acreditam em revoluções, e com razão, não é isso que nos propõe a Democracia?

 

As pessoas querem justiça laboral e social, mas já não acreditam em sindicatos ou partidos, e com razão, não é isso também apanágio de uma sociedade civicamente activa?

 

Os protestos são cada vez mais inorgânicos e numerosos, isso por um lado significa um certo despertar cívico finalmente à margem das estruturas políticas vigentes, no entanto se esse protesto não se organizar numa acção concertada, regular e coerente pode cair no erro de servir apenas de mera válvula por onde se escoam as tensões de um sistema manhoso e com todos os meios e mais alguns ao seu dispor.

 

Não me iludo, a ideia de comunidade só existe hoje em dia se se cruzar com algum tipo de interesse egoísta comum. A maior parte dos cidadãos não está grandemente interessado na cor do sistema vigente (quanto a mim bem, todos temos mais que fazer), desde que este lhes dê um mínimo espaço de crescimento pessoal e dos seus mais próximos . Um sistema que falha neste singelo objectivo há muito entrou em bancarrota ética e civilizacional.

 

Mas afinal que sistema é este que todos falam? Um sistema que parece imune a qualquer tipo de reforma (quanto mais mudança de fundo), um sistema que parece imune às críticas dos mais variados sectores ideológicos, sociais, culturais, religiosos ou mesmo institucionais.

 

Existe um enorme ruído mediático, mensagens contraditórias de organizações que apoiam os poderes ocultos planetários, mas que surgem amiúde a criticar políticas que elas próprias criaram ou ajudaram a implementar.

 

No meio de toda esta confusão, aparentemente espontânea mas que parece cada vez menos inocente, propostas racionais, justas e equilibradas vão caindo em saco roto para que alguém escape entre os pingos da chuva.

 

O maior dos problemas mundiais, a corrupção, que todos os anos rouba boa parte da riqueza de muitas economias já de si grandemente fragilizadas (e continua a roubar sobretudo dessas), permanece um problema que não só não é resolvido como as armas para o combater (a justiça) vêem os seu orçamentos reduzidos, junto com a perpetuação de leis ineficazes a punir o grande crime, mas cada vez mais implacáveis com quem subtrai uma maçã...

 

Lenta mas inexoravelmente não se vislumbram melhorias num quadro já de si negro. O sistema dos interesses instalados, esse gigantesco vírus, parece ir adquirindo resistências para todo o tipo de antibióticos ou vacinas que os homens de boa-fé vão tentando inventar.

 

A estratégia desses poderes parece ser assim o recorrer às esmolas faseadas (coisa fácil para tanta fortuna acumulada que não pára de aumentar), que permitam conter o descontentamento social, mas em simultâneo ir progressivamente aumentando a temperatura da panela onde neste momento já cozem os mais fundamentais direitos cívicos.

 

O vírus parece assim totalmente fora de controlo, quase abolidos que estão os mecanismos que pensávamos nós estarem perpetuamente assegurados pelas nossas "Democracias representativas". Assistimos assim de certa forma a um triunfo do "mundo velho", um "neo-feudalismo" insaciável, cego e obtuso, que parece querer arrastar definitivamente a humanidade para a pior das trevas, aquela que por fora parece esplendorosa e "moderna".

 

Continuarmos assim à espera que toquem à porta do vizinho pode já não ser estratégia suficiente, verifiquem primeiro se a casa ao lado já não está... vazia.

 

© Manuel Tavares 

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publicado às 10:43


pegada, esta raiz e aquelas folhas...

por Rogério Costa Pereira, em 02.02.14

A pegada não morreu; apenas deslocámos a maior parte das nossas pegadas para o facebook. Enorme pecado, bem sabemos; mas por estes instantes, em que o tempo não abunda, é mais fácil interagir e publicar ali. Esta nossa casa não desaparece; será sempre a referência principal e o lugar das pegadas mais profundas. No entretanto, e quando não nos virem por aqui, é porque estamos aqui: pegadabook. Cliquem no link (não é necessário ter facebook para ler, apenas para comentar) e/ou façam like acima. A todos os leitores e ao sapo, que nunca nos falhou, pedimos desculpa. É coisa de momentos; a pegada será sempre aqui. Aqui é a regra, este anúncio não revela mais do que uma excepção. Já agora, e também no facebook, mas numa onda diferente -- e em que todos os leitores podem ser autores --, visitem o ouvir & falar.  

 

nota: neste momento temos 4102 likes no pegadabook e 2882 membros no ouvir & falar o que, pelas regras do facebook, não nos permite alterar o nome de nenhum (o que daria jeito). os nomes na imagem foram, portanto, editados. meros formalismos, que o que interessa é mesmo o conteúdo. 

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publicado às 04:19


Citações

por Luís Grave Rodrigues, em 01.02.14

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publicado às 00:35


página facebook da pegadatwitter da pegadaemail da pegada



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