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Condenados a mentir...

por Francisco Clamote, em 17.12.11
Sim, é isso mesmo. Os partidos da direita (PSD e CDS)  mentiram para chegar ao poder e estão condenados a continuar a mentir para nele se manterem. Para conseguirem o seu objectivo inventaram um bode expiatório (José Sócrates) e não podem prescindir dele. Esta é a conclusão que se pode tirar da crónica de Miguel Sousa Tavares publicada na edição de hoje do "Expresso" que, a seguir, transcrevo parcialmente. A transcrição é longa, mas vale a pena ler, para refrescar a memória:
___
"(...) José Sócrates começou a governar em 2004, recebendo um país com um défice de 6,2%, após dois governos PSD/CDS, numa altura em que não havia crise alguma nem problema algum na economia e nos mercados. Para mascarar um défice inexplicável, os ministros da Finanças desses governos, Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix, foram pioneiros na descoberta de truques de engenharia orçamental para encobrir a verdadeira dimensão das coisas: despesas para o ano seguinte e receitas antecipadas, e nacionalização de fundos de pensões particulares, como agora.
Em 2008, quando terminou o seu primeiro mandato e se reapresentou a eleições, o governo de José Sócrates tinha baixado o défice para 2,8%, sendo o primeiro em muitos anos a cumprir as regras da moeda única. O consenso em roda da política orçamental prosseguida e do desempenho do ministro Teixeira dos Santos era tal que as únicas propostas e discordâncias, de direita e de esquerda, consistiam sistematicamente em propor mais despesa pública. E quando se chegou às eleições, o défice nem foi tema de campanha, substituído pelo da "ameaça às liberdades" (...)
Logo depois, rebentou a crise do subprime nos Estados Unidos e Sócrates e todos os primeiro-ministros da Europa receberam de Bruxelas ordens exactamente opostas às que dá agora a srª Merkel: era preciso e urgente acorrer à banca, retomar em força o investimento público e pôr fim à contenção de despesa, sob pena de se arrastar toda a União para uma recessão pior do que a de 1929. E assim ele fez, como fizeram todos os outros, até que, menos dum ano decorrido, os mercados e as agências se lembraram de questionar subitamente a capacidade de endividamento dos países: assim nasceu a crise das dívidas soberanas.Porém não me lembro de alguém ter questionado, nesse ano de 2009, a política despesista que Sócrates adoptou a conselho de Bruxelas. Pelo contrário, quando Teixeira dos Santos (...) começou a avançar com PEC, todo o país - partidário, autárquico, empresarial, corporativo e civil - se levantou, indignado, a protestar contra os  "sacrifícios" e a suave subida de impostos. Passos Coelho quase chorou, a pedir desculpa aos portugueses por viabilizar o PEC 3 que subia as taxas máximas de IRS de 45 para 46,5% (que saudades!)
(...) O erro de Sócrates foi exactamente o de não ter tido a coragem de governar contra o facilitismo geral e a antiquíssima maldição de permitir que tudo em Portugal gire à volta do Estado(...). Quando ele, na senda dos seus antecessores desde Cavaco Silva (que foi o pai do sistema) se lançou na política de grandes empreitadas e obras públicas (...) o que  me lembro de ter visto, então, foi toda a gente (...) explicar veementemente que não se podia parar com o "investimento público", e vi todas as corporações do país (...) baterem-se com unhas e dentes e apoiados pelos partidos de direita e de esquerda contra qualquer tentativa de reforma que pusesse em causa os seus privilégios sustentados pelos dinheiros públicos.  O erro de Sócrates foi ter desistido e cedido a essa unanimidade de interesses instalados, que confunde o crescimento económico com a habitual tratação entre o Estado e os seus protegidos. Mas ainda me lembro de um Governo presidido por Santana Lopes apresentar um projecto de TGV que propunha não uma linha Lisboa-Madrid, mas cinco linhas, incluindo a fantástica ligação Faro-Huelva em alta velocidade. E o país, embasbacado, a aplaudir!
Diferente disso é a crença actual de que a dívida virtuosa - a que é aplicada no crescimento sustentado da economia e assegura retorno - não é essencial e que a única coisa que agora interessa é poupar dinheiro seja como for, sufocando o país de impostos e abdicando de qualquer investimento público que garanta algum futuro.Doentia é esta crença de que governar bem é empobrecer o país. Doente é um governante que aconselha os jovens a largarem a "zona de conforto do desemprego" e emigrarem. Doente é um governo que, confrontado com mais de 700.000 desempregados e 16.000 novos cada mês, acha que o que importa  é reduzir o montante, a duração e a cobertura do subsídio de desemprego. Doente é um governo que, tendo desistido do projecto de transformar Portugal num país pioneiro dos automóveis eléctricos, vê a Nissan abandonar consequentemente, o projecto de fábrica de baterias de Aveiro, e encolhe os ombros, dizendo que era mais um dos "projectos no papel do engº Sócrates". Doente é um governo que acredita poder salvar as finanças públicas matando a economia.
O fantasma do engº Sócrates pode servir para o prof. Freitas do Amaral mostrar mais uma vez de que massa é feito, pode servir para uns pobres secretários de Estado se armarem em estadistas ou para os jornais populistas instigarem a execução sumária do homem. Pode servir para reescrever a história de acordo com a urgência actual, pode servir para apagar o cadastro e as memórias inconvenientes e serve, certamente, para desresponsabilizar todos e cada um: somos uns coitadinhos, que subitamente nos achámos devedores de 160.000 milhões de euros que ninguém, excepto o engº Sócrates, sabe em que foram gastos. Ninguém sabe?"
(Sublinhados meus)

Ora digam lá, se, perante isto, os farsantes que nos governam, não têm mesmo de continuar a mentir.  É que têm mesmo, porque  no dia em que o povo se dê conta do logro em que caiu, arriscam-se a que o povo "lhes vá às ventas"*.
(*Expressão usada frequentemente pelo António Leal Salvado, expressão de que gosto muito particularmente.)

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publicado às 14:35


4 comentários

De António Leal Salvado a 17.12.2011 às 17:36

A verdade é sempre tão bela! Essa é a aposta 'editorial' da vida de jornalista de Miguel Sousa Tavares (MST) e esse crédito é-lhe acrescentado luminosamente por esta crónica.
Não me admira que o Francisco a tenha elegido para ficar nos arquivos da Pegada. O Francisco cultiva aquela "estética que é também [sobretudo] ética", de que fala Helmut Schmidt na citação que o Rogério hoje trouxe de Espanha.
E não é que o MST, com este deslumbrante desfile da verdade, está mesmo a ir-lhes às ventas?!
Apoiado e aplaudido!

De Luis Moreira a 17.12.2011 às 18:03

Meua caros, claro que é um belo texto, mas nas ruas de Lisboa ainda se encontram cartazes com um Sócrates sorridente a jurar que criaria 150 000 empregos! Perdeu 400 000 ! E, no caso, até tem uma explicação que eu já aqui trouxe. Ele não estava a mentir por mentir, acreditou num estudo que previa que a economia portuguesa cresceria acima dos 3% o que criaria os tais 150 000 empregos. Tudo no charco, como se sabe!

De jeremias a 17.12.2011 às 19:18

que pena da nissan, uma empresa que não avançou com o projecto porque basicamente queria mais subsidiação e créditos fiscais: justamente um exemplo da "antiquíssima maldição de permitir que tudo em Portugal gire à volta do Estado"!

De Luis Moreira a 17.12.2011 às 20:35

O Estado oferece tudo o que tem e o que não tem e as grandes fortunas sabem!

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